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montesclaros.com - Ano 25 - terça-feira, 5 de novembro de 2024
 

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Mensagem: As crianças imoladas Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ A droga degrada o caráter, desvia o jovem, vicia-o, domina-o, leva-o à sordidez e ao crime. A despeito do conhecimento que se tem dessa perniciosa realidade, aumenta o número dos adolescentes que se tornam usuários e, em seguida, traficantes, envolvendo-se em outros graves delitos. O Centro Integrado do Adolescente Autor de Ato Infracional, o CIA-BH, registra cerca de 670 desses jovens apreendidos pela Polícia Militar nas ruas da capital. A intermediação da mercadoria lhes é altamente rentável, com arrecadação de até R$ 600 ao dia. O dinheiro fácil fascina os que entram numa fase especialmente delicada da vida. Oscar Cirilo, coordenador clínico do Centro Mineiro de Toxicomania, explica: ´Os jovens acreditam que a droga é capaz de diferenciá-los dos demais. A droga dá a eles um status para obter bens materiais´. Em junho de 2007, em manhã ensolarada de Corpus Christi, em área povoada, conhecida e frequentada de Montes Claros, a maior cidade do Norte de Minas, no Parque de Exposições, um desses jovens, viciado em drogas e que circulava normalmente pelas ruas, matou o menino Sidney Júnior. Não era sua primeira morte. Antes, eliminara uma mulher que não lhe dera o dinheiro exigido. Para o mesmo objetivo, certamente, imposto pela sordidez do vício indomável. A cidade parou em busca do corpo do infante e, depois, para prestar a homenagem pelo sacrifício de uma vida. Uma tia, como se mãe fosse, acompanhou todas as medidas de praxe para achar a criança imolada, sempre em lágrimas, chorou sem parar todos os dias, desfaleceu no cemitério, com olhos lacrimejantes foi à missa de sétimo dia. Presente ao ato religioso no grande templo, o jornalista Paulo Narciso, também pai de filho muito querido, assistiu à solenidade. Para ele, as mulheres podem salvar-nos. Talvez, apenas elas. Escreveu: ´E, entre elas, as mães, únicas com autoridade e força para içar do despenhadeiro moral um Brasil que dá mostras de que desmaia inerte, abobado, perdido, irreconhecível, extraviado, amputado do seu passado e distante do futuro antevisto pelos sonhadores de todos os tempos. Ninguém pode tanto quanto as mães, e parece que elas não estão mais dispostas a ceder um milímetro em defesa da vida; elas - que são o centro deste prodígio humano/divino - a própria vida. Ao preço que for. Custe o que custar, elas nos salvarão. Elas, as mulheres, a tudo comandavam. Com serenidade e doçura ainda, e imensas doses de energia, atitudes que comovem tanto quanto o drama do menino que ali nos levou e reuniu. O garoto imolado.´ O jornalista, compungido, sofria com a multidão, predominantemente feminina. Via tudo, ouvia o silêncio, acompanhava a cena, percebia lágrimas mesmo em semblantes amadurecidos pela dor e por duras experiências de vida. Sem um estalido, um movimento, um mínimo gesto no encerro profundo delas, as mães, nada que pudessem ocultar ou sugerir um levante iminente, já a caminho, contra uma situação de desconforto, de insegurança, de temor. Paulo Narciso se comovia com mulheres e homens violentados pelas mesmas circunstâncias, em outros dias e lugares. ´Na mobilidade gestual de quem fala livremente com Deus, sempre a sós, as mães exibiam, era possível ver, um fragor secreto, a força desconhecida que pode e vai nos salvar em breve, quando, talvez, daqui mais um pouco, permitirem que soltem da garganta o grito lancinante que move o mundo, e o faz recomeçar.´ ´Não para a vingança. Mas para a reconstrução urgente do que se decompõe. Não permitirão que seus filhos sejam mais mortos nas ruas. Que seus maridos não voltem. Que a porta da sua casa deixe de ser o território risonho da infância, para modelar-se como último recuo do medo´. As mães desconhecem o sentimento de covardia. A tia, heroína, confessou: ´Somos todos reféns do medo. Estamos encurralados, presos em nossas casas. Não podemos mais desfrutar do direito de ir e vir. É o momento de lutarmos para que atrocidades como estão não ocorram novamente.

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