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montesclaros.com - Ano 25 - domingo, 17 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O deus em que não creio

Oswaldo Antunes

Repetem-se as controvérsias e duvidas a propósito de ensinamentos e conceitos religiosos equivocados. Os leitores falam sobre esse assunto. Religiões combatem a filosofia consumista, mas vendem a misericórdia. Com isso acrescem dor ao sofrimento natural dos que não aceitam a figura de deus como é mostrada. O deus da conveniência de muitos é semelhante a eles próprios, um deus em figura humana. Gosta de prosperidade. Age como policial intransigente, tem fixação em genitália, delicia-se em castigar a fraqueza. Mostra-se irado e vingativo. Nem valem, para amenizar esses defeitos as qualidades de que lhe são atribuídas. Deus deve ser a perfeição e não necessita de qualidades.
Frei Matheus Rocha OP, que ajudou o agnóstico Darci Ribeiro a fundar a Universidade de Brasília, advertia sabiamente, que ´Deus não é para o homem uma verdade evidente, mas problema que, para ser resolvido, exige coragem, lealdade e paciência´... chega a ser um tormento nascido “da necessidade do nosso coração, da insuficiência da razão e do desgoverno de nossa vida´
Para crer no deus da malandragem não é necessária essa coragem. A Constituição da Republica garante liberdade de crença, a lei garante venda e compra de milagres. Coragem e lealdade são necessárias, sim, mas para combater as superstições que amedrontam e exploram a idéia de Deus. Gandi seria massacrado pelos teólogos da Prosperidade, se dissesse aqui como disse, que Deus não tem religião. Não vende ilusões, não está nas imagens da vitrine. Sequer Se mostrou a alguém ou Se definiu.
E é exatamente nesse Deus que ninguém sabe como é que se deve crer. Embora seja bastante vendável, o outro deus não é fácil de viver já que não permite a utopia, único modo de suportar a vida. Sequer admite o fim biológico simplesmente como retorno à Substancia. Deve-se crer, mas no Deus que não tem o serviço especial de permitir ou negar as coisas. No que não acusa, não julga, não executa. Crer no que não admite punição eterna por erro passageiro. Crer no Deus que está em tudo, inclusive na esperança que vence a morte. No Deus que vive em nós e não nos cobra responsabilidade por ter vindo ao mundo sem pedir. Por termos vindo com um espírito que também não se explica.
A cobrança feita a esse espírito, negaria a vida de Deus em nós. Negaria a espontaneidade do sagrado necessária a cada ser, a todo instante. As estruturas que atribuem a Deus defeitos e qualidades humanas desconhecem “a quantidade quase ilimitada e consciente de seres vivos que são responsáveis pelo funcionamento do Universo”, os sintomas da presença de Deus.
Einstein disse que a simples palavra “deus” nada significa. Porque não alcança o que existe na infinitude incompreensível onde habita a louca misericórdia que Francisco de Assis e João de Deus experimentaram. A misericórdia que não faz exigências.

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