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Mensagem: VELHICE É VIRTUDE No dia 25 de fevereiro de 2010 completei 65 anos. Agora estou totalmente protegido pelo Estatuto do Idoso, e as pessoas mais jovens são obrigadas a me paparicar. Norberto Bobbio, em seu livro “O Tempo da Memória”, havia me ensinado a descer a escada com uma certa tranquilidade. Tenho meditado muito sobre a velhice. Cheguei lúcido, sem doença grave, tocando um pianozinho e um violãozinho de vez em quando, cantando as músicas que amo, cheio de bons amigos que sempre se lembram de mim e fazendo o que mais gosto, que é escrever. O governo fez e inda faz as maiores injustiças comigo. Paguei INPS, até chegar ao teto máximo, como advogado e só deixei de fazê-lo quando assumi a magistratura. Aí me tornei beneficiário do IPSEMG, que é a previdência social de meu Estado. Contribuí regiamente em todo o período que exerci o cargo de juiz, descontado em folha. Depois que me aposentei continuaram descontando. Entrei na justiça e ganhei a ação. O precatório da restituição está noTJMG há mais de cinco anos para ser cumprido. Só que, pouco tempo depois de minha suada vitória judicial, voltaram a descontar, porque aprovaram uma emenda constitucional, que devolveu à previdência esse direito. Foi mais uma das injustiças perpetuadas através da lei. Administram mal os fundos previdenciários, desviam seus recursos para outras finalidades e depois oneram até os aposentados. E o Estado ainda me deve uma grana preta de parcelas de vencimentos que não me pagou quando eu estava na ativa. Como nunca liguei para dinheiro, vivo dentro de meus limites, o que para mim não é muito difícil, já que nunca tive grandes ambições. Contento-me com o necessário. E sempre acho que Deus me deu até mais do que mereço. Agora, eu que já não enfrentava filas desde os 60, não mais pago ônibus. Mas sou catrumano do Norte de Minas e, por conseguinte, estradeiro, que nem meu querido amigo e conterrâneo Charles Boa Vista. Mês que vem “Vou de trem pra Montes Claros”. Minha estrada tem dores e alegrias, é caminho longo, demorado e de curvas perigosas, mas é minha doce estrada. Adoro conviver com pessoas jovens, especialmente meus três meus netos, e faço todo o possível para que eles gostem de minha companhia e suguem minha experiência, como eu sugo deles a pureza de alma, a esperança, o otimismo e a alegria de viver. Desdenhar do elo que liga juventude e senectude é muito perigoso, até para a identidade de uma nação. Os jovens são meu amanhã e eu sou o ontem deles. Suponho que já superei a andropausa. Estou mais alegre e a esperança está voltando. Tive uma fase difícil. Era medo de morrer, de doença grave e outras coisas ruins. Era um tal de passar o filme da vida e me culpar inclementemente pelos fracassos, olvidando as conquistas. Era um pessimismo de dar dó. Um amigo até me disse, depois de uma conversa: - Bala, você ´tadidadó´! De repente as coisas foram mudando e minha viagem ficou mais amena. Perdi o medo da morte. Vinicius de Moraes ensinou-me no poema “O Haver” que quando ela chegar, cerimoniosa, pensando ser uma antiga amante, será minha mais nova namorada. Estou ficando tão atrevido que arrisco a dizer que se ela for uma mulher gostosa levará de mim a maior cantada. E é assim que lá vou eu, na estrada, querendo ser criativo, querendo fazer coisas novas para não cair na mesmice. Até algumas loucuras. Outro dia fui ao cinema num Shopping e pedi meia-entrada, dizendo que era idoso. A moça da bilheteria não acreditou e exigiu que eu lhe apresentasse a carteira de identidade. Respondi: - Minha filha, não só vou lhe apresentar, mas vou lhe dar um beijo. Que moral ela me deu quando, depois de examinar o documento, pediu desculpas e disse que eu aparentava ter 50 anos! Ela não sabia que eu aprendera com Mário Quintana que velho é apenas aquele que é um ano mais velho do que eu e que velhice não é doença, é virtude.
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