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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: A viagem final

Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´

Dias atrás, comentava as incômodas, mas amáveis e inesquecíveis, viagens ferroviárias, dando ênfase a uma estrada que mais de perto conheci: a do percurso da Central do Brasil, entre Belo Horizonte e Montes Claros. Tão amigas as viagens que, numa delas, na época candente da Revolução de 1930, levou o emérito e simples Hermenegildo Chaves, Monzeca a mudar o programa de seu deslocamento da capital à cidade norte-mineira.
O montesclaros.com ouviu Mauro Santayana, residente em Brasília, sobre o fato. Santayana, que chegou festejado e atuante aos oitenta anos, disse que “o episódio lhe foi confirmado por Monzeca – a quem chamava de Chaves.
Monzeca mencionou que, numa estação de parada para Montes Claros (tem dúvida, se em Sete Lagoas ou Corinto) o trem foi embora e ele ficou, pois havia saído ligeiramente para uma mesa de sinuca. Sem ter mesmo o que fazer, arrumou uma namorada... na gare... pois não havia como prosseguir e fazer a reportagem sobre o desdobramento dos episódios ocorridos em Montes Claros, após o tiroteio de 6 de fevereiro de 1930, com mortos e feridos. O assuntos foi manchete principal no Rio de Janeiro durante meses, por quase um ano.
Santayana, durante a ditadura militar brasileira andou, pela Europa e conheceu vítimas de governos fortes e ditaduras em outros países. Foi o redator dos discursos de Tancredo Neves, governador e presidente eleito, sendo também assessor de Itamar Franco na Presidência.
Monzeca foi figura doce, amena, folclórica e antológica da imprensa mineira.
Eu o via, na rua Goiás, esperando o momento de tomar o cafezinho na Gruta.
Não tive privilégio de maior convivência com ele, jornalista reverenciado pelos colegas de ofício. Destes, tive informações preciosas, inclusive transmitidas por Antônio Tibúrcio Henriques, que foi secretário do Estado por muitos anos. Quanto a mim, cumprimentos e curtas conversas, porque me parecia profanação aproximar-me do ícone.
Para Roberto Elísio, Hermenegildo Chaves teve o texto mais completo e lírico da história da imprensa mineira, conforme testemunho de mestre Ayres da Matta Machado.
Para se conhecer aquela época e seus personagens, recomendaria a leitura de “Sob a sombra da noite”, o excelente livro de memória de nosso companheiro, aqui, aos domingos.
Para os caricaturistas, não seria difícil retratar Monzeca: “Um maço de cigarros Beverly, um copo de café, um violão. Era boêmio estranhamento avesso a bebidas alcoólicas. Um boêmio não praticante, se diria melhor.
Cercado de admiradoras, o jornalista jamais se deixou enredar no aranhol do amor, para ele algo muito sério, que exigia respeito qualquer que fosse o nível do relacionamento. Contam episódios fantásticos de sua vida pessoal, profissional, sentimental; “uma figura humana admirável, na simplicidade do comportamento, no brilho quase escondido de um estupenda inteligência”, como comentou Roberto.
Residia no Prado, numa casa estilo bangalô, quintal bucólico, na rua Coronel Pedro Jorge. Grandes jabuticabeiras ali se destacavam e ele afiançava que eram centenárias. Ali ficavam apenas os moradores: Monzeca e uma antiga empregada, morena escura, ou mulata, gorda, completamente identificada e devotada ao jornalista em envelhecimento.
Em determinada manhã, sofreu um infarto. Internado no Prontocor, mandou chamar ao hospital um juiz de paz e a empregada.
Casaram-se, na solenidade da travessia de uma para outra vida, como mandam as leis dos homens e de Deus, papel passado.
Nunca se viu Monzeca irado, revoltado.
Foi o maior autor de necrológios da imprensa mineira.
Não sei quem escreveu o seu, evidentemente não superável aos que redigira sobre os grandes e os pequenos que marcaram sua existência.

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