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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Na terra de Wander Manoel Hygino (Hoje em Dia) A Lagoinha é mistério, foi mistério. Pela praça, que tem o ilustre nome Vaz de Melo, família de pioneiros da capital, que obraram para fazer do lugar assentado em Curral del-Rei, a metrópole que serve ao Governo de Minas, circularam as composições ferroviárias que constituíam a dor de cabeça de Frei Zacarias. O sacerdote, por muitos anos na paróquia de Carlos Prates se devotava às normas dos franciscanos, prestando assistência em todas as áreas da necessidade humana. Durante longo tempo, liderou campanha para remoção dos trilhos da praça, responsáveis por muitas mortes. Um longo esforço, de difícil resultado. Não li o livro de Wander Pirolli sobre o logradouro e o bairro, e ninguém melhor que ele para enfocar o tema. Ali nasceu, viveu grande parte da vida, acompanhou as transformações que o tempo obrigava. E sabia escrever danado, sem fazer pose de gênio! Para mim, a praça era uma espécie de border, dos americanos. Área de fronteira, em que tudo acontece, de bom e de ruim. De um lado, o bairro propriamente, com residência de família dita de classe média, laboriosa; casas comerciais, com ênfase no comércio de níveis; no outro, as casas de sexo, os bares que funcionavam a noite toda; os bebuns das horas altas da noite e das baixas horas da madrugada. Vitrolas com seu som engolindo o silêncio da noite; breguice de muitas épocas, tangos lamurientos e sambas cheirando a dor de cotovelo, estendendo pelas madrugadas, ainda com odor de aguardente. Bem próximo se instalou o “Correio do Dia”. Depois do fechamento das edições, jornalistas boêmios ou cansados da jornada investiam em alguma cachacinha, um sanduíche ou um pastel e cerveja, enquanto o sol começava a dar a cara, expulsando os noctâmbulos, notívagos e inveterados amantes da esbórnia. Guimarães Alles, uma das belas figuras do jornalismo da época, impecável em seu terno completo, incluindo gravata, passava por um daqueles bares. Olhava garrafas antigas na prateleira. Observou que uma série de botijas estava empoeirada há muito tempo. O proprietário do estabelecimento explicou: - Estão aqui, faz muito tempo, ninguém quer comprar. Guimarães pediu uma, examinou o rótulo, perguntou o preço e levou as três últimas. Eram de legítimo conhaque francês, compradas a preço de banana. Não era só briga de mulheres, de valentões bêbados com “suas” mulheres, ciúme que terminava em facadas e tiros. A polícia fazia rondas e tentava manter a ordem. O tempo passou, o trem passou, o bonde deixou de circular, o mulherio definhou em circulação, embora bravas soldadas do sexo insistissem nas extensões da Guaicurus, Oiapoque, Santos Dumont, outrora “Avenida do Comércio”. Na vizinhança, proximidades da Antônio Carlos, Sapucaí, Paquequer, Pedro II e adjacências, as famílias viviam como Deus permitia, cuidadosas de precaver-se. Procuravam não misturar. Ovo de galinha não é caroço de abacate. A professora Maria Madalena Trindade Barreto Corrêa, de tradicional família católica, vindo para Belo Horizonte criança com os pais, foi morar na Rua Bonfim e tinha de passar pela Praça. Deu-lhe na cabeça vender terços, saindo a oferecê-los de casa em casa, como conta em “O grão de mostarda”. Sonhava ajudar os pais. Numa das casas, uma jovem debruçada no alpendre. Perguntou à moça se queria comprar terços. Ela não sabia do que se tratava. Entrou na casa, para que ela escolhesse o mais bonito. Uma sala simples, com seis cadeiras. A compradora olhou os objetos e perguntou como rezar. A menina explicou o Pai Nosso, a Ave-Maria, a Salve a Rainha. A freguesa concluiu: “Não vou comprar porque não sei rezar e não tenho dinheiro”. Decepcionada, a menina saiu. Um senhor viu-a, estranhou e advertiu: “Você nem imagina o risco que correu. Aí é casa de mulher atoa e criança não entra!”

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