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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Prorrogação de prazo

Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´

No crepúsculo da vida, os homens, racionais que são, fazem uma avaliação do itinerário percorrido. O que se fez, o que faltou fazer. Se fizemos o melhor ou se falhamos em pormenores. É uma pessoal, íntima, prestação de contas consigo mesmo, que deveria ocorrer em cada dia.
Inapelavelmente, erramos muito, poderíamos dar soluções mais convenientes em episódios e fatos que exigiram nosso conhecimento e participação. Involuntariamente (ou não) nos omitimos em algum momento ou exageramos em outros. É da condição humana.
Os brasileiros torcem para a nação sair da melhor maneira possível da crise que se abate sobre o mundo, especificamente no que nos tange, vencendo obstáculos, alguns dificílimos. De fanfarronices e frases de efeito, já estamos fartos.
Cada ser humano tem compromisso consigo mesmo e com os semelhantes. Somos autores, atores e responsáveis por nós e pelos outros. Para os que estão num patamar mais avançado da vida, há de se lembrar o que Sylo Costa comentou ao ensejo do último fim de ano: “Fui amigo, por afinidade, de Mário Lago, com quem me comuniquei virtualmente antes de sua partida. Ele me falou que estava com seu tempo vencido e que seria pontual. Perguntei-lhe como seria isso e ele me disse ter acordo firmado com o tempo:
“Fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo: Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra...”
Sylo declara ter igualmente um acordo de intenções.
Conseguiu com ele incluir uma cláusula que ajudasse os amigos a viver mais e felizes. Está levantando adesões. “Adira e terá direito a chegar atrasado... Afinal, de que vale o tempo para o tempo?”
A cada dia, acrescentamos cruzes na agenda com os nomes dos amigos. É missão dolorosa a cumprir, mas temos de fazê-lo.
Do caminho para Jesus, o “são” Célio Trópia, da Prefeitura de Belo Horizonte, Roberto Caram, Ney Drumond e, mais recente, José Electo Camargos, um dos meus remanescentes no Colégio Santo Agostinho.
No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, João Botelho Neto, da cidade de São Francisco; o querido Padre Aderbal Murta, invariavelmente primeiro telefonema no meu aniversário; o primo e escritor Reivaldo Simões de Souza Canela.
Seguindo o exemplo de Eugênio Gudin, que com cem anos nos deixou, todos os dias me dou ao trabalho de recorrer à página de anúncios fúnebres, para constatar se estou entre os que subiram ao andar de cima, como diz Wanderlino Arruda, presidente de referido Instituto. Será este o anúncio que não lerei.
Damos adeus, todos os dias. Às pessoas que partem, transformadas em anúncios pagos ou no necrológio, que teve em Hermenegildo Chaves um de seus grandes redatores.Porque também para a morte é necessário bom gosto, inclinação da alma, conhecimento das virtudes daquele que passou por nós na vida, como passamos pelas pessoas nas vias públicas.
O que se depreende da mensagem natalina de Sylo Costa é que, algum dia, em algum lugar nós voltaremos a ver e conviver. Ou, como lembrou, Mário Lago: “ Um dia a gente se encontra”.
Num lugar mais tranquilo, na verdadeira paz que desejamos para nós e para todos os que nos foram ou são queridos.
O texto de hoje não é para o Dia de Finados, 2 de novembro, em que, por sinal, nasceu o saudoso amigo intelectual Abílio Machado Filho, que sempre preferiu viver na modéstia, embora tantos os seus méritos e qualidades. Um ser humano... humano. Quem desenvolve o tema com bom humor é o jornalista Lustosa da Costa, com vários livros publicados, inclusive fora do Brasil. Para ele, esse negócio de morrer muda com a idade.
Meninos, admitimos morrer como Rimbaud ou Castro Alves. Na juventude, concordamos chegar aos 40. Quando lá chegamos, queremos sessenta. Aos 80, pedimos prorrogação.

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