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Mensagem: Um AmanhecerO sol ainda se esconde por trás da serra. Sua claridade, porém, ilumina o céu, que se colore de intenso vermelho-dourado e oferece o primeiro painel: abstracionismo. A luz ainda brilha na copa das árvores, que se espalham pelos campos e brinca no lusco-fusco do amanhecer, acordando os pássaros: bucolismo. Da janela, contemplo a beleza da chegada de mais um dia de vida. O céu infinito, inescrutável, onde localizamos a morada do Deus Criador, apenas porque sentimos necessidade de localizá-la, mas sabemo-la ignorada; a serra de veludo azul escuro recortando o horizonte em linha irregular; a pastagem verde perdendo-se ao longe; as árvores acompanhando o leito do rio, marcando-o... Meu olhar, encantando, vai das árvores à serra, da serra do céu. E volta, pesquisando, à procura dos pormenores que formam o lindo quadro pictórico. E descobre, ao pé da janela, na roseira silvestre, pequena gota de orvalho. Tão insignificante, tão pequenina e humilde, comparada aos entes que pintam a paisagem e deslumbram-se, no entanto, infinitamente mais bela, quimericamente mais preciosa. Brilha com os reflexos do sol, que já se alteia, no horizonte. Treme. Dança, na folha, o estojo verde. Sinto medo de que chegue a brisa balançando-o e destruindo o meu brilhante. Desejo que o sol fique onde está, para não secar meu talismã. E que a brisa passe longe. E que os pássaros se calem. E que o meu brilhante, feito pela noite, na roseira silvestre, permaneça ali, presente divino enviado, para envolver-me em fantasias. E tudo brilha. Ofusca-se. Sonhos. Pedaços da vida. Mágoas. Dores. Malogros. A gota de orvalho, diamante efêmero, símbolo de força, poder, fortuna, fugazes e inúteis desejos... As gotas das lágrimas não são gotas de orvalho. Não brilham com os raios do sol que sai detrás da serra. Juntam-se ao meu brilhante. Tremem, tremem e caem na terra seca. Exauriu-se o encanto do amanhecer. O pincel de fantasia, desiludido, rouba o quadro bucólico, leva para longe o brilhante dos sonhos. É chegado mais um dia do viver...(A professora Yvonne Silveira, de 96 anos, é presidente da Academia Montesclarense de Letras. Foi, durante décadas, professora de português, na antiga Escola Normal Oficial. É escritora, com vários livros publicados. Nascida em Francisco Sá, é um dos maiores nomes da história de Montes Claros. Participa, ativa e alegremente, de todas as atividades às quais é chamada, numa permanente disponibilidade que encanta a todos).
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