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Mensagem: Para dona Ruth e Feli Iara Lúcia Ramos Tribuzzi Querida dona Ruth, Li, enternecida, sua crônica sobre Felicidade Tupinambá –nossa amada Feli. A inesquecível noite de seis de Janeiro de 1961- noite de Reis e véspera do meu casamento deixou-me a mais preciosa lembrança da sua generosidade. Morávamos então em Montes Claros, na Avenida Afonso Pena esquina da Travessa Padre Marcos e na outra esquina, em diagonal, num casarão antigo cujas janelas se debruçavam também na Rua Pedro II, moravam Dona Josefina com os filhos Feli, Cassemiro, Dona Maria e a neta Carmen Lúcia . Hernani Tribuzi e eu nos casaríamos na manhã seguinte, dia sete, às nove horas ,na igreja matriz de Nossa Senhora e São José, o Padre Quirino celebraria a cerimônia. Meus pais receberiam, depois, em casa, grande parte da nossa família salinense, e amigos.Haveria um almoço sob o comando de Olímpio de Abreu,casado com Sílvia Veloso Barbosa, irmã de Mamãe pelo lado materno. Lá pelas sete da noite chegaram inesperados hóspedes de Belo Horizonte, e lembro-me de ter mudado de lugar os presentes recebidos, para abrir espaço e acomodá-los. Feli veio ver se precisávamos de alguma coisa, e Mamãe lhe disse que a casa não fora ainda enfeitada, ela não sabia o que fazer, nem como, e estava meio aflita. Feli atravessou calmamente a rua e trouxe de casa grandes vasos com arranjos de flores secas que nos pareciam belíssimos, mas ela deu neles alguns retoques. Ajuntou verduras, legumes, folhagens e flores e buscou algumas rosas do jardim de Dona Naná Maia, grande amiga e vizinha. Começou a trabalhar, calada e quieta. Montou na mesa da sala de jantar um inacreditável arranjo, usando todos os chuchus, grandes e pequenos , tirados do chuchuzeiro do quintal. Continuou trabalhando noite adentro, tranquilamente, com empenho e perfeição.Suas mãos habilidosas fizeram maravilhas, produziram milagres, e à medida que a noite avançava eu me acalmava, só de estar perto dela, que me falava, no silêncio da noite, sobre o seu próprio noivado desfeito, um grande amor contrariado. A expectativa do casamento me assustava.Tinha apenas dezenove anos, poucas informações, e era pretensiosa, acreditando que o meu amor e o meu empenho fossem suficientes para uma vida feliz .Todas as pessoas da casa se recolheram, inclusive os hóspedes, ficamos as duas, dando os retoques finais. Ao terminar Feli olhou para mim e disse: - Você se esqueceu de pinçar as sobrancelhas, dê um jeito nelas quando acordar. Meu dia começaria de madrugada, assistindo a primeira missa da capela da Santa Casa para comungar. Não poderia ficar em jejum até as nove horas, como determinavam então as normas da Santa Igreja. Depois da missa e do desjejum a prima Gisélia Henrique Lage, também vizinha e madrugadeira, tiraria os “bobs” do meu cabelo, me pentearia com cuidado e ajudaria na maquillagem simples. Lamento não ter uma só foto da casa enfeitada, e não sei se disse a Feli como foi importante sua presença e inestimável ajuda. Faço hoje um agradecimento sensibilizado a ela, ao meu tio Olímpio de Abreu, pelo almoço fantástico, a Águeda Avelar pelas tortas maravilhosas, e a tantos outros montesclarenses generosos que organizaram nossa festa, naqueles bons tempos de simplicidade, quando não havia, ainda, os buffets. Iara Tribuzzi Verão de 2010
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