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Mensagem: Um real fornecedor Manoel Hygino - Jornal ´Hoje em Dia´ Consta da história ou à saga regional ter vivido e morrido em Montes Claros uma princesa imperial, filha de Pedro I, sepultada em algum lugar da nave central da Matriz, que neste século completa três séculos. Hermes de Paula, o grande historiador norte-mineiro, cuja obra alentada terá segunda edição, conforme li, se refere àquela menina, no seguido por muitos historiadores. O médico Hermes, que pesquisava não só doenças e remédios, descobriu o seguinte: Em torno de 1828, vivia na corte uma mucama, olhos azuis, muito mimada pelo soberano. A imperatriz, que não era astuta e conhecia o arrebatado marido, desconfiou. Quis deportar a mucama e respectiva cria, mas o envolvente imperador se antecipou, mandando ambas para o Tejuco, aos cuidados do sargento-mor. Grassando uma epidemia de varíola, determinou-se que as duas fossem encaminhadas a Formigas, hoje Montes Claros, onde a menina, já acometida do mal, faleceu dias após. O padre Feliciano se encarregou do funeral, enterrando-lhe o corpo junto ao altar-mor da primitiva capela, hoje matriz. Hermes ficou ´cabreiro´, a história lhe pareceu nebulosa, mas a registrou, e fez muito bem. Mas perguntou: Quem teria sido o sargento-mor de Formigas, incumbido de hospedar a princesinha? Admitiu que teria sido o seu bisavô Antônio Xavier de Mendonça, então sargento-mor. Descartou-se a tese, quando Olyntho da Silveira aventou a hipótese do nome de Gerônimo Xavier de Souza. Suponho que seria válida uma pesquisa sobre o fato, não haveria nada a perder e se esclareceria uma dúvida secular, se bem que aprofundar-se na prole do primeiro imperador do Brasil é tarefa de grande dimensão, por motivos consabidos. No caso da princesinha sertaneja, professores e alunos da Universidade poderiam prestar contribuição de relevo. Tenho alto respeito pela família imperial brasileira. Mas são fatos. Esse grande cronista, culto, intransigente, independente, rigoroso na análise, irônico, que foi Fausto Wolff, comentou mais de uma vez a personalidade de Pedro, sua vida amorosa. Aliás, não foram poucos os historiadores que se ativeram ao tema, até porque agrada aos bisbilhoteiros da crônica pátria. Ele declarava não querer contar a história, mas contava que Sua Majestade, em 1828, já era pai de 28 filhos, dez de matrimônios e 18 fora dele. Nem a doceira negra do Palácio de São Cristóvão, nem uma freira da Ilha Terciaria escaparam da gravidez real. O caso mais rumoroso teria sido o de Clemence Saiset, bela francesa, modista de uma das mais refinadas casas de moda da Rua do Ouvidor. Delso Renault registrou que a literatura, como a moda francesa, se difundia no Rio de Janeiro, trazida pelos costureiros, modistas e almanaques. Os profissionais da costura procuravam uma locação, em uma ´rue française d`un bout à l`autre´. Homens e mulheres estavam atentos à moda que chegava de Paris, cujas toaletes seguiam figurinos franceses. Quando descia do Palácio de São Cristovão ao Paço Real, onde está hoje a Praça XV, o elegante proclamador da independência fazia questão absoluta de observar as modas e, mui especialmente, as modistas. Num determinado estabelecimento exibiam-se os papéis pintados de Bernard Wallenstein, expostos no nº 98, na Nova Rua do Ouvidor, hoje a Travessa. O astuto filho de João VI só vislumbrava uma mercadoria: A mulher do proprietário, 25 anos, já com dois filhos. Entro no finale mais melindroso. O galante soberano não queria ferir suscetibilidades, melindrar. Procurou saída honrosa para si e a bela francesa. É o que consta. Assim, muito profissionalmente, convidou Monsieur Pierre, esposo e chefe dos negócios, para envolver em papel decorativo as paredes das enormes dependências do Palácio de São Cristóvão. Enquanto o marido pintava, o imperador e Clemence ´pintavam´ na residência do casal. Até que, inopinadamente, não sei se pela tarde, o artesão francês chegou em casa e encontrou S. Majestade em pelo. Clemence explicou: ele caíra do cavalo exatamente em frente à residência, sentiu dores e ela lhe estava a aplicar unguentos. O francês não se revelou ou se deu por vencido. Mandou afixar à porta do estabelecimento da Rua do Ouvidor uma placa: ´Fornecedor Real´.
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