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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: “Mel de coruja” e “esquina cega”

Waldyr Senna Batista

Ainda que se torne enfadonho, continuará sendo repisado aqui o tema da deficiência de Montes Claros no tocante a equipamentos urbanos, em especial o traçado tortuoso de suas ruas estreitas.
É preciso deixar de lado o bairrismo exacerbado, que leva muitos a enaltecer as qualidades da cidade, que são reconhecidas, mas, ao mesmo tempo, a contemporizar com seus defeitos, que tendem a agravar-se devido à omissão dos que deviam dedicar-se mais em corrigi-los. Grande parte das sucessivas administrações preocupou-se mais com ações imediatistas, que produzem resultados eleitorais, relegando a plano secundário as que, embora mais importantes, não produzem votos.
A atual administração corre o risco de incorrer nessa falha, ao apressar-se em apresentar resultados, a pretexto de comemorar seus primeiros 120 dias, com ampla campanha publicitária em que alinha realizações de relevância discutível, algumas nada mais do que prosseguimento de obras que estavam em andamento, enquanto deixa a desejar tarefas que seriam de rotina, como a coleta de lixo domiciliar, que se amontoa à porta das casas(nos finais de semana é uma calamidade). Dar continuidade a obras de administração anterior é elogiável, desde que não se pretenda apresentá-las como novidade.
Novidade não é, também, a faina de renovar a pintura nos bens de propriedade do município, como se está fazendo nos muitos quilômetros de balaustres do canal da avenida Sanitária. Isso se tornou uma espécie de operação-padrão, iniciada com o prefeito Jairo Ataíde, que espalhou a combinação abóbora-azulão em toda a cidade, foi imitado pelo seu sucessor, Athos Avelino, que adotou o tom neutro, tendendo mais ao verde, e vem agora Luiz Tadeu Leite com o amarelo-pálido.
Nas três ocasiões, ficou claro o propósito de, com cores características, o prefeito de plantão mostrar eficiência, como se fosse de sua iniciativa todas as obras, englobando as existentes desde longa data. Os que vieram depois, cuidaram de despersonalizar esse acervo, impondo nele sua própria marca. Nesse verdadeiro banho de tinta que a cidade recebe de quatro em quatro anos, ganham as empresas do ramo e perde o contribuinte, que vê seu dinheiro sendo aplicado sem qualquer serventia.
No final dos anos 1920, o presidente Washington Luiz, deposto pela “revolução de 30”, para entronização de Getúlio Vargas, cunhou a frase: “Governar é construir estradas”. Em Montes Claros, nos últimos tempos, a mensagem pode ser atualizada como: “administrar é espalhar tinta por aí”, quando seria fácil e prático reduzir esse dispêndio com a simples aprovação de lei que estabelecesse as cores oficiais do município. Com essa medida, todos os futuros prefeitos estariam dispensados desse esforço inicial e livres do fantasma de seu antecessor, especialmente quando adversário, que a canhestra pintura evoca.
Mas a intenção inicial deste texto era ocupar-se de assuntos menos prosaicos. Um deles, a ocupação indevida dos passeios públicos, mediante o expediente ilegal de estender sobre eles o telhado de cômodos comerciais. Essa infração está se generalizando na cidade, especialmente em pequenos comércios de bebidas e comidas, e sobre ela as últimas administrações, inclusive a atual, têm feito vistas grossas. Caso da rua Santa Maria, no bairro Todos os Santos, em que o alargamento dos passeios, alcançado a duras penas, está sendo anulado pela ampliação de telhados.
E falta falar sobre as “esquinas cegas”, consequência danosa das ruas estreitas. A lei prevê que, nesses locais, em construções novas e, nas antigas, quando submetidas a reformas estruturais, as paredes da esquina sejam chanfradas, a fim de melhorar a visibilidade. São centenas na cidade, a exemplo da que existe na confluência das ruas Dr. Veloso e D. Pedro II, onde se localiza prédio do início do século passado. Submetido a sucessivas reformas, o imóvel mantém a condição de “esquina cega”, certamente porque atende aos termos da lei de uso e ocupação do solo, que busca a convivência tão harmoniosa quanto possível com o problema das ruas estreitas. Cabe à Prefeitura manter-se atenta na aplicação dela, o que nem sempre é fácil, por causar insatisfações. Realizar o “mel de coruja” de sempre é tarefa muito mais conveniente.

(Waldyr Senna é o mais antigo e categorizado analista de política em Montes Claros. Durante décadas, assinou a ´Coluna do Secretário´, n ´O Jornal de M. Claros´, publicação antológica que editava na companhia de Oswaldo Antunes. É mestre reverenciado de uma geração de jornalistas mineiros, com vasto conhecimento de política e da história política contemporânea do Brasil).

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