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montesclaros.com - Ano 25 - segunda-feira, 18 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Lembranças do Tiro de Guerra 87

Wanderlino Arruda

´Aprendemos não para a escola, mas para a vida´, pensamento latino do velho Colégio Diocesano, aulas de latim de Monsenhor Gustavo, que muito têm servido a muitos ao longo da existência. No meu caso, realmente, nunca estudei só para a escola, só com o objetivo imediato de ganhar boas notas, embora uma nota mais alta cause sempre em um adulto uma alegria quase infantil, situação importante em qualquer época da vida. Quero agora falar sobre resultados, sobre alegria íntima, lembranças de inesquecíveis tempos do Tiro de Guerra 87, espaço de civismo do meu saudoso mestre, Sargento Moura. Idos de 1953, turma de quase cem rapazes, todos da mesma idade, todos com o mesmo sonho, povoando por vários meses a poeirenta Praça da Estação, terreiro público onde a velha Rodoviária incomodava o formigueiro humano que entrava e saia de Montes Claros. O prédio de Tiro de Guerra, localização privilegiada, esquina da Rua Tiradentes com a Praça e a Rua Melo Viana, tinha grande espaço de manobras até a estátua de Francisco Sá, no meio de pequeno jardim, no início das outras avenidas. Casa enorme, com salas e salões, tinha nos fundos a moradia do Sargento Moura e um quintal onde um por um havia de montar guarda, dividindo a segurança com um camarada, que ficava na porta de entrada. Não havia cadeiras; havia bancos, duros e pesadões, separados com razoável distância para evitar cotoveladas e outros tipos de brincadeiras tão normais entre a rapaziada. De todos os lados, menos à direita, janelas e mais janelas, que existem até hoje no prédio que veio alguns anos depois, quando o TG saiu para o Bairro Edgar Pereira, mudou de instrutor e permaneceu lá até a chegada do 55 BI. O Sargento Moura, altão, moreno, elegante, imponente, falador sempre, era o dono incontestável do tempo e da turma, primeira e última palavra em qualquer situação, só humilde nas eventuais inspeções ou no exame final do mês de outubro, quando vinha um capitão ou um major, uma espécie de imperador ou professor-chefe, que passava a centralizar todo o nosso interesse e cuidado. O Sargento Moura só era muito sério nas horas de instrução, pois extremamente exigente nas ordens de comando. Nas outras partes do dia, quando íamos ao Tiro para qualquer assunto, ou quando nos encontrava na rua ou em nosso local de trabalho, era como se fosse um colega mais velho, bondoso, amável, sempre um grande amigo, brincalhão, a colocar a mão no ombro de cada um em tom de conselheiro. Como bom professor, sabia de tudo, todos os assuntos eram do seu domínio, pertenciam ao seu mundo de cultura e de experiência humana. Dos companheiros de caserna, se podemos chamar de caserna um local que nos segurava apenas em parte de cada manhã e em algumas horas a mais no domingos, dos companheiros, temos muito que lembrar. Afinal, havia gente de todo jeito para povoar toda um universo de lembranças, principalmente os mais extrovertidos que deixam marcas pela quase eternidade. Isso para não dizer das influências e notícias de turmas passadas e futuras que - queira ou não - surgem e ressurgem da saudade. No meu tempo, os mais compenetrados eram os dois Renatos, o Veloso e o Almeida, por sinal, os mais capazes, do RDE aos exercícios de marcha e de tiro. Os mais malandros eram o Pamplona e o Souto, os dois terrivelmente imprevisíveis, tanto para nós como para o Sargento. O Souto é hoje bem conhecido, gostando mais de ser chamado de Humberto, sem o Guimarães, depois de eleito deputado estadual e federal, depois de ser ministro, sem favor nenhum, um político sério, um dos mais honestos que o Brasil já teve. Havia os caladões, os resistentes, os corajosos, uns que queriam aparecer, e alguns poucos bem desligados. A maioria, com o máximo de interesse, sempre vibrantes. Bons tempos, com tantas lembranças, que acho terei de voltar ao assunto em outras oportunidades. De alguma forma, fico muito grato ao bom tempo de TG, evocação de importantes e saudáveis momentos de vida. A todas as Semanas do Reservista, até hoje, 55 anos passados, dedico-as à memória dos que passaram pelo inesquecível tempo de vida militar no velho Tiro de Guerra 87. Os destaques são sempre para o Sargento Moura e seus sucessores. E pelo muito aprendizado e experiência!

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros

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