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Mensagem: De trem de ferroManoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´A ferrovia, em nenhum lugar do mundo, serve apenas para cargas. É um dos transportes preferidos para passageiros, seja nos Estados Unidos, na Europa na Ásia, ou na África.Enquanto nos países de primeiro mundo, cuidou-se de melhorar a qualidade dos serviços oferecidos aos passageiros, por aqui esta piorou, fazendo com que a rodovia assumisse a predominância de que hoje em termos de comunicação viária.Grande parte das campanhas políticas nos Estados Unidos entre cidades se faz por ferrovia, mesmo em se tratando de candidatos a presidente da República.Aqui, o costume foi extinto. Por outro lado, nada mais sofisticado e fascinante do que uma viagem no Expresso Oriente, que inspirou Agatha Christie e outros ficcionistas e teatrólogos.No Brasil do interior, o trem de ferro vai das principais demandas das populações desvalidas de transporte, em que grande parte dos cidadãos morava e mourejava onde Judas perdera a bota.Mas de trem sempre se conseguia aproximar-se desse lugar incerto e não sabido, hoje já descoberto pelos bandidos e quadrilhas que conhecem onde está a mina: nos bancos e seus caixas eletrônicos, principalmente.Na interlândia brasileira, a composição férrea antiga, movida a carvão de pedra, depois a diesel, sempre foi um convite.A gare era local de encontros entre os moradores à espera da hora da aproximação da composição, de namoros memoráveis mas respeitáveis, de reencontro entre os que permaneceram com os que voltavam das viagens.O regresso era com muita novidade, as informações sobre os familiares, os acontecimentos vividos na cidade grande, a evolução dos costumes, as apresentações artísticas, o que se vira nos cinemas, talvez alguma peça de teatro, a opereta, gêneros que dificilmente venciam os quilômetros até os lugares de menor expressão demográfica.Os trens traziam e levavam os que se chamava “viajantes”. Ou seja, os que percorriam as cidades com grandes malas, dentro das quais se comprimiam amostras de tudo fabricado nos grandes centros ou no exterior.Dos tecidos às meadas, dos perfumes aos machados trazidos da Inglaterra. Um manancial enorme de mercadorias, que logo seriam apreciadas pelas senhoras locais e escolhidas para confecção de roupas, numa época em que fazedoras de vestidos eram conhecidas como “modistas”.Esses representantes comerciais, quase sempre jovens, embora também existissem portugueses maduros, levavam alegria às comunidades pacatas. Participavam das festividades da comunidade, dos leilões na porta das igrejas, frequentavam os bailes e arrumavam namoradas, com promessa de amor eterno e intransferível.Raramente sentavam praça na cidade visitada. Levavam vida de cigano, hoje aqui, amanhã ali, mas deixavam um rastro de saudade ou saudades levavam para o resto da existência. Nos carros ferroviários, faziam do percurso uma sucessão de brincadeiras e truques, para amenizar as longas horas de distância entre as estações.Mas o trem de ferro carregava ainda o que, procedente das capitais, abastecia o consumo local e regional.Por outro lado, transportava os produtos do interior para as cidades maiores, sobretudo cabeças de gado para o consumo citadino.Os políticos se deslocavam por ferrovia. Era mais fácil, mesmo quando as fagulhas do carvão atingissem os olhos dos viajores. Bons tempos que viraram anotações de algumas famílias ou registros históricos. Como na viagem de Mello Viana, vice-presidente da República, ao norte de Minas. Terminou em tiros, mortos e feridos.Contam as más línguas que o conspícuo Mozeca, que se consagraria na imprensa, teve de fazer uma matéria para jornal belo-horizontino, em época de turbulência política. Parou na estação da Central, em Corinto, começou a namorar, e desapareceu por algum tempo.Foi penoso achá-lo e trazê-lo de volta ao ofício.(Nas fotos, o jovem jornalista Monzeca e Monzeca já consagrado editorialista do Estado de Minas, um dos mais importantes jornalistas do Brasil - mestre de Rubem Braga e de Mauro Santayana, entre outros)
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