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Mensagem: FATOS E PERSONAGENS DO ANTIGO BREJO DAS ALMAS Outra noite, após um exaustivo dia de trabalho, tomado pelo cansaço e fadiga, cai em profundo sono ou talvez em um estado de vigília onde o espírito se afasta provisoriamente do corpo, passei a navegar pelas reminiscências do meu passado, volvendo aos meus tempos pueris situando-me na década de 1960-1970, pondo-me a caminhar pelas ruas do Brejo das Almas, onde perfilavam à minha frente, em minha memória, todos os fatos e antigos personagens daquela época, hoje em sua grande maioria, no “andar de cima” certamente ao lado do Criador, pois, merecedores que são, muito fizeram aqui “em baixo” para de certa forma nos distrair ou tornar nossos dias mais doces. À guisa de curiosidade devo informar que “sou brejeiro” sem que jamais tivesse residido dentro do Brejo. Sou, na verdade, nascido em Cana-Brava, há poucos quilômetros do Brejo, onde meus avós, tinham um sitio. No entanto, jamais sai da Cidade, pois aquela época, a não ser Montes Claros, era o Brejo a mais próxima cidade dotada de toda infra estrutura, e como todos devem saber, Cana-Brava, onde nasci, era e é até hoje um povoado que pertence ao municio de Francisco Sá, ou melhor, Brejo das Almas. Entrando na Cidade, ouço ao longe o som melancólico de uma sanfona executando melodias próprias do lugar, em cujos refrões se escutava também o latido triste de um cão vira-latas. Era Zezinho ou como nós brejeiros simples o chamavamos “Zezim tocador” que acompanhado de seu vira-latas “vazamundo”, vinha em minha direção tocando sua velha sanfona à caminho da Praça Mariquinha Silveira, onde Feliciano Oliveira e vários candidatos da região, realizavam animado comício, regado a muita pinga do brejo, cerveja e churrasquinho dos bons. Quem como eu conheceu “Zezim”, sanfoneiro 365 dias do ano e nas horas vagas “raizeiro e expulsador de cobras nas fazendas do sertão”, baixinho, mirrado, com dois reluzentes dentes de ouro na boca, sabe muito bem que alegria e animação passaram longe das músicas que ele tocava. Parecia proposital: todas as canções que nos entristeciam, que iam a fundo do Recôndito, ele tocava. Mas era esta a maneira que aquele homenzinho de alma grande encontrava para nos alegrar, distrair, etc. O pior é que ele não se fixava em um lugar para tocar. Sua música era ambulante, pois, ele andava pelas ruas do Brejo com sua sanfona presa ao peito, tocando sem parar. Algumas vezes, quando passava em frente a alguma casa ou comércio e via que as pessoas estavam lhe dando mais atenção que o devido, parava, punha-se de frente para “o crime” e tome música triste e latidos mais tristes ainda de seu cachorro vazamundo. Até hoje não sei por que vazamundo “chorava tanto”. Se de tristeza pelas músicas que seu dono tocava ou talvez, quem sabe, por pena de nossos pobres ouvidos que, sem outra alternativa, tinham que aturar tudo aquilo. Mas éramos felizes, muito felizes com o querido “zezim tocador”. Acompanhando “zezim tocador” em sua caminhada até o comício, eis que surgem a minha frente aquelas figuras folclóricas que os menos avisados insistiam em alcunhar-lhes de “doidos” mais que na verdade, eram seres maravilhosos, desprovidos de quaisquer maldades humanas que com seus “chistes” também faziam melhores nossa vida no Brejo. Jamais permiti, quando por perto me achava, que alguém extrapolasse nas brincadeiras. Sò as permitia quando notava que eles estavam interagindo conosco. Refiro-me aos “meus amores. Aos meus encantos”: Maria Bocão, Boneca Preta, Pascomiro, Galdina, Roberto Carlos do Mato e outros que minha cansada mente hoje não me permite lembrar. Todos eles juntaram-se a nós com destino a praça do comício, para fazer uma “boca rica”. Em frente ao bar do Neuzão, o “Só Cinco”, (não, ele não tinha mais o bar estica o braço), Dacão violeiro, Mateus Gordo e João Banana nos aguardavam para compor-se a comitiva. Um pouco mais adiante vejo outro grupinho parado em frente ao bar “Roubaram Meu Gato” de propriedade do querido Dê Pena. Lá estavam a palestrar Zé Almeida, Zé Coco, “seo” Mané, Zé Cacetão, Zé Veloso e muitos outros. Todos eles somaram-se a nós que, como se fosse uma Procissão de uma Sexta-Feira Santa, ou dos mortos em dia de finados, não obstante estarmos no mês de Setembro, em plenas festas dos “catopés”, seguíamos tranqüilamente pelas ruas do Brejo. Por um instante sinto o aroma do café da terra e não resisto: paro um pouquinho no “Deus é Bom” e solvo, de uma só vez o precioso liquido que me é servido em um copo destes com fundo grosso de vidro. Continuamos andando e agora eis que estamos no centro nervoso do Brejo. Diante da Casa Viena, a nata do lugar proseia. Passamos reto. Somos ralé cujos votos estão sendo caçados e nenhuma outra oportunidade melhor irá nos surgir de uma nova boca rica a não ser do comício que rola na Praça Mariquinha. Temos pressa. Os espetinhos podem acabar... Praça Jacinto Silveira, lá está o busto imponente do fundador do lugar. Toda honra e toda glória devem ser prestadas a família Silveira. Olho para dentro da Igreja: espere um pouco, aqueles grandes olhos azuis e aquela careca não são do Padre Silvestre Classen, que há muitos anos atrás me batizou lá em São Geraldo? Há, sim, é ele mesmo! Está celebrando a missa de ação de graças por mais um ano de emancipação do Brejo. Quem são aqueles que lá estão! Feliciano Oliveira (Ué, mais ele não está no comício da Praça Mariquinha Silveira, pedindo votos?), Eurico Pena, o Prefeito? (Ué, mas em que ano nós estamos?), José de Deus, Robson Campos, Antonio Soares Dias, etc. E aquele senhor alto e elegante com aparência de Roger Moore, quem é? Responde-me a voz de um dos integrantes de “minha comitiva”: “Como assim, Noquinho, você não o conhece mais? É Rogério Costa Negro!. Pergunto: Rogério Costa Negro, aquele ricaço, dono de várias fazendas de gado e da principal loja daqui de Brejo das Almas, a loja de tecidos “Casa Branca Costa Negro?”. Sim, é ele mesmo! Só que hoje de ricaço não tem nada. A Casa Branca Costa Negro, não existe mais. Foi pras cucúias. Rogério era muito vaidoso. Torrou tudo nos bares e cabarés, com sua fama de dançarino eloqüente e desenvolto. E o Casarão dele da Praça Duque de Caxias, onde os boêmios iam fazer serenatas e angariar alguns dividendos com o Rogério. Enoque, outra vez a voz de um da comitiva, já lhe falei, Rogério hoje é pobre. É igual que “nóis”. “num tem mais nada”! Acabou-se, tudo. Tá bom, já que é assim, vamos logo para a praça Mariquinha Silveira assistir o comício de Feliciano Oliveira, para que depois de ouvi-lo seus correligionários nos libere a “boca rica” do espetinho e alguns refrigerantes! Outra vez a mesma voz só que agora enérgica e implacável ecoa em meus ouvidos: “Noquinho, filho de Deus”. Será que você não entende? Não há comício algum. Não vê que estão todos aqui dentro da Igreja? Até o principal orador de todas as ocasiões o Sr. Olyntho da Silveira, atrás de seus grande óculos, já fez seu discurso e se encontra sentando em um cantinho da Igreja Matriz na Praça de “seu pai?”. Fala-nos, então “zezim tocador”: sendo assim, já que não há comício, vou fazer meu show aqui mesmo na praça em frente a Igreja: rasga o fole acompanhado pelo violeiro e pelo lamento de seu cão vazamundo. Puxado pelo braço por Maria Bocão, Boneca Preta, Pascomiro, Galdina, Roberto Carlos do Mato, sai de mansinho, vou direto para a Pensão da Dona Quino, aonde as jardineiras que vinham de Salinas, Taiobeiras, Grão Mogol e outras plagas do sertão mineiro faziam seu ponto final e de partida. Entro na Pensão. Peço a conta para Dona Quino. Não é nada, Noque, desde quando você paga alguma coisa aqui? O pouco que aqui temos é tudo seu. Bom menino! Vai crescer. Vai pra “Sun Paulo, sê um grande engenheiro e depois vem pra cá ajudá nóis que estamos veinhos”! Sai da Pensão. Despedi de meus amigos “louquinhos”. Antes porém ouvi Galdina me dizer: “Você está drumindo. Acorda primeiro pra você voltá! Assim você num chega em lugá ninhum!” Ganhei as ruas. De saída para Montes Claros onde pegaria o trem da Central passei em frente a um velho casarão rosado, onde apesar de toda a minha curiosidade, jamais soube na verdade quem ali residia. Parece-me que família abastada do lugar. Cheguei a Montes Claros, na velha Central do Brasil, um velho carregador de malas ouvia um velho rádio “Sharp”, onde um locutor de uma rádio local, candidato a deputado, pedia com uma voz rouca, renitente e quase aos prantos que os eleitores não se esquecessem de seu número. Assim finalizava: “O meu número. É o mesmo de sempre... é o querido número... o 212”. Concluído o lamento do candidato, entrava um jingle de um grande Magazine que dizia estar apresentando sua grande coleção primavera-verão 71/72. O Máximo em méis, malhas, calçados e suplementos...Doutor Santos, 127´. Com isto me acordei. Reposicionando-me no tempo e espaço, pela propaganda percebi que já estava no ano de 1971. 1971/1972!!! Ué, mais nós não estamos no ano de 2010??? Nunca se sabe!!! Enoque A Rodrigues
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