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Mensagem: O nó-cego do trânsitoWaldyr Senna BatistaEmissários do urbanista Jaime Lerner, que vieram colher dados para instruir projeto para o sistema de trânsito de Montes Claros, externaram opinião sobre pelo menos dois pontos: o centro da cidade é confuso e feio; e o estreitamento de ruas do centro, executado há 25 anos, é esquisito.Disseram o óbvio, para o que basta ter olhos para ver. O tumultuado centro da cidade reflete as origens da cidade, que se ligam ao carro-de-bois: ruas estreitas, quarteirões curtos, calçadas mínimas. Defeitos que poderiam ter sido minimizados a partir da segunda metade do século passado, quando surgiram os primeiros loteamentos ( São José, Todos os Santos, Vila Guilhermina e Vila Ipê) que, entretanto, perpetuaram e até agravaram os problemas. Nenhum deles possui ruas que guardem simetria com as que existiam antes, a não ser quanto à largura. São todas ruas tortuosas, verdadeiros labirintos.Nessa Babel, a implantação da Avenida Sanitária, há mais de 30 anos, foi um avanço. Sem ela, Montes Claros seria inabitável. Mas as outras avenidas que foram construídas depois, que também têm grande importância, padecem do defeito de não se interligarem, de forma a evitar que o fluxo de veículos se encaminhe para o centro da cidade. Neste sentido, o agora finalmente anunciado anel rodoviário-norte poderá ser a solução. Se mais uma vez não prevalecer a síndrome do carro-de-bois.O escritório de Jaime Lerner não é especializado em plano diretor e nem esse parece ser o propósito da Prefeitura ao contratá-lo. Seu trabalho deverá limitar-se ao trânsito. Assim, tudo leva a crer que o projeto que apresentará não deverá prever grandes desapropriações para correção dos defeitos. Cuidará da racionalização do sistema, aproveitando o que existe e o que está programado.O outro ponto, o estreitamento de ruas centrais, eufemisticamente anunciado à época como alargamento de passeios, foi uma espécie de ovo-de-colombo que não deu certo. Sua concepção seguiu a linha politicamente correta que preconiza privilegiar o pedestre e não os carros. Falou-se até que, com passeios mais largos, os namorados poderiam andar lado a lado, de mãos dadas e não em fila indiana, como acontecia. Mas a figura prosaica foi engolida pelo avassalador crescimento da frota urbana, que hoje é acrescida de 500 carros novos, por mês. Somam-se a isso centenas de veículos que chegam de cidades vizinhas e o infernal advento das motos, que se multiplicam sob o incentivo de vendas a prestação por inimagináveis R$ 150 mensais.Felizmente, o projeto de redução das pistas centrais ficou pela metade, cancelado certamente devido aos resultados negativos obtidos, mas não admitidos, na primeira etapa. As ruas Dr. Santos, Camilo Prates e Dr. Veloso, que também estavam ameaçadas, escaparam do tormento, sem que os namorados tenham protestado. O problema do trânsito da cidade não se resolve com medidas paliativas e exóticas. A solução é a criação de mais espaços, para carros(se não sabem, eles são inevitáveis, apesar dos transtornos) e pedestres, e isso tem de ser feito urgentemente, pois já se projeta para a cidade população de 1 milhão de habitantes nas próximas duas décadas.As perspectivas de médio prazo são portanto dramáticas. Montes Claros se aproxima do caos total em matéria de trânsito, materializando-se aquela situação catastrófica em que centenas de veículos ficarão entalados nas ruelas, não podendo sair delas os carros que entraram e nem entrar os que ficaram de fora. É o que se denomina, apropriadamente, de nó-cego.A antevisão dessa cena psicodélica pode parecer filme de terror. Mas não custa lembrar acontecimento histórico registrado no dia 20 de novembro de 1920, quando aqui aportou o primeiro veículo movido a combustível. Pelo tumulto que provocou, segundo conta em seu livro o historiador Hermes de Paula, foi chamado de “bicho caminhão”. Os becos estreitos do entorno da igreja Matriz, naquele tempo, devem ter contribuído para aumentar o assombro das pessoas, pois neles só trafegavam carroças puxadas a burro e carros-de-bois.Nos tempos ditos modernos, o cenário ainda permanece, em parte, desafiando a competência inquestionável do doutor Jaime Lerner. (Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).
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