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montesclaros.com - Ano 25 - sábado, 16 de novembro de 2024
 

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Mensagem: Voo AF 447

Eduardo Lima - Jornal ´Hoje em Dia´

Montes Claros é a cidade que mais cresce no mundo. Não bastassem seus residentes, que a colocam entre as maiores de Minas, há ainda o êxodo, que promove ocupação sem par, mundo afora. No seu trabalho, na escola, tem montes-clarenses? E responda: você conhece alguém de Montes Claros?
Aqui no Hoje em Dia, por exemplo, deve haver coisa de dúzia. Em Burkina Fasso deve ter um, pelo menos um. Na Eslovênia, Tel Aviv ou Gaza, Turcomenistão, na casa do Carvalho, ali se porá de pé um montes-clarense, altaneiro e útil, capaz para tarefas várias - na cozinha um de nós fará arroz soltinho.
Os de Montes Claros têm dom propicio para surgimento, para zelo, surpresas. Os de Montes Claros voam - fora o tino que têm para se transformar em luz. Dormem em Jacarta e acordam no equinócio. Põem mesa no Lesoto e servem, com decência, os namíbios da margem esquerda do Ugab.
Os oriundos de Montes Claros saem de sua terra porque não se cabem, sofrem de espacitite, doença comum entre passarinhos de gaiola. Por isso planam sobre tudo, asas francas, tanto quanto são seus - nossos - corações. Quantos há de Uberlândia aqui e acolá? E de Juiz de Fora, que se basta de Nava e Murilo? E de Varginha, de Ituiutaba, Claro dos Poções, Maravilhas, Valadares - neste caso não vale Nova Iorque - Santo Antônio do Itambé e Divinópolis, cuja filha universal, Adélia Prado, supera a geografia e a lei fundamental da divindade: estar em todos os lugares ao mesmo tempo?
Alguns, no máximo. De Montes Claros, não. Há sempre aquele que dirá “que é isso, moço”, em notas curtas, quase canção. Montes Claros é, em questão de gente, uma bomba da raça. Quiçá um vírus genético, capaz de habitar o mundo. Por mim não sirvo, apesar dos treze filhos. Não sou comum; meus conterrâneos são mais comedidos. Mas voltando à vaca morta, basta observar. Nalgum dia na vida você se encontrou com um montesclarense e com ele riu ou chorou? Mais riu - pois é do sertanejo não resignar-se, é do sertanejo ferir de morte a dor, abolir-se da sede, dos sofrimentos humanos? O sertanejo ri da noite de lua cheia e da tempestade. Se preciso pula, feito sapo, ou se arrasta, como cobra, servindo à peçonha necessária. Porém, nunca negará fogo ou beira de fogo ou fogueira. Nem negará afago, ombro, gozo.
É provável que, em se parecendo com todas, a gente de Montes Claros seja assim sarapatel, esse mexidão, um baião de dois.
Vejam, entretanto, que tristeza agora: some na noite escura, no acaso da convergência, no instante de sono do sol, um Airbus 330-200. Nada se sabe sobre 228 vidas. Uma delas - aí se sabe - brotou em Montes Claros: a de Hilton Jadir. Mesmo na dor de perder um filho a cidade não se abate. Antes repete aos que ficam a lição primordial: façam mais! E nos cantinhos mais surdos gemidos se ouvirão. Uns se vão, outros chegarão.

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