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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: O PEQUI, MARCANTE EM NOSSA VIDA

José Prates

Quem diria! O pequi que me alimentou na infância, na juventude e muitas vezes me encheu a língua de espinhos, até que eu aprendesse a comê-lo, está na mesa do povo desde a pré historia. Quando li a noticia, toda minha infância vivida na pequena e gostosa Jacaraci, voltou-me à mente e me vi debaixo do pequizeiro, catando a fruta que caiu do pé. Tempo de pequi era o tempo das festas do Natal e ano novo, quando a natureza nos presenteava com o rico alimento; “catar” pequi debaixo do pé, era festa pra meninada que saia aos bandos, balaio na mão, correndo pela estrada arenosa até chegar no cerrado onde estavam os pequizeiros. Era perto, logo depois do “cruzeiro”, antes da “areia branca” onde íamos apanhar enfeites naturais para o presépio e o pessoal de “seu” Chiquinho buscavam areia para enfeitar o passeio do bazar. Não era só pequi que nos atraia ao cerrado. Eram as frutas que lá estavam como cagaita, cabeça de negro, umbu, mandapuçá que, maduras, caiam do pé enchendo a mata com seu cheiro gostoso, colocando os animais em festa diante do banquete. O gado roia o pequi caído no chão, deixando a castanha limpa, sem tirar um espinho sequer. Coisa que demorei a aprender, o boi já nascia, ou ainda nasce sabendo.
Quando recordamos o passado, todo aquele período emerge do arquivo mental e nos faz vivê-lo com toda intensidade. É um lenitivo para a fadiga do dia-a-dia que nos martiriza; é gostoso reviver a infância, a juventude despreocupada num mundo de amigos, correndo pelas ruas tranqüilas de uma cidade sem os problemas que hoje nos atormenta. No largo da feira, “pegar parelha” pra ver quem chega primeiro no largo da Igreja, passando pela rua de baixo, parando estafante, em frente à farmácia e seguir devagar para deitar na grama macia, ao fundo da Igreja.
Não há necessidade de falar muito sobre o pequi porque é conhecido de todo mundo e tido como coisa da gente. Guimarães Rosa em seu gostoso romance “Grande Sertão, Vereda”, conta que ´o Garanço se regalava com os pequís, relando devagar nos dentes aquela polpa amarela enjoada. Aceitei não, daquilo não provo: por demais distraído que sou, sempre receei dar nos espinhos, craváveis em língua´ Conosco já aconteceu isto ano passado.Mandaram-me de Montes Claros, umas dúzias de pequi. Minha esposa os cozinhou no arroz. Foi ai que aconteceu: meu neto foi experimentar e encheu a língua de espinhos que tiramos com uma pinça.
Mesmo residindo há muito em plagas distantes não esquecemos o pequi e, ainda, sentimos o seu cheiro e o seu gosto ao nos transportar para o passado porque a presença do Pequi na nossa vida é de fato marcante. Não conseguimos esquecer o seu lado folclórico, sua importância na nossa gastronomia, como sabor exótico, sua versatilidade em se fazer combinações e seu poder afrodisíaco. Dizem que na época do pequi, oitenta por cento das mulheres casadas engravidam, resultado do poder nutritivo da fruta. Carlos Ribas, psicanalista e diretor de TV, comentando a revista Magazine Pequi diz que ” Seria também mais importante que saber dos seus preciosos valores nutritivos, para os quais tanto se dissertou como a “carne dos pobres” do sertão. Seria também mais importante até que reforçar o incansável discurso ecológico e preservacionista ao denunciar a ameaça do desmatamento que o coloca no rol dos espécimes com risco de extinção” Creio que Montes Claros tomou essa providência, proibindo o corte do pequizeiro. Ribas conclui o seu comentário, dizendo que “talvez sua maior importância seja a de um orgulho em que nós, nativos, desse sertão, somos acometidos ao descobrir que esse vegetal, de certa forma, nos une. Até mesmo quando escutamos desencontrados discursos críticos em torno dessa preciosidade sertaneja. Quem nunca teve a sensação de, ao dividir um elogio ao Pequi como se fosse um passaporte, uma senha de identificação regional, se sentir realmente em casa? “Se ele ou ela gostam de Pequi, então são um dos nossos…”
Outro lado interessante do pequi é a medicina. Gostar de pequi, todo mundo do cerrado gosta, mas, acredito que poucos sabem que a utilização terapêutica do pequi não está restrita à medicina popular. Depois que li a noticia do pequi na pré-historia, fiz uma pesquisa sobre ele e com surpresa encontrei referencias a um trabalho publicado na Revista Brasileira de Medicina Tropical que descreve a atividade antifúngica das folhas, dos dois principais componentes presentes no óleo essencial das sementes, além alto poder nutritivo. Foi verificado neste trabalho que a parte mais ativa contra os fungos é a cera epicuticular da folha, coletada no período da seca, inibindo o crescimento de 91,3% dos isolados de fungos

(José Prates é jornalista e Oficial da Marinha Mercante. Como tal percorreu os cinco continentes em 20 anos embarcado. Residiu em Montes Claros de 1945 a 1958 quando foi removido para o Rio de Janeiro onde reside com a familia. É funcionário ativo da Vale do Rio Doce, estando atualmente cedido ao Sindicato dos Oficiais da Marinha Mercante, onde é um dos diretores)

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