Alberto Sena
albertosenabatista@gmail.com
83441
Por Alberto Sena - 25/7/2018 07:53:28 |
Xô, Alzheimer Urbano Alberto Sena Em reflexões sobre o meu interesse em preservar a memória pessoal e coletiva de Montes Claros, chego a algumas conclusões. A principal delas, após consulta feita diretamente a minha alma, está relacionada ao fato de eu nunca ter conhecido os meus avós, tanto por parte de pai como por parte de mãe. Muitos dos amigos de infância, vizinhos, dentre outros, tinham avós vivos. Eu não. Não podia dizer: “Vou lá para a casa de vovó – ou vovô”. É de bom alvitre dizer logo, o não ter avós vivos nem os ter conhecido, a não ser a avó Antonina, mãe de minha mãe, mas por fotografia, nunca vi o rosto dos demais avós, mas, isso não significou para mim nenhum trauma ou algo do tipo. É só uma questão de curiosidade, querer saber sobre a “herança de si mesmo”. Somado a isso, a minha função de escrevinhador também me impulsiona a buscar preservar a memória. Quem me acompanha no dia a dia sabe, frequentemente, eu assino publicação de crônicas na mídia de Montes Claros, principalmente no site montesclaros.com desde 23 de fevereiro de 2010. É só verificar para constatar, a maioria das crônicas está relacionada a Montes Claros, do tempo em que vivi aí, do nascimento, pelas mãos de Irmã Beata, aos 22 anos de idade, quando de mala e cuia vim morar em Belo horizonte. A distância também contribuiu para formar o interesse pela preservação da memória coletiva de Montes Claros. Foi como catapulta e me levou a mergulhar nas lembranças vividas em minha terra querida. Se eu tivesse o dom da ubiquidade, poderia ter visto de perto o crescimento de Montes Claros, estando em Belo Horizonte. Como não o tenho, não vi, não assisti a cidade crescer e se expandir pelos quadrantes. Daqui dos píncaros da Serra do Curral, já pude alertar em algumas oportunidades sobre o perigo de a memória de Montes Claros ser comprometida pelo “Alzheimer urbano”. Na cidade há gente da maior competência para ajudar a evitar o avanço da doença. Alguns poderão dizer, “é tarde”. E eu digo: antes tarde do que mais tarde. Vamos imaginar o seguinte: em Montes Claros há um certo número de pessoas que se interessam pela preservação da memória coletiva dos montesclarinos e da cidade. Que essas pessoas possam se reunir e discutir a questão tendo em vista formar uma equipe, cada um com a sua atribuição, com o objetivo de escarafunchar os escaninhos da memória de Montes Claros e, ao final, depois da trabalheira toda, publicar um ou mais livros. Como fez Hermes de Paula e deixou para as gerações. Na minha modesta opinião, a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) tem a obrigação de encabeçar uma iniciativa neste sentido. E por intermédio dela, envolver os vários segmentos da sociedade montesclarina necessários para a realização do trabalho. Se isso não for feito já, a memória coletiva de Montes Claros irá se limitar à preciosidade deixada para nós por Hermes de Paula. Senão, vejamos. Contemplando Montes Claros como é hoje, quem nasceu ontem sabe, a explosão da cidade culminou com o surgimento da BR 251, que precisa ser duplicada urgentemente. Sem entrar no mérito da estrada em si, ela trouxe para Montes Claros gente de toda parte do Brasil. A miscigenação acontecida é capaz de arrancar do antropólogo Darcy Ribeiro alegria sem tamanho, esteja ele aonde estiver. Mas, esse movimento sociológico e pendular de brasileiros trouxe toda sorte de gente. De lá para cá, a violência cresceu aos níveis de cidade grande. Basta fazer um rápido exercício de memória. Antes, as casas de Montes Claros tinham muretas com portões e alpendres. Quem quisesse, de um salto podia transpor as muretas. Duma hora para a outra viam-se as muretas serem transformadas em muros altos. Depois dos muros vieram as cercas elétricas. Lembro-me bem, que se chegou a cogitar impedir o alastramento delas, mas ninguém conseguiu barrá-las porque a própria polícia, ao aceitá-la confessava a sua incapacidade de dar segurança adequada à população. E todas as gentes se fecharam com medo da violência. No estágio atual, Montes Claros parece estar em estado de guerra. As concertinas utilizadas nos campos de batalha desde a Segunda Guerra Mundial, e a gente via só nas fitas de cinema, ressurgiram e passaram a enfear a paisagem urbana, muito mais do que os muros altos e as cercas elétricas. Mas, a Montes Claros de então, aquela das décadas de 50, 60 e 70 ainda vive, embora sufocada pela metrópole a que a cidade se transformou. Se houver interesse comum – tudo começa a partir do desejo; é como caminhar, se o primeiro passo não for dado, não haverá caminhada – o ímã da energia cósmica imantará a materialização da obra. O que não deve mais acontecer é uma simples justificativa do porquê não ter feito. Como dizia Darcy Ribeiro, um dos mais ilustres filhos dessa terra de Gonçalves Figueira e de índios Tapuia: “Você pode conseguir dinheiro em qualquer parte do mundo, desde que tenha na mão um bom projeto”. |
Por Alberto Sena - 23/7/2018 08:08:16 |
Desta casa jorrou aluvião de lembrança Alberto Sena A casa em epígrafe é secular. Posso afirmar isso. Mas, se não for, já é quase secular, por uma razão simples, questão de aritmética. Tenho 68 anos de idade e conheço essa casa desde criança. Certamente, ela já existia bem antes de mim. Encaro-a, hoje, ao revê-la, aparentemente integra, como testemunha muda de muitos acontecimentos montesclarinos, porque, ali próximo, moraram personalidades importantes como Capitão Enéas, benemérito da antiga Burarama; e Olímpio Campos, ex-prefeito de São João da Ponte, assassinado em Montes Claros durante um comício, em cima de um palanque. Essa casa, ela poderá ser vista na esquina de ruas General Carneiro e João Pinheiro. Conheço-a só do lado de fora, hoje pintada de azul clarinho, portas e janelas em azul mais forte. Eu a vi pela primeira vez, quando fui à casa de Rubinho, primo meu, batizado Rubens Sena Almeida, filho de Cipriano Almeida e de minha madrinha Ambrosina, irmã de mãe, Elvira. A casa de Rubinho ficava na esquina, mas do outro lado. Essa bendita casa é a única sobrevivente da especulação imobiliária nas imediações. E é de importância para a memória tanto dos seus proprietários, certamente, como também para muita gente, imagino. Particularmente, a existência e a resistência dela são importantes para mim como também para o jornalista Felipe Gabrich, que morou ali próximo. E ouso garantir, também, que é importante para a prima, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros, Magela Sena - Geralda Magela Sena Almeida, irmã de Rubinho. Em conversa com Felipe, hoje, ele me conta que a casa era de Dona Angélica Souto, já falecida. Moram nela, atualmente, os filhos de dona Angélica, Geraldo, Francisco e uma irmã deles que, no momento, o amigo não se lembrava do nome. Havia outros filhos dela, como Zeca, que teria morrido afogado no Rio Carrapato, praticamente inexiste hoje. Ele, certamente, era da época em que as mães temiam perder os seus filhos afogados nos rios de Montes Claros, como o Melo, por exemplo, Laginha e Pai João. Havia mãe que passava a unha no braço do filho logo ao chegar em casa, depois de ter ficado fora a tarde toda. Se ficasse a marca, um rastro branco, a surra era fatal. Mas, a casa de Dona Angélica ali está em pé e isto é a parte mais importante. É toda feita de adobe. As casas de adobe são deveras resistentes. Vêm os ventos, e elas permanecem firmes. Vêm o sol e a chuva e lá estão elas como se tivessem sido edificadas sobre rocha. Uma particularidade dessa casa é o telhado. Em vez de caibros de madeira, os dela são de taboca, segundo Gabrich. E as telhas, são autênticas, feitas nas coxas. Sim, antigamente, os moldes dessas telhas eram as coxas. Evidentemente, não se usa mais fazer telhas assim, mas a expressão, “feito nas coxas” permaneceu e tomou conotações várias e uma delas é bem debochada, ao se referir a alguma coisa feita sem zelo. Essa casa foi a essência da conversa demorada com Gabrich, quando tratamos da importância de preservar a memória de Montes Claros. Aqueles que tinham a história da cidade na palma da mão já se foram, como Luiz de Paula, Hermes de Paula, João Valle Maurício, Simeão Ribeiro Pires, entre outros. Se não houver uma iniciativa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, do Museu Regional do Norte de Minas (MRNM) ou de quem mais se interessar, a história da cidade irá desaparecer assim como os rios Carrapato, Melo, Laginha e outros desapareceram. O que é de deixar qualquer um contristado. Os tempos atuais seguem em velocidade de Fórmula 1. De certa forma, tento resgatar alguma coisa sobre a memória de Montes Claros e minha. Já está quase ao ponto de ir para o prelo mais um livro – só aguardo o interesse de alguma editora – este intimamente relacionado com a memória da cidade e de minha geração, com destaque para as décadas de 50, 60 e 70, intitulado “Retratos de Nós Mesmos”. Penso o seguinte: uma pessoa acometida da “Doença do Alemão”, o cruel Alzheimer, perde a memória e isso é muito triste. E uma cidade sem memória, devido a negligência de seu povo, é como um pai cujo filho desalmado abandonou-o ao esquecimento depois de receber tudo dele. Na época do antigo “Primário”, no então Grupo Escolar Gonçalves Chaves, hoje Escola Estadual, as professoras ensinavam tudo sobre o município de Montes Claros. Pergunto: hoje em dia as escolas têm esse cuidado? |
Por Alberto Sena - 3/7/2018 11:55:35 |
MONTES CLAROS HOMESSA! POR QUE CRESCEU TANTO? Alberto Sena Montes Claros... Ora, com efeito! Por que cresceu tanto? Aonde foi parar a Vovó Centenária? Agora só uma mancha na lembrança! Montes Claros... Nunca saiu nem nunca sairá de mim. Porque bem sei. A cidade cumpre a sua sina. É linda em sua feiura. Mas é linda em mim. Que nela nasci, pelas mãos da Irmã Beata Já faz bem uma data. Montes Claros... Que eu amo e quero tanto! Só por um instante, Se possível fosse, Gostaria de resgatar a cidade. Daqueles tempos idos. Guardados na mochila das eras. Montes Claros... Quando se podia em tranquilidade Cantar serestas Promover festas Homessa! Cresceu tanto! Para o meu espanto! Da Montes Claros de então Encontro só fantasmas Espectros de Tuia’s a perambularem Pelas estreitas ruas. Montes Claros... Cheia de gente Carros e motocicletas Quase deram adeus Às bicicletas Em nome do progresso Montes Claros... Mas, não tem problema, não Ainda assim amo E como amo Montes Claros Porque lá está o meu umbigo Lá onde mora quem faz jus ao provérbio “Vinho azeite e amigo O mais antigo” |
Por Alberto Sena - 28/6/2018 14:41:27 |
Wander Pirolli em 3 tempos Tempo 3: Homem de coração de carne Alberto Sena Uma das alegrias de Piroli era quando podia sair da cidade para pescar. Ele ia com Lincoln Gonçalves, Ricardo Eugênio, Julinho, Bebeto e também o filho, Bumba, ainda menino, que o inspirou a escrever “Os Rios Morrem de Sede”. Um dia, ele quis mostrar ao Bumba um rio de água limpa. Viajou quilômetros e mais quilômetros e não encontrou nenhum. No finalzinho da década de 70, entrante na de 80, Piroli foi convidado pelo então diretor-executivo do Estado de Minas, Camilo Teixeira da Costa a criar um semanário de compras, intitulado Jornal de Shopping. Eu me encontrava em Viçosa, na Universidade Federal de Viçosa (UFV), na Imprensa Universitária, dando um refresco do “Caso Jorge Defensor”, devido a ameaças recebidas. Piroli me ligou dizendo: “Volta, porque temos um jornal (de Shopping) e uma rádio (Guarani Onda Rural) para nós”. Voltei na maior alegria. Em vez de um jornal de compras, como o diretor queria, ele fez um semanário com reportagens, artigos, fotos abertas. Concorria com o Jornal de Casa, do Diário do Comércio. A Redação do Jornal de Shopping funcionava no 24° andar do Edifício Acaiaca, na Avenida Afonso Pena, entre ruas Tamoios e Espírito Santo. Foi um belo jornal, mas Camilo Teixeira da Costa não se conformou. Evidentemente, porque sofria pressão de Brasília em relação ao semanário de Piroli, pela cobertura política incômoda para a elite, na ocasião. Numa sexta-feira do início do ano de 1982, Piroli e a redação haviam fechado as páginas do jornal, que circulava sábado e domingo, quando, sem aviso prévio, um recado da direção dos associados na primeira página, cercado, informava ser aquele o último número. Sem dar maiores explicações. Sem o conhecimento prévio de Piroli. Claro, ficamos órfãos. Todos, este foi o sentimento. Enquanto dirigia o Jornal de Shopping, Piroli publicou o livro “Minha Bela Putana”. Findo o jornal, reencontrei-o no Diário de Belo Horizonte, publicação do Jornal Balcão, mas foi por pouco tempo. O veículo fechou as portas um ano depois de lançado. Concomitante ao Jornal de Shopping e até depois dele trabalhei com Piroli na Rádio Guarani Onda Rural, emissora de ondas curtas feita exclusivamente para o homem e a mulher do campo. Rádio chefiada por André Carvalho e o conterrâneo Alair Almeida. Eu na chefia de redação, juntamente à jornalista Cristina Bahia, e Piroli fazendo crônicas para alegria dos ouvintes do campo. A rádio de modo geral recebia pilhas e mais pilhas de cartas do homem e da mulher do campo. Uma das mais lindas experiências que vivi profissionalmente. Como curiosidade, no Jornal de Shopping, uma vez, Piroli conversava ao telefone com Jaguar, diretamente do Rio de Janeiro, quando cochilou com o aparelho na orelha e nós ouvíamos o ronco dele e a voz de Jaguar gritando do outro lado: “Alô, Wander; alô...” Foi um cochilo, e ainda com o fone na mão, o mestre explicou ter ficado até tarde – ou até muito cedo – na rua e não havia dormido. Particularmente, orgulho-me de ter trabalhado com Piroli. Confesso, ele teve forte influência em minha vida pessoal e profissional. Imagina, tinha 22 anos quando vim de mala e cuia de Montes Claros e fui trabalhar com ele. Wander era de uma geração de humanos de coração grande. Coração de carne. Tinha sempre palavra de estímulo à equipe. Sabia utilizar profissionalmente os talentos da turma. Só a presença dele tanto diante da máquina de datilografia, quando na Editoria de Polícia, quanto no Jornal de Shopping, diante do computador era suficiente para os seus comandados terem a liberdade de redigir os textos. E ele editava dando sublimes títulos. P.S.: Faziam parte da equipe escolhida por Piroli para fazer o Jornal de Shopping: Sebastião Martins, Gilberto Menezes, Lincoln Gonçalves, Gilson Menezes, Mazza de Palermo, Roberto Araújo, Kao Martins, Bóris Feldman, JD. Vital, Félix Fernandes Filho, Marco Otávio (Marão), Mário Valle, Alberto Sena, entre outros. |
Por Alberto Sena - 26/6/2018 19:26:25 |
Wander Piroli em três tempos Tempo 2: Ele formou uma legião de seguidores Alberto Sena Quando Piroli foi trabalhar no jornal Estado de Minas, egresso do jornal Binômio, ele já havia publicado o primeiro livro, “A Mãe e o Filho da Mãe”, de quando boêmio, frequentador da boêmia na Lagoinha, ele ficava na rua até altas horas e a mãe, como toda mãe, preocupava. Ele era uma cara com muito senso de família, dizia sentir culpa por ficar até tarde na rua, mas a boemia não saía dele, até que saiu um dia sem ter saído de fato. Como gostava de sorver uma pinguinha! Ele gostava tanto de beber cachaça que mantinha debaixo da mesa, na redação do Estado de Minas e do Jornal de Shopping, um garrafão cheio. É claro, do garrafão todos se serviam. Piroli tinha sobre a mesa uma xícara de louça, com a qual se servia de cachaça ao longo do dia como se fosse café. E só dava uma trégua na bebida quando as crises de enxaqueca vinham. Ele tinha de ficar em ambiente escuro, dizia. E era verdade. Mas é importante testemunhar, nunca vi Piroli embriagado. Estava sempre com o semblante sóbrio, alegre. “Quanto mais eu bebo mais sinto-me bem”, dizia. Teve uma vez em que nos encontramos cedo ali na confluência da Rua Espírito Santo com Avenida Álvares Cabral, onde havia uma lanchonete. Eu tomara café em casa e ele me chamou para lhe fazer companhia. Piroli pediu meio copo duplo de cachaça; pediu para espremer uma laranja e mandou preparar quatro ovos quentes. Ele bebeu quase tudo de um só gole e mandou os quatro ovos em seguida. Fumava que era uma chaminé. Acendia um cigarro no toco do outro. Quatro maços por dia. Às vezes eram cigarros de fumo de rolo. Vejo-o, agora, picando o fumo para fazer cigarro. Mãos de dedos grossos, mas ágeis. Só não se sentia feliz totalmente porque costumava dar giro de 360° em volta de si mesmo e era quando deparava com a crueza e a crueldade da realidade. Disse-me uma vez, “não sou exemplo para ninguém”, mas era. O fascínio intelectual dele era o mais importante, não a extravagância. Penso, aqui, agora, com as minhas mangas de camisa, que ele se sentia com poder para fazer o que quisesse devido ao seu porte físico avantajado. Ninguém conseguia acompanhá-lo. Mas ele, consigo mesmo, vivia muitos momentos de felicidade. Podia-se notar isso nos seus olhos verdes. E um desses momentos era quando jogava sinuca com os amigos. Podia não ser exemplo no tocante a extravagancia na bebida e no cigarro, mas, intelectual e politicamente, ele sem querer querendo formou uma legião de seguidores. Uma coisa, muitos não entendiam: “Por que Piroli era editor de Polícia e não de Cultura ou Política?” Sendo um intelectual, escritor, jornalista formado na redação do jornal Binômio, para essas pessoas era um espanto. Mas, nós sabíamos, ele estava no lugar certo. A Editoria de Polícia era como um rio de correnteza no qual pescava almas humanas e fazia contos expondo sua literatura e sua maneira ética, crítica, de fazer cobertura de polícia em tempo politicamente nublado. Piroli amava a liberdade. Evidentemente, a Polícia Federal e o Dops tinham o nome dele em lista. Dele e dos demais da editoria. Foi a Editoria de Polícia chefiada por Piroli que deu ao EM um dos mais importantes prêmios de reportagem de sua história, o Prêmio Esso, em 1977, com o “Caso Jorge Defensor (Tito Guimarães, Alberto Sena, Francisco Stelling e Geraldo Elísio estes dois últimos só na cobertura da repercussão na Assembleia Legislativa) um operário torturado pela polícia até ficar paralítico da cintura para baixo. Caso de repercussão nacional e internacional. Piroli transformou a cobertura do setor de polícia. Antes dele havia repórter considerado “de polícia” ou “da polícia”. Ele nos tinha como “repórteres cobrindo o setor de polícia”. Não tínhamos compromisso com a polícia, a não ser cobrir os acontecimentos no âmbito das delegacias. E muitas das vezes nosso carro de reportagem chegava aos locais de ocorrências antes da polícia. O carisma de Piroli reunia em volta da mesa dele, antes de iniciar a jornada do dia, escritores como Oswaldo França Júnior, Luiz Vilela, Garcia de Paiva e outros, além de toda a redação que a ele ia pedir bênção. (Aguardem o Tempo 3, final, amanhã). |
Por Alberto Sena - 25/6/2018 11:41:29 |
Wander Piroli em três tempos 1ºTempo : E ele dizia não ser exemplo para ninguém Alberto Sena Depois da publicação do livro “Wander Piroli – Uma manada de búfalos dentro do peito”, de Fabrício Marques, edição da Conceito Editorial, conforme o prometido ao autor, eu torno público um texto escrito sobre o mestre e amigo, Piroli. Foi um dos exemplares humanos mais importantes conhecidos nesses anos vividos. Aliás, ele foi uma das pessoas com as quais aprendi uma quantidade para chegar até este estágio de vida. Recordo-me como se tudo estivesse acontecendo agora, daquela manhã de maio de 1972, quando o conterrâneo jornalista Robson Costa me apresentou ao Piroli, a pedido do então editor geral Cyro Siqueira, na Editoria de Polícia do jornal Estado de Minas. Piroli estava sentado à mesa na redação e me assuntou com os olhos verdes perscrutadores de quem nascera no Bairro Lagoinha, em Belo Horizonte, lá onde havia zona boêmia e ele via e ouvia o som de navalhas cortando o ar da malandragem. Trocamos poucas palavras e ele me entregou ao repórter Fialho Pacheco, o mais importante da época do jornalismo romântico (cinco vezes Prêmio Esso), com um ensinamento que considero fundamental: - Vamos sempre buscar o porquê das coisas. Fulano matou? Matou. Por quê? O outro furtou, roubou? Sim. Por quê? Havia, ainda, censura prévia à imprensa. Pegamos o finalzinho dela. O sensor ficava nas oficinas. Não se podia falar dos acontecimentos políticos e policiais sem correr o risco de censura. Era censura oficial de governo militar e, também, censura vinda do 2° andar do prédio da Rua Goiás, 36, onde funcionava a Redação do Jornal Estado de Minas. Sempre conseguíamos burlar a censura. A equipe era da melhor qualidade: Paulo Emílio Coelho Lott (Peclott), Fialho Pacheco, Vargas Vilaça, Paulo Narciso, João Gabriel da Silva Pinto, Tito Guimarães Filho, Marcos Andrade, Arnaldo Viana. Não que houvesse instrução neste sentido, mas mostrávamos os acontecimentos em sua realidade nas linhas ou, senão, nas entrelinhas para burlar a censura tanto a oficial quanto a do jornal. Ele era visto ideologicamente como comunista, desde os tempos de estudante e advocacia. Em verdade, era um pouco de tudo, anarquista também. Era um homão, gigante bem-humorado. Passar um tempo com Piroli era um privilégio, porque de um aprendizado fora do comum. Houve uma época em que jogávamos futebol de salão, hoje futsal, na quadra do Olímpico. Éramos adversários. Tião Martins e outros colegas jogavam. Disputando com Piroli uma jogada, ele pisou literalmente na bola e escorregou, teve o tornozelo quebrado em alguns pontos. Fez até um ruído característico de ossos partindo. Ele teve de ficar de molho durante uns dois meses porque puseram vários parafusos no tornozelo dele. Recordo-me de uma vez em que durante o fazimento de uma reportagem no mato, ali nos arredores do Bairro das Indústrias, o delegado Edson Deroma, da Delegacia de Furtos e Roubos, deu um tapa no rosto de um suspeito de haver assaltado um banco. Isso na frente dos repórteres. Com o cinegrafista da Itacolomi filmando. E na presença do superintendente da Metropol, delegado Ignácio Gabriel Prata Neto. Pior, o indivíduo nada tinha a ver com o caso. Narrei tudo ao Piroli e tínhamos de encontrar uma maneira de noticiar o fato, ao qual ele deu o título; “Delegado dá tapa terapêutico no rosto de suspeito de roubar banco”. Mas, para mim, Piroli era um humanista de corpo inteiro e alma. Ele nutria grande amor à raça humana. Solidário e de coração tão grande quanto o próprio corpo. Foi um precursor do movimento em defesa do ambiente inteiro, numa época em que a termologia criada na reunião de Cúpula da Terra, em Estocolmo, era incipiente, ao publicar o segundo livro dele intitulado “O Menino e o Pinto do Menino”, baseado em uma história do filho, Bumba, que ganhara na escola um pinto amarelinho e o levou para casa, isto é, o apartamento onde a família morava. E agora, o que fazer com o pinto do menino?! (Aguardem o Tempo 2, amanhã. Leiam o livro “Wander Piroli – Uma manada de búfalos dentro do peito”, do poeta escritor Fabrício Marques.). |
Por Alberto Sena - 10/5/2018 06:42:13 |
Carta às suas excelências bandidas Alberto Sena Não há por que chamar de Suas Excelências bandidos. De nada adianta eles meterem-se dentro de um terno e se engravatarem para não parecerem bandidos, porque o são, de espírito, mente e corpo. E em primazia. As Suas Excelências de terno e gravata são as mais bandidas dentre todos os bandidos aprisionados ou em liberdade. É de encabular o quanto são. Quem tem consciência tranquila não entende como é que Suas Excelências bandidas conseguem pôr a cabeça no travesseiro e dormir sono honesto. Duvidamos que estejam conseguindo dormir naturalmente, sem o auxílio de soníferos. Em sã consciência achamos Suas Excelências bandidas serão vítimas de si mesmas. Será que não têm noção alguma do mal que fazem ao roubarem o dinheiro público e com a cara de pau maior do mundo se apresentarem à sociedade como se fossem gente ética ocupada com o bem-estar do povo? Querem enganar a quem? A justiça? Só porque ela tem os olhos vendados? Mas todo o povo brasileiro está vendo. As Suas Excelências bandidas não têm “desconfiômetro” para perceberem que não dá para engolir gente desse tipo. As Suas Excelências bandidas só olham para o próprio umbigo e também dos apaniguados. Não podem sequer pôr o pé na rua sem correr o risco de serem apedrejadas ou “ovacionadas”. Desde que não seja com ovo caipira, tudo bem. Suas Excelências não terão saúde para usufruir de tanto dinheiro roubado da mão de quem padece toda sorte de dificuldade. Tiraram da boca de milhões de brasileiros o rango de todo dia – será que Suas Excelências não enxergam isso, ou fazem de conta que não, para não terem pesadelos mais frequentes? Se não fosse Suas Excelências bandidas, o Brasil seria considerado hoje País de Primeiro Mundo. A montanha de dinheiro saída pelo ladrão daria para transformar a Nação de modo a não haver necessitados. Enquanto Suas Excelências estão se banqueteando, será que não sentem nenhum remorso, quer dizer, incômodo no estômago quando veem imagens de crianças padecendo fome? Pais de famílias desempregados; jovens, adultos e anciões morrendo à míngua porque Suas Excelências e suas mãos cheias de dedos bandidos se metem nos cofres públicos com voracidade, sem que pensem no dia de amanhã. Ninguém vive para semente. Suas Excelências haverão de passar – ainda bem – e se creem ou não, um dia terão de dar conta de toda a bandalheira praticada em vida. Se a justiça dos homens falha em quantidade, a Justiça divina não. E na hora do pegar para capar, Suas Excelências não terão outras Suas Excelências para livrá-las de punição. Em verdade, em verdade, Suas Excelências não dignificam nem a roupa que vestem nem a comida que comem. Consideram-se poderosos, mas não honram nem as calças que vestem. Historicamente arderão na fogueira da opinião pública juntamente as suas gerações, porque nos anais da República estarão registrados os malfeitos urdidos na calada das noites. Suas Excelências que enviaram fortunas em dinheiro alheio para os paraísos fiscais haverão de arder no fogo dos infernos porque fizeram o Brasil dar passos para trás ao manterem os brasileiros na ignorância para mais facilmente manipularem-nos. Apesar de tudo que fizeram de mal ao Brasil e aos brasileiros, é chegado o momento do despertar. Suas Excelências tão dependentes de votos para sobreviverem, não serão reeleitos e não sendo de fato irão amargar o ostracismo político, mas não se safarão da justiça dos homens porque não terão mais salvaguardas. As Suas Excelências bandidas são como os porcos em chiqueiros de antigamente. Estão chafurdando na lama, ricos do dinheiro público, mas nada ficará encoberto e haverão de lamentar pela eternidade adentro por terem praticado tanta crueldade, quando tudo tinham para serem colocados em pedestais. |
Por Alberto Sena - 16/4/2018 17:12:01 |
Prestação de contas Alberto Sena Outro dia mesmo, com 17 anos, iniciava carreira de jornalista diretamente na Redação de “O Jornal de Montes Claros”, e a cidade ainda estava com seus mais de cem mil habitantes. A carteira de trabalho foi assinada pelo jornalista e advogado Oswaldo Antunes, dono do jornal, na Rua Doutor Santos, 103, onde atualmente é uma agência bancária. Corria o ano de 1969. A primeira cobertura foi de Esportes, e logo depois, Polícia. Passados menos de três anos, me transferia para o jornal Estado de Minas, em Belo Horizonte, onde tive a sorte de ser indicado pelo amigo Mário Ribeiro ao editor Geral do Estado de Minas, jornalista Cyro Siqueira, levado pelas mãos do amigo Robson Costa, jornalista filho de minha professora no curso Primário, Dona Bernadete Costa, no então Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Cyro pediu ao Robson para me levar ao jornalista e escritor Wander Piroli, editor de Polícia (em maio deve ser lançado um livro sobre ele, da lavra do escritor poeta e jornalista Fabrício Marques) e, então, pude muito aprender com ele e com veteranos como Fialho Pacheco (cinco prêmios Esso), Vargas Vilaça, Paulo Emílio Coelho Lott (Peclott), Roberto Drummond, Celius Aulicus (General), André Carvalho, Délio Rocha, Sebastião Martins, Olympio Coutinho, Lincoln Gonçalves, entre outros. Passou-se meio século. Num átimo. E neste momento vem a reflexão do quanto a vida humana no planeta é curta. Não quero dizer com isso que estou morrendo, embora tenha morrido várias vezes a cada um dos humanos queridos que partem deste plano para uma das moradas do Pai. Pelo contrário, estou no melhor da minha vida. Em paz, com saúde e alegria de viver. Mas, evidentemente, nada posso garantir porque estou literalmente nas mãos de Deus, disso tenho consciência plena. Depois desses anos todos como jornalista, nessa fase atual da vida pude perceber poder fazer algo mais. Com uma máquina fotográfica na mão descobri uma outra maneira de ver a vida. E, desde então, a câmera fotográfica passou a ser a minha companheira. Ando sempre com ela. Qualquer coisa bonita ou feia, saco-a e disparo, como aconteceu no último sábado, em um supermercado da capital, onde um mendigo apanhado furtando um pedaço de carne quase foi estrangulado pelos seguranças. No final de 2017, revelei a mim mesmo e ao mundo como escritor ao lançar o meu primeiro livro “Nos Pirineus Da Alma”, no qual relato em 192 páginas, sendo 34 com fotos coloridas, as nossas duas experiências – minha e de Sílvia Batista – no Caminho de Santiago de Compostela, na França e na Espanha, onde percorremos 1.300 quilômetros a pé, com mochila nas costas, em 40 dias somados (o livro está à venda nas livrarias da Savassi, em Belo Horizonte, e nas livrarias de Montes Claros, podendo ser enviado pelos correios, bastando para isso, quem quiser, demonstrar o interesse para contato). Outros livros estão a caminho, se Deus quiser, e o próximo deles poderá ser lançado no final deste ano, de crônicas sobre a nossa Montes Claros querida, de quando nós podíamos nos encontrar em cada esquina. Hoje, Montes Claros tornou-se metrópole, com os bônus e os ônus de cidade grande, ao se expandir por todos os lados e crescer para cima, com os arranha-céus integrando a paisagem. Acredito já ter ultrapassado a metade do meu tempo, mas isso não me incomoda porque o importante é gostar de viver e sentir-se vivo. Não ser casmurro nem ranzinza, sempre buscar ajudar a construir um mundo de paz, concórdia e bem-estar para todos os seres viventes. Quem me acompanha sabe, sempre há uma boa mensagem a divulgar, dentro do princípio do pensar consciente, pensamento holístico, com atuação local. Graças ao Jornalismo, tive a oportunidade de dar volta ao mundo. Fiz viagens incríveis, e a principal delas foi a Israel onde pude seguir os passos de Jesus Cristo pela chamada “Via Dolorosa”, em Jerusalém. Visitei o Santo Sepulcro. Fiz o Caminho de Santiago duas vezes. Visitei as Muralhas da China. Fui ao Japão. E outros lugares mais. Como diz o meu amigo que há anos não vejo, Alair Almeida, “não tenho o que me queixar da vida, s’eu queixo é de burro”. Mas, não tive tempo de ganhar dinheiro. Em compensação, durmo diariamente oito horas de sono sereno, com a consciência tranquila, pessoal e profissionalmente. Creio em Deus. Sinto Deus em mim. Diante de quem me coloco como um cano de PVC vazio. A água não é minha. Sou um servo reles cheio de gratidão. Sei que todos nós estamos de passagem pelo planeta Terra. Não sei para onde irei ao atravessar a porta. Não me preocupo com isso, ocupo. Sempre busquei ser ao invés de ter. Não fui cooptado pelo consumismo. E se fosse para recomeçar, tudo faria novamente. Claro, com aprimoramentos vários. Hoje, posso dizer de coração e alma cheia de sonhos por concretizar: nada sou. Vivo porque em mim há uma centelha do “Eu Sou”. |
Por Alberto Sena - 9/4/2018 09:13:42 |
Mergulho na Praça de Esportes Alberto Sena A importância do acervo de fotografias de Dona Dorzinha – Maria Das Dores Guimarães Gomes – sempre terá realce quando o assunto for preservação da memória individual e coletiva dos montes-clarenses. A chamada “doença do alemão” tanto pode obscurecer a memória de um cidadão como de toda uma população que não tenha a sua história registrada no papel por meio de textos e de fotografias. A foto em epígrafe fez a mim, e certamente a todos de minha geração – década de 50 – reviver a sensação de dar um mergulho nos ares da Praça de Esportes de então, quando subíamos as escadas até os píncaros do escorregador, como se alcançássemos o cume de uma montanha, e nos deixávamos escorregar sentindo o vento veloz sacudir os cabelos numa sensação de êxtase somente sentida quando se é criança. Essa foto me fez reviver, não com a mesma nitidez como se tivesse acontecido no dia de ontem, mas recordo-me da alegria esfuziante como subia os degraus da escada para ter acesso ao cume do mundo; sim, era essa a sensação lá do alto onde o menino tinha visão ampla, 360°, e se atiraria pelo escorregador abaixo até bater com os dois pés em terra. Essa foto me fez recordar das iluminadas manhãs de domingo, depois da missa na Catedral de Nossa Senhora Aparecida ou na Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, para cumprir com a recomendação materna, e só depois se podia ir à Praça de Esportes, onde o espírito infantil parecia ganhar asas de condor e sobrevoava – e saboreava – os ares da liberdade em plenitude. Revendo, agora, a cena dominical, a escada parece até perigosa para as crianças – e olhe que havia outra maior, salvo engano, utilizada por crianças maiores. Mas era importante para exercício das pernas logo cedo. Esse subir escada e descer escorregando de lá de cima era algo sublime e não há palavras para explicar sua intensidade, inda mais depois de passado tanto tempo. Naquela época, a Praça de Esportes era o centro do Universo. E as manhãs eram mais mágicas, porque em Montes Claros daquela época, a vida transcorria calmamente; o trânsito de veículos era incipiente; as ruas eram tomadas por bicicletas. Raramente se via uma motocicleta. Havia as popularmente chamadas “furrecas” e os caminhões precisavam de uma manivela introduzida na frente, do lado de fora, logo acima do para-choque a fim de pegar no arranque. No ar, respirando a fragrância dos ares sertanejos misturados com o pó vermelho característico do Cerrado hoje devastado, a atmosfera era romântica. Ouviam-se músicas clássicas e os cantores nacionais como Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Orlando Silva, entre outros, profissionais da melhor qualidade. Na Praça de Esportes o verde predominava. Embora Montes Claros esteja em uma região árida, havia água suficiente para molhar as plantas. Os fícus eram podados periodicamente com tesouras enormes empunhadas em duas mãos. Havia piscina de natação para criança e oficial para os adultos, onde se realizavam competições estaduais de nado e salto do trampolim, quando Aprígio exibia as suas qualidades. Havia também duas mesas de pingue-pongue debaixo de um telhado sustentado por meia dúzia de pilastras. Ali reinávamos na modalidade “rodinha”. Mandando para o outro lado todos os companheiros. Era, então, quando me sentia rei sem coroa, mas reinando até que, cansado, abdicava do trono. Para concluir e enfeixar as lembranças na foto do arquivo de dona Dorzinha, realçando a sua importância quase arquetípica, basta dizer, se um dia a foto não tivesse sido sacada por alguém para ser doada anos depois ao acervo e ser agora exibida, para minha alegria e de muitos de minha geração, este texto por mim assinado não teria existido. O que, num hipotético futuro do pretérito, eu teria muito a lamentar. A Praça de Esportes, que ainda hoje é motivo de polêmicas, ainda está lá. A última notícia dela, recentemente, dava conta de que o prefeito Humberto Souto iria construir nela um estacionamento de veículos. Prometia requalificar a Praça de Esportes, transformando-a em um dos melhores lugares de esporte e lazer de Montes Claros. Se assim for, assim seja. Vamos bater palmas. Se assim não for... Bem, se assim não for será, então, uma outra história. |
Por Alberto Sena - 16/2/2018 10:10:16 |
A repetição da "bestage", sete anos depois Alberto Sena A “bestage” que o ex-prefeito Luiz Tadeu Leite queria fazer com a Praça de Esportes – Montes Claros Tênis Clube (MCTC) – em 2011, sete anos atrás, o atual prefeito, Humberto Souto quer repetir, agora. Em vez de revitalizar ou requalificar a Praça de Esportes, devolver a ela a dignidade quase perdida, o prefeito vai transformar o espaço, latente no cerne da memória dos montesclarinos, em estacionamento de veículos. A notícia chegou, aqui, nos píncaros da Serra do Curral, por meio de um artigo assinado por Farley Soares Menezes, advogado especialista em Direito Administrativo e Direito Tributário. Segundo ele, “Humberto inicia a destruição da Praça de Esportes e resolve transformá-la em estacionamento”. Publicou, no início do maior Carnaval de Montes Claros, o decreto 3645, de 9 de fevereiro. Hoje, vejo a notícia publicada no jornal Gazeta Norte Mineira, com o secretário Municipal de Esportes, Igor Dias, explicando, entre outras coisas, que a Praça de Esportes é deficitária. Gasta por mês R$ 10 mil de energia elétrica e R$ 10 mil de água sem possuir nenhuma fonte de renda. Os 79 estandes do chamado “Calçadão Popular” não pagam aluguel, e nem mesmo o restaurante local. Mas será que não há uma outra maneira de tornar o espaço privilegiado da Praça de Esportes em algo na mesma linha esportiva para se tornar superavitário? Sem desvirtuar a finalidade daquela área tão presente na memória de gerações de homens e mulheres, a maioria ainda presente, graças a Deus, para ver o fim do cenário de suas muitas histórias? Neste ponto me recordei da crônica dirigida ao então prefeito Luiz Tadeu Leite, ocasião em que me utilizei da expressão “bestage” usual em Montes Claros, para criticar a tentativa de destruição da Praça de Esportes, espaço privilegiado antes, nas décadas de 50/60/70, e mais ainda nos dias atuais devido à sua localização na paisagem urbana. Certos pontos da crônica escrita em 2011 encaixam direitinho no caso do prefeito Humberto Souto. “Naquelas manhãs e naquelas tardes de décadas atrás, em Montes Claros, desde a infância, passando pela adolescência e a fase adulta, será que o prefeito em algum momento pensou no desastre à memória física da cidade, o fim da Praça de Esportes como patrimônio público? Será que ele avaliou o dano à memória cognitiva e transcendental de milhares de montesclarinos?” “Não me recordo de nenhuma vez ter encontrado o prefeito naqueles embates aguerridos em torno das mesas de pingue-pongue da Praça de Esportes. Nem nas saborosas peladas daquelas tardes e nos domingos, depois da missa na Catedral ou na Matriz. Ele pode até ter vivido a Praça de Esportes de antes. E em algum ponto pode até ter a marca dele, mas se ele não tem a noção real do que faz, isto é o suficiente para duvidar do amor que ele possa ter por Montes Claros. Transformar um lugar daquele em estacionamento é algo tão indigno da Praça de Esportes. Visa atenuar um problema e poderá criar muitos outros. Fazer o que o prefeito intenta fazer sinaliza claramente, como os claros montes ao redor, o desamor pela memória da cidade. As histórias de Montes Claros se vão perdendo por falta de atenção. Seria o caso de o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros tomar uma atitude a respeito. O Automóvel Clube, com meio século de existência, um lugar onde aconteceram encontros memoráveis, tanto festivos quanto políticos, da noite para o dia foi desativado e sabe lá o que poderá acontece ao imóvel, a essa altura correndo todos os riscos, inclusive o de vir abaixo para dar lugar a um edifício. Afinal, a cidade está crescendo para cima. A memória de Montes Claros vai indo de popa ao vento. Dilui feito fumaça. O clássico exemplo é a Rua Doutor Santos. A transformação da principal rua da cidade aconteceu em menos de 40 anos. Até a década de 70, ela possuía graça. Casarões antigos, que, se preservados, dariam um toque especial à hoje desfigurada Rua Doutor Santos. O prefeito Humberto Souto poderá ficar marcado na história de Montes Claros como o prefeito que deu o golpe mortal na nossa memória. Na memória de quem deu braçadas na piscina olímpica; de quem fez acrobacias ao pular dos trampolins; de quem fez a galera gritar de emoção no Ginásio Darcy Ribeiro; de quem furtivamente, escolhia a Praça de Esportes como recanto para namorar. Nem vou repetir aqui quesitos importantes tratados por outros defensores da manutenção da integridade da Praça de Esportes. Nem me julgo no direito de crucificar a administração pública porque há décadas não vivencio o dia a dia da cidade. E, é claro, quem defende a medida do prefeito para considerar nossa reação como “saudosismo”. Se achar isso, é porque não entende da importância da memória coletiva. Prefere o “alzheimer urbano”. Mas, alertar o prefeito, sugerir a ele utilizar-se da medida do bom senso para não cometer “bestage” que o marcará para sempre, isto eu posso fazer daqui dos píncaros da Serra do Curral, como fiz quando o prefeito era Luiz Tadeu Leite. Posso e faço-o, agora, em bom “montesclarês”: prefeito deixa de “bestage”. |
Por Alberto Sena - 3/2/2018 10:05:10 |
Corby parecia ser doce como o licor Alberto Sena As fotos inseridas por Wagner Gomes no Facebook, do acervo fotográfico de Dona Dorzinha, mãe dele, são para mim como uma campainha que toca fundo na memória, e não contenho o ímpeto de debulhar uma história. Foi o que me aconteceu neste momento ao ver a foto de Corbiniano Rodrigues Aquino (Corby), que morava atrás da Praça de Esportes, em Montes Claros enquanto a minha família, próximo da casa dele, na Rua Marechal Deodoro. À época, não conheci o Corby poeta, mas “an passant” o Corby comerciante. Mais tarde, em plena adolescência, aos 13/14 anos, quando montado em uma bicicleta Monark de tamanho médio, azul e amarela, ia ganhar alguns trocados fazendo cobrança de publicidades publicadas no O Jornal de Montes Claros, é que conheci, um outro lado dele. Era um homem magro, sempre de bigode, extrovertido e falante. Gostava de ir à casa dele fazer cobrança porque ele era bom pagador e a minha comissão estava sempre garantida. Foi muito tempo depois que conheci o lado poeta de Corby. Antes, porém, devo dizer, ele inventou o licor de pequi da marca Corby, produzido até hoje e vendido no exterior. Ouvi dizer que a produção do licor é limitada. Tenho em casa uma garrafa do xarope da mesma marca. É bom para tomar com uma dose de cachaça, embora não seja adepto, mas de quando em vez, pode acontecer. Gosto de dividir com a minha cúmplice homeopaticamente uma garrafa de vinho tinto seco em certas ocasiões. Houve uma vez, quando já morava em Belo Horizonte e era repórter do jornal Estado de Minas, cobrindo o setor agropecuário, fiz uma reportagem com Corby, na fábrica de produção de licor. Ele me levou para conhecer as dependências da fábrica e me mostrou um tanque enorme cheio de pequis, onde ficavam curtindo para ser transformado em licor. Por essa época conheci o lado poético de Corby, homem operoso, sempre em atividade. Se não me engano foi ele o criador da Associação Comercial e Industrial de Montes Claros (ACI) e o primeiro presidente durante meia dúzia de anos. Procurei na internet, e numa publicação do historiador Dário Cotrim, “Poetas ilustres in memoriam”, encontrei alguma informação sobre Corby, que nasceu em Januária, morou em São Paulo (Avaí) e foi para Montes Claros no ano de 1956, quando o menino aqui tinha seis/sete anos. Segundo conta o historiador, “a família tem engavetado uma coletânea de poesias, com promessa de publicá-la em livro”. Se já publicou, não tenho notícia. Se não, convinha publicar, a fim de consagrar a memória de Corby, “o primeiro dirigente do Mobral na cidade”, pelos idos de 1972. Com dois livros publicados – “Aconteceu em Serra Azul” e “Aconteceu”, ele ocupou a Cadeira 27 da Academia Montes-clarense de Letras, e a de número 25 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Em 30 de janeiro de 1987, Corby morreu. Porque foi homem importante para Montes Claros, e aproveitando a ocasião de ver a foto dele incluída no acervo de Dona Dorzinha, não deixei passar a oportunidade de homenagear Corby por tudo que fez e por ter nos deixado o saboroso licor. Para completar, melhor seria ver publicada a coletânea de poemas dele. Não vivi a intimidade do homem, mas me parecia uma pessoa doce como o próprio licor de pequi. Segue uma amostra de poema corbiniano. Pingos d`agua Corby de Aquino Chove. Um ar triste baila pelo espaço O sol se esconde amortecendo a frágua E a terra boa colhe em seu regaço, Os milhões e milhões de pingos d’àgua. Vertendo os céus as inocentes báguas, As enxurradas crescem num ameaço. Cessam as lágrimas; dá-se a deságua E tudo se harmoniza passo a passo. Também no turbilhão da minha vida, Quando o perfil de certo alguém eu traço, Meu ser inunda lágrimas sentidas. E quando dos meus olhos são vertidas, Sonho vendo apoiada no meu braço, A imagem pura da mulher querida. |
Por Alberto Sena - 28/1/2018 06:23:06 |
O medo de mãe morrer Alberto Sena Penso que toda criança tem medo de a mãe morrer. Acho isso natural. Tinha muito medo de a minha mãe morrer quando eu era criança. Talvez, porque ela era asmática e quando estava em crise, o peito dela arfava como o fole do ferreiro Simeão, pai de Pedro e Luiz, moradores próximos lá de casa, na Rua Corrêa Machado. O calor de Montes Claros aumentava o mal-estar de mãe. Era preciso ligar o ventilador, mas mesmo assim o problema dela me deixava angustiado. Passava na porta do quarto dela para ver como ela estava e tinha receio até de entrar. De certa feita, acordei ali pelas 9h. Sonhei que mãe havia morrido. Claro, levantei-me assustado e chamei por ela. Ela não respondeu. Saí andando pela casa chamando as pessoas, mas não havia ninguém em casa. Fui ao quintal e não vi ninguém. Só as galinhas e os perus fazendo glu-glu. Outro pensamento não passou por minha cabeça senão o da certeza de que mãe morrera e todos foram levá-la para o Cemitério do Bonfim e não me acordaram. Foi quando abri a porta da rua para ver se encontrava alguém. Levei o maior susto. Na casa do vizinho estava uma chusma de gente. Fiquei lá de casa espiando, pensando o que será que aconteceu, quando vi minha mãe entre as pessoas. Fui lá ver. A vó de Teófilo havia morrido. Teófilo era um menino que de vez em quando jogava finca comigo e bolinha de gude. Corri para perto de mãe, mas não contei a ela o meu sonho horrível. Aliás, nunca contei isso a ela. Estou contando agora, tanto tempo depois do ano de 1985, maio, 12, Dia das Mães, quando ela de fato partiu para outra dimensão. Em verdade, acredito, enquanto dormia o meu inconsciente deu uma viajada e captou o que acontecia na casa do vizinho. Só pode ter sido esta a conclusão que chego lembrando do ocorrido, tanto tempo depois. Na ocasião da morte da avó de Teófilo senti um grande alívio em saber que não era minha mãe. Tinha eu uns sete anos de idade. Ela não me deixou entrar na casa para ver a vó de Teófilo morta. Naquela época, a percepção da morte era um escândalo. Principalmente porque alguém me disse que “o nosso coração é preso por um fio fininho”. Um fio. Se o fio partisse. Pronto. Bateríamos as botas. Hoje a minha percepção da morte é bastante diferente. Aliás, a morte não existe. O que acontece é como o camarada passar pelo umbral de uma porta e alcançar uma dimensão diferente da nossa. Mas a vida continua. No Universo não existe morte. Existe vida. Nós estamos fadados a vivermos eternamente. O espírito é imortal. Particularmente, não tenho medo da morte. Muita gente o tem. O que acontece comigo é um certo temor de como isso um dia se dará, porque, afinal de contas, não nasci semente. Mesmo porque a gente sabe que para ganhar vida a semente precisa morrer. É assim que se dá na agricultura. Sem a morte da semente não há planta. O importante é estar preparado para a passagem pela porta. É uma ida sem volta. Biblicamente falando, a gente não encontra nenhuma passagem que fale de reencarnação neste plano de vida. Mas há citação de que, aqui, morre-se uma vez só. Ressurreição, sim, existe como promessa de Jesus Cristo, quando Ele voltar para julgar os vivos e os mortos. Se você me pergunta se gosto de viver neste plano de vida, eu respondo: gosto, muito; amo a vida. Mas não sinto apego nenhum. A começar que não dá para ser feliz em um mundo onde a Humanidade vive feito barata tonta. Não dá para ser feliz diante de tanta injustiça vista. Como ser feliz, de fato, sabendo que há por aí tanto conflito? O egoísmo, com as suas ramificações, torna a vida humana um tormento. É um querendo engolir o outro. Os valores considerados verdadeiros sendo deturpados por valores falsos, sem raiz alguma. Ao mesmo tempo, eu me ocupo comigo para que possa viver bem por dentro. Utilizo a minha cabeça em benefício de mim mesmo e dos que me cercam na convivência da lida diária. Ocupo-me do viver. Se a morte é certa, por que vou viver morrendo? Vivo, com alegria, até quando Deus quiser. |
Por Alberto Sena - 25/1/2018 09:55:12 |
Destino escrito com caneta tinteiro park 51 Alberto Sena O casal Cesário Peixoto e Josefina (Sinhazinha) era compadre dos meus pais. Eles haviam batizado a minha irmã mais idosa, Terezinha Batista Murça – Tê chamada, hoje com 88 anos, cheia da graça de Deus. O menino, pois que mantenho com todo carinho o espírito infantil, vivia o período do quinto ao sétimo ano de vida, na década de 50, quando aconteceram as experiências a serem contadas, tudo ocorrido em Montes Claros, onde nasci, terra pela qual sou apaixonado, e será tema do meu próximo livro, se Deus quiser. Cesário Peixoto era um homem de estatura baixa, com protuberância abdominal acentuada. Gostava de cheirar rapé, se não me engano, fumava charuto. Tinha o nariz de tamanho acima da média, usava chapéu de feltro e vestia terno de linho. Além de gostar de comer colher de sopa cheia de pimenta malagueta, antes de dar a primeira garfada no prato, ele contumaz criador de galos de briga. Galos índio, principalmente, os mais valentes. Aos domingos, pai e ele se encontravam na rinha da Praça de Esportes, e lá, em companhia deles, assistíamos os mais violentos embates entre índios galos e galos de outras raças. Acontecia com frequência de um dar uma esporada fatal no adversário e este sangrar ali mesmo na rinha. Sob os gritos dos apostadores vencedores e perdedores. Não estou criticando o costume, não era bom, mas era um costume e foi abolido pelo então presidente da República, que encalacrou o Brasil ao renunciar mandato pensando que o povo iria levá-lo nos braços de volta ao poder. Deu no que deu. Ter proibido as brigas de galos foi o maior feito de Jânio Quadros. A amizade do meu pai com Cesário Peixoto era ao ponto de ele, a mulher e a filha deles irem lá em casa almoçar e nós também íamos à casa deles para almoçar ou mesmo fazer uma visita cordial, em uso naquela época, nem tão longe assim como se pode depreender. Cesário Peixoto foi muito importante para o menino. Por duas razões: ter me ensinado a jogar damas foi uma delas. Ele possuía um tablado enorme, pelo menos aos olhos do menino. As pedras eram proporcionais ao tamanho do tablado. Eram pintadas de vermelho e azul. Aprendi a jogar e fui tão bem que ganhava dele todas as partidas. Foi indo, foi indo, ele me disse: - Vou dar a você esse jogo de damas de presente. E deu. Este foi um dos meus primeiros espantos. Dei pulos de alegria e não parava de jogar com os irmãos e com quem chegasse em casa para fazer uma simples visita. O outro presente recebido das mãos de Cesário Peixoto, que para mim teve um valor simbólico enorme, como se fora um sonho premonitório, foi uma caneta tinteiro Park 51. De tanto gostar de vê-lo escrever com a caneta, cresci o olho. E ele entendeu e me perguntou um dia: - Gostou da caneta? - Gostei – eu disse, com sorriso banguela. - Quando você aprender a ler e a escrever, lhe darei a caneta. Para mim foi o máximo. Não demorou muito e já estava na escola aos sete anos e juntando uma ficha aqui e outra ali, aprendi a ler e a escrever e Cesário Peixoto cumpriu com o prometido. Fiquei todo metido. Naquela época não era comum uma criança de sete anos possuir uma caneta tinteiro Park 51. Penso, hoje, aos 68 anos, que essa caneta foi marcante para mim ao ponto de determinar o que eu poderia ser ao longo da vida profissional, jornalista e escritor. Jornalista sou desde aos 17 anos, com carteira assinada a partir de1969 e registro profissional no Ministério do Trabalho. Se, antes, de fato já me chamavam de escritor, agora, de direito, o sou ao publicar o livro “Nos Pirineus da Alma”, sobre as duas experiências no Caminho de Santiago de Compostela, na França e na Espanha. Posso estar enganado, e se eu estiver enganado, por favor, me corrijam. Mas, o leitor não acha que essa caneta Park 51 foi determinante na minha vida profissional? Pensando bem, essa é a melhor parte do meu caminho. Entre o “jogo” (de damas – Cesário Peixoto gostava era do carteado no Clube Montes Claros) e a Park 51, fiquei com a caneta tinteiro, e o significado disso é da maior importância para um escriba de mais de meio século de serviços prestados. *Quem se interessar em adquirir o livro Nos Pirineus Da Alma, em Belo Horizonte é encontrado na Savassi, nas livrarias Ouvidor, Scriptum e Savassi Livros. Em Montes Claros, nas livrarias Palimontes, Nobel e Thais. Pode ser enviado pelos Correios, basta manifestar o interesse e entraremos em contato. |
Por Alberto Sena - 26/12/2017 08:35:17 |
De como uma coisa leva à outra Alberto Sena Nesses quase quatro anos em que vivi fora de Belo Horizonte, com dois ou três retornos porque era exigida a minha presença física, não tive a iniciativa de descer à parte de baixo do prédio onde moro. Confesso que gostei do que vi e tanto gostei que fotografei as flores e as demais plantas ornamentais. Recordei-me de quando estava em Grão Mogol cidade do Norte de Minas/Vale do Jequitinhonha, onde percorri lugares naturais maravilhosos que nem mesmo muitos dos nativos viventes lá conheceram e não se interessam em conhecer para amar de fato a região. Subi serras com mochila nas costas. Desci encostas, entrei em grutas, cavernas, lapas, sítios arqueológicos, cachoeiras. Ouvi o canto de passarinhos mil, retratei alguns. Respirei o ar ainda puro da cidade histórica, tão ou mais histórica do que as chamadas “cidade históricas”. Vivi vida simples e simplificada. Contei a história da cidade, exaltando o quase nada explorado Barão de Grão Mogol, que na região viveu e explorou diamantes, os quais fizeram dele um dos homens mais ricos do Brasil colônia. Para mim é um desperdício a cidade não viver do turismo e da exploração positiva da figura do barão. Mostrei a simplicidade de figuras humanas que jamais teriam a oportunidade de serem reconhecidas e valorizadas por meio de uma crônica e fotos. Fiz da minha página no Facebook uma revista, porque o lugar não possui nenhum meio de comunicação a não ser boca a boca e o alto-falante. Se Grão Mogol tivesse ocorrido não na linha entre o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha, mas no Continente Europeu, a essa altura, com 159 anos de emancipação política, os brasileiros estariam se arrancando daqui para visitá-lo. Inclusive os próprios grãomogolenses. Lá passei os meus anos mais gostosos, posso dizer assim. Tudo devido ao lugar em si. Fiquei em contato direto com a Mãe Natureza. Minha alma se encheu de belas paisagens. Ninguém na história de Grão Mogol fez o que fiz por Grão Mogol, divulgando a cidade desde o primeiro dia que lá cheguei até o último, quando publiquei o texto intitulado “Ai de ti Grão Mogol” em defesa daquela bela urbe maltratada – e da região também. Com textos e fotos por mim produzidos e enviados ao mundo. Agora, estou de volta a Beagá e aqui vim voando nas páginas do meu primeiro livro – “Nos Pirineus da Alma” – que conta a nossa dupla experiência no Caminho de Santiago de Compostela, na França e Espanha, até a Catedral milenar. Com as emoções, as aventuras, a espiritualidade e o misticismo do Caminho. Quem o lê faz o trajeto conosco. Foi o livro que nos trouxe e será lançado aqui em meados de janeiro, mas já se encontra nas livrarias de Montes Claros, Palimontes, Nobel e Thais. Em Belo Horizonte é encontrado na Savassi, nas livrarias Scriptum, Ouvidor e Savassi Livros, ao preço de R$ 60,00. Era para tratar, aqui, da beleza dos jardins do prédio onde moro, jardim cuidado por Alessandra. Mas foi o comentário de Fátima Sapucay, comparando as flores do nosso jardim às de Grão Mogol, que me levou a mergulhar na beleza daquele lugar inesquecível. |
Por Alberto Sena - 18/12/2017 14:54:16 |
“GUARDA MEU ANEL BEM GUARDADINHO” - Alberto Sena Quando li o convite de lançamento do livro “O Anel Que Tu Me Deste”, convite feito pela autora, professora, escritora e doutora em Literatura, Ivana Ferrante Rebello, imediatamente saltou do escaninho mais profundo da memória, aquela brincadeira infantil de passar o anel. Vi-me numa roda de meninos e meninas em frente da nossa casa, na Rua São Francisco, em Montes Claros, no início da noite, sob o torpor do calor montesclarino, brincando: “Guarda meu anel bem guardadinho; guarda meu anel...” E o anel ia de mão em mão espalmada. O gesto era tão acalentador! A gente sentia, como sinto ainda agora, o calor humano, a energia transmitida de mão em mão. E quem tinha o anel escondido entre as mãos o deixava com alguém ali na roda e depois lançava o desafio: “Com quem está o anel?” Quem adivinhava ficava com ele e a cena se repetia em meio a algazarra da meninada. Ivana Rebello, pelo que pude perceber a partir de uma simples síntese do livro, feito por ela a meu pedido, mergulhou em um arquétipo para revelar a sua admiração por João Guimarães Rosa, do qual é especialista. “O Anel Que Tu Me Deste”- Grande Sertão: Veredas e a História de Amor Que Virou Livro” certamente é daqueles livros que a gente não quer interromper a leitura, principalmente se estiver espichado numa rede, em algum lugar do Sertão, porque, afinal de contas, o Sertão está em todo lugar. “O livro foi nascendo aos poucos, em três anos de pesquisa”, conta Ivana. E ela foi me dando um aperitivo dele de dar água na boca. “Parte de uma imagem dentro do romance: a pedra joia encontrada em Araçuaí e que Riobaldo quer entregar a Diadorim, seu amor maior”. Só mesmo quem conhece a obra de João Guimarães Rosa, como Ivana conhece, seria capaz de escrever um livro desse a partir de uma imagem do grande romance. E ela continua: “Mas Diadorim não a recebe e essa pedra via circular no romance de mão em mão e sempre com nomes trocados: ametista, turmalina, esmeralda...” Na visão de Ivana, esse trecho do livro nada mais é do que um jogo de “passar o anel, muito comum na nossa infância”. Nessa época, não havia a parafernália de meios díspares a desviar as atenções das crianças como existem hoje em dia. Parece que a pureza infantil daquela época era mais pura do que a dos tempos atuais, quando os bebês, pode-se dizer, já nascem com celular na orelha. “Esse jogo” – Ivana continua – “é a metáfora da forma de escrita de Guimarães Rosa: ele recolhe as histórias (anel) das mãos alheias e as reelabora poeticamente, culminando em sua literatura. Ele repassa essa pedra-história ao leitor. Daí o título do livro”. Pesquisadora, Ivana recebe essa pedra, “como dádiva de amor”. E ela vai mais além, “na análise das cartas trocadas entre ele e sua mulher, Aracy, descubro que Guimarães Rosa viveu uma linda história de amor. O livro é dela, como diz a dedicatória. É o anel de casamento que ele oferece a ela. Enfim, são histórias de amor que entrelaçam a ficção e a vida”. P.S.: O lançamento do livro “O Anel Que Tu Me Deste” acontecerá nesta quarta-feira, 20, às 20h, no Museu Regional do Norte de Minas (MRNM). |
Por Alberto Sena - 8/12/2017 20:48:15 |
AI DE TI GRÃO MOGOL Alberto Sena Em março de 2018 completariam quatro anos que moramos em Grão Mogol. O verbo da frase está no futuro do pretérito não à toa, porque estamos indo embora. Voltamos à casa, na capital. Antes, porém, como jornalista, e agora escritor, com livro publicado – “Nos Pirineus Da Alma” – me sinto no dever de prestar mais este serviço a Grão Mogol fazendo uma análise rápida do que foram esses anos, aqui, vividos vistos e revistos. Faço isso por amor a este lugar “sui generis”, que, pelas próprias belezas naturais aquinhoadas pela Natureza, já podia estar bem adiantado, não fosse o fato de ao longo dos seus 159 anos de emancipação política ter sido administrado de maneira equivocada. Nenhuma das administrações, inclusa a atual, levou a sério o turismo, vocação natural da região. Por quê? Porque os resultados do turismo não surgem da noite para o dia. O turismo exige investimentos a fim de criar infraestrutura adequada para recepcionar os visitantes. Pode ser que investimentos feitos hoje só venham a dar resultados práticos na administração seguinte. Daí os prefeitos terem certa aversão em focar o turismo como a sua primeira prioridade. O turismo seria a redenção do município, depois do advento do garimpo de diamante. Seria o diamante maior, em cima do qual a população está sentada. Daria empregos, elevaria o nível cultural dos grãomogolenses. A sede seria bem cuidada e essa urbe de tantas histórias que se esfacelam transformaria numa “Suíça Sertaneja”, com o aproveitamento adequado de seus recursos hídricos, caso do histórico Ribeirão do Inferno, maltratado e parcialmente poluído. Para dar a Grão Mogol o que o município precisa, os administradores deveriam ter espírito público. Trabalhar visando o município e o povo, sem pensar em si mesmo. Fazer como fez Toninho Rebello, considerado o melhor prefeito de Montes Claros, que recusou salário e trabalhou para a cidade e o povo. Depois dele, não apareceu nenhum outro. Comparando, desde quando chegamos até hoje, a cidade piorou bastante. As praças ainda eram lindas quando chegamos. Noivas vinham de fora para fazer álbum de fotografias na Praça Ezequiel Pereira, praça da Matriz chamada. Basta recorrer às fotos de quando a praça era bonita e bem cuidada e fazer comparação com o estado dela, atualmente. A praça Coronel Janjão, que não era tão bonita quanto a da Matriz, mas parecia agradável, simplesmente acabaram com ela na administração passada e a atual nada fez em termos de obras na sede do município, nem para recuperar a praça cuja maquete até foi publicada na administração anterior. Para piorar ainda mais as coisas, os bandidos vieram a Grão Mogol e explodiram com dinamites os cofres dos dois bancos e da agência dos Correios. Por causa disso, o comércio local está quase às moscas. Os feirantes da zona rural que vinham a Grão Mogol trazendo mercadorias e aproveitava para resolver questões bancárias, foram para outras praças. É uma cena triste ver pessoas simples na porta do Banco do Brasil e na agência lotérica, que faz as vezes de Caixa Econômica Federal, na expectativa de incerto atendimento. Conversei outro dia com Fabiana Arruda, irmã do dono da lotérica, para saber o que afinal acontecia, porque uma hora não tem dinheiro e em outro momento os computadores estão fora do ar. Ela informou que a lotérica trabalha sem nenhum lucro. Está simplesmente prestando serviço porque havia recebido orientação da Caixa Econômica de não juntar dinheiro na agência para não atrair os bandidos. A lotérica, segundo ela, precisa de um banco para funcionar, e como em Grão Mogol não há mais banco (ambos funcionam a meia boca, como se diz) quem mais sofre é a população e o comércio ambos desamparados. E como a população nem o comércio dispõem de meios para reclamar, e mesmo que tivesse talvez não reclamasse, porque a Prefeitura Municipal garante o salário de boa parte da população, a cidade depende o tempo todo de Montes Claros para quase tudo. Na situação em que a sede do município se encontra, praticamente paralisada, nem conseguiu realizar o importante Festival de Inverno neste ano, houve quem sugerisse “transplantar Grão Mogol em Montes Claros” para que a cidade pudesse funcionar. Seria até mais econômico, inclusive, porque evitaria o trânsito diário de grãomogolenses indo a Montes Claros para solucionar os seus problemas. Grão Mogol perdeu a sua grande oportunidade de se dar bem aos olhos do governo estadual por causa de um erro de estratégia política. Antes das eleições para o governo de Minas, José Afonso Bicalho Beltrão Silva, filho desta terra, atual secretário de Estado da Fazenda de Minas Gerais veio à região buscar apoio para Pimentel. No primeiro momento parecia ter conseguido, até que o lado majoritário fez a opção errada e José Afonso largou Grão Mogol de mão. P.S.: Hoje, 8 de dezembro, a cidade esteve toda a manhã sem comunicação. Não havia internet nem telefonia celular. Está quase chegando naquela situação: “O último a sair apague a luz”. Luz? Da vela. |
Por Alberto Sena - 6/12/2017 11:31:01 |
Pé no Caminho Alberto Sena Algumas pessoas me perguntam quanto tempo levei para escrever “Nos Pirineus Da Alma” e também sobre outros detalhes não encontrados no livro. Aproveito o ensejo para responder a quem interessar possa, porque sinto em cada uma dessas pessoas o desejo de percorrer a trilha milenar, o Caminho de Santiago de Compostela, na França e Espanha até a famosa Catedral onde estariam os restos mortais do apóstolo Tiago Maior. Uns não fazem a caminhada porque não dispõem de recursos para bancar as passagens de ida e volta e muito menos a estada. Aproveito para informar: o correto é dizer “estada”, porque “estadia” é de navio no porto. Quase sempre ouço as pessoas dizerem “feliz estadia”, e penso logo em um navio chegando ou saindo do porto, como acontece com a própria vida, uns chegam e outros partem. Há os que não fazem o Caminho porque convivem com alguma dificuldade física. Mas nem toda dificuldade física seria empecilho para alguém fazer o percurso. Encontramos pessoas, poucas, é verdade, com limitação física e ainda assim tinham os seus motivos para fazerem a caminhada. Quem percorre 100 quilômetros, comprovadamente, com o “passaporte” da caminhada contendo os carimbos dos lugares por onde passou, recebe a “Compostelana”, documento comprobatório, Cada um faz o seu Caminho. O importante é dar o primeiro passo. As pessoas mais velhas, mesmo sendo dotadas de espírito aventureiro, muitas delas já chegaram à conclusão de que não têm mais ânimo para uma empreitada dessa, a pé; andar mais de 800 quilômetros, correndo alguns riscos não tão sérios a fim de concluir tudo na famosa Catedral. Mas a maioria das pessoas acha de duas uma, ou as duas: fazer o que fizemos é uma loucura – e até admitimos, mas como loucura lúcida, porque ao fim e ao cabo a gente tem de admitir, é uma façanha poder provar a si mesmo até onde vão os limites, sem que para isso seja necessário cometer exageros. A outra ideia é de que fizemos uma besteira sair andando com um pedaço de pau na mão, gastando salto e sola de botina. Cada um tem todo direito de pensar o que bem quiser a respeito do Caminho. Em nossa opinião, foi uma das coisas mais importantes em termos do nosso viver, sentimo-nos vivos, pisando o chão do planeta, livres, podendo andar e ouvindo o silêncio contemplar as belezas de Deus semeadas por todos os cantos, até onde as vistas conseguem enxegar, na linha sinuosa do encontro da Terra com o Céu. O livro “Nos Pirineus Da Alma”, agora respondendo aos que me perguntam quanto tempo levei para escrevê-lo, a rigor esperei 15 anos. Para escrever foi até rápido. Neste momento penso e peso, uma experiência dessa não se pode pôr no papel açodadamente. É importante ibernar dentro da gente para desabrochar quando é chegado o tempo. Para fazer uma caminhada como a de Compostela é necessário um trabalho de preparação, a começar da prática de andar e andar. Claro, cada um faz como quiser, mas convém munir-se de uma boa mochila e da indumentária apropriada, o que se pode encontrar nas casas comerciais do ramo. É de se supor que quem dá ouvidos aos chamamentos do Caminho seja enfronhado minimamente nas coisas da internet. Assim sendo, convém acessar os vários sites do milenar trajeto, por meio do Google. A quantidade de informação é enorme e dessa maneira o peregrino de alma irá fazer uma caminhada abençoada. O fundamental é sair daqui do Brasil levando simplesmente o necessário como muda de roupa, inclusive íntimas; artigos de higiene, de modo a não superar 10% do peso corporal. É preciso entender bem, uma mochila pesada fica mais pesada ainda a cada passo. Leve-se em conta também, mochila pesada denota o materialismo da pessoa. Há os que fazem o Caminho com apoio de vans. Mas o gostoso mesmo é viver a caminhada com mochila nas costas, cajado na mão e as possíveis dificuldades encontradas. Nada acontece durante o percurso que não deveria acontecer. É assim também com a vida. O Caminho de Santiago é, portanto, como o viver aqui, lá e acolá. É subjetivo. Está dentro de cada um de nós. A gente sai dele, mas ele nunca mais sai da gente. P.S.: Em Montes Claros o livro "Nos Pirineus Da Alma" é encontrado na Livraria Palimontes. Quem optar por receber pelos Correios, manifeste o interesse por meio de mensagem e entraremos em contato "in box". |
Por Alberto Sena - 30/11/2017 08:06:54 |
O povo quer é a duplicação da estrada e não “mel de coruja” Alberto Sena Pode até parecer piada pronta, mas não é. Trata-se da mais cruel realidade. A empresa que vem fazendo o recapeamento do asfalto na BR 251 descobriu uma mina d’água na altura de Francisco Sá, onde o asfalto recém capeado regurgitou com os primeiros chuviscos. O asfalto antigo lá estava há anos e nunca se teve notícia de mina d’água. Mas foi só recapear para o asfalto subir em um trecho de cerca de dois quilômetros. O mais incrível em tudo isso é que as autoridades do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) acreditam nessa versão estapafúrdia e a vida continua daquele jeito, com paradas prolongadas para a empresa que prestou o desserviço refazer a obra. Pior: uma coisa dessa acontece justamente quando as empreiteiras estão envolvidas com a Operação Lava Jato. Quem passa pela BR 251 e sofre com aquele montueiro de carretas, caminhões, cegonheiras e tudo mais vê que pela espessura do asfalto, o recapeamento não durará muito tempo porque buracos na pista recapeadas já estão surgindo. Será que o Dnit não fiscaliza? Fiscaliza, porque carro do departamento é visto por lá. Mas será que o asfalto colocado está compatível com a grana investida ali? Pelo jeito há algo de errado ali e é preciso ser averiguado. Todo o Brasil sabe que as empreiteiras costumam oferecer asfalto de qualidade duvidosa incompatível com o montante da grana recebida. Não é possível acreditar no trabalho de uma empresa que não dura nem um mês. Se as chuvas vierem para valer, será o caos definitivo. Ademais, numa hora dessas, os pais e as mães da obra somem. São pais e mães desalmados, porque não aparecem para falar do desastre da obra. Em verdade, esse recapeamento funciona como o “bode russo”. Quem conhece sabe, estão fazendo o recapeamento, quando o Dnit tinha que partir para a duplicação da BR. Ou pelo menos construir a “terceira pista” em determinados pontos. Colocaram o “bode russo” para calar a boca dos que reclamavam. Em verdade, o que todos querem é a duplicação da estrada. O mais é falácia. |
Por Alberto Sena - 27/11/2017 09:19:22 |
Silêncio e Caminhar * Alberto Sena - Nós, montes-clarenses, nós brasileiros de modo geral estamos assistindo o País descer celeremente a ladeira. Estamos como o cão correndo atrás do próprio rabo. O problema brasileiro e da Humanidade não se resolve porque a raiz é de egoísmo, ódio, rancor, mágoa e outros sentimentos negativos. Creio que quem se dispuser a tomar o poder à base de ações violentas, acaso seja bem-sucedido, não oferecerá um cenário de paz e harmonia; jamais. REVOLUÇÃO Nesse quesito, fico com o pensamento e a prática do Marátma Gandhi – “A Grande Alma” – quando ele diz: “A única revolução possível é dentro de nós”. Qualquer outra é mais do mesmo e se não fosse, tudo já estaria resolvido, e, no entanto, nada está solucionado aqui nem no mundo onde a oferta de qualidade de vida deteriora a cada dia. Penso que para enfrentarmos os nossos problemas devemos utilizar o silêncio e o caminhar como forma de protesto. Em vez de sairmos às ruas gritando frases de efeito, esbravejando, cuspindo sentimentos os mais negativos, vamos, todos juntos, em silêncio, caminhar. Não vejo maneira melhor para vencermos essa batalha árdua travada diariamente. Não vejo luz no final desse túnel. As eleições para presidente da República estão às portas e para muitos de nós não há nenhum candidato capaz de promover as mudanças que o povo quer. PROTESTO Protestar caminhando e em silêncio tem muito mais eficácia porque ajuda a encontrar solução sóbria para esse impasse. Estamos entre a cruz e a caldeirinha. E não sobreviveremos como nação espargindo os já conhecidos maus sentimentos. Ao oferecer esse caminho comungo com a opinião do pensador francês David Le Breton, autor de livros como “El silencio e Elogio del Caminar”. Ele defende a abertura de espaços na nossa vida diária para o silêncio, para meditar, para nos encontrarmos conosco mesmos. E, com a disciplina adequada, fazermos esses espaços cada vez maiores. Muito antes de ler alguma coisa dele, eu percebi isso depois de fazer duas vezes a pé o Caminho de Santiago de Compostela, na França/Espanha, em 2001 e 2002, motivo desta reunião para lançamento do correspondente livro “Nos Pirineus Da Alma”. Nada melhor do que o silêncio e o caminhar para encontrarmos nós mesmos e em seguida participarmos da única revolução possível, conforme dizer de Gandhi. MELHOR EXPERIÊNCIA O pensador francês fez recentemente a caminhada e disse (abre aspas), “A minha melhor experiência nesse sentido, a definitiva, foi no Caminho de Santiago: quando cheguei, enfim, a Compostela, compreendi que eu havia me transformado completamente, depois de numerosos dias em marcha e em absoluto silêncio. Foi um renascimento.” Fecha aspas. Ele é do nosso tempo. Mas, antes dele, Marátma Gandhi pôde provar a eficácia da caminhada em silêncio por meio da “Marcha do Sal”, um ato de protesto contra a proibição da extração do sal na Índia colonial imposta pelos ingleses. Gandhi percorreu a pé 400 quilômetros para pegar um pouco de sal para si. Um número muito grande de indianos o seguiu. Os ingleses nada puderam fazer contra porque ele não havia incitado os outros a seguirem-no. A marcha ocorreu de 12 de março até 6 de abril de 1930. ENCONTRAR PAZ O silêncio e sua prática nos leva a esta possibilidade de encontro profundo. É fortificante. Em silêncio é possível encontrar paz e o amor incondicional vem com toda a força transformadora, como já dizia Gandhi naquela época: “O amor é a força mais sutil do mundo. O mundo está farto de ódio”. E é justamente isso que, no momento destrói, corrompe e ensurdece os seres chamados humanos. Jesus Cristo nos ensinou que, para falarmos com Deus não há necessidade do uso de muitas palavras. O silêncio já diz quase tudo. Este pode ser um passo. Ninguém deve ter medo de si mesmo. Andemos, pois, e pratiquemos o silêncio diariamente. Vamos ajudar a transformar a Humanidade. (* Discurso proferido na solenidade de lançamento do livro “Nos Pirineus Da Alma”, no Elos Clube Montes Claros) |
Por Alberto Sena - 31/10/2017 14:59:51 |
Vamos embora levados nas páginas de um livro Alberto Sena Posso dizer, sem medo de errar, os meus melhores dias da vida foram passados em Grão Mogol. Foi o lugar onde pude me realizar mais, pessoal e profissionalmente. Alguém pode até achar isso “um espanto”, considerando que passei a maior parte de minha vida na capital, onde trabalhei só no Jornal Estado de Minas, 24 anos, onde tive, evidentemente, vida intensa, agitada, estressante, proveitosa. Não posso reclamar. “S’eu queixo é de burro”, como dizem popularmente. Em Beagá tive o melhor aprendizado. Constitui família. Vivi a melhor fase do jornalismo nacional. Naquele tempo, as notícias tinham consequência. As redações eram feitas de intelectuais e escritores, diferentemente de hoje em dia, quando os assuntos se atropelam uns aos outros. E, politicamente, o Brasil nunca viveu caos semelhante, com a grande maioria dos políticos ocupantes de cadeiras no Congresso implicada em crimes de envergonhar até estátua. Grão Mogol, para mim é sinônimo de “paraíso”. Nasci em Montes Claros, onde vivi até aos 22 anos, sem conhecer Grão Mogol. Desde criança ouvia dizer, “é infestado de barbeiro”, e, talvez por isso, ao chegar à idade adulta não me interessei em conhecer Grão Mogol. Foi preciso o grãomogolense Lúcio Bemquerer construir o Presépio Natural Mãos de Deus e me chamar, ainda na fase inicial, para ver “a loucura que estou fazendo”. De fato, Lúcio construir um presépio podia ser uma loucura, mas “loucura lúcida”. Obra que, a rigor, os grãomogolenses não conhecem e por consequência, não valorizaram. Vim a Grão Mogol a primeira vez, em 2012 Vim, vi e, posso dizer, venci. Sabem por quê? Porque, aqui, eu me revelei para mim mesmo duas condições demasiadamente importantes. A primeira: tomei gosto pela fotografia, graças ao convite do cenário local, rico em paisagens, um lugar onde há história em cada pedra do calçamento da cidade e na circunvizinhança. Onde o ar é puro e a vida segue naquela pachorra, como se aqui fosse afastado do resto do mundo. A segunda, e, para mim, a mais importante: aqui, pude concretizar a minha condição de escritor e tive ambiente para escrever alguns livros de Literatura. O primeiro será lançado, em novembro próximo, em Montes Claros. Em seguida, em Belo Horizonte, relatando as nossas duas experiências na milenar trilha chamada Caminho de Santiago de Compostela. Tenho, potencialmente, só faltando compilar, livros de poemas, de contos, de crônicas e um romance escritos nesta cidade de pedras, e cada um será lançado, como numa catapulta, a seu tempo, se Deus quiser. Em Grão Mogol pude, então, conviver mais de perto com os passarinhos e com as flores. Pude reviver o passado de menino, época em que as casas tinham quintais, como os daqui. Comparando, Grão Mogol é semelhante à minha Montes Claros da infância, hoje sufocada pelo crescimento e os problemas inerentes às cidades grandes. Pessoalmente, não tenho do que me queixar, mas como costumo abordar temas que dizem respeito à vida do meu semelhante no dia a dia, devido à condição de jornalista, tenho um corolário de assuntos a abordar, tendo em vista a melhoria das condições de vida do povo de Grão Mogol. Mas, não é o caso de debulhá-los, agora, para não empanar a leveza desta nossa conversa. Estamos indo embora, mas, um dia, “sólo el de Arriba lo sabe”, como diz o poeta espanhol, voltaremos para viver essa vida simples e simplificada, posso dizer, deliciosa. Passei esses últimos anos como se estivesse em férias, porém, produzindo intensamente, como nunca. Conscientemente, fiz um trabalho neste município, que, sem falsa modéstia, já entrou para a história de Grão Mogol. Ninguém, em nenhum tempo, fez um trabalho semelhante ao que fiz, simplesmente por amor ao lugar onde, para mim, Deus demorou um pouco mais para criar. Nesses mais de três anos aqui vividos, diuturnamente divulguei Grão Mogol ao mundo, várias vezes ao dia, por meio de crônicas, reportagens e fotos. Os frutos desse trabalho ainda virão, com mais intensidade, na medida do tempo. São como as ondas do mar. As notícias foram arremessadas ao espaço. Um dia as consequências virão na espuma do tempo. Acalento a visão aqui tida logo ao me deparar com a magia e a beleza de Grão Mogol e região. Um dia, quando a cidade for preparada de fato para receber turistas, eles virão de todas as partes do mundo para gastarem dólares e euros. Quando esse dia chegar, o nome desta urbe estará em todos os quadrantes do planeta. No meu caso particular, era necessário voltar às origens para, em seguida, dar-se a metamorfose. E o primeiro livro é a porta. Voltar para Montes Claros seria a mesma coisa de ficar em Beagá. Portanto, nesse tempo, Grão Mogol foi a minha Montes Claros da infância que o progresso transformou irremediavelmente. Vamos embora levados nas asas, quer dizer, levados nas páginas do livro “Nos Pirineus Da Alma”. Querendo ou não, quem a pé trilhou por duas vezes o Caminho de Santiago, a partir da França, entrando Espanha adentro, perfazendo, ao todo, 1.300 quilômetros, querendo ou não, está preparado para viver em qualquer parte do planeta onde a querência divina indicar. |
Por Alberto Sena - 25/10/2017 14:04:45 |
O Automóvel Clube ameaçado Alberto Sena O quê?! O Automóvel Clube (AC) de Montes Claros será vendido ou fechado? Que notícia é essa que me chega à minha caverna? Dentre as demais – calor, falta d’água, criminalidade em alta etc. – esta foi de lascar, porque as demais já eram sabidas. Nunca passaria por minha cabeça a possibilidade de o AC encerrar atividades, justamente quando, particularmente, tinha a intenção de procurar a diretoria para saber se era do seu interesse adotar a Praça João Alves, em parceria com a Escola Estadual Gonçalves Chaves, assimilando a sugestão do amigo Paulo Henrique Veloso Souto. Para Montes Claros, qualquer coisa ruim que vier acontecer com o AC, é grave. Daqui, contemplando as lonjuras sentado numa pedra e no topo da Serra Geral, Serra do Espinhaço chamada, recordo-me quando tinha 15 anos e vi o início da construção do prédio, isto é, o início da história dele. Fiz cobranças para a “Zeta Incorporação e Construção”, empresa do engenheiro Pimenta, responsável pela obra que, definitivamente, marcou Montes Claros sobre todos os aspectos, principalmente políticos e sociais por ter sido palco de grandes acontecimentos. Claro que, estando fora essa quantidade de tempo, uns 45 anos, não posso entrar no mérito dos motivos que estão a levar a atual diretoria a tomar uma medida drástica. O colunista jornalista Theodomiro Paulino, bastante identificado com o AC e vice-versa, disse no Facebook “fiquei triste” ao saber da notícia. E completou: “Lamentável, é mais um patrimônio que se vai”. O professor Marcelo Walmor Ferreira pôs o dedo na ferida ao dizer: “Esse é o desfecho de uma história de grandes eventos políticos e sociais e que você (Theodomiro), brilhantemente, fez e faz parte”. E, segundo ele, também é “fruto de gestões que não deram o devido valor que o clube merecia”. Assim como eu, que tanto me interesso pela preservação da nossa memória coletiva, Marcelo Walmor fica “pensando que as cidades são feitas exatamente disso, de homens e memórias, e se já não as temos mais, não temos cidade também”. Isso não é saudosismo, como ele mesmo diz, e na minha opinião, é um ato jurídico de “legítima defesa putativa”, isto é, estamos antecipando a defesa da sociedade montesclarina antes que o fato aconteça, porque estamos diante de uma ameaça grave: a venda ou o encerramento das atividades do AC. Alguma coisa precisa acontecer urgentemente para evitar o que pode ser um desastre para Montes Claros. Posso estar enganado, mas, a cidade fica sem um ponto atrativo e atraente, dentro da urbe, para sediar grandes acontecimentos, como sediou durante os seus 52 anos. Encontros políticos, festas memoráveis realizadas por Lazinho Pimenta e Theodomiro. Carnavais... Ah! Os carnavais... Quantos passamos ali entrando pelas madrugadas. E as horas-dançantes? Hum... Quantas histórias e estórias impregnam até as paredes? O pior que poderá acontecer ao AC é o que alerta Georgino Júnior, “a continuação do sepultamento da memória de Monscraro; daqui a pouco surge um espigão naquele lugar... (depois que a casa onde Mestra Fininha criou Darcy Ribeiro e Marão foi demolida pra virar estacionamento de veículos, um quarteirão abaixo do Automóvel Clube, nada mais me espanta em relação ao patrimônio histórico da cidade)”. Márcia Maia achou “muito triste, mas como você (Theodomiro) mesmo disse mais um patrimônio nosso indo embora! Quantas lembranças!” Ao que Jussy Marangon reagiu assim: “Não acredito (escrito em caixa alta); e a sociedade vai deixar? Suzana Neiva de Melo Franco considera “um absurdo”. E faz uma indagação: “Como uma parte da nossa história acaba assim? Onde estão as lideranças políticas? O Automóvel Clube é da cidade. Tem que haver uma forma de reverter este triste quadro”. E o quadro alegado até onde sei, é que o AC tem sobrevivido até aqui com 70 sócios que pagam R$ 70,00 de mensalidade. Penso que, antes de tomar uma medida drástica como essa, a atual direção do clube devia fazer o que fez, chamar a atenção. Agora, os mais interessados na defesa da sua integridade devem se reunir para encontrar uma solução plausível para o problema. Porque senão acontecerá com o AC o que diz Georgia Maria Ferreira, “mais um marco da nossa história que se desfaz, assim como nosso país, cada dia mais, nos tornamos uma sociedade sem memória, sem história, muito triste mesmo! Talvez, se juntarmos os montes-clarenses e fizermos um movimento!” |
Por Alberto Sena - 23/10/2017 10:05:54 |
O coaxar do sampo e da jia Alberto Sena Hoje, o sapo e a jia do Ribeirão do Inferno, aqui, de Grão Mogol (MG) estão coaxando meio diferente. Coaxar monocórdio, como para marcar os segundos. Um solta o coaxar com gosto e outro entra em cena a cada intervalo de um minuto, senão menos, mas com uma maneira estranha, um coaxar crocante e seriado, como tiros de metralhadora, com duração de alguns instantes. A cada intervalo deste, fica só o coaxar monocórdio do sapo (ou seria da jia?) como se fosse “o rei do brejo”, com a missão de marcar o compasso. Às vezes, o sapo e a jia parecem estar distantes. Neste momento, estariam mais próximos e é justamente nesse ponto onde mora o problema, se é que se pode chamar de problema o fato de estarem longe ou perto. Afinal, os anuros têm também o direito de “ir e vir”. Ninguém vai ficar vigiando os bichinhos, que muito bem podem estar lá num dia e cá noutro dia. Eles têm a capacidade de dar saltos e podem ir aonde quiserem em busca de petiscos. Para isso têm língua comprida, elástica. Dão uma lambida e a presa está no papo. Onde tiver água e comida, lá os anuros estarão, agora e sempre. Eles não diferem muito dos homens, que desde os primórdios, tempos de “Entradas e Bandeiras”, procuravam sempre acampar próximos aos rios, por motivos óbvios. Agora, o coro deles volta a ser integrado pelo sapo com o coaxar seriado e crocante. A cada intervalo, ele ressurge, como se tudo fosse cronometrado. Eu não saberia fazer leitura do linguajar dos anuros, mas posso observar as mudanças no comportamento deles, de um dia para o outro. Eles são aquilo mesmo e não enganam ninguém. Não usam máscaras como se fora o Zorro das histórias em quadrinhos. Não fazem como fazem os outros tipos de “sapos e de jias” que pululam por aí fazendo política entre aspas, se é que o que fazem pode ser chamado de política, corruptos e bandidos como a maioria deles é. Se considerarmos os sapos e as jias como “seres cósmicos”, como os esotéricos acreditam, porque os anuros teriam sensibilidade capaz de captar as energias do espaço, pode ser que eles estejam mais próximos porque encontraram mais comida, aqui, por essas plagas. Ou, senão, para lançar um alerta aos circunstantes, extensivo ao Brasil e ao mundo. Acredito, baseado no meu parco “anurês”, que os sapos e as jias coaxaram um de um jeito e o outro de modo esquisito porque estariam percebendo algo vindo do oriente rumo ao ocidente (ou seria o contrário?), para iniciar o que poderá ser o princípio do fim da civilização humana na face da Terra. |
Por Alberto Sena - 17/10/2017 17:57:04 |
Onde estão todos ? Alberto Sena O tempo é voraz tanto quanto boca de fornalha de siderurgia. Passamos pela vida de muita gente e o contrário é também verdadeiro. Vamos vivendo. Vida em abundância. Mas, então, chega uma hora em que acontece de iniciar uma revisão, inda mais quando se é estimulado a isso. Recentemente, em Montes Claros, retornei à Rua Corrêa Machado, onde vivi a adolescência e os primeiros anos de vida adulta. Depois de mais de quatro décadas, o botão das recordações daquela época foi, então, acionado. Pergunto, e quem puder responder, por favor, faça um comentário. Por onde anda o ex-vizinho Eustáquio, neto de Dona Tina, uma senhora simpática, pequena na estatura física, mas de grande coração? Ela viveu quase 100 anos. Criou Eustáquio e outros netos vindos de Francisco Sá. Nós dividíamos nossas apreensões da adolescência. E os irmãos Paulo e Luiz, filho do ferreiro Simeão? Moravam na Rua Doutor Veloso, quase esquina da Rua Corrêa Machado. Quem estiver com eles, diga a ambos, por obséquio, quase meio século depois retornei à casa onde a família deles morava. Quando apertei a campainha quem me atendeu foi uma senhora já de idade. Ela se identificou como sendo Alice, irmã de Paulo e de Luiz. Deixei com ela um abraço aos dois. Nós dividimos espaço nas jogadas de futebol, bolinha de gude e finca. Alguém sabe me informar o paradeiro do galego Dedinho, vizinho de Bonga, na Rua João Pinheiro? Ele era companheiro no futebol desde os bons tempos do campo do União. Jogamos juntos no juvenil do Cassimiro de Abreu. Depois disso nunca mais nem ouvi falar de Dedinho. Alguém saberia dele? E Sílvio Guimarães? Irmão de Helinho Guimarães, médico. Soube que formara em Medicina e nada mais. Sílvio foi companheiro de brincadeiras de estilingue, até o dia em que ele, estilhaçou o para-brisa de um caminhão caçamba do DER e deu até polícia. Com 11 anos de idade, eu e outros tivemos de ir à delegacia de polícia para sermos apresentados ao coronel Coelho, sem ter nada a ver com o fato. Cadê Osmar, irmão de Geraldinha? Com ele jogava futebol, tampinha e juntos íamos à Escola Normal, no período ginasial. Lembro bem do cuidado da mãe dele com a roupa do filho. A camisa engomada, tanto quanto a minha, eram coisas de mãe. Nunca mais tive notícia dele. Tomou aquele comprimido para dor de cabeça e... Sumiu. João Carlos Gabrich, irmão de Felipe, é outro sumido. Tive notícia dele, recentemente, por intermédio de Felipe. João Carlos mora na Serra do Cipó. Feliz dele. Serra do Cipó é um dos lugares mais aconchegantes do planeta. Como João Carlos fazia um pouco de tudo: bolinha de gude, futebol, papagaio. Era com ele e o irmão dele, Ricardo, que, creio, vive em Montes Claros hoje, mas há muito tempo não o vejo também. E os irmãos Roberto e Ronaldo Lima? Roberto, sei, ele nos deixou, recentemente. Vivia em Januária. Que descanse em paz. O irmão dele, Ronaldo, o Roxxim, tenho notícias, ele é meu amigo no Facebook. Mora em Janaúba, aposentado do Banco do Brasil. Vivemos bons momentos, naquela época, não foi mesmo, Roxxim? Jésio, o que aconteceu com Jésio? Ele morava na Rua Corrêa Machado esquina de Rua João Pinheiro. A casa nem existe mais. Tinha alpendre e era pintada de verde escuro. Dali do alpendre divertíamos com uma ousada brincadeira chamada “pau de bosta”. Não vou nem entrar em detalhes sobre essa brincadeira condenável. E Danilo? Danilo morava numa casa atrás da Rua Corrêa Machado. Com ele passava horas jogando bolinha de gude ou, senão, empinando papagaio. Na manhã em que meu pai morreu, 15 de janeiro de 1961, eu jogava bolinha de gude com Danilo quando minha irmã, Lúcia, chegou me chamando. Era para eu ir correndo. Fui. Quem sabe do Zezinho? Ele morava quase na esquina da Rua Camilo Prates com Corrêa Machado. Foi colega de escola e de Tiro de Guerra, se não me engano. Morava em frente ao Juquinha, um camarada com alguma deficiência física, mas de cabeça boa. Juquinha era o técnico dos times de futebol armados no campo do União. Como dizia no início deste texto, a gente passa pela vida de tanta gente e tanta gente passa por nossa vida. É inacreditável. Duma hora para outra a própria vida cuida de distanciar as pessoas umas das outras. Ficaram só as recordações dos bons momentos vividos numa época em que éramos aprendizes de felicidade. E Cícero Bastos – Cícero Estru, por onde anda? Ele morava na Rua Corrêa Machado. Quem sabe dele? |
Por Alberto Sena - 16/10/2017 10:02:08 |
Flatulência descontrolada Alberto Sena Houve uma época, em Montes Claros – podem até não acreditar, mas houve – em que a Rua Corrêa Machado, entre as ruas Doutor Veloso e João Pinheiro era um bom lugar de morar. O asfalto ainda não havia chegado. Com o calorão de sempre, na cidade, era comum as famílias levarem cadeiras para as portas das casas a fim de se refugiarem na rua tanto do calor como dos pernilongos. Isso acontecia, só para se ter uma ideia, até pouco tempo antes da chegada da televisão. Na ocasião, em termos de veículo de comunicação, havia em Montes Claros a ZYD-7, “Rádio Sociedade Norte de Minas, da rede verde e amarela Norte e Sul do País, falando de Montes Claros para o mundo”, o jornal Gazeta do Norte, O Jornal de Montes Claros e depois o Diário de Montes Claros. Passado algum tempo, veio o “Big Boy”, pseudônimo de Newton Alvarenga Duarte, “disc jockey” da Rádio Mundial responsável por uma verdadeira revolução no rádio brasileiro. Ele era a sensação das noites. A televisão chegou e foi responsável por retirar as famílias das portas das casas. Limitou-as às dependências das salas e dos quartos, porque vieram as novelas e os demais programas televisivos. Mas, neste momento, me vejo com a família sentado numa cadeira na porta da casa da Rua Corrêa Machado, depois de construída a calçada de cimento. Foi nos primeiros anos da década de 60. Fica fácil calcular a época e compreender não estar tão longe assim porque muitos dos personagens ainda estão vivos para confirmar o episódio a ser contado, acaso seja necessário, para corroborar a veracidade desta estória e de outras do período. Numa noite de calor quase insuportável, estávamos todos, mãe – pai já havia falecido – e alguns dos filhos à porta de casa e alguém teve a feliz ideia de mandar comprar picolé lá na soverteria da Praça Coronel Ribeiro. Tinha de voltar rápido, de bicicleta, para evitar o derretimento dos picolés. Estavam na porta da casa vizinha duas moças irmãs, uma delas com o namorado, com quem acabou se casando. A irmã dela ali estava naquela condição de “vela”, e, em certo momento, a moça deu de entrar e ficaram só os dois e nós na nossa porta, conversando animadamente e chupando picolé. Estávamos meio estremecidos com os vizinhos por causa de um problema criado por eles mesmos a partir de um bueiro de água fluvial. No período chuvoso a água da chuva passava de um quintal para o outro, a partir da Rua Doutor Veloso até alcançar a Rua João Pinheiro. A água do nosso quintal tinha de escoar para o do vizinho, que, duma hora para outra cismou de fechar o bueiro a um canto do muro. Resultado: o aguaceiro recebido dos outros quintais inundou o nosso e tivemos de usar um enxadão para desobstruir a passagem d’água pelo bueiro. Houve bate-boca e por causa disso, a relação com os vizinhos – mãe viúva e filhos, duas moças e um rapaz – ficou estremecida. Então, retomando a narrativa, estava o casal ali, namorando, quando, não se sabe se ele ou ela deixou escapar uma flatulência alto e em bom som. Como não podia deixar de acontecer, o riso foi geral. A moça entrou correndo para dentro de casa sem olhar para trás, e o namorado dela se foi embora às pressas, envergonhado. Passados alguns instantes, a moça reapareceu no portão ressabiada. Ela achava que o namorado havia se escondido no campo de futebol do outro lado da rua, onde havia um buraco redondo no muro por onde as pessoas costumavam passar. Estava tudo escuro dentro do campo desativado. Como se estivesse pisando em ovos, a moça atravessou a rua e foi até ao buraco do muro. Ela se foi esgueirando como quem queria surpreender alguém e ao chegar na boca do buraco soltou um grito estridente capaz de assustar qualquer pessoa. Mal sabia ela, o namorado já estava longe dali. Foi um episódio tragicômico. A princípio, ninguém entendeu o porquê de ela ter atravessado a rua pisando em ovos sendo que o namorado já havia ido embora. Só ela não sabia e ficou decepcionada, além de envergonhada. Ligeiro, a moça atravessou a rua e entrou correndo em casa, chorando. Ficou um tempo sem pisar os pés do lado de fora. Tudo por causa de uma incontrolável flatulência. |
Por Alberto Sena - 13/10/2017 07:35:09 |
Em busca de si mesmo no "Gonçalves Chaves Alberto Sena No mais recente retorno a Montes Claros, por esses dias, casualmente, ia passando pelo portão da Escola Estadual Gonçalves Chaves, na Praça João Alves, quando de repente o espírito infantil do menino de sete anos o impeliu a entrar. O portão estava aberto. Devia ser 10h30. Ele entrou pela primeira vez depois de décadas e se encontrou na porta com a simpática senhora chamada Kelly, na portaria. Explicou a ela ter sido aluno da escola, àquela época, década de 50, denominada “Grupo Escolar Gonçalves Chaves”. Ele apontou as salas de aula onde havia estudado, do primeiro ao quarto ano primário. E Kelly mostrou a ele a galeria de antigos diretores e o menino identificou as diretoras de quando ali chegou, aos sete anos de idade. Uma delas era Dona Marucas, mãe de Roberto Avelar, um dos colegas dele no primeiro ano primário. Ela estava entregando a direção para Dona Maria Celestina Almeida, irmã de Cipriano Almeida, marido de sua tia Ambrosina Sena, irmã da mãe dele, Elvira. Por alguns instantes, o menino viu-se no pátio, antes rebaixado e para ter acesso a este, os alunos tinham de descer por uma escada em frente aos banheiros. Viu-se chutando bola de meia velha com os colegas e ainda pôde ouvir o vozerio da meninada esbanjando alegria de viver, jogando “queimada”. Hoje, o pátio já não é o mesmo. Foi nivelado ao piso superior de entrada e a parte de baixo ganhou outras serventias. Mais de cinco décadas depois, até que o prédio não sofreu tanta interferência. Ele recordou, onde é hoje a garagem da escola havia uma área de terra avermelhada e em determinado ponto fora construído um pedestal de cimento onde instalaram uma cruz enorme, de madeira, pintada de tinta preta. O “cruzeiro”, como chamavam-no fora encontrado enterrado no terreno quando do início da construção do prédio. Quem fim teria levado o “cruzeiro”? Quando ele entrou pela primeira vez por aquele portão, em 1957, era de manhã e estava acompanhado da irmã de mais idade, Lúcia, e ali se encontrava para “fazer um teste”. Era para Dona Maria Celestina escolher qual seria a professora que se encarregaria de desasná-lo. Dona Bernadete Costa era o nome dela. Com ela o menino ficou do primeiro para o segundo e do segundo para o terceiro ano. No terceiro ano, ele foi aluno de Dona Alba Alkimim, mãe das professoras Vânia e Vilma Alkimim. Ela era tia de Eduardo Alkimim, um dos seus colegas. Eduardo deu a ele, um dia, quando já adultos, uma cópia de fotografia da turma, foto publicada, aqui, várias vezes. No quarto ano primário, a professora dele era Dona Augusta, austera tanto quanto Dona Bernadete, esta mãe de Robson Costa, com quem ele trabalharia, anos depois, no “O Jornal de Montes Claros”. Noutra situação, mais tarde ainda, Robson o levaria a trabalhar no jornal “Estado de Minas”, em Belo Horizonte. Toda segunda-feira, Dona Augusta queria ver as mãos de cada um dos alunos, a fim de verificar se as unhas estavam cortadas e limpas. As mãos eram mostradas sobre um lenço. Ela verificava também se cada um havia lavado o rosto de manhã ao acordar. Com o seu jeito rigoroso, a professora se dizia encabulada como “é possível alguém só passar uma aguinha no rosto e pronto, fica até a marca da sujeira”. Mas, o interessante é que, alguns poucos de nós não fizeram “prova final” para passar do primeiro para o segundo, do segundo para o terceiro e do terceiro para o quarto ano. Fizeram provas só no último ano. Por quê? Porque tinham notas suficientes para serem promovidos. Enquanto os outros colegas ainda iam fazer “prova final”, eles já estavam gozando férias. Entretanto, mais interessante, ainda, aconteceu no terceiro ano, no dia em que a Dona Alba pediu à turma para fazer uma “composição” sobre determinado tema. O menino fez a dele no capricho e a entregou. A professora tinha o costume de ler os melhores trabalhos. Naquele dia, ela disse ter em mãos uma “composição muito bonita” e prometia lê-la por último. Quando chegou a vez, Dona Alba leu a composição e ao terminar de ler fez uma observação, lamentando: “É uma pena, mas a “composição” não foi escrita por ele”. A reação dela dizendo isso não podia ser pior, porque injusta. E se o menino tivesse ficado traumatizado por isso, é possível que, hoje, ele não estivesse, aqui, escrevinhando sobre o ocorrido. Inda bem que teve discernimento para entender, e pensou de si para si mesmo: “Se ela achou não ter sido eu o autor, é porque a composição está boa demais”! |
Por Alberto Sena - 9/10/2017 09:57:19 |
O significado de voltar a Montes Claros Alberto Sena Voltar a Montes Claros é a mesma coisa de mergulhar na infância, na adolescência e na fase adulta até 22 anos de idade, quando se deu a partida definitiva para a capital. Retornar à Rua Corrêa Machado, onde a família morou durante anos, é um mergulho mais profundo ainda. Mas, ao mesmo tempo, é um choque misto de decepção e de conformismo porque nada mais há que fazer, tudo já foi feito para mudar o quadro de antes, décadas de 60 e 70. Quando a família mudou para a Rua Corrêa Machado, vindo da Rua São Francisco, não havia ali asfalto nem calçamento. Era terra mesmo, cascalho. Quando passava um carro o pó subia. Mas, em compensação, no período das águas, a terra úmida era um prato cheio para jogar finca e também bolinha de gude. Em frente da casa havia um campo de futebol, e se ninguém fosse chamar, não havia hora para almoço nem lanche da tarde porque a bola saciava a fome. Mas a sede, não. Com a boca seca e o corpo transpirando toda a água, era preciso correr em casa e engolir rapidamente um ou mais copos d’água e correr de volta ao campo. O mês de agosto era considerado o período dos ventos. E, então, era chegada a época de empinar papagaio. Precisava correr em busca de bambu e papel impermeável mais linha de carretel número 10 ou outra grossa chamada de “cordonete”. Além de manivela de madeira de oito cruzetas. No mais, era subir aos céus com os papagaios. Acontecia, com a maior frequência, de alguns deles voltarem respingados porque alcançaram as nuvens. Indo à Rua Corrêa Machado o mergulho no tempo causou impacto forte porque das casas de então restam só quatro, no trecho entre as ruas Doutor Veloso e João Pinheiro. A casa de Dona Tina, avó de Eustáquio. A casa onde moraram, em períodos diferentes, Clarice Magalhães e Fátima Tolentino, além da de Simeão ferreiro, pai de Paulo e Luiz. E a de Nêgo Ró. O campo de futebol desapareceu sem deixar vestígios, cortado por duas ruas em forma de cruz. Os Biondi já não moram lá mais. Foram para Salvador (BA). Tudo mudou. Ficaram os espectros. Antes, Fernando Zuba se vestia de fantasma com lençol branco e à noite assustava a rapaziada em meio à escuridão, até ser, enfim, descoberta a identidade dele e constatado ser fantasma de carne e osso. O ruidoso barulho de hoje provocado pelo motor dos ônibus que sobem a Rua Corrêa Machado provenientes da Avenida Cula Mangabeira não consegue abafar por completo os gritos da meninada se divertindo no campo. Os nomes de Bonga e o de Zé Bispo; de Felipe e João Carlos Gabrich e de Marcelino, irmão de Moedeferro; dos irmãos Roberto e Ronaldo Lima; de Chico Ornellas e Rubinho Sena só para citar alguns porque para lembrar de todos seria necessário possuir memória de elefante, os nomes deles e de muitos outros ainda são ouvidos vindos de passado nem tão remoto assim. Os Gabrich já não moram mais ali, na Rua João Pinheiro. Marcelino não está mais no meio de nós. Zé Bispo e Bonga resistem. Um encontro com este, ainda no mesmo espaço onde viveu com a mãe, na Rua João Pinheiro, hoje sua oficina de restaurar motores, como sempre, foi dos mais agradáveis. Cuidadoso, Bonga guarda anotado em cadernos a relação dos jogos e as principais informações sobre quase tudo vivido como técnico do juvenil do Cassimiro de Abreu. Como jogador, Bonga foi grande sob todos os aspectos, principalmente na altura. Bastava levantar o braço para pegar no travessão. É importante salientar, ninguém deve cair na bobagem de viver de passado. A melhor época de nossa vida deve ser a atual. O passado foi bom, mas passou. O presente é que importa. Nele semeamos o futuro. De modo que rever a rua mágica de então, quando a vida parecia mera brincadeira, não acionou o botão da saudade, mas o da constatação, mais uma vez, de que tudo muda. Inda mais em cidade dinâmica como Montes Claros. Mais de 40 anos depois se pode notar, a cidade cresceu em todas as direções. E o fato de ser o terreno plano favoreceu a esse crescimento. Evidentemente, a BR-251 teve e ainda tem muito a ver com as transformações de Montes Claros, ao trazer para a região gente de todas as partes do Brasil. Em verdade, em verdade digo, a Montes Claros de hoje cumpriu e cumpre sua vocação de cidade polo. De direito ainda não, mas de fato, a terra de Antônio Gonçalves Figueira exerce o papel de capital do Norte de Minas, com a maior competência, apesar de todos os percalços. |
Por Alberto Sena - 29/9/2017 10:47:08 |
O futuro chegou Alberto Sena Ao ouvir, daqui, das dobras da Serra Geral os clamores dos conterrâneos montes-clarinos por água; ao ver as imagens de sequidão e de racionamento com rodízio; mesmo distante, mas, sofrendo com todos a situação, solidário e tudo mais, nem assim posso deixar de fazer reflexão importante diante do quadro deplorável apresentado. Gente culpada ou considerada inocente colhe hoje os frutos da imprevidência humana, queira ou não. Enquanto o cidadão encontrar água ao abrir a torneira, tudo bem, é considerado “normal”. Era normal, porque o problema passa a existir quando do cano sai só o ronco, como acontece agora, para infortúnio da população de uma cidade grande como Montes Claros. A região faz parte do Polígono das Secas. O problema é cíclico, nunca será corrigido, pelo visto, mas já podia ser atenuado com medidas sérias há muito tempo. Entretanto, os políticos responsáveis por encontrar saídas para o grave problema vieram se locupletando com o dinheiro público ao longo dos tempos e os problemas perduram. É a famosa “indústria da seca” instalada, faz parte do “mecanismo de corrupção”. Se o Norte de Minas fosse território israelense, a essa altura da existência, Montes Claros e região estariam exportando gêneros de todo tipo para o mundo há muito tempo. A partir da maneira respeitosa como os israelenses cuidam da água. E quem conhece sabe do tamanho da carência deles porque sempre contaram com um só rio, o Jordão. Eles já estão fazenda a dessalinização da água do mar. Instalaram a maior usina do mundo. A diferença é que lá, em Israel, as coisas funcionam. O dinheiro público não é expropriado, inda mais da forma a mais vergonhosa como acontece no Brasil, a partir de um presidente da República sem legitimidade e o tempo todo na corda bamba, querendo tampar o sol com a peneira. Insiste em ocupar o cargo para satisfação dos seus apaniguados. Como montes-clarino, fico me perguntando o que aconteceu com os rios de Montes Claros? Cadê os rios Melo, Carrapato, Laginha, Pai João. E o que foi feito do Ribeirão Vieira? Quem são os responsáveis pelo fim dos rios e pelos maus tratos ao ribeirão? Façamos, pois, um exame de consciência a fim de atirarmos em nós mesmos as primeiras pedras. O Rio Congonhas era uma das esperanças de salvação para Montes Claros. O Congonhas é tributário do Rio Itacambiraçu, de onde a Copasa retira água para abastecer a população de Grão Mogol. Por mal dos pecados, o Rio Congonhas secou. E com o rio seco se foi também o sonho de construção de uma barragem para abastecimento de água à população de Montes Claros. Que a questão da água é o principal problema do mundo, daqui para a frente, ninguém deve ter mais dúvida disso. Basta espiar ao redor e verificar o que se passa aqui e em outros lugares. O ponto crucial é o que fazer para correr aceleradamente contra o prejuízo. Estamos diante da fábula “A Cigarra e a Formiga”, de Esopo. O futuro chegou. E chegou muito mais cedo do que se podia imaginar. Mas ainda haverá de piorar mais daqui para a frente porque o País está mergulhado numa crise sob todos os aspectos e principalmente de caráter, governado por políticos envolvidos de alguma ou de várias formas na Operação Lava Jato. No momento em que o governo federal entrega o nosso solo às multinacionais negociando o Aquífero Guarani e a Hidrelétrica de São Simão, o que se depreende de um ato desnaturado deste é a mesma imprevidência geradora da atual escassez de água no Norte de Minas, região fadada à desertificação. Fosse o Brasil governado por gente dotada de espírito público, tendo em vista solucionar as questões políticas, econômicas e socioambientais da população brasileira, o Aquífero Guarani jamais seria negociado. Diante de tudo isso fica a sensação de viver em País eternamente em estágio de colonização. Assim como fez Pedro Álvares Cabral, ao invadir o Brasil, presenteando os índios com seus badulaques, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. No caso de Montes Claros, cabe à Copasa encontrar a melhor maneira de resolver a questão do abastecimento. Com a Prefeitura Municipal de olho. Se a empresa fosse mais previdente teria detectado a escassez com anos de antecedência. Agora, é correr contra o tempo. Sem energia, na pior das hipóteses, é possível viver, apesar dos transtornos porque tudo para. Mas sem água, não há a menor condição. Numa hora de escassez os seres chamados humanos dão à água o real valor dela. Décadas atrás ouvíamos dizer: “Chegará o dia” – e o dia já chegou – “em que trocaremos dois barris de petróleo por um de água”. |
Por Alberto Sena - 21/9/2017 10:06:58 |
"Nos Pirineus da Alma"em fase de diagramação - O material sobre o livro “Nos Pirineus da Alma” já está com o diagramador Cléber Caldeira, de Montes Claros, profissional de primeira qualidade. Conta com prefácio da escritora doutora em Literatura, Ivana Rebello, posfácio do escritor e jornalista Itamaury Teles e contracapa do jornalista Felipe Gabrich. O livro narra os lances mais importantes das duas experiências de Bento e Tudinha (Alberto Sena e Sílvia Batista) no milenar Caminho de Santiago de Compostela, na França e na Espanha, por onde o apóstolo Tiago Maior atuou em trabalho de evangelização. O livro traz ainda um bloco de fotos legendadas por meio do qual as experiências são corroboradas. Aguardem, o lançamento será feito primeiro em Montes Claros, brevemente. |
Por Alberto Sena - 18/7/2017 07:22:30 |
Bandidos explodem cofres do Bradesco e do Correio Alberto Sena Primeiro eles explodiram o cofre da única agência do Banco do Brasil. Foi em sete de junho. Um mês e 11 dias depois, eles voltaram com a mesma sede. Explodiram a agência do Bradesco e dos Correios nesta madrugada, a 1h20. É possível que seja a mesma quadrilha. Deve ter achado fácil explodir do cofre do BB, e como depois do assalto tudo continuou do mesmo jeito de antes, eles usaram da mesma estratégia, fugindo em direção da BR 251, rumo a Josenópolis, numa HB20x cor prata. Nesta madrugada, a população de Grão Mogol acordou com a primeira explosão e o estampido de arma pesada certamente com o intuito de intimidar. Eles podem ter explodido três ou mais bananas de dinamite. Fizeram até os sapos e as jias do Ribeirão do Inferno pararem de coaxar. O telhado da agência do Bradesco ficou todo comprometido. A situação do telhado podia ser vista do prédio ao lado, onde funciona o comércio do sr. Epaminondas. O impacto das explosões sacudiu vidros de janelas a distância. Muita gente foi para a Praça Coronel Janjão, onde fica a agência do Bradesco. O panorama era o mesmo à porta da agência do Correio, que, em Grão Mogol vinha fazendo às vezes de Banco do Brasil. Tudo desabou lá dentro da agência, retirada do Bradesco se muito 200 metros. Se com a explosão do cofre do BB a situação da cidade ficou lastimável, com reflexos na comunidade e principalmente no comércio, agora, sim, Grão Mogol vai precisar urgentemente de atenção por parte do governo estadual para o povo continuar sobrevivendo no dia a dia. No comércio daqui há a figura do “freguês de caderno”. Geralmente é gente vivente na roça e quando é sexta-feira vem trazer produtos para vender na feira. Aproveitando faz compras para pagar por mês. Depois do assalto ao BB, muitos deixaram de vir acertar dívida no comércio local e ainda migraram para Salinas ou Francisco Sá. Resta, agora, a agência lotérica, que faz as vezes de Caixa Econômica Federal. Se depois do ocorrido ao BB não se tomou nenhuma medida de segurança tanto para o Bradesco como Correio e Lotérica, é possível que d’agora para frente algo aconteça neste sentido. Pouco depois das explosões ouvidas nesta madrugada, e após a fuga dos bandidos, nas imediações das agências do Bradesco e Correio só foi visto um carro da Polícia Civil. Segundo diziam, os homens do Pelotão da Polícia Militar estariam “perseguindo os bandidos”. Grão Mogol é terra natal do atual secretário de Estado da Fazenda de Minas Gerais, José Afonso Bicalho Beltrão da Silva. Se, desta vez, ele não olhar para a cidade onde nasceu, Grão Mogol estará, como se diz, “no mato, sem cachorro”. *** Polícia Militar - Polícia Militar procura suspeito de explosão de caixa eletrônico em Grão Mogol - Equipes de militares estão nas buscas de pelo menos 5 homens suspeitos de terem arrombado com explosivos, uma agência bancária e agência dos Correios em Grão Mogol. A Polícia Militar foi acionada via 190, e segundo denúncia, estaria acontecendo um arrombamento no Banco Bradesco e nos Correios da cidade. Informações preliminares são de que cinco indivíduos em um veículo HB20 prata, após estourarem o caixa (BDN) do Bradesco e arrobarem os Correios, pegaram como rota de fuga a estrada vicinal que liga Grão Mogol a Josenópolis e a Padre Carvalho. A ocorrência ainda está em andamento. Equipes de militares estão em rastreamento. Mais informações serão repassadas posteriormente. *** O Tempo - Bandidos arrombam agência bancária e Correios no Norte de Minas - 18/07/17 - 07h38 – Carolina Caetano - A Polícia Militar de Grão Mogol, no Norte de Minas, procura por cinco homens que arrombaram um banco e uma agência dos Correios da cidade nesta terça-feira (18). De acordo com informações iniciais da corporação, os bandidos chegaram em uma HB20 e deslocaram direto no Bradesco e no imóvel dos Correios, no centro do município. O valor levado ainda não foi divulgado e militares pediram apoio de equipes de Francisco Sá e Cristália. A ocorrência ainda está em andamento. *** Hoje em Dia - Terror sem fim: grupo fortemente armado ataca agências no Norte de Minas - Gabriela Sales - 11h45 - Mais uma vez bandidos fortemente armados impuseram o terror a uma cidade do interior de Minas. Desta vez, moradores de Grão Mogol, no Norte do Estado, acordaram na madrugada desta terça-feira (18) com barulho de explosões e troca de tiros, quando grupo de criminosos atacou agências do Bradesco e dos Correios. De acordo com a Polícia Militar, testemunhas disseram que cinco homens faziam parte do bando. Os suspeitos cercaram a agência bancária, arrombaram e explodiram os caixas eletrônicos numa ação coordenada. Na agência dos Correios, o cofre foi levado pelos bandidos. Durante a ação, a polícia interveio e houve troca de tiros, mas os suspeitos fugiram de carro no sentido das cidades de Josenópolis e Padre Carvalho, ambas no Norte de Minas. As policias Civil e Militar de Montes Claros realizam operação na região na tentativa de localizar suspeitos. Até o momento, ninguém foi preso. A corporação informou que nenhum morador ficou ferido. As agências do Bradesco e dos Correios ficarão sem atendimento à população. Terror sem fim Este foi o segundo caso de explosão de agência bancária em menos de 24 horas no Norte de Minas. Na segunda-feira (17), moradores de Ibiaí também foram surpreendidos com várias explosões durante ataque a uma agência bancária da cidade. Na ação criminosa, dois frentistas foram feitos reféns. Os suspeitos fugiram com cerca de R$ 22 mil em dinheiro. Dois homens de 19 e 23 anos foram presos tentando fugir em uma motocicleta. A dupla foi reconhecida por testemunhas como participantes da ação criminosa. Estratégias De janeiro a junho deste ano, 83 ataques a caixas eletrônicos foram registrados em Minas. No mesmo período de 2016 foram 127 ocorrências, uma redução de 34%. A PM informou que outras estratégias têm sido adotadas diante dos novos casos registrados. Segundo a corporação, dentre elas está o reforço de policiais nos destacamentos e pelotões do interior, além da utilização do serviço de inteligência. Mais de 700 novas viaturas foram entregues a cidades do interior neste ano. Troca de armamento e ampliação das equipes que mapeiam as rotas de bandidos também estão dentre os investimentos, segundo o major. Histórico No último dia 10, moradores de Santa Margarida, na Zona da Mata, passaram momentos de terror após um grupo fortemente armado roubar um banco, fazer reféns e matar duas pessoas. No dia seguinte, em uma ação rápida e ousada, bandidos cercaram as casas de policiais e o quartel em Matias Cardoso, no Norte de Minas, para, em seguida, atacar uma agência do Bradesco. No dia 13, uma agência bancária de Coromandel, no Alto Paranaíba, foi destruída por pelo menos 10 bandidos. Na ocasião, os criminosos trocaram com a PM. |
Por Alberto Sena - 13/6/2017 17:17:04 |
João de Deus quase foi pelos ares Alberto Sena Este homem sorridente é o senhor João de Deus Soares Nogueira. Ele é um tipo “factótum”, dito em Latim. Em português significa ser fazedor de tudo. Ou faz de tudo um pouco. Gente prestativa. O sorriso é a marca dele. Ele é viúvo. Tem quatro filhos. Hoje o senhor João de Deus trabalha na Prefeitura de Grão Mogol, mas, em 1983, quando tinha mais de 30 anos de idade, ele trabalhava como “carvoeiro do Sinhô”. Nessa época, acreditem, esse homem sorridente, de bem com a vida, viu a morte de pertinho. Ficou cara a cara com ela numa proximidade absurda de apenas dois dedos de distância um do outro. Vou contar a experiência maluca vivida pelo senhor João de Deus como ele me contou, ainda há poucas horas. Aliás, recontou porque eu o provoquei. Encontrei-o no Horto Municipal, de chapéu na cabeça e o provoquei para Geraldo Fróis – o Gê Fróis – ouvir porque ainda desconhecia a estória dele. Foi assim, João de Deus contou: - Eu trabalhava, na ocasião, na carvoaria. Me chamaram para ajudar a abrir uma cisterna. Já estava funda, mas deu em pedra. Tinha de ser dinamitada. Ele fez uma pausa. E eu o estimulei: - E aí, aconteceu o quê? - Desci pela (...) com um cigarro aceso e duas bananas de dinamite. Acendi o estopim e dei sinal para me puxarem. Mas aconteceu um problema lá com a (...) e eles começaram a brincar comigo. - Por que você não disse já ter acendido o estopim? - Eu disse. Mas eles não acreditaram e ficaram brincando comigo. - E enquanto isso o estopim estava chiando... - Sim – disse. E continuou narrando: - Eu pedia para ser puxado e nada. O estopim estava chegando. Implorei a Deus para apagar a chama. Implorei... - Não dava para você mesmo apagar? - Na hora fiquei tomado de pavor, nem pensei nisso. - E então, o que aconteceu? - Faltava, se muito, uns dois dedos para as dinamites explodirem. O fogo se apagou sozinho. - Foi um milagre?! - Foi – o senhor João de Deus confirmou. Tudo porque ele é “João de Deus”. Deus ouviu a prece dele e deu o sopro para apagar a chama. Não fosse isso, João não estaria aqui, com o sorriso escancarado para nos contar a sua estória. |
Por Alberto Sena - 8/6/2017 12:05:17 |
Hora de sair do comodismo Alberto Sena Ainda sob o calor provocado pelas dinamites explodidas dentro da única agência do Banco do Brasil (BB), no Centro Histórico, trato nesta oportunidade sobre a participação do Pelotão da Polícia Militar de Grão Mogol no episódio da explosão do cofre por uma quadrilha de bandidos; e outros pormenores. Não se trata de “defender” ou “criticar” os policiais comandados pelo tenente Ricardo Batista de Souza. Todos eles são bravos, mas vários fatores contribuíram para acabar com a virgindade de Grão Mogol no tocante a ataques de quadrilhas especializadas em explodir caixas eletrônicos. Não vou entrar no mérito da carência material da nossa polícia sob todos os aspectos para não passar informações aos bandidos. A realidade é nua e crua. Levando em consideração o fator surpresa, pois o ataque foi planejado minuciosamente, o que os policiais do pelotão poderiam fazer se todos estavam sendo vigiados? Os bandidos tiveram tempo suficiente para identificar a casa de cada um. Perceberam a fragilidade e esquematizaram um plano de ação. E, porque são profissionais do ramo, executaram um ataque sem ferir ninguém, mas fazendo barulho para intimidar. Foi mais fácil do que tomar biscoito da mão de uma criança. Evidentemente, é necessário daqui para frente tomar sérias medidas de segurança, e uma das principais é dotar Grão Mogol de uma companhia da Polícia Militar. Com desculpa da expressão, acho ridículo haver na cidade só um pelotão PM, sem nenhum demérito aos policiais, pois todos dão muito de si para oferecer segurança pública. Mas há muito tempo (até por uma questão preventiva) já devia ter uma companhia no município. Mas não basta ter uma companhia sem dar a ela as garantias, as condições necessárias para exercer o trabalho de segurança pública, tais como viaturas suficientes, armamentos superiores aos dos bandidos e tudo mais. E quem é o responsável por dotar Grão Mogol de uma companhia da PM? Em primeiro lugar, cabe à Câmara Municipal encarar a sua missão de representante do povo e reivindicar imediato reforço da segurança pública. Para isso, a Câmara precisa dar os passos necessários nesse sentido acionando a Regional da Segurança Pública em Montes Claros e o Comando do Batalhão de Polícia. E, se for o caso – e é o caso – ir a capital conversar com o governador Pimentel, que tem um grãomogolense – José Afonso Bicalho Beltrão da Silva, secretário da Fazenda – a fim de reivindicar mais atenção para Grão Mogol. Aqui, não tem delegado de Polícia Civil. Tinha. Só agora foi nomeado um juiz de Direito para a Comarca e até então a promotora de justiça permanece, mas há sempre o risco de um e outro irem embora, porque aqui é Comarca de 1ª Instância. Em verdade, Grão Mogol nunca foi devidamente respeitada como Comarca das mais antigas. E, aqui, cabe refletir sobre o porquê de o município nunca ter sido respeitado como convém. A responsabilidade sobre isso recai primeiramente sobre a população de modo geral. Vivo aqui há três anos e tive tempo suficiente para refletir sobre o comportamento das pessoas. Com algumas exceções, o grãomogolense de modo geral é apático. Não costuma tomar atitudes coletivas. Se tomasse, grande progresso político já teria alcançado. Há no ar, além das emanações da Serra do Espinhaço, um sentimento conformista da população. As pessoas não participam das reuniões da Câmara Municipal. Em um momento deste, caberia ao povo reivindicar os seus direitos pressionando os vereadores e principalmente o prefeito municipal para tomarem uma atitude em relação à segurança de Grão Mogol. A reação deve ser de dentro para fora. Está em jogo o sossego e não podemos deixar instalar nas cabeças a fobia da insegurança pública. Só faltava essa ocorrência para se perceber que, enfim, Grão Mogol já não pode ser mais considerado um lugar onde a tranquilidade era marcante. As portas e as janelas das casas podiam ficar abertas. As chaves dos carros deixadas na ignição. Adeus criminalidade zero na sede do município, porque na zona rural, muitos fazendeiros e sitiantes estão vindo para os centros urbanos acalentados pela ilusão de “mais segurança”. Para não alongar, eis uma síntese: se não houver, agora, uma reação popular por mais segurança pública, a ponto de sair do comodismo e tirar dele as autoridades locais, as famílias de Grão Mogol podem esperar, infelizmente, por ocorrências desse tipo e de outros também. |
Por Alberto Sena - 7/6/2017 15:49:55 |
Quadrilha explode cofre do Banco do Brasil - A direção dos Correios precisa agir rapidamente para auxiliar Lúcio Panta. Ele está sozinho na agência de Grão Mogol e por esses próximos dias terá de atender toda a demanda do Banco do Brasil atacado nesta madrugada por sete ou até 14 bandidos não se sabe ao certo. Eles explodiram o cofre da agência com quatro dinamites e fizeram uma série de disparos para o ar a fim de inibir qualquer reação. “O cofre ficou desbeiçado”, diziam algumas pessoas hoje de manhã à porta da agência bancária localizada no Centro Histórico, na esquina das ruas Rua Cristiano Relo e Antonio Bemquerer. O Pelotão da Polícia Militar, infelizmente, foi apanhado de surpresa. Os cabos Armon Costa Rosendo e Edmílson dos Santos Dimas sentiram-se “impotentes” porque eles estavam sendo vigiados e impedidos de agir. O tenente Ricardo Batista de Souza, comandante do pelotão se encontrava em Montes Claros acompanhando a cirurgia de um filho e se inteirando dos fatos hoje de manhã ao retornar a Grão Mogol. O cabo Armon se encontrava em casa, havia acabado de chegar da Unimontes, em Montes Claros, e foi informado de que havia duas pessoas vigiando a casa dele e três reféns. Quem estava no quartel, segundo o cabo, recebeu uma ligação pelo telefone 190. Do outro lado um dos bandidos avisava ter o quartel sob mira. O tenente Ricardo também teve informações de que a casa dele estava sendo monitorada. Isso e tudo mais sinalizam ter sido a ação planejada com antecedência. O cabo Armon desconfia da participação de policiais. Por quê? Porque em certo momento alguém ouviu um deles perguntar para o outro, com sotaque baiano: “E aí, trouxe a macaca?” Expressão típica do linguajar policial. Há suspeitas de que sejam baianos. O gerente da agência do BB de Grão Mogol, Lindiomar Castluber, capixaba de origem, estava em casa. Havia tomado um remédio para problema de coluna e foi dormir às 23h. Desligou o celular e só ficou sabendo do ocorrido mais tarde. Todas as imagens foram colhidas por câmaras da regional do banco. O gerente não revelou a quantia levada pelos bandidos. Mas supõe-se ter sido alta porque ontem o carro-forte abasteceu a agência. Circula a informação sobre a presença de um estranho nas proximidades da agência bancária. Ele teria sido visto por lá durante uma semana, possivelmente estudando a área e acompanhando a movimentação do lugar. Infelizmente, depois dessa investida, Grão Mogol passa a figurar na lista das cidades onde os bandidos estouraram cofres de bancos. Antes, os grãomogolenses achavam ser a cidade protegida e mesmo abraçada pela Serra do Espinhaço. “Quem vai a Grão Mogol, de lá não vai a lugar nenhum” – esta frase era dita e repetida. Teoricamente, quem vinha a Grão Mogol precisava voltar para pegar a BR-251, se quisesse ir a outro lugar. Com essa ação dos bandidos, que estariam em mais de três carros e pelo menos um teria passado pela Avenida Domingos Arrudas com os ocupantes atirando na altura do quartel, desceu pelo balneário e teria alcançado a BR-251. Outros dois carros – os que deveriam estar transportando o dinheiro – foram rumo ao Vale das Cancelas, onde também alcançaram a rodovia federal. Daqui para frente, as autoridades de Grão Mogol devem tomar uma atitude no sentido de dotar a cidade de uma companhia da Polícia Militar, com mais viaturas a fim de garantir a segurança da população. A partir da ocorrência, pouco depois de 1h da madrugada e durante a manhã/tarde o assunto em todas as bocas era um só: o assalto à agência do BB. Em virtude das explosões de dinamite, as estrutura do prédio podem ter sido abaladas. E se estiverem mesmo comprometidas, a única agência do BB ficará fechada e o atendimento passa a ser via agência do correio, onde hoje uma só pessoa atendia a multidão que para lá acorreu. Daí a necessidade de pelo menos mais um funcionário para o atendimento externo. De qualquer forma, o transtorno será grande porque a agência do correio não oferece todos os serviços ao ponto de substituir o BB. |
Por Alberto Sena - 2/6/2017 14:06:48 |
Grande Roberto Lima Alberto Sena Convivi com o advogado Roberto Lima na década de 60, em Montes Claros, muito antes de ele estudar Direito. Época explosiva aquela, quando quase tudo em termos de cultura, música e artes de modo geral saíam do casulo para virar borboleta. Roberto veio a falecer nesta quinta-feira, 1° de junho. Tantas festas juninas ele viveu. E juntos vivemos, sob o friozinho medroso antes existente em Montes Claros, naquela década, no mês de junho, quando as fogueiras ardiam e os ares ficavam enfumaçados. Nessa época, a família morava na Rua Corrêa Machado, 238, em frente ao “campo do União”. Roberto morava na Rua Doutor Veloso, a uns 200 metros lá de casa. Ele e o irmão dele, Ronaldo, que chamamos de Roxxim, fazia parte de um grupo de amigos com os quais jogávamos futebol no campo do União. Com os dois irmãos tive boa convivência, juntamente a outros amigos de então como Cícero Estru, Cícero Cuecão, Rubinho, Luiz Biondi, além de outros. Morávamos todos na mesma região. Na época, a Praça de Esportes era o melhor ponto de encontro da juventude. À noite saíamos juntos ou voltávamos juntos para casa. Cícero Cuecão na Rua Camilo Prates; Cícero Estru na Rua Corrêa Machado, acima lá de casa; Roberto e Ronaldo na Rua Doutor Veloso, para onde dava a janela principal da casa de Luiz Biondi. Como não podia deixar de ser, a própria vida cuidou de nos colocar em um tabuleiro de xadrez. Chega um momento, a ânsia da vida por si mesma separa as pessoas. Cada um vai para um lado. Fui para Belo Horizonte. Roberto para Januária. Ronaldo para Janaúba. Cícero Cuecão foi cedo para outra dimensão. Cícero Estru foi para a capital. Rubinho, para Rondônia, depois Florianópolis e, em seguida, Belo Horizonte. Recentemente foi se encontrar com os amigos. E Biondi mudou-se para a Bahia. Por um longo espaço de tempo perdi contato com os irmãos Roberto e Ronaldo. Para não dizer com os demais citados também. Com o advento do Facebook, resgatei Roberto e Ronaldo. Sobre Roberto, motivo de inspiração para redigir este texto, vinha acompanhando-o todos os dias quando dava “bom dia” aos seus amigos com um texto de conteúdo espiritual. Sempre positivo, bem humorado, ele tinha uma legião de acompanhantes. Muitos deles carentes de uma boa palavra para avançar nas durezas da vida. Recordo-me, por esses dias, Roberto fez um comentário diferente, no “Feed de Notícias”. Ele havia sentido algo no peito e foi ao médico. Eu até brinquei com Roberto sugerindo dar “umas braçadas no Rio São Francisco e tudo ficará bem”. Mas, pude me informar depois, o problema dele eram artérias obstruídas, teria de receber cinco pontes safenas. Ao redigir este texto confesso não saber ainda a “causa mortis”. Todo humano precisa de um pretexto para partir deste plano de vida. E quando isso acontece, pelo menos no meu entendimento, é porque a pessoa completou o seu estágio de vida nesta nossa dimensão e partiu para outra. Em outras palavras, a morte não existe. O que existe é o pretexto para partir. Seria eu acho como passar por uma porta aberta ou saltar uma janela de casa. Pelo que pude acompanhar baseado nas inserções de suas mensagens no FB nesta fase de “amigo virtual”, Roberto foi o mesmo Roberto da década de 60, em termos de índole, caráter, essas particularidades que fazem o homem – e a mulher – ficar em pé íntegro, com dignidade. Roberto, enfim, era (é) uma alma boa que viveu entre nós. Ele dava de si às pessoas. No FB estão os registros de sua ação caritativa. Afinal, “A caridade é a plenitude da Lei”. P.S.: Era para redigir esse texto, ontem. Fiz o primeiro parágrafo, mas, interrompi-o. A emoção não deixou prosseguir. Terminei-o agora, 13h. |
Por Alberto Sena - 26/5/2017 15:00:31 |
UM JEITO CHAPLINIANO DE SER Alberto Sena Uma cidade se transforma em metrópole quando ela perde os seus tipos humanos. Nem sei se ainda existe algum tipo humano hoje em Montes Claros. Não moro aí desde fevereiro de 1972, mas presumo, pode haver um ou mais em cada um dos mais de 350 bairros de Montes Claros. Na época em que eu podia encontrar comigo mesmo em cada esquina, décadas de 50/60/70 muitos eram os tipos humanos, a começar do principal deles, o negro Tuia, natural de Grão Mogol. Ele tinha a língua cortada e carregava na cacunda a fama de ser ex-escravo. Era uma figura querida. Vivia com uma bituca de cigarro atrás da orelha, chapéu amassado na cabeça, vara em punho para afastar dele as pessoas inconvenientes. Tinha uma casinha azul de madeira na garagem do casarão onde funcionava a redação do O Jornal de Montes Claros, na Rua Doutor Santos, 103, onde é hoje uma agência bancária. Além de Tuia havia vários outros. Muito já se falou a respeito deles. Havia o “Requeijão”. Só de falar o epíteto dele de sua boca saíam os mais pesados impropérios. Havia “João Doido”. Este andava pelas ruas meneando a cabeça para um lado e para o outro. O tempo todo falava sozinho, dizia frases desconexas. Assim como também o pequeno apelidado de “Galinheiro”. Ele sempre estava segurando com a mão um saco às costas. Mas havia outro, famoso chamado Manoel Nunes da Silva, epitetado “Manoel Quatrocentos”. Era um indivíduo de estatura baixa, parrudo, olhos verdes, uma verdadeira “mala velha”, sempre sorridente. Manoel era chamado também de Mané. Uns abreviavam chamando-o de “Mané 400”. Levou o apelido porque tudo dele, ao dar o preço do seu trabalho, era “400, 400 reis”. E assim ficou. Mas o que mais o marcava eram as tiradas dele. Sempre acabavam em “alalaika”. A gente sabe o quanto os brasileiros são curiosos. Mané também sabia, e, então, “alalaika” neles. Era vivido o Mané. Viajou por alguns países da América do Sul. Talvez tenha vivido algum tempo na Argentina. Ele gostava de se exibir falando espanhol, inglês e francês. Nunca soube se afinal de contas, era mesmo poliglota. Inteligente e esperto, sim. Pode ser que tenha gravado algumas palavras nas três línguas e vivia repetindo-as. Quem for mais antigo do que eu e souber mais coisas sobre Mané, tome à dianteira. Ele estava sempre acompanhado do inseparável machado. Ganhava dinheiro rachando lenha, abatendo o que precisava ser cortado. Tinha uma maneira particular de segurar o machado. Às vezes estava num dos ombros. Noutras vezes, ele segurava o machado numa das mãos e o cabo ficava rente ao corpo com a ponta para cima. Mané conhecia muita coisa fora do âmbito de Montes Claros. Os artistas da época, fabricados em Hollywood, eram todos seus amigos e ele conhecia a intimidade de cada um, como se tivesse convivido mesmo com eles. Uma prova, se assim posso dizer, da nobreza de Mané é a foto usada para ilustrar o texto. Pelas aparências, ele tinha posses e bons costumes. Vestia-se bem. Na época dele, as pessoas se vestiam assim – terno, gravata e chapéu – dia e noite. A foto em frente a um carro denota o bom gosto dele. Se o carro era dele não se sabe. A foto me foi enviada por WhatsApp pelo sobrinho André Senna. Mesmo o carro não sendo dele, pelo menos Mané esbanja elegância. Em Montes Claros, ele foi o precursor das “pegadinhas”. Às vezes parava na esquina de uma das ruas do centro da cidade e ficava olhando para cima, com os olhos fixos n’algum lugar. As pessoas paravam e olhando para ele, perguntavam: - O que está vendo? - Lá – ele apontava. - Lá onde? - Ô lá lalaika – e saía rindo. Havia quem não gostava dessas brincadeiras, mas não tinha como reagir contra ele. Era uma pessoa simples, fina, comunicativa, prestativa. Mané tinha um jeito chapliniano de ser. Ele deixava transparecer esse jeito toda vez ao aplicar em alguém desavisado um bem humorado “ô lá laika”. |
Por Alberto Sena - 14/5/2017 09:54:07 |
Carta para minha mãe Elvira Alberto Sena Mãe. Oh, mãe, a sua partida faz 32 anos. Foi no dia dedicado às Mães. Sei muito bem mãe, ninguém vai embora antes da hora. Mas choro. Choro, não de dor, mas de emoção porque, afinal, tenho coração sensível, e por mais incrível possa parecer, não lamento a sua partida, tenho siso, herança sua. O Brasil e o mundo como estão, em turbulência, a senhora teria dificuldades para aceitá-los, aos 105 anos de idade, se conosco ainda estivesse. Sei, a senhora está bem. E isto é o mais importante. Seria uma demonstração de egoísmo de minha parte querer a sua presença física se eu posso rever, de olhos fechados, e o coração aos borbotões, as lembranças boas dos nossos tempos vividos. Prefiro me realimentar de recordações. Elementar seria não praticar os seus ensinamentos e os exemplos de mulher vibrante, firme, enérgica, de coração transbordante de alegria. Neste momento terno, eterno, me recordo, com emoção, de quando, junto ao fogão a lenha, enquanto fazia o almoço, eu ainda criança ouvia, para o meu encanto, o seu canto: “Índia teus cabelos nos ombros caídos/ Negros como a noite que não tem luar/ Teus lábios de rosa para mim sorrindo/ E a doce meiguice deste teu olhar/... Não se sinta incomodada comigo. Com nenhum dos irmãos. Aqui, neste plano de vida, estamos bem – todos os seus filhos vivos. Cada um com as suas particularidades, como bem a senhora sabe, melhor do que eu. Como se diz por aqui, “mãe é mãe”. Conhece as dificuldades e as alegrias só de olhar o semblante de cada um dos filhos e filhas. No meu caso particular, oh mãe, mantenho íntegro o espírito de criança, e é este mesmo espírito de criança que neste momento dança entre as nossas lembranças. Agradeço a Deus por ter nascido filho seu. E agradeço-lhe por ser a minha mãe querida. Peço-lhe licença, neste momento sublime, o coração transbordando em lágrimas, para terminar esta carta cantando para a senhora a composição de José Marcelo de Andrade, que tanto lhe agradava, eternizada pela cantora lírica Maria Lúcia Godoy: “Elvira escuta os meus gemidos/ Que aos teus ouvidos irão chegar/...” |
Por Alberto Sena - 13/5/2017 08:19:11 |
Nicomedes, craque dos pés à cabeça Alberto Sena Que Nicomedes de Almeida Teixeira me desculpe, mas só há pouco tempo soube, além de zagueiro do Ateneu, meu clube do coração – Cassimiro de Abreu e Ipê – ele se tornara professor de Literatura Portuguesa e Francesa. E, por via de consequência, tornou-se escritor poeta, tendo escrevinhado o livro de crônicas e poemas intitulado “Sentimentos Paradoxais”, que, com muito gosto, acabei de ler. É que saí de Montes Claros faz tempo. Embora tenha retornado várias vezes, mais para “buscar fogo”, como se diz, sem querer perdi contatos no decorrer de mais de 40 anos. E, de certo modo, perdi também a relação com os acontecimentos do dia a dia da nossa terra montesclarina. Depois de ler o livro pude concluir, ele não só sabia usar os pés com maestria como também a cabeça. Afinal, a fase de jogador de futebol é efêmera, muito mais do que a própria vida. Ao contrário de vários craques, que após pendurarem as chuteiras ficaram a ver navios, sem saber fazer outra coisa para sobreviver, Nicomedes praticou a sua melhor defesa ao marcar o gol de cabeça mergulhado no magistério para lecionar línguas Portuguesa, Francesa e Literatura. O livro dele é marcante. Por demais interessante, entremeado de experiências como professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Enquanto lia as crônicas e os poemas, imaginava, se aluno dele fosse, a essa altura estaria lhe cantando loas pelos exemplos de vida inseridos nas linhas e nas entrelinhas de suas crônicas e poemas publicados no Jornal de Notícias, de Montes Claros. Modesto, ele, segundo consta do prefácio escrito pelo jornalista Jorge Silveira, “Sentimentos Paradoxais” seria filho único e isso me fez lembrar o dizer do escritor mexicano, Juan Rulfo, autor de “Pedro Páramo e o Planalto em Chamas”, clássico latino-americano. Rulfo respondeu ao lhe perguntarem, 30 anos depois de escrever o seu único livro, por que não fez outros: “Não quero cansar as máquinas impressoras”, disse. Quero acreditar não ser de fato essa a pretensão de Nicomedes. Ele tem tudo para brindar os leitores com outros livros. Tanto de crônicas e poemas como romance. Afinal de contas, há uma Helena ao lado dele. Ela, que também é Maria, a exemplo da mãe de Jesus poderá inspirá-lo a transformar a experiência dele não em vinho, mas em literatura, de modo a embriagá-lo de entusiasmo para continuar o que começou bem. As crônicas dele são eivadas de humor e este é um dos ingredientes primordiais para quem gosta de ler. Afinal, do contrário bastam às durezas da vida a nós impostas não por designo divino, mas pelos homens travestidos de políticos a envergonharem a Nação, em todas as esferas de governos, do federal passando pelos estaduais aos municipais. “Sentimentos Paradoxais”, em verdade, é um livro que denuncia toda a sensibilidade do autor. Ele soube destrinchar, com leveza e amor, expressões e idéias de autores renomados, como Vinicius de Morais, só para citar um. O livro é dividido em crônicas e poemas. Com sua verve poética, Nicó, como é chamado na intimidade, por intermédio da sua Helena, quatro filhas e a neta Luísa enaltece as mulheres, como fazia Vinicius, autor do clássico da Música Popular Brasileira (MPB), “Garota de Ipanema” e tantas outras músicas-poemas de repercussão internacional. Em resumo, o livro dele é um exemplo de publicação bem humorada. Serve de lume para gregos e troianos nortearem a caminhada por esse planeta maravilhoso, que uma meia dúzia de energúmenos insiste em torná-lo obscuro como se o inferno fosse aqui. Ele foi mestre com a bola nos pés e também com a cabeça, enquanto perdurou sua passagem pelo magistério. Por isso posso felicitar os estudantes que puderam beber das águas de Nicó. |
Por Alberto Sena - 10/5/2017 08:20:20 |
Agostinho, era este o nome dele Alberto Sena O nome dele era Agostinho. Digo “era” porque não acredito estar ele ainda vivo a essa altura da caminhada da Humanidade. Tinha os pés dobrados para dentro. Mantinha-se em pé sobre os tornozelos. Os pés pequenos tinham a sola franzida e os dedos embolados, deformados. Além disso, Agostinho era mudo, comunicava-se por sinais. Apesar de tudo, ele conseguia manter ares de quem tinha alegria de viver. Ria muito. Tinha riso para todo tipo de gente. Agostinho morava no Asilo São Vicente de Paulo, na Rua General Carneiro, esquina de Rua Doutor Veloso, em Montes Claros. A época era início da década de 60. Éramos todos adolescentes. Posso citar, aqui, nomes de amigos com os quais convivi na época. Todos irão se lembrar do indigitado: os irmãos Felipe, João Carlos e Ricardo Gabrich; e os irmãos Roberto e Ronaldo Lima, Roxxim. O cenário era o campo de futebol da equipe do União. A entrada do campo pela Rua Corrêa Machado e os fundos davam para os fundos do Asilo São Vicente de Paulo. Para Agostinho bastava saltar o muro do asilo e estava dentro do campo. Nessa época, o campo já passava por processo de desativação e nós nos arvorávamos donos do pedaço. Passávamos o dia inteiro nele. Jogávamos futebol e tampa de “cera Parquetina”. Nas primeiras vezes, Agostinho chegava ressabiado e ficava nos espiando disputar partidas de duplas. Quem ganhasse disputava com outra dupla, e assim por diante. Pedras facilmente encontradas e colocadas quatro passadas distante uma da outra demarcavam os gols. A dupla adversária ficava uns 20 metros distantes. A brincadeira era chutar para o gol adversário e se houvesse rebate, saía-se para os dribles e o chute final. Era muito divertida a brincadeira. De tanto Agostinho ficar “urubuservando” nossas disputas, nós o chamamos a participar e ele logo demonstrou aptidão para goleiro. Mesmo tendo os pés para dentro e pisando sobre o que seriam os tornozelos, ele tinha impulsão e nenhum receio de saltar para defender as bolas. Fazia cada ponte! Não demorou e a toda mão ele era escolhido para jogar. Criou-se, então, entre nós e Agostinho um lastro de amizade. E como dentro do asilo havia pomar, sempre ele estava trazendo alguma fruta para nós, certamente para demonstrar gratidão. Foi bom mesmo o tempo vivido ali no campo. Mas a partir de quando foi loteado e urbanizado, tudo mudou. Não sei o fim tomado por Agostinho. Um dos amigos citados talvez saiba o que lhe aconteceu. Éramos adolescentes na época e as responsabilidades surgiram. A corrida era outra na tarefa de ocupar delas. Ficaram as lembranças. Neste instante, ao fazer os registros, revejo o semblante de Agostinho e ouço as risadas dele, banguela. Ele e nós éramos felizes e sabíamos. O tempo voou. Muita coisa mudou. Nem podia ser diferente. Fui para Beagá, em 1972, e só voltei ao asilo, em 1985, quando minha mãe, Elvira, faleceu. O velório dela foi próximo ao altar da igreja do asilo. O bispo Dom Geraldo celebrou a missa de corpo presente. Em vida, ela frequentou incontáveis vezes a igreja do asilo. Mãe era fervorosa. Várias vezes, eu menino testemunhei a relação dela com Deus. Fazia orações, e o pedido dela era atendido. No ano passado, por mera curiosidade, fui rever o lugar onde morávamos, na Rua Corrêa Machado, 238. A casa antiga não existia mais. Quem não tivesse a informação nunca saberia ter sido ali um campo de futebol, de onde saíram craques como Marcelino (Atlético), Moe de Ferro, Jomar (Atlético), João Batista, Bonga, Bispo, que, inclusive, atuaram em times profissionais. Iniciando a adolescência, 1960, foi quando a família se mudou da Rua São Francisco para a Rua Corrêa Machado. Naquela época, o campo ainda era utilizado. Foi logo em seguida iniciado o processo de desativação. Era uma boa diversão assistir aos treinos e aos jogos das arquibancadas de madeira. De vez em quando acontecia de a “bola de capota” cair lá em casa. Pai ainda era vivo e ficava buzina de raiva. Ameaçava não entregar a bola, mas ao final e ao cabo acabava entregando. Mas deixava claro, “da próxima vez...” Nada tenho contra incursionar ao passado a fim de comparar como está o lugar atualmente. Mas, as transformações por que passaram aquela área onde vivi com intensidade acionaram a tecla da saudade. Tratei de sair de lá o mais rápido possível, espantado com a quantidade de cercas concertinas por todos os lados. |
Por Alberto Sena - 26/4/2017 14:22:58 |
BRINCADEIRA DE CRIANÇA Alberto Sena Foi uma sensação estranha, como se de repente o movimento de rotação da Terra tivesse invertido e por alguns instantes tornara possível retroagir no tempo, década de 50, quando se era criança, em Montes Claros. Tudo porque hoje cedo meninos brincavam de esconde-esconde debaixo da nossa janela. Particularmente, fiquei surpreso ao me deparar com a cena. E mais surpreendido, ainda, fiquei com a possibilidade de testemunhar “in loco” crianças alegres repetindo brincadeira nem tão antiga. Em qualquer outro lugar seria hoje cena considerada atípica. Mas, naquela década, não porque inexistiam “atrativos” tantos a desviarem a atenção das crianças como há hoje. Todavia, aqui, isso é normal – ainda bem – porque se trata de uma cidade “sui-generis” a partir da sua localização, na linha divisória entre o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. Onde já se viu um acontecimento deste nos dias atuais, quando as crianças nascem com celular na orelha como se fosse brinco e logo nos primeiros anos de vida operam computador e possuem e-mail, twiter, i-pod etc., sem nunca ouvir “não pode” porque senão pode traumatizá-las psicologicamente? Vi quando um dos meninos apoiou o braço direito na parede e nele encostou a testa para começar a contagem antes de sair correndo: “Um, dois, três...” Este momento me recordou de como fazíamos a mesma coisa, “um, dois, três (...) e 31 de janeiro, quem eu pegar primeiro”. E então saía a procura dos amigos, aquele encontrado ia para o “pique” e tudo se repetia na alegria pueril. As crianças vistas hoje cedo felizes a brincar não tinham celular escondido no bolso. Aliás, nem bolso elas tinham. Usavam calções. E pude, então, recordar de como é gostoso brincar. E do quanto brinquei. As crianças precisam brincar. Os adultos criativos de amanhã dependem das brincadeiras brincadas na infância. As crianças, hoje em dia, brincam de maneiras totalmente diferentes. Elas não saem do lugar. Sentadas diante do computador, utilizam-se de jogos e vídeos nem sempre com mensagens positivas, e isso é um convite à reflexão sobre o que será dessa geração de crianças quando a fase de adulto chegar. Ao ouvir a voz de um menino, este certamente escondido, conversando com o outro distante, naturalmente o pegador, foi como se em um átimo na tela da memória passasse o filme Amacord, de Frederico Fellini. A voz de um deles era disparada bem debaixo da nossa janela e a do outro vinha de longe como se escapasse do inconsciente. “Lá vou eu”, disse o primeiro. E ele foi. Procurou ali, lá e acolá e não encontrou ninguém para pegar. Foi semelhante ao ocorrido comigo quando busquei um lugar onde esconder para não ser encontrado me postando de cócoras sobre o eixo de um caminhão estacionado porque enguiçado. Ficava entre a carroçaria e o eixo. Quem só espiava debaixo do caminhão não via nada. Um dado da maior importância: escondido onde estava tinha a visão total do ambiente. Dava para ver por entre as frestas da carroçaria o “pique”, um poste de cimento. Na primeira vez, eles tão intrigados ficaram com o meu sumiço, pensaram na hipótese de eu ter desistido da brincadeira. Todos os meus companheiros já haviam sido “presos”. Estavam enfileirados no poste, aguardavam-me para “libertá-los”. No momento propício, esguerei por debaixo do caminhão e pisando leve para não chamar a atenção surpreendi os “guardas” e libertei todos os companheiros. Para alegria geral. “Fugimos” em desabalada carreira. Todos queriam saber aonde eu me escondia. Consegui guardar o esconderijo em segredo por algum tempo, mas sob livre e espontânea pressão apontei o lugar. Os meninos ficaram com cara de tacho, encabulados. Eles nem imaginavam o quanto de riso segurei para não denunciar o esconderijo, enquanto me procuravam. Conseguia ver a todos e ninguém me via, embora passassem perto e espiassem debaixo do caminhão. Trazido de volta a realidade atual pela risada de uma das crianças ao descobrir o esconderijo da outra, pude avaliar, décadas depois, o quanto é importante a relação telúrica para a saúde mental dos pequenos. Mas havia grande diferença destes em comparação com os da década de 50. Os meninos vistos hoje cedo corriam calçados de tênis, enquanto aqueles pisavam descalço o chão empoeirado (ou enlameado) de então. Mas, o êxtase era o mesmo. |
Por Alberto Sena - 10/4/2017 14:06:16 |
Meus 50 anos de jornalismo Alberto Sena Por esses dias me dei conta de ter o direito de poder comemorar, se quisesse, com “festa de arromba”, como diria Erasmo Carlos lá na década de 60, os meus 50 anos de Jornalismo. Quem se der ao trabalho de fazer conta de aritmética não me deixará afirmar sozinho como sendo verdadeiras e intensas essas cinco décadas de Jornalismo, passando pelos segmentos de redações, desde repórter – noticiarista, redator – a editor de Agropecuária, Meio Ambiente, Abastecimento e Economia. Sem pejo, a quem interessa possa informo meus atuais 67 anos de idade e o ingresso no Jornalismo aos 17 anos, no O Jornal de Montes Claros. Meio século se passou e se olho pelo espelho retrovisor só agradeço a Deus por tudo vivido nesse rico período de minha vida pessoal/profissional, que, indubitavelmente influiu sobremaneira em minha formação profissional/pessoal. Penso, às vezes, se eu não fosse jornalista e tivesse de optar pela minha verdadeira vocação seria jornalista de novo. Faria tudo novamente, cuidando de aperfeiçoar, evidentemente, a caminhada se a oportunidade fosse criada. Sem querer ser presunçoso, mas sendo, pude prestar e ainda presto bons serviços por meio do Jornalismo tendo em vista o bem da coletividade. A intenção não é fazer proselitismo, mas por meio do Jornalismo sadio dei e continuarei dando a minha contribuição no dia a dia para o resgate dos valores humanos verdadeiros. Por tudo já realizado até aqui, sinto satisfação enorme, porque sendo um reles exemplar da raça humana exerço com a maior tranquilidade meu direito de dormir naturalmente oito horas por dia com a consciência plena de ter cumprido da melhor maneira as minhas obrigações em todos os veículos de comunicação por onde passei, em Belo Horizonte. Em meio aos leitores deste texto comemorativo alguém poderá fazer a pergunta-chave, considerada: “Este camarada deve estar com as burras cheias”. Não ganhei dinheiro com o Jornalismo. Não tive tempo para isso. A satisfação pessoal ao me lembrar ter atingido profissionalmente uma quantia de anos tão significativa não é material. Nem tangível. Porque de grande significado imaterial. Tive e continuo tendo experiência profissional e pessoal maravilhosa com o Jornalismo porque cada vez mais posso conhecer-me e também os meus semelhantes, embora tenha a convicção sobre ser o comportamento da Humanidade o mesmo desde sempre, incorrigível, guardando aí as proporções da massa a cada século da existência humana. Quem me acompanha desde os meus primeiros passos sabe, penso sempre de maneira global, mas como não tenho o dom da ubiquidade, atuo localmente, como faço até aos dias de hoje estando em Grão Mogol, na linha divisória do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, cidade histórica onde nunca em sua história secular teve um jornal impresso. Mas terá. Brevemente. Fosse eu afeito a festividades, a essa altura podia fechar um ambiente amplo e com boa infraestrutura e enchê-lo de convidados para me ajudar a comemorar essa metade de século como profissional de comunicação. Todavia, isso para mim não passaria de massagem de ego. Interessa-me mais lembrar a mim mesmo, vou passando depressa pelo mundo, certo de não ser deste mundo. Depois de tudo vivido, ouvido e visto durante esse tempo de tamanha relatividade, tenho a grata satisfação de ter chegado neste ponto achando estar apenas na metade do caminho, porque o melhor está por vir. E, concluo se saí ileso até aqui, sem ser cooptado pelo “mecanismo” em vigor lamentavelmente no País, em todas as esferas – Executivo, Legislativo e Judiciário – posso registrar a alegria de nunca tê-lo aceitado e por isso ter sido rejeitado por ele. Vivo porque tenho uma centelha divina em mim. Sou rico de graças de Deus. Materialmente tenho o senso do equilíbrio, sem entrar na corrente do consumismo. Agradeço a Ele por tudo vivido e por viver. E me ponho à disposição como o mais reles dos seus servos. Em verdade, em verdade confesso, sou rico e peço para ser mais rico ainda, sempre, de graças. Vejo o mundo em convulsão. Mas sou como o beija-flor destemido tentando apagar o incêndio na floresta com água no bico. Sinto-me também como Dom Quixote de La Mancha. Na pior das hipóteses, corro só o risco de semelhança com o personagem de um dos clássicos mais importantes da Literatura Universal. |
Por Alberto Sena - 16/3/2017 14:03:52 |
Nos olhos da minha mãe Alberto Sena Vi a morte da minha mãe chegando aos olhos dela. Foi uns dois dias antes de ela morrer. Sentada em um sofá individual, na sala, ela mantinha os braços apoiados dos lados. Tinha o olhar fixo em um ponto. Não parecia triste nem alegre. Contemplativo. Era como uma estrela em processo de oclusão depois de cumprir a missão divina de brilhar. O sorriso dela já não era o mesmo sorriso de antes. Sorriso aberto de dentes alvos. Ela e o irmão dela, Abel, tinham sorriso largo. Aliás, todos da família dela davam risadas. Tia Ambrosina, irmã de mãe, era do mesmo jeito – tia Geraldinha e tio Severo também – quando havia motivo para tanto. Mas o tio Abel era o que gargalhava mais. Eu gostava de ver e ouvir as risadas dele. Sempre quando ele ia nos visitar, tinha alguma coisa engraçada para contar, uma piada, um causo. Mas, voltando à minha mãe. Ao depara-me com a morte chegando aos olhos dela fiquei em alerta. Pareceram-me opacos. Ela me deu a impressão de uma coisa ou outra: sentia algum mal estar, alguma dor e não queria esboçar, ou inconscientemente, sentia chegar a sua hora. Acho mais verdadeira a segunda hipótese. As pessoas crentes em Deus são avisadas com antecedência, certamente. No caso dela, ela se mantinha firme, serena. Claro, numa hora desta ocorre o fenômeno psicológico chamado “misoneísmo”, o medo do novo, do desconhecido. O semblante dela era de quem ia entrar por aquela porta para não mais voltar. “A Casa do meu Pai possui muitas moradas”, disse Jesus. Ninguém vai embora antes da hora. Nada acontece que não devia acontecer. Aconteceu? Não adianta empregar a partícula “se” – se tivesse feito isso ou aquilo... –, a não ser para corrigir algo que, aparentemente, pode ter acontecido devido a um erro ou negligência de alguém. O que para mim foi o caso da minha mãe. Nunca disse “perdi minha mãe”. Não. Eu a ganhei porque sei, ela vive e está em mãos de Deus. Vezes sem conta melhor do que se aqui estivesse. Ela ficaria espantada com os acontecimentos deste mundo, tamanha a desproporção em relação ao seu mundo, mãe de 11 filhos, sendo nove vivos. Eu sou o décimo na ordem de nascimento dos filhos de minha mãe, Elvira, e do meu pai, José, Zé Bitaca chamado. |
Por Alberto Sena - 14/3/2017 14:04:07 |
Oito presentes Alberto Sena Fiz o suprimento, hoje. Ganhei oito presentes. Duma vez só. Ganhei requeijão, de Salinas; marmelada, de São João do Paraíso; pequi de Japonvar; mel de aroeira em garrafa, castanhas do pará, castanhas de caju e amêndoas portuguesas. Pergunto com toda sinceridade: tem presentes melhores do que estes? Evidentemente, tem sim. E o leitor atento exclamará perguntando: “O que é?!” Respondo: o oitavo presente, que passou batido na contagem de quem lê o texto. Quer dizer, a pessoa que me trouxe os presentes dentre todos é o melhor. E foi de surpresa, sabe como é? Antes, ela dizia, talvez “não tenha como ir ao Mercado Central de Montes Claros”, voltando de Belo Horizonte. Conformei-me com a explicação dela e pensei com os botões da camisa aos borbotões, “mais tempo vou ficar sem o meu suprimento”. Não é que eu tenha alguma coisa contra o requeijão, daqui, de Grão Mogol, mas o de Salinas tem um sabor especial. A marmelada pode ser de qualquer lugar (menos as de Brasília (DF) – “marmelada de cachorro.”), mas a de São João do Paraíso tem o seu lugar. Inda mais a da banca de uma mulher, o nome dela desconheço. O tijolo do doce vem muito bem embalado, e segundo disse a quem me trouxe de presente, “está novinho”. E está mesmo. Antes da palha de bananeira, o doce é coberto por “insulfilm” e abaixo da palha de bananeira, dentro de um saco plástico, está o doce propriamente dito. O pequi... Ah! Achei que só ia ver pequi na safra de 2018. Para mim foi grande a surpresa quando ao me aproximar da janela do carro em que ela chegou. Senti logo o cheiro predominante de pequi. Claro, há quem não goste e respeito o desgosto de quem quer seja. Mas o pequi... Não fosse o pequi, o sertanejo seria totalmente diferente do que é. Mel. O mel tem o seu lugar aqui na nossa mesa. Ouso fazer outra pergunta: há trabalho mais bonito do que o trabalho das operosas abelhas? Elas vão de flor em flor, rimam zumbido com amor e produzem essa delícia. E por falar nas abelhas, o mundo corre sério risco: os venenos jogados nas lavouras e outros fatores estão acabando com as abelhas. Sem abelhas não há polinização das plantas. Sem polinização das plantas não há multiplicação dos alimentos. Não havendo alimentos estamos todos sob risco de irmos embalados para o “beleléu”. Quanto à castanha do pará, dizem os entendidos, contém um mineral chamado Celênio. Esse mineral atua diretamente na membrana protetora das células do corpo, retardando o envelhecimento delas. Se a célula fica exposta, sem a membrana protetora, acelera o processo de envelhecimento. Basta comer uma por dia. Castanha de caju também é importante. Chamam-na de “aliada dos diabéticos e do coração”. Deixei por último as amêndoas portuguesas porque delas, com certeza, eu posso lhes contar uma estória. Estava eu e outros companheiros de viagem nos arredores de Lisboa, Portugal, ouvindo palestra de campo numa mina de carvão, debaixo de uma árvore. Foi no ano de 1994. O tema era “como minerar e aproveitar a água do lençol freático”. O camarada português estava lá falando quando, de repente, ao olhar para baixo vi sobre a relva, pela primeira vez, as tais amêndoas, mas não atinei para a importância delas. Ainda assim apanhei uma e comi. E sucessivamente várias. Vi que caíam da árvore debaixo da qual estávamos. Travei então com elas os primeiros contatos. De lá para cá fiquei consumidor contumaz delas. Se há lugar que gosto de ir de quando em vez é o mercado. Acho excelente o Mercado Central de Belo Horizonte. Aliás, foi considerado o terceiro melhor do mundo. O Mercado Central de Montes Claros também é bom. Aliás, é o melhor da região. Quiçá, um dos melhores de Minas Gerais. E do Brasil? O mercado de Montes Claros, eu acho legal porque lá vendem desses presentes recebidos nesta manhã, 13 de março. O de Belo Horizonte não me serviria com tanta eficiência e eficácia. Não nego, lá é possível encontrar algumas bancas que comercializam mercadorias do Norte de Minas. Mas, o de Montes Claros tem características próprias. Possui o olor do sertão, do Cerrado, e aquela cor, como um verniz próprio não encontrado nem em outras partes do Cerrado. Todavia, o mais incrível é a capacidade de Montes Claros de absorver a fama de produzir os presentes como os mencionados. Não faz o melhor requeijão; não produz o pequi mais carnudo; não fabrica marmelada tão gostosa quanto à de São João; mel, certamente, não produz nem uma gota; e muito menos, ainda, castanhas. Mas fica com toda a fama. E os cobres. |
Por Alberto Sena - 11/3/2017 09:51:35 |
Carta aos Netos Alberto Sena Queridos netos, Levi, Melissa e Lissa, Escrevo-lhes esta carta baseado na certeza de vocês lerem-na um dia e compreenderem bem a exposição feita abaixo. Nem imaginam o quanto gostaria de estar convivendo com vocês no dia a dia. Mas, por circunstâncias alheias à minha vontade, vejo os anos passarem-se e vocês crescendo sem eu ter a oportunidade de estar com os três ao raiar do dia, sem poder brincar com vocês sentado no chão ou correr pelos espaços atrás de uma bola ou contando-lhes as mais incríveis histórias para influenciar bem na formação mental de cada um. Vocês poderão me dizer: “Mas, vovô, nós conversamos muito pelo celular, por meio do whatsapp”. É verdade. Ainda bem, porque se não fosse isso, confesso-lhes, eu me sentiria, a essa altura da vida, um avô frustrado. Claro, visitamos pessoalmente cada um de vocês. Mas nem todo dia dispomos de recursos para entrar em um avião e ir ao seu encontro, Levi (7 anos), meu alemãozinho amado. Você está em Bremen, na Alemanha. Sabe quanto custa ida e volta de passagem e mais algumas coisas? Mas, deixa estar, Deus conhece os nossos desejos e faz conosco o que quiser. Ele faz sempre muito mais. Sugiro meu caro neto, ganhar intimidade com Ele, na pessoa de Jesus Cristo. Gostei de saber, você é o capitão da sua equipe de futebol. Um dia, Deus sabe, poderá ser atacante no time Werder Bremen. Achei mais interessante ainda saber da sua evolução na escola como monitor e representante da turma. Ainda não lhe contei, mas um dos primeiros livros lidos por mim, quando fui alfabetizado, foi “Os Músicos de Bremen”, dos Irmãos Grimm. E veja você, tempos depois, ganhei um neto nascido em Bremen. Foi uma premonição, não é mesmo? E o mais legal também é o seu gosto pela música, piano, bateria... Obrigado por ser o meu neto querido, poliglota, fala alemão, português e inglês. Não importa a distância. Pode acreditar, espiritualmente estou com você todos os dias. Até o dia em que, pessoalmente, iremos aí novamente. Sílvia lhe manda um beijão. E eu também, claro! Peço a Deus para enchê-lo de bênçãos. Abraço na mamãe (hoje é o Dia Internacional da Mulher) e no papai. MELISSA – Querida Melissa (5 anos), lindinha! A você digo quase a mesma coisa a respeito da impossibilidade de estar aí, em Orlando (EUA) para uma convivência pessoal. Mas não tenha a menor dúvida, amo você. Fico admirado com o quanto é uma menina inteligente e sagaz. Fiquei de boca aberta ao assistir ao vídeo em que você pratica karatê. Aquele golpe dado no saco de pancada se fosse dado em vovô, ai! Eu iria estrebuchar no chão. Claro que não faria isso comigo, não é mesmo? Afinal, sou o seu avô ausente, mas espiritualmente todo dia estou presente e vou com você à escola quando é levada por seu pai – ou sua mãe. Gostaria de possuir o dom da ubiquidade para poder estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas isso é reservado a Deus, cuja centelha divina está em mim, está em você, está, enfim, em todas as pessoas – em seu pai e em sua mãe, lógico! Sei que o seu inglês está uma maravilha, hein?! Sem sotaque algum. Até parece ter nascido aí. Quantas vezes você já foi à Disney? E à praia? Delícia! Pode deixar qualquer dia desses, se Deus quiser, iremos – eu e Sílvia – fazer-lhe uma visita. Legal? Beijos, muitos, meus e dela. Que Deus a abençoe e guarde. Abraça por nós o papai e a mamãe. LISSA – Lissa (2 anos), minha neta Lissa, querida. Quando você nasceu, fiz um texto em sua homenagem, com o título: “Nasce uma estrela”. E você já está brilhando. Assisti a sua desenvoltura naquele programa de televisão do SBT. Você pegou o microfone e comandou o espetáculo. A distância a nos separar, não é tanta quanto a que nos separa de Levi e Melissa, mas haverá de convir comigo, daqui a Foz do Iguaçu é praticamente uma viagem internacional. Você, minha linda, progride a cada dia. A sua voz é cristalina. Ontem (7.3.2017), quando você me ligou daí foi à coisinha mais deliciosa do planeta. Percebo a sua evolução daqui de longe, mas um dia iremos aí aprender e apreender algumas coisas com você. Seu pai tem muito a aprender com você também. Aliás, cheguei à seguinte conclusão: as crianças já nascem prontas. Elas são levadas a desaprender tudo para aprender a viver neste mundo. É uma pena, o que estão fazendo com o mundo. Espero, com fé em Deus, que, por meio de um milagre os homens e as mulheres possam construir para Lissa, Melissa, Levi e todas as crianças, um mundo de paz, justiça. Um mundo onde o amor prevaleça acima do desamor, que, nos dias atuais corre feito rastilho de pólvora. Amo você, Lissa. Estou também com você, querida, todos os dias, espiritualmente. O importante é a qualidade dos encontros pessoais. Aguarde-nos com a graça de Deus nos veremos em breve. Beijos de Sílvia. Que Papai do Céu derrame sobre a sua cabecinha linda bênçãos em profusão. Abrace o filho meu, seu pai, por nós. Beijos do vovô Alberto. |
Por Alberto Sena - 7/3/2017 10:45:22 |
Quando jogamos contra o Botafogo Em General Severiano, no Rio de Janeiro Alberto Sena De uma feita, fomos ao Rio de Janeiro (RJ) cumprir compromisso com o time do juvenil do Botafogo, em General Severiano. A nossa equipe era do juvenil do Cassimiro de Abreu, no Bairro Todos os Santos, em Montes Claros. O técnico nosso era João Bispo, mais conhecido desde sempre nos meios futebolísticos por Bonga. Data: finais da década de 60. Eu e alguns outros da equipe estávamos em vias de terminar o Tiro de Guerra. Na época, os sargentos nos liberaram e fomos de ônibus dirigido por – se não me engano o nome dele – Luís Xavier, irmão de Renê, de Elias e de Muzinho. O pai deles era dono da Viação Xavier. Eles eram amigos desde quando a nossa família morou na Rua São Francisco e eles próximos na esquina com a Rua Corrêa Machado. Luís e Renê dirigiam ônibus. Mas no caso da viagem ao Rio de Janeiro, o motorista era Luís. Quem arranjara o compromisso com o Botafogo fora Toninho Santos, filho do ex-prefeito Pedro Santos. Salvo engano, ele também levou ao Rio de Janeiro, anos antes, o time do Ateneu, para fazer a preliminar de um jogo da Seleção Brasileira, no Maracanã. Toninho gostava muito de lá e, certamente, era torcedor do Botafogo. Para cada um de nós a experiência de ir ao Rio de Janeiro enfrentar um time profissional, era o máximo. Em plenos 19 anos, o espírito fez uma progressão geométrica, da Terra ao Cosmo, quando Bonga deu a notícia confirmada pelo entusiasta Toninho Santos, figura bonachona, torcedor do juvenil do Cassimiro de Abreu. Ele tinha olho clínico e sabia, dali iam surgir alguns jogadores para o time titular. Foi uma viagem cansativa pela distância. Saímos de Montes Claros e num estirão só, como se fosse piloto de Fórmula 1, Luís fez diversas vezes os pneus do ônibus cantarem no asfalto. Na altura de Juiz de Fora (MG), aproveitando uma parada, dois colegas desceram do ônibus para dar “umas voltas” e foram presos pela Polícia do Exército porque tinham os cabelos cortados a moda “Príncipe Danilo”, e seriam “soldados desertores”. Toninho Santos e Bonga tiveram que ir à Polícia do Exército a fim de explicar o porquê de eles estarem ali. Foi um custo. E, de certo modo, atrasou a viagem. Mas chegamos todos são e salvos. Porém cansados. Ficamos hospedados numa casa que Toninho Santos havia arranjado, e cada um se ajeitou nela como pôde mesmo porque não havia acomodações adequadas para todos. Isso é narrado hoje com o olhar atual, mas naquela época, era motivo de farra. Em campo tudo mudava. Bonga era exigente e dava mostras paternais do tanto que esperava de cada um de nós. Basta dizer, proibia-nos de fumar. Quando acontecia de encontrar algum de nós com cigarro, ele tomava o maço e jogava fora. Desse jeito. Bonga matinha um caderno, quiçá ainda exista até hoje entre os guardados dele, no qual anotava tudo relacionado com o time, como uma espécie de diário. Tinha a data dos jogos, os locais – se no campo do Bairro Todos os Santos ou fora, porque viajávamos por vários lugares da região – o horário, a formação da equipe, os gols marcados e mais não sei o quê. Recordo-me, ao chegarmos ao Rio de Janeiro e depois de instalados na tal casa, saímos para jantar no Canecão, o point do momento. Não me recordo o que comemos, mas lembro-me de ter comido de sobremesa salada de frutas. Em seguida fomos dormir porque o jogo era na tarde seguinte. Não me recordo de como fomos para General Severiano, mas lembro-me bem de que no time do Botafogo havia um craque chamado Ferreti, que mais tarde jogou na equipe principal. O nosso time não foi o mesmo de sempre em campo e acabamos perdendo a invencibilidade por 4 a 1, todos os quatro gols marcados por Ferreti. Do nosso time, recordo-me de Duilio, Helton, Adilson Gangaia, Elefante, Carlinhos Pinguim, Zoca, Esquerdinha (não sei se Paulo Amorim estava nessa), Aluísio, Lois, Ronaldo Chamone e outros que alguém pode ajudar a lembrar. Se na ida Luís foi voando, na volta ele voou mais ainda e ficamos de cotovelo na mão com medo de acontecer alguma coisa, numa das curvas. Mas, ele provou ser bom mesmo ao volante. Antes desafiamos o Botafogo para uma revanche, em Montes Claros, e deu certo. Com o Estádio João Rebello lotado, numa certa noite empatamos com o Botafogo em zero a zero. O goleiro Duílio pegou dois pênaltis e foi o bastante para ser levado pelo Botafogo. |
Por Alberto Sena - 1/3/2017 09:31:15 |
CONCERTINA E A INSEGURANÇA PÚBLICA Alberto Sena Quando pela primeira vez vim a Grão Mogol há cinco anos encontrei só uma casa com cerca elétrica. E com a manga esquerda da minha camisa, pensei sobre o quão desnecessário era a cerca, a não ser para estimular o surgimento de outras. Mas foi um indicador importante para fazer a leitura do quanto a cidade era (é) tranquila e sossegada, em comparação com o ritmo de vida nas grandes cidades. Outro indicativo foi encontrar casas com portas e janelas abertas. Não via isso desde os anos da infância e da puberdade vividos em Montes Claros, torrão onde nasci. Em um dos retornos recentes a Montes Claros boquiaberta deparei-me com várias casas dotadas de algo mais além de uma mera cerca elétrica; encontrei concertinas em diversos lugares. Para quem já viu cerca desse tipo em muros de casas residenciais e não sabia dizer o nome, por definição, “arame de concertina é uma barreira de segurança laminada, de forma espiralada possui lâminas pontiagudas, cortantes e penetrantes”. Ai de quem se atrever a ultrapassá-la. Além de cortante, ela é carregada de certa quantidade de volts de energia elétrica. Utilizada em ações militares para impedir a ultrapassagem de certo perímetro, concertina é considerada a evolução do arame farpado. É feita de aço galvanizado ou inoxidável. Encontrar ferramenta convencional para cortar uma cerca feita de concertina não é fácil. Quando me surpreendi com as casas de Montes Claros dotadas de concertina a minha impressão era de estar em um campo de batalha. Deu até medo andar na rua. A fobia contamina. E, então, me lembrei do vaticínio de Darcy Ribeiro sobre o dia em que estaremos presos em condomínios vigiados por homens armados e os chamados bandidos em liberdade. Esse dia chegou. Chegou para as grandes cidades, onde as concertinas enfeiam a paisagem e dão margem a imaginações várias sobre o ponto de degradação alcançado pela sociedade brasileira. Se tivesse havido lá atrás atitudes visando investimentos socioeconômicos, distribuição equitativa de renda e massiva atenção à educação entre outras iniciativas será que os governantes e a sociedade não teriam evitado tudo isto? Em meus 50 anos de jornalismo tive tempo suficiente para constatar, denunciar e alertar o quanto toda essa parafernália de segurança é muitas vezes mais cara do que o investimento em gente humana, tendo em vista evitar os males hoje sofridos por toda sociedade na atualidade. O monstro foi construído por nós mesmos. E, agora, estamos sofrendo as consequências da imprevidência humana. Quanto a Grão Mogol, cinco anos depois de ter conhecido a cidade, observo a cada dia o aumento do número de cercas elétricas. E, ultimamente, concertinas. Da minha janela, sem sair do lugar, olhando em direção ao Poço das Moças observo uma casa recém-construída já com uma cerca de concertina. A mesma fobia estampada no rosto de quem vive em cidade grande aos poucos contamina também grãomogolenses. Em outras palavras, embora cidade pequena, com menos de seis mil habitantes, Grão Mogol já vem sendo atingida pelos males das metrópoles. Vejo, contristado, os sinais dessa realidade agressiva. Ela leva as pessoas a desconfiarem de todo estranho encontrado pela frente e culmina na deterioração das relações humanas. Se essa fobia se instalar de fato, levando os grãomogolenses a superestimar o problema da violência urbana, Grão Mogol já terá então perdido a paz e o sossego, hoje em dia quesitos fundamentais contra a neurose da guerrilha urbana encarnada e travada diuturnamente em todos os quadrantes do Brasil. Felizmente, a cidade conta com a eficiência do Pelotão da Polícia Militar, sob o comando do tenente Ricardo Batista de Souza. Pragmático, ele projeta para Grão Mogol uma companhia da Polícia Militar. O que é uma garantia maior, além da proteção natural da geografia e da topografia da cidade nascida nas dobras da Serra do Espinhaço, Serra Geral chamada. |
Por Alberto Sena - 23/2/2017 10:06:59 |
Medo de ver o sol nascer quadrado Alberto Sena Faz tempo narrei o episódio abaixo em epígrafe. Ouso tocar nele de novo porque os leitores já devem tê-lo esquecido e, portanto, irei relembrá-lo. E todos haverão de convir comigo, a repetição se justifica por si mesma. Entretanto, antes, devo esclarecer, me motivou a contar de novo o episódio uma foto do coronel José Coelho de Araújo, delegado de polícia à época responsável pelo esclarecimento de um “intrincado caso” envolvendo certo menino de dez anos e outros da mesma idade. Na foto publicada (no Facebook) por Wagner Gomes, destacada do arquivo fotográfico de Dona Maria das Dores Guimarães Gomes (Dona Dorzinha), o coronel Coelho, como era mais conhecido recebia uma placa de homenagem prestada por senhoras da sociedade montesclarina, “tendo ao fundo Yvonne Silveira e ao lado Dona Maria Avelar Tonelli, Dona Graice Quintino Vieira e Dona Arlete Macedo”. Não há nenhuma relação entre essa foto e o episódio a ser recontado. A foto do delegado, além de ter despertado a lembrança do episódio, é usada nesta ocasião só para ilustrar, porque o ocorrido se deu faz muito tempo e foi uma surpresa deparar-me agora com essa foto dele ainda mais novo. Vamos ao episódio, sem mais preâmbulo. Pelos meus cálculos, tudo se deu em 1960. Faz, portanto, 57 anos para ser exato. A idade do menino era de dez anos. O estilingue sempre pendurado ao pescoço, continha várias marcações no gancho para contar o número de caças abatidas. Uma loucura! O menino jamais faria isso novamente. Estava ele em meio a um grupo de outros meninos, cada um armado com o seu respectivo estilingue. O lugar era a Rua João Pinheiro, em Montes Claros, nas imediações de uma barroca, hoje inexistente, ao lado do então “campo do União”. De repente, no momento em que passava pelo grupo um caminhão caçamba do Departamento de Estrada de Rodagem (DER), todos ouviram o estalido de vidro trincando e partindo em pedacinhos. Um dos meninos do grupo havia atirado uma pedra de estilingue no parabrisa da caçamba. O motorista parou o caminhão, e, antes mesmo de inquirir quem havia feito tamanha bobagem, um deles se distanciou do grupo e jogou o estilingue no lado de dentro da cerca do quintal vizinho. E ficou como quem tinha coroinha de santo acima da cabeça. Como o autor da façanha não aparecia, o menino, que nada tinha a ver com isso, mas não delatou o autor, saiu de cena. Todos se dispersaram. Para surpresa dele, ato quase contínuo, noutro lugar da mesma rua, quando tratava de aprimorar a pontaria tendo como alvos lagartixas, ele ouviu os chamados apreensivos de uma das irmãs: “Vai correndo lá pra casa porque um soldado fardado foi procurar você e papai está uma fera”. O menino foi sem entender direito o porquê de a polícia ter ido procurá-lo. Não havia feito nada de errado. Em casa chegando, levou palmada nos fundilhos e soube da “intimação” de um policial para comparecer à delegacia de polícia a fim de esclarecer o caso do parabrisa da caçamba. No dia e hora marcados, ele foi levado pelo pai à delegacia. Os outros meninos, ele nem soubera se também foram. O coração dele só faltava sair pela boca. Tinha medo de ficar preso. E já se imaginava preso em meio aos outros presos. Como é que faria para comer e tomar banho? Um horror! O delegado era o coronel Coelho, o da foto compartilhada do arquivo de Dona Dorzinha. Quando o menino adentrou com o pai na sala do delegado, os dois se cumprimentaram com um abraço e, em seguida, o delegado fez a seguinte pergunta: - O que este menino está fazendo aqui? O pai explicou a situação e o coronel Coelho, o surpreendeu ao dizer: - Isso aqui não é lugar para criança. Quantos anos ele tem? O pai respondeu: - Dez. O delegado pediu desculpas. Ficou nervoso. Disse: - Criança não pode ser intimada a comparecer a uma delegacia de polícia. O menino ouviu as palavras dele aliviado. Pensou não mais correr o risco de ser preso e pagar por algo que não fizera. De mão dada com o pai, ele foi embora da delegacia pisando em nuvens, livre do tormento do medo de ficar lá para ver o sol nascer quadrado. (Nunca ele soube se o caso fora, afinal, deslindado ou se ficara por isso mesmo.). |
Por Alberto Sena - 17/2/2017 11:12:45 |
CORTADOR DE UNHAS Alberto Sena Quando pré-adolescente sempre quis ter um cortador de unhas. Recordo-me como se fosse hoje, o meu irmão mais velho possuía um, marca “Trim”. Achava interessante o cortador de unhas dele. Quis emprestado e ele me explicou, “por uma questão de higiene”, não ia emprestar porque cada um tinha de ter o seu. Entendi. Antes, quem cortava as minhas unhas era o meu pai. As minhas e as dos irmãos mais novos. Fazia uma fila. Ele empunhava uma tesourinha e cortava as unhas das mãos e dos pés. Recordo-me que na escola, no então Grupo Escolar Gonçalves Chaves, em Montes Claros, os alunos tinham de exibir as mãos sobre um lenço em cima da carteira com as unhas devidamente aparadas. Quem não tinha as unhas das mãos aparadas ela mesma cortava. Perante a classe, isto era “uma vergonha”. Acaso isso acontecesse comigo e ao contar lá em casa, o teto seria capaz de cair. Pai e mãe cuidavam de todos com o maior esmero. A minha camisa com o distintivo do grupo era engomada, branquinha de fazer gosto. As pessoas elogiavam o zelo de minha mãe. Voltando ao cortador de unhas, quando o meu irmão cortava as unhas dele ficava observando e achava o instrumento a coisa mais prática e rápida do que a tesourinha do meu pai. Pai faleceu quando a família morava na Rua Corrêa Machado, em frente ao campo de futebol do União, time antecessor do Cassimiro de Abreu. Eu tinha à época 11 anos. O campo do União tornou-se para nós meninos da vizinhança um verdadeiro paraíso. De manhã, logo cedo, depois do café, íamos para o campo e só retornávamos quando uma das minhas irmãs gritava de cima do barranco: “Mamãe chamando pra almoçar”. Isto, em época de férias escolares, porque os estudos sempre foram prioridade lá em casa. E as professoras eram exigentes. No campo do União havia arquibancada de madeira. Era pequena, mas parecia suficiente para abrigar os torcedores. Na época, ficávamos lá vendo o treino dos jogadores como Marcelino, Moe-de-Ferro, Bispo, Bonga, Felipe Gabrich e outros. Num certo dia, sentado no alto da arquibancada de uns cinco patamares, vi algo brilhar no chão e como achava ser alguma coisa interessante, quase num salto desci para ver o que era. Era um cortador de unhas. Estava meio enferrujado porque decerto perdido havia mais tempo e o cortador de unhas sofreu os danos das intempéries. Estava semi-enterrado no chão. Apanhei o cortador de unhas como se fora troféu. O corte estava afiado ainda e fiquei feliz porque daquele dia em diante podia cortar as próprias unhas. Não tinha dinheiro para comprar um novo e mesmo se tivesse não sabia em qual loja encontrar. Para usá-lo lavei-o bem, porque me lembrei das palavras do meu irmão – “por uma questão de higiene, cada um deve ter o seu”. Como eu não sabia de quem era, tive o cuidado de esterilizá-lo em água fervente. Por um bom tempo utilizei-o da melhor maneira e até andava com ele no bolso para o caso de ter de cortar as unhas. Tinha sempre na lembrança a exigência das professoras do antigo primário – “unhas cortadas e lenço no bolso”. Que fim levou o meu cortador de unha nem sei. Outros cortadores de unhas eu adquiri ao longo da vida. Mas, o melhor mesmo, eu o trouxe de Nova Iorque (EUA), em 1992, quando fui fazer a cobertura das reuniões preparatórias para a Cúpula da Terra, na Organização das Nações Unidas (ONU), evento realizado no Rio de Janeiro, batizado Rio-92. Comprei vários, um para mim, para os filhos e nem sei quem mais, a US$ 0,10 cada. O meu, perdi-o anos depois dentro do carro, em Belo Horizonte. Lembro-me, estava com ele e por descuido o deixei cair. Desconfio de que esteja debaixo do assento do passageiro, onde é o meu lugar, porque não dirijo. Quem dirige é a mulher. Desse estresse do trânsito – e de nenhum outro – eu não sofro. Um dia desses, quando o carro precisar ser levado à oficina, eu vou pedir ao mecânico para retirar o assento de passageiro só para verificar se o meu cortador de unhas “made in USA” está debaixo dele. Tenho quase certeza, eu o encontrarei lá. |
Por Alberto Sena - 14/2/2017 09:45:50 |
DENTRO DA NOITE Alberto Sena Tomei banho, vesti calça jeans, raridade naquela época. Passei brilhantina nos cabelos e dei boa noite à minha mãe. Ela me perguntou: “Aonde você vai?” Perguntou só por perguntar, porque a resposta era a de sempre, “puraí’. Eu não tinha um lugar certo para ir naquelas noites. Ia a vários lugares em Montes Claros, dependia dos encontros com os amigos e as amigas. Na época, o ponto era na porta da sorveteria Cristal. De lá a turma se arrancava para alguma festa ou outro programa. As opções eram poucas. Aumentaram depois da expansão de Montes Claros para os lados e a partir de quando se embonecou de metrópole de fato sem ser de direito. Nem sei por que me vieram essas lembranças. Revelo com toda tranquilidade, não tenho saudade da vida vivida. Embora soubesse ser feliz porque me alegrava viver em Montes Claros até ver os amigos, um a um indo embora em busca de outro modo de viver. Na cidade grande. Quem vive de passado sofre. Saudade vira doença, o banzo. Banzo era a doença dos negros escravos africanos arrancados do seio familiar e do torrão natal para trabalho forçado nos engenhos nordestinos e nas minas gerais. De tanta saudade da pátria querida, eles morriam de banzo. No entanto, gosto das lembranças do meu viver. Não sei como isso funciona com as outras pessoas, mas comigo trago na mochila muitas estórias. Com o passar do tempo elas viram histórias. Quem não tem nada para contar da vida vivida não viveu. Ou não prestou atenção às vivências e fica pelos cantos à medida do avanço da idade. Vivi pouco tempo em Montes Claros. Foi do nascimento até aos 22 anos. Depois de iniciar no “O Jornal de Montes Claros”, aos 17 anos, aos 22 já estava na Redação do EM, trabalhando com gente do mais alto nível intelectual, a começar pelo jornalista e escritor Wander Piroli. Mais tempo eu vivi em Belo Horizonte, portanto. Amo aquela cidade. Mas, do modo em que está, interessa-me ir lá só de vez em quando. Nunca Montes Claros saiu de mim. Penso que deve ter tido maior peso o fato de ser o meu torrão natal, nascido pelas mãos de Irmã Beata. Alguma influência pode ter havido também devido a época em que eu nasci no pós-guerra. Lembro-me, menino, de ouvir a preocupação dos mais velhos quanto a falta de querosene no mercado, combustível de lampiões e de lamparinas. Ouvia falar também de “certo presidente Vargas” que se suicidara e conversas sobre o fim da guerra. O mais marcante nessas conversas de guerra foi a morte do meu tio José, irmão da minha mãe. Ele foi para o Nordeste, salvo engano Natal, no Rio Grande do Norte, onde tomaria um navio. Ia lutar na Itália. Mas antes de embarcar, o tio morreu afogado, não sei se no mar ou em rio. Na família pouca informação nós tivemos dele, a não ser um retrato ao lado de um colega, e outro moldurado e posto na parede da sala lá de casa. Ele fazia uma pose bonita. Apoiava o queixo no punho fechado da mão direita. O menino tinha o maior orgulho do tio José. De certo modo achava melhor ele ter morrido antes de lutar na guerra. Aliás, eu nunca me senti bem com essa história de guerra. Não entendia porque precisava haver guerra. Como ainda não entendo. Um irmão matando o outro. Olha que coisa mais triste para uma criança. Numa vez em que vi a fotografia na revista O Cruzeiro, de um homem franzino, vestido só de túnica branca, calçado com sandálias e um cajado na mão fiquei impressionado. Era a figura do Marátma Gandhi libertador da Índia do jugo inglês. Soube depois, muito depois, quando li a biografia dele e outros escritos. Gandhi, a “Grande Alma”. O jovem logo abandonou a brilhantina. Ouviu o ritmo e as vozes de certo grupo de Liverpol. Eles fizeram meus cabelos crescerem livres sacudidos pelos ventos. Irreverentes, identifiquei-me com eles e segui em frente em buscar de sonhos outros. Por sorte minha ou talvez porque fui marcado pelo toque das mãos de Irmã Beata, afinal, encontrei razão maior de viver décadas depois ao viajar a Israel, a serviço do jornal, onde pude seguir as pegadas do Homem de Nazaré até o Gólgota. Considerando a relatividade temporal, tudo se deu num átimo. Ainda me vejo na porta da sorveteria Cristal no aguardo dos amigos e das amigas para outros rumos tomar dentro da noite. |
Por Alberto Sena - 27/1/2017 10:56:53 |
Eucalipto estraga clima da região . “Deserto verde” expõe a ganância de empresários sem visão ambiental Alberto Sena Grão Mogol, município distante da capital quase 600 quilômetros, já foi muito mais longe de Belo Horizonte, na época em que era considerado “fim de mundo”. Tanto é verdade que décadas atrás brotou na cabeça de alguém a ideia de encher de eucalipto a região, pois que ninguém iria se importar com a região, mesmo em detrimento da fauna, da flora e do clima locais. Só o ex-governador Newton Cardoso, tem uma monocultura de eucalipto na região, que para ser percorrida leva horas de carro. O ex-governador, se não é o maior explorador de eucalipto na região e uma dos maiores. Comparado com o que leva daqui, ele deixa pouco ou quase nada para o município. Mas não é só ele o responsável pelo “deserto verde” na região. Em pé de igualdade com estão empresas como Vale do Rio Doce (Floresta Rio Doce), Plantar, Rima, Calsete e outras, além do famigerado “fazendeiro florestal”. Todos contribuíram para tornar ainda mais árida as áreas integrantes do Polígono das secas (as secas eram cíclicas, agora, com os eucaliptos, são permanentes). Essa corrida ao eucalipto originou sérios problemas de grilagem de terras. EM ABUNDÂNCIA – Os mais antigos personagens de Grão Mogol contam, antes da vinda dos eucaliptos, o clima da região era outro, bem mais agradável. Chovia em abundância, até além do período considerado normal. A sede do município tinha fama de possuir clima temperado comparável a certos lugares da Europa. Os rios esbanjavam água, os ribeirões e córregos também. Atualmente, a não ser de madrugada, quando a temperatura cai um pouco, Grão Mogol ficou quase tão quente quanto está Montes Claros. A luz solar incide nas pedras e estas refletem o calor ajudando tornar os dias e as noites muitas das vezes quase insuportáveis. A vantagem é que, aqui, venta devido às serras, e em Montes Claros vento é quase só o do ventilador ou do ar condicionado. POUCA CHUVA – Nos últimos cinco anos choveu pouco na região. Nesta temporada também. Os córregos, ribeirões e rios quase todos “cortam poço” anualmente. Muita coisa mudou na região e o eucalipto é apontado como o principal responsável por isso. Por isso e por muito mais, porque destruiu a flora e afugentou a fauna. Em eucalipto nada aparece além de “formigas e caturritas (aves predadoras de lavouras que usam as árvores de eucalipto como abrigo, mas não se alimentam delas)”, como explica em estudo específico Rafael Said Bhering Cardoso, Mestre em Patrimônio Cultural, Paisagens e Cidadania pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Os impactos negativos do eucalipto são por demais conhecidos. É necessário as autoridades responsáveis colocarem um basta na ganância empresarial e impedir a expansão dos maciços. É fundamental não pensar só economicamente, mas ter visão mais ampla dos prejuízos que uma monocultura de eucalipto provoca. Quem ganha é só o empresário. Hoje, do plantio a colheita, tudo é mecanizado. TRINTA LITROS – A quem sabe ler e raciocinar basta dizer, um pé de eucalipto isoladamente visto em meio ao maciço consome por dia 30 litros de água. E o que isso pode gerar adiante senão um déficit hídrico nas regiões onde são cultivados eucaliptos? É o que acontece aqui, na região de Grão Mogol. Numa linguagem popular, os eucaliptos chupam a água da região. O problema é grave. Ressecamento do solo significa maior exposição à erosão. O eucalipto visando unicamente “maior viabilidade econômica possível” empobrece o solo e o expõe. Terra é gente como a gente. Terra sente dores, como a gente. Terra empobrece também. Todo agricultor sabe disso. Para recuperar a terra é necessário alto investimento. A biodiversidade diminui e a diversidade da fauna também. Para contrapor ao discurso falso de oferta de “empregos e reflorestamento”, a especialização da atividade gerou grande desemprego e põe em risco até mesmo a cultura de um povo. Esse problema pode acabar por gerar grande impacto social na região. Tudo isto sem nada falar da transformação da paisagem, quando as florestas heterogenias são substituídas por monocultura de eucalipto. Clones que, a cada ano vai transformando um paraíso natural em “deserto verde”. |
Por Alberto Sena - 18/1/2017 09:46:00 |
BEMQUERER REAPRENDENDO A VOAR Alberto Sena Emocionante. Esta palavra resume a garra, a força de vontade e a convicção do empresário Lúcio Bemquerer. Ele fez uma cirurgia na medula, na Santa Casa de Montes Claros e se recupera fazendo fisioterapia. Quem o viu logo após a cirurgia, muito bem sucedida, tinha a impressão de que o Bemquerer iria começar a mexer com os pés meses depois. A evolução de Lúcio surpreendeu o próprio médico (...) que o operou. Surpreendeu o filho dele, Marcos Bemquerer e surpreendeu a mim também, porque três dias depois de operado, ele já mexia com os pés. Agora, vendo-o fazendo fisioterapia, é motivo de admiração ao fazer a comparação do antes com o agora. Quem o conhece se emociona. Ele senta na cama, fica em pé na janela, movimenta-se com o andador e, no ritmo em que vai logo estará andando dentro de um quadro de normalidade. Ele já pretende passar fins de semana em Grão Mogol, a fim de respirar os ares do lugar onde nasceu e construiu o maior presépio natural do mundo, o Presépio Mãos de Deus. O fisioterapeuta Guilherme Ruas está tão otimista em relação à recuperação do paciente tanto quanto o próprio Lúcio. É importante lembrar, ele fez uma cirurgia na medula e todos sabem o quanto ela é fundamental. Significa dizer, a recuperação não acontece como num passe de mágica. É necessário querer se recuperar – e ele quer – porque o corpo no momento está assim, mas a cabeça funciona a mil quilômetros por hora. Lúcio sempre foi homem ativo. Em Belo Horizonte, onde dirigiu a Associação Comercial de Minas (ACMinas), como consultor principal da Prosper e diretor executivo do Fórum de Líderes da Gazeta Mercantil, o empresário sempre se destacou pela agilidade na tomada de iniciativas para solucionar questões empresariais. Quando na ativa, acometido do problema na medula, só diagnosticado há cerca de oito meses, o que ocasionou a cirurgia na Santa Casa, o empresário foi convidado a ser ministro de Estado, a ser candidato a governador e também prefeito. Ele não aceitou nenhum dos convites por se achar empresário por vocação sem a necessidade de se envolver com a política. De tudo que fez por Grão Mogol, Montes Claros e Belo Horizonte, o Presépio Natural Mãos de Deus, construído por ele já aposentado e de volta a terra natal, talvez seja a sua maior obra, porque foi como tivesse atendido a um sinal vindo do céu como um bólido. Lúcio vive cada dia como se fora o primeiro ou o último. Hoje ele está melhor do que ontem. E assim vai. Essa certeza o empresário tem, como também possui todo o tempo do mundo para fazer reflexões pessoais enquanto sente o corpo responder aos comandos dos exercícios dirigidos pelo fisioterapeuta, um trabalho de dedicação e amor, torcendo o corpo dele de todo jeito. Dentro de mais um pouco, certamente, um novo homem ressurgirá vestido na pele dele. E quando isto acontecer, Bemquerer será a prova inconteste de que quando se quer alguma coisa, principalmente relacionada com a recuperação da saúde, o denodo e a vontade suprema agindo dentro dele geram o milagre. Eis o homem em sua saga. Como a mitológica ave chamada Fênix, ele está reaprendendo a voar. |
Por Alberto Sena - 4/1/2017 14:12:17 |
FUNERÁRIA NO CENTRO DE POLÊMICA Alberto Sena A notícia de possível instalação de uma funerária na Praça São Sebastião, próximo ao Hospital Afrânio Augusto Figueredo, em Grão Mogol, é o epicentro de uma polêmica que vem atanazando a vida de seus vizinhos. O estabelecimento ainda nem foi instalado e já incomoda. Encontra-se em processo de reforma do imóvel, onde até há pouco tempo funcionava o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) transferido para o Bairro Bandeirantes, próximo ao ginásio Quita Benquerer. Em Psicologia há um vocábulo – “Misoneísmo” – que, traduzido, quer dizer, “medo do novo” ou do “desconhecido”. Geralmente isso acontece com todo tipo de gente. Trocando em miúdos, é algo que costuma causar “frio na barriga”. Comum é ouvir isso das pessoas, quando não têm idéia do que irá acontecer diante de um desafio, um concurso, por exemplo, com poucas vagas, e a necessidade de obter êxito. O mais alto grau de “misoneismo” é o medo da morte. Ninguém sabe dizer o que poderá acontecer depois de batermos as botas ou abotoarmos o paletó ou ainda partirmos desta para outra, quiçá, melhor, e assim por diante. Há várias maneiras de dizer a mesma coisa. Os vivos de modo geral não gostam de tratar do assunto. Têm medo. Uns têm medo nem tanto da desencarnação, mas como a morte vem, se por doença lenta, sofrida ou não. Tudo relacionado à morte aflige qualquer cristão ou sacristão, para não dizer todo humano vivente. Basta ver o carro da funerária para as pessoas ficarem com palpitações. A possibilidade de ser instalada em determinado lugar uma funerária, é motivo de arrepio para muita gente. Para os vizinhos, então, nem se fala. No caso em tela, o imóvel está em reforma para instalação de uma filial da Funerária Avelar, de Montes Claros. O imóvel tem por vizinhos o Asilo São Vicente de Paulo, de um lado, e do outro, a casa do empresário Lúcio Bemquerer, o construtor do Presépio Natural Mãos de Deus, um benfeitor grãomogolense. Quase por unanimidade, as pessoas estão contra a instalação de uma funerária naquele local. Além de depreciar os imóveis vizinhos – dizem vozes que se levantam contra a funerária naquele ponto – se for instalado velório, irá trazer dissabores para a vizinhança porque a atividade exige cuidados especiais e a área é residencial. Os contrários ao empreendimento ali acham muito mais viável a instalação da funerária noutro lugar e até sugerem a Avenida Domingos Arruda. Hoje, no período da manhã, dois jovens trabalhavam na reforma do imóvel. Eles já elevaram a parede na fachada e estão cuidando do telhado. Disseram que o dono do empreendimento está disposto a seguir em frente com a obra, mas nesse meio tempo cresce o descontentamento contra a funerária naquele ponto da Praça São Sebastião. |
Por Alberto Sena - 29/12/2016 14:22:22 |
Sem Juiz, delegado, padre e, talvez, promotora Grão Mogol, uma das Comarcas mais antigas, município onde viveram o Barão Gualtér Martins Pereira e Francisco Sá, este responsável por trazer linha férrea ao Norte de Minas, terra natal de José Afonso Bicalho, atual secretário de Estado de Fazenda, reclama da falta de respeito das autoridades do governo de Minas, da justiça mineira e da Diocese de Montes Claros, que deixaram o município com um braço amarrado a uma perna. Contra o governo de Minas os grãomogolenses reclamam da falta de um delegado de polícia. Corre por aqui a notícia de que a delegada Maria Angélica Fernandes Almeida Prado, em férias, não retornará mais a Grão Mogol no dia 8 de janeiro, como era previsto. Ela foi definitivamente absorvida pela Superintendência Regional da Polícia Civil sediada em Montes Claros. Para substituí-la viria “um delegado de Bocaiúva”. Vários inquéritos continuam parados na delegacia de polícia porque dependem de instruções de um delegado. Contra o judiciário, a cidade reclama da falta de um juiz de Direito permanente. Uma montanha de dez mil processos no Fórum local aguarda um juiz que possa dar andamento normal ao trâmite processual. Em Grão Mogol, as pessoas até já se acostumaram com essa falta de atenção do judiciário, o que demonstra descrença na justiça. Dizem: “O juiz que mais tempo ficou aqui, permaneceu por dez meses. O mais recente, Wagner Mendonça Bosque, vinha fazendo bom trabalho e talvez porque tenha demonstrado eficiência, foi transferido para a Comarca de Mantena, no Vale do Rio Doce. Contra a Diocese de Montes Claros a reclamação é devido à retirada dos dois padres, Diogo e Alexandre. Eles chegaram recentemente e não devem nem ter se acomodado direito na Casa Paroquial e já estão de saída. Em menos de três anos, quatro padres por aqui passaram, os dois mencionados e os padres Geraldo Magela e Ailton. Entretanto, o que está ruim pode piorar um pouco mais se a promotora Gerciluce de Brito Sales Costa, recém-chegada a Grão Mogol também for embora. Pelo menos é o que se ouve dizer. Ela já estaria pensando nisso. E se isso acontecer, estará de fato escancarada à demonstração de negligência como Grão Mogol é tratada. Quem se habilitar conversar com um cidadão grãomogolense sobre essa situação tragicômica não terá a menor dificuldade em encontrar um. Todos reclamam, uns com os outros, mas alguma virose, como os médicos costumam dizer, os impede de tomar uma atitude política de pôr cobro a essa situação vexatória. Os próprios advogados integrantes da Ordem dos Advogados (OAB), Seção de Grão Mogol, os mais interessados em ter uma justiça que de fato funcione, tinham de intensificar as reivindicações a quem de direito para resolver essas questões. São pedras no caminho do trabalho deles e na vida dos seus clientes. Se não reclamam, os gestores acham estar tudo funcionando às mil maravilhas. |
Por Alberto Sena - 21/12/2016 08:19:10 |
REFLEXÃO NATALINA Uma séria reflexão sobre o comportamento dos seres chamados humanos é imprescindível seja feita aproveitando o ensejo do Natal e do Ano Novo. Acompanhe o raciocínio, depois cada um faça a sua reflexão e tire as conclusões. Todo ano quando principia o final, nós nos apressamos em trocar mensagens várias – “Feliz Natal” (*), “Boas Festas”, “Feliz Ano Novo”. Entra ano sai ano é a mesma coisa. Tanto que essas mensagens ficaram comuns e até parecem ter perdido o encanto. Ao refletir sobre isso, chega-se à seguinte conclusão: esses desejos contidos nas mensagens perdem o viço porque não possuem força suficiente para gerar consequências positivas. Foram, como se diz, “só de boca”, não saíram realmente lá do fundo do coração ou da alma, a maioria das mensagens é para cumprir formalidade ou demonstrar ser atencioso com o outro. Nada além. Ao passar o Natal e o Ano Novo também tudo volta à rotina de antes; e morre como promessa não cumprida. Com a falta de atitude, com a falta de prática diuturna do poder intrínseco e mágico das palavras contidas nas mensagens enviadas e recebidas, tudo acaba nisso só. Nós que viemos de longe e já faz tempo podemos perguntar: o mundo de hoje é melhor do que o mundo de décadas atrás? A resposta é sim e não. Sim porque a evolução tecnológica trouxe uma série de condições favoráveis à melhoria da qualidade de vida, porém, o lado negativo é demasiadamente negativo ao ponto de pôr em risco a vida no planeta. Ninguém, em sã consciência, irá discordar disso. Enquanto as palavras e as mensagens se vão desgastando com o tempo, o mundo só deteriora. E um dos principais problemas dos dias atuais é a falta de segurança sob todos os aspectos e principalmente a insegurança pública nacional e internacional. Há várias maneiras de desejar “bom dia” a alguém. Evidentemente, depende de como a pessoa vai por dentro. Mas se todos nós desejássemos mesmo que o outro tivesse um dia bom ao ponto de dar-lhe a atenção merecida, como ser da raça humana, o mundo seria melhor, porque o movimento no sentido de melhorar o mundo começa dentro de cada um de nós. Será que estou cuidando de mim, dos meus pensamentos, das minhas palavras e das minhas ações devidamente, dentro de uma percepção holística? Claro, em meio a nós há, certamente, gente desnudada de egoísmo que faz “milagres” ao transformar as palavras em ações cotidianamente. Essas pessoas dão a Terra o necessário equilíbrio. Quanto mais melhoramos os recursos de comunicação, mais nos distanciamos uns dos outros. Vivemos um paradoxo irremediável, porque assim caminha a humanidade, mergulhada no consumismo, mundo de obsolescência programada, no qual as pessoas têm importância se possuírem bens materiais. E assim, quanto mais falamos, só da boca para fora em paz, menos paz o mundo tem. Nada adianta vestir camisa branca em nome da paz. Quanto mais invocamos o amor, mais a Humanidade sofre com o desamor. Há alguma coisa errada. As guerras aí estão cada vez mais estúpidas devido à facilidade de matar. Mata-se até em nome de “deus”, como se Deus fosse ruim ao ponto de ordenar a morte de alguém ou de uma população inteira. Posso me considerar “defensor do otimismo” e quero continuar acreditando na Humanidade porque sempre há Esperança, a mãe da Fé. Mas, pela leitura da caminhada humana, se não houver o resgate dos “valores verdadeiros”, se os homens e as mulheres habitantes do planeta não derem uma guinada de rumo, a tendência da Humanidade, semelhante a uma grande boiada, é ir inexoravelmente para o corredor do frigorífico, destino reservado a todo gado de corte. (*) Feliz verdadeiro Natal a todos. Vamos homenagear o aniversariante durante o ano inteiro e em uníssono cantemos parabéns pra Ele. O mais disso são firulas. |
Por Alberto Sena - 12/12/2016 09:35:20 |
DO PEQUI NADA SE PERDE Comi os primeiros pequis, hoje, no almoço. Huuummm... O meu organismo agradece. Todo ano, pequi e manga são duas coisas pedidas pelo cérebro e o corpo pedem. Inda mais sendo, como eu sou “filho de pequi” – foi meu pai que me ensinou a comer –, não posso de modo algum deixar de ingerir a vitamina “A” do pequi mais as vitaminas do complexo “B12”, os sais minerais e a gordura natural desse fruto conhecido no sertão norte mineiro como “carne do sertanejo”. É por demais importante saber roer o pequi. Há o roedor amador e o roedor profissional. Evidentemente, me coloco na categoria de “profissional” e quem se interessar em saber como é o profissional roedor de pequi, é o seguinte: quem rói o pequi e o faz mudar de amarelo para branco sem necessariamente atingir os espinhos. Costumo dizer, do pequi nada se perde. Até mesmo os espinhos podem espetar a língua de algum desavisado. Não deixa de exercer a sua função específica, embora já seja possível produzir pequi sem espinho. O que, particularmente, acho bom e não bom. Por que acabar com o meticuloso trabalho de alguém com uma pinça pinçar um por um os espinhos da vida na língua do roedor açodado? Quem conhece de pequi sabe, é um alimento completo. Dizem as bocas mais sensuais, o pequi é afrodisíaco. Nove meses depois da safra surgem os “filhos de pequi”. Meu caso. Numa contagem regressiva a partir de setembro são noves meses; certinho. E quem quiser saber se é ou não “filho de pequi”, basta fazer a mesma contagem. Neste momento alguém faz pausa para contar nos dedos. Aposto. Entretanto essa pretensa qualidade de ser afrodisíaco não existe. É fruto da mentalidade fértil de roedores contumazes para valorizar o fruto, considerado por mim e por milhares, bendito. O que há é o seguinte: no sertão, muitas das vezes o sertanejo passa alguma dificuldade de bem se alimentar e por via de consequência corre o risco de ficar fraquinho. Mas aí, aí, vem à safra de pequi, e ele enche o bucho e fica firme para arrotar a energia do indigitado. “Sacumé?” E tem mais. Acontece de famílias, parentes e amigos se reunirem para catar pequi à luz do luar – sim porque pequi a gente cata; no pé ele ainda não está bom. Cata aqui, cata acolá, surgem namoros, casamentos e até “ficâncias”. Então vêm as chusmas de pimpolhos. Não gosto de dizer isso não, mas a verdade deve ser dita: dei e reconheço isso, mesmo porque se eu não reconhecer talvez ninguém reconheça por mim porque não está escrito em lugar nenhum; dei grande contribuição para o surgimento da Lei que proíbe o abate de pequizeiro no território nacional. Quando repórter na capital, durante mais de duas décadas todo ano viajava pelo Norte de Minas a fim de produzir matérias sobre o pequi. Foram tantas as reportagens, até incomodar o então superintendente do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), atual Ibama (década de 80), salvo engano, porque passado tanto tempo, o nome dele seria Antônio Gonçalves. Ele me telefonou de Brasília dizendo: “Acabo de assinar uma portaria proibindo o abate de pequizeiro em todo o território, baseado nas suas reportagens”. Senti um arrepio. Finalmente aconteceu o que muitos de nós defensores do pequizeiro sempre buscamos. O pequizeiro posto no pedestal como o fruto mais importante do Cerrado. Cerrado que se vai minguando a cada ano devido ao fogo e a sanha do agronegócio. A portaria virou Lei com o passar do tempo. Entretanto não basta haver uma Lei se não houver fiscalização capaz de coibir os abates clandestinos. O importante é evitar e não só punir depois de pequizeiros tombarem em função da ganância dos empresários rurais. Entre os sertanejos há um acordo tácito de não abater pequizeiro. A árvore é linda. Paradoxalmente, delicadeza rústica. O tronco é protegido por uma espécie de cortiça, como soe acontece com a vegetação do Cerrado apropriada para se proteger dos rigores do Sol do sertão. As folhas são grossas expondo a beleza rústica da copa que se abre para receber as emanações cósmicas. Pra mim, o sabor do pequi vem do alto. É fundamental dizer sobre a procedência dos primeiros pequis grandes, avermelhados, saborosos que comi no almoço. Vieram do Mercado Central de Montes Claros. Montes Claros que não produz pequi, mas leva a fama. Como leva a fama de ter requeijão, de Salinas; e marmelada, de São João do Paraíso. |
Por Alberto Sena - 23/11/2016 21:27:21 |
TELHADO DE HISTÓRIAS Alberto Sena Telhado deste tipo, utilizado nas casas antigas, em estilo colonial, é para mim como cachoeira de recordações de quando vivia a infância em Montes Claros, na Rua Marechal Deodoro e na Rua São Francisco, década de 50. Data vênia, se me permitem, gostaria de registrar aqui, em primeiro lugar, por intermédio desse telhado da foto, a importância de ter passado a infância na casa da Rua Marechal Deodoro. Aqui, com as minhas mangas de camisa, presumo, a casa teria sido sede de fazenda. Era uma casa grande, pelo menos em minha lembrança, e levando-se em consideração o número de filhos trazidos ao mundo pelos nossos pais – 11 – seis mulheres e cinco homens. Um dos irmãos não durou nem um ano. Morreu naquela casa, muito antes do meu nascimento, porque sou o décimo e ele o quinto. A casa não tinha forro de teto. As telhas ficavam à mostra, com as vigas e os caibros. Quando chovia chuva acompanhada de ventania, os ventos pareciam uivos de lobos. O ar condicionado era natural. Entrava pelas gretas das portas e janelas ou por cima, por debaixo do telhado. O mais importante de tudo era o pomar da casa. A princípio eram 22 jabuticabeiras. Uma mangueira, manga comum, uma delícia. Havia laranjeiras, inclusive um pé de laranja da terra. Minha mãe fazia doce. Tinha mamoeiro, goiabeira e figueira. É devido ao tamanho da casa e o pomar que presumo ter sido aquela casa sede de fazenda. Ali foi o meu mundo da fantasia. Tinha a impressão de poder comunicar com os elementos da natureza. Eles pareciam sair das raízes das árvores. Ficavam escondidos atrás de alguma moita ou de um tronco. O contato telúrico era de primeiríssimo grau. A família viveu na casa da Rua Marechal Deodoro em duas ocasiões. Esta que acabo de narrar foi a primeira. Na segunda vez, derrubaram a metade das jabuticabeiras. A mangueira continuava no lugar, mas o quintal havia sido reduzido pela metade. Construíram um muro pintado de branco. Não tínhamos mais a liberdade de ir ao Ribeirão Vieira, ainda límpido, no limite do nosso quintal. A casa da Rua são Francisco era semelhante, estilo colonial, portas e janelas verdes, parede creme e telhado igualzinho a este da foto. O ar condicionado era o mesmo. Quando chovia chuva forte, com relâmpagos e trovões, nós nos enfiávamos debaixo da mesa de jantar e ficávamos na expectativa de o teto desabar. Mas, em compensação, o quintal se revelou fascinante para todos nós, principalmente os mais novos. Não tinha tanta frutífera, mas era o suficiente para a meninada brincar e brincar de caubói e de heróis outros debaixo do mar de fedegoso que sucedia às chuvas de fim de ano. Ou na mangueira de manga comum onde cada um tinha o seu galho. Havia outra de manga-umbu, um coqueiro macaúba e um pé de urucum. Ali a fase foi outra. Vieram os jogos de bolinha de gude e finca. As brincadeiras de esconde-esconde, salva bandeira e histórias mil lidas nas revistas em quadrinhos porque a essa altura já estudava o antigo “primário”. Isto e muito mais um telhado como esse da foto me faz recordar. Já o telhado de telhas inglesas não me traz, pelo menos no momento, tanta recordação. Telhado de vidro eu nunca tive. Foi depois de mudarmos da casa da Rua São Francisco que a velocidade da vida começou a aumentar, mas nem tão celeremente como aconteceu na década de 70. Fui pra Beagá e lá fiquei 43 anos morando em apartamento. Para um “filho de quintal”, morar em apartamento é no mínimo um suplício. Foi então que, afinal, descobri Grão Mogol. E junto com a amada, escolhemos, aqui, como morada. Até quando Deus quiser. O comando é todinho Dele. |
Por Alberto Sena - 21/11/2016 11:05:30 |
PLUTA E OS FILHOS DA PLUTA Alberto Sena Ela vive na rua. Exatamente aonde, não sabemos. Mas foi dar a ela comida a primeira vez e pronto, a cadela se apaixonou por nós. Não sai da frente de nossa casa. Ela era só pele e osso. Hoje está bem melhor. Pelo menos os ossos já não estão mais expostos. Como é que chama a cadela? Ela veio sem nome. Sem coleira. Muito menos sem uma identidade, alguma coisa escrita pendurada no pescoço. Chegou acompanhada da fome. Simplesmente. Desde ontem estamos tentando encontrar um nome pra ela. Hoje cedo encontramos um. Pluta. Alguém a abandonou por aí. E ela deu de ficar prenhe. Nasceram quatro filhos da Pluta. Lindos. Raramente vemos Pluta com os seus filhos. Talvez possa ter alguma relação entre o fato de a cadela ter sido abandonada e os cuidados dela com os filhos nem tão ortodoxos assim. Pelo jeito, eles estão ao deus-dará. Toda vez que abrimos a janela da frente de casa, Pluta está em primeiro plano e, por via de conseqüência, é a primeira a ser vista, olhando para cima, com aquele olhar famélico. A gente tenta conversar com ela e ela parece que entende. Principalmente os gestos, a cadela parece entender feito uma gente-humana. Pluta deve saber fazer leitura labial, basta dizer alguma coisa e com a mão fazer um gesto de “peraí” pra ela se acomodar no chão, na rua. E lá a Pluta fica esperando até aparecer o prato de comida. Não deixamos a comida em frente à nossa casa justamente pra Pluta não ficar à nossa porta, mas não teve jeito. Ela fica o dia quase inteiro por ali, sempre esperando alguma coisa. Quanto mais come mais Pluta quer comer. O estômago dela deve estar furado. Infelizmente, não dá para resolver o problema de Pluta e dos filhos da Pluta porque o que tem de cães abandonados em Grão Mogol, proporcionalmente ao que há em Belo Horizonte (mais de 30 mil), deve ser algo equivalente. Acho que passa da hora de encontrar uma solução humana para o problema. Enquanto isto, os filhos da Pluta me fazem recordar da década de 70, na capital, quando os primeiros “menores abandonados” surgiram nas ruas da cidade. Eram poucos. Se as autoridades tivessem tomado uma medida preventiva, eles não teriam virado “pivetes”, nem seriam em seguida “trombadinhas” e muito menos “assaltantes a mão armada”. Com os cães abandonados que se vão multiplicando a cada ninhada nas ruas de Grão Mogol, daqui a pouco nós vamos trombar em filhos da Pluta nas curtas calçadas das estreitas ruas. Pior, a maioria com os ossos das costelas expostos como a denunciar ao mundo uma faceta da crueldade humana. |
Por Alberto Sena - 17/11/2016 14:51:35 |
ENTRE NUVENS E PEDRAS Alberto Sena (Para a amiga Marijô Rodrigues) Vivo nas nuvens. Alimento-me de flocos como se algodão-doce fosse. Mas com os pés no chão. Amo contemplar as nuvens. É exercício importante para a mente. É também lenitivo para a alma. Faço isso conscientemente. Naturalmente. Contemplar nuvens, enfim deve fazer bem pra você, como faz pra mim. Enquanto vejo olhos caídos no chão, o meu olhar se eleva aos céus. É fundamental retirar os véus. Enxergar as pessoas sem máscaras. Amo contemplar pedras. Se líquen possui, então, gosto de apreciar os desenhos. Pratico o exercício da pareidolia. Há pedras que são humanos petrificados. Como muitos por aí estão. Nas ruas. Aos maus bocados. Se quisesse, se o meu dinheiro desce, em momentos tão soturnos da nossa contemporaneidade, estaria em Nova Iorque, ou em Beijing. Senão, na Vinte de Março, na cidade de São Paulo. Só pra ver gente em quantidade. Em minha vida, apesar da pouca idade, vi muita; mas muita gente mesmo. Com alguns humanos convivi. Harmoniosamente. Com outros, profissionalmente. Mas, hoje, a essa altura da idade, busco viver. De preferência longe da grande cidade Agora, prefiro as nuvens e as pedras contemplar, sem arredar pé do chão. Muitos não vivem de acordo com a sua querência. Meu caso é particular. Faço, aqui, a diferença, e para me fazer bem entender, tudo tem a ver com a minha crença. Creio em Deus, criador de tudo. Enfim, sinto Deus em mim. Num bendito dia, Marijô, Ele lhe soprou a vida. E fez a mesma coisa em mim. Vivamos, pois. Em meio às nuvens, sejam elas de qual cor for. E sobre as pedras. Nelas heras medram. |
Por Alberto Sena - 15/11/2016 08:58:24 |
CARTA À SUPERLUA Alberto Sena Querida SuperLua, eu senti muito não poder vê-la. Criei tanta expectativa em torno da sua chegada! Fiquei imaginando-a pertinho de mim. Cheguei a sentir seu calor, mesmo sabendo ser mero reflexo do Sol. Senti-a ao alcance de um zoom da minha maquininha de tirar retratos. Mas, infelizmente, não deu certo. E esclareço logo, querida, para evitar disse me disse. Não a vi simplesmente porque aqui, em Grão Mogol, onde toda Lua nasce nua, o Tempo não permitiu. E com razão. A época é de chuva. Esqueci-me de fazer um trato com ele. Nuvens nimbostratus cobriram o céu de modo que o Sol em nenhum momento conseguiu encontrar uma fresta através da qual pudesse me dar um fio de esperança de mais tarde, ao anoitecer, surgirem estrelas em quantidade e a possibilidade de contemplar, oh, querida, a sua performance super. Uma SuperLua reúne numa todas as luas. Assim imagino. Recordo-me das luas sob as quais furtivamente fiz com a rapaziada serenatas para moiçolas guardadas a sete chaves, em época de mais glamour e romantismo. No momento do calor amainado, quando galos cantavam ao longe canto entrecortado por latidos de cães, nós ousávamos soltar a voz. Sem contar às vezes, quando menino, ouvia as mais absurdas estórias relacionadas com o seu poder, Lua Super, poder de “levar crianças teimosas” para servir de petisco ao dragão. Inda bem que são Jorge sempre aparecia para evitar a tragédia. Escrevo-lhe, oh SuperLua amada, a fim de saber o que posso fazer para vê-la brotar por detrás da Serra Geral. Amanhã, o seu status se mantém? Se sim, hoje à noite, quando me recolher para dormir ao som dos pingos de chuva que agora caem sobre o telhado, espero sonhar com a possibilidade de ver o dia raiar. Farei um trato com o Sol. A ele pedirei audiência a fim de saber a ciência de como fazer para amanhã à noite eu abrir uma enorme fresta no céu para ter o prazer de ver resplandecer o clarão da super amada Lua? |
Por Alberto Sena - 5/11/2016 12:32:57 |
ENCONTRO MARCADO COM O “HOMEM DA CAVERNA” Alberto Sena Encontrei o “Homem da Caverna”. Quem acompanha o caso, se recorda, me refiro ao homem que viveu, e pode-se dizer, ainda vive, numa caverna, antes com a mulher e os filhos, lá no Curral de Pedras. Atualmente, ele vive em Montes Claros, no Bairro Major Prates, e anda as voltas com a papelada para entrar com ação na Justiça a fim de receber indenização dos 210,6 hectares que foram incorporados à área do Parque Estadual de Grão Mogol. Jovecino (e não Juversino, como foi publicado noutra matéria) tem sobrenome Silva Ribeiro e é muito conhecido na sede do Município e também no interior, porque ele se diz “cabo eleitoral do prefeito Jéferson e do prefeito eleito, Hamilton Gonçalves – Cuta”. Hoje em dia, ele vem a Grão Mogol uma ou mais vezes por mês, a fim de dar uma espiada na caverna e na área onde plantou mais de 20 mangueiras, 13 cajueiros e 70 cafeeiros. Jovecino diz ter posto os pés naquelas terras pela primeira vez em finais de 1988. Quando ele chegou lá, o Curral de Pedras já existia e, segundo disse, ninguém sabe ao certo a história "porque antecede até ao surgimento de Grão Mogol". Lá, ele manteve 15 homens vasculhando a área em busca de diamantes. Disse ter encontrado muitos, mas hoje não é um homem rico porque pôs tudo a perder, porém assumiu um novo estilo de viver baseado na religião evangélica. Ele guarda muitas histórias de quando garimpava naquelas terras. Uma vez à noite, ele e a ex-mulher dele viram uma bola furta-cor cortando os ares até a uma distância de uns cem metros. A mulher ficou apavorada, mas ele não, simplesmente entendeu ser aquilo “uma manifestação do diamante”. Jovecino está convencido de que onde tem diamante é possível deparar com situações como essa. Outra, segundo contou, foi ter ouvido vozes e até gritos no meio do mato sem haver ninguém por perto. Isso se chama “lefrozia”, mas não soube explicar a pronúncia nem a grafia certa nem o que venha a ser. (No dicionário não achei nada parecido). “Acho que está relacionada com os escravos”, disse. O meu encontro com o “Homem da Caverna” foi em Grão Mogol, ali na Praça Ezequiel Pereira, conhecida por Praça da Matriz, pouco antes do meio-dia. O Sol ardia na moleira. Procuramos uma sombra a fim de prosear um pouco e escolhemos uma das janelas fechadas da igreja, onde eu pudesse ter apoio para fazer anotações. Em realidade, como se poderá constatar pelas fotos, o “Homem da Caverna” nada tem de cavernoso. Pelo contrário, parece gostar de cuidar bem da aparência. Ele não tem timbre de voz gutural como se imagina deviam ter os homens pré-históricos. Com 66 anos, divorciado da mãe dos seus três filhos e dois enteados, Jovecino ama aquelas terras e só não vive mais lá porque a área virou parque. Entretanto, como ainda não foi indenizado, mantém o vínculo até mesmo por conta da ação que pretende impetrar a fim de receber o que lhe é devido. “Tenho muita saudade dali”, diz ele. Perguntei o que há por lá de mais perigoso, e principalmente para as crianças, pois ficaram com ele na caverna e nas proximidades até completar a idade escolar, Jovecino disse: “Cobra cascavel”. De vez em quando apareciam alguns filhotes de onça. como acrescentou. Por medida de precaução, as camas eram feitas de varas acima do chão, “porque cascavel rasteja, não sobe”. Ficamos de nos encontrar noutra ocasião para irmos juntos à caverna onde espero fazer fotos dele na entrada com as roupas que sempre usou quando de fato lá morava e garimpava. E também para tentar encontrar novamente a lapa onde diz ter achado um pote de barro com a data do ano de 1837 e o deixou no mesmo lugar. |
Por Alberto Sena - 3/11/2016 08:25:42 |
Renascer de um homem chamado Benquerer Alberto Sena Hoje, ele está aposentado, mas quando se encontrava na ativa, enfrentando o dia a dia como empresário no ramo de consultoria, a vida dele era uma correria. Quase ao mesmo tempo em que estava aqui tinha de pegar um avião e voar pra São Paulo, Rio de Janeiro ou capitais do Nordeste. Se pudesse computar o tanto de vôos realizados ao longo da sua vida empresarial, certamente daria várias voltas ao redor do globo terrestre. O nome dele sempre foi sinônimo de prestígio. Nasceu em Grão Mogol, de onde saiu pré-adolescente e foi para Montes Claros, onde lançou a revista Encontro, publicação além daquela época, 1960. Logo se transferiu para a capital, onde viveu a maior parte da vida, e lá ganhou o mundo. Trouxe benefícios para Montes Claros, Grão Mogol e Belo Horizonte. Depois de uma vida bem vivida profissionalmente, aposentado, ele fez o caminho de volta ao interior de si mesmo retornando à terra natal. O nome dele é Lúcio – Lúcio Marcos Bemquerer. Ele já foi atleta, jogou no Ateneu de Montes Claros, enfrentou o Botafogo, no Maracanã, numa preliminar de Brasil e Checoslováquia. Foi sondado em diversas ocasiões tanto para ser candidato a governador de Minas Gerais como também para prefeito de Belo Horizonte e ministro de Estado. Ele não aceitou entrar na política em nenhum momento. A política dele sempre foi como empresário, e mesmo aposentado, em Grão Mogol, criou o que considera como a sua obra maior, o Presépio Natural Mãos de Deus, que completará cinco anos em dezembro. Lúcio submeteu-se a uma cirurgia na medula, há cerca de seis meses. Foi para ele o seu principal desafio. Pelo que se pode ver hoje, saiu-se vencedor, porque a sua recuperação surpreendeu, inclusive, os médicos da Santa Casa de Montes Claros que o operaram. Com denodo, o empresário vem cumprindo todas as etapas da recuperação. Quando os médicos acharam que ele só iria movimentar alguma parte do corpo em meses, com três dias o paciente demonstrava disposição de viver e se recuperar ao movimentar os dedos dos pés. Esforçando-se ao máximo nos exercícios de fisioterapia, Lúcio já está iniciando os primeiros passos em andador. Mantém boa disposição, inclusive de humor, ao ponto de inverter os papéis, empurrou a cadeira de rodas com a esposa, Wilma Nunes, nela sentada. Daqui a pouco, ele estará de volta a Grão Mogol. Ao que tudo indica, nem Mal de Parkinson ele tem. O problema que vinha carregando por mais de 13 anos era, simploriamente dizendo, na medula. Ao ser operado na Santa Casa de Montes Claros e depois de passado todo esse período em recuperação, não há a menor dúvida de que um homem novo chamado Lúcio Marcos Bemquerer retornará, andando com os próprios pés a Grão Mogol para retomar a frente do Presépio Natural Mãos de Deus. |
Por Alberto Sena - 15/10/2016 12:15:43 |
(...) Fiquem atentos ao programa do jornalista e escritor Fernando Gabeira, na GloboNews. Ele vai apresentar o Presépio Natural Mãos de Deus, de Grão Mogol, obra construída pelo empresário Lúcio Bemquerer, em oito meses e 19 dias. Gabeira esteve em Grão Mogol recentemente com o objetivo de conhecer o presépio. Ele veio diretamente do Rio de Janeiro e ficou encantado com a beleza da cidade e os seus arredores. Gabeira colheu farto material em Grão Mogol e deverá apresentar tudo a partir das 18h30 deste domingo. Ele é um nome conhecido nacional e internacionalmente. Projetará o presépio e Grão Mogol no Brasil e no mundo. Gabeira foi candidato a presidente da República, e, na ocasião, obteve boa votação. Além de intelectual, ele foi deputado federal. É importante os grãomogolenses de modo geral compreenderem e valorizarem o torrão onde pisam. O turismo – e o turismo religioso incluso – é a vocação de Grão Mogol. Está em curso o processo de fazimento, por parte do Sebrae, de um projeto de turismo envolvendo conjuntamente Botumirim, Cristália, Itacambira e Grão Mogol. (Clique aqui para ler toda a mensagem na seção Colunistas) |
Por Alberto Sena - 13/10/2016 14:52:14 |
PRESÉPIO MÃOS DE DEUS NO MONTES CLAROS SHOPPING O Presépio Natural Mãos de Deus, de Grão Mogol, pôs um braço dentro do Montes Claros Shopping, na Avenida Donato Quintino, 90, onde instalou um estande até janeiro do ano que vem. No espaço cedido em parceria com a direção do estabelecimento, o construtor do presépio, o empresário Lúcio Bemquerer, instalou um aparelho de TV para mostrar o vídeo da obra abençoada pelo Papa Francisco e distribuir o material de divulgação, além de exposição de posters com lindas imagens do presépio. Alaor Santos, o superintendente do shopping se mostrava entusiasmado com a idéia de apresentar o presépio dentro do estabelecimento. A iniciativa está relacionada com o projeto da direção intitulado "Bem Cultural", que pretende mostrar os valores da região em termos de música, teatro, exposição de artistas plásticos, entre outros. No caso do presépio, como disse Alaor, o estande já podia ter sido montado há mais tempo, mas a cirurgia a que Lúcio se submeteu adiou a parceria. Como afirmou, a permanência do braço do presépio no shopping poderá ser até quando "ele quiser e puder manter quem fique no estande durante o período que achar necessário". O shopping funciona das 10h da manhã às 22h. Lúcio ficou radiante com a oportunidade de apresentar o Presépio Mãos de Deus, dentro do Shopping Montes Claros. Essa parceria somada à divulgação que o jornalista e escritor Fernando Gabeira fará no seu programa na GloboNews poderá catapultar a frequência do presépio daqui para frente. É o que se espera. Ainda em cadeira de rodas, o empresário vem fazendo fisioterapia diariamente e pela boa recuperação que vem tendo, em breve estará em condições de se levantar e andar com autonomia. Ontem, Bemquerer recebeu a visita do poeta, folclorista, repentista, dono de um Grammy Latino, Téo Azevedo, que tem uma parceria com o presépio, no livro "A Folia de Reis no Norte de Minas, Vales do Jequitinhonha e Mucuri. O livro conta a história do presépio como referencial turístico religioso do Norte de Minas. Ele se fazia acompanhar por sua esposa, Lola Chaves, seresteira de mão cheia. O gerente financeiro do shopping, Gustavo Carvalho, esteve também com Bemquerer e se mostrava entusiasmado com a parceria. Percebeu que a presença do presépio no estabelecimento despertou a atenção do público pela objetividade das informações e a beleza plástica dos posters em exposição |
Por Alberto Sena - 5/10/2016 16:19:31 |
Grão Mogol Em busca da cara de un "fake" Alberto Sena Logo cedo, aproveitando o bom tempo, essa chuva bendita, criadeira, fui à sede do Pelotão da Polícia Militar de Grão Mogol, a fim de fazer o BO – Boletim de Ocorrência – para dar início a abertura de inquérito policial a fim de apurar a procedência e autoria de um vídeo levado ao ar por um “fake”. O vídeo mostrava – ainda mostra, porque tenho uma cópia que será entregue à delegada Maria Angélica – fotos de pessoas alegres, em congraçamento, aqui em Grão Mogol. O “fake” capturou no Facebook uma foto minha com a minha esposa, foto sacada em um restaurante holandês, quatro anos atrás, quando nem ainda cogitávamos morar em Grão Mogol, e, isoladamente incluiu no vídeo. Pelo menos no nosso caso, ele mexeu com as pessoas erradas e deve pagar por isso. O “fake”, a meu ver, praticou “crime cibernético”, por pelo menos duas infrações: usou a nossa imagem sem autorização para fins impróprios, e nos causou danos morais. Se em Grão Mogol há o costume de pessoas covardes praticarem esse tipo de crime, e ficar por isso mesmo, conosco é diferente. Não estamos aqui para passarmos por isso. Nós – eu e ela – podíamos estar em qualquer lugar do mundo a essa altura da vida. Mas conhecemos Grão Mogol há quase três anos e escolhemos como o lugar ideal para vivermos, devido as suas belas paisagens, o ar puro, a vida sossegada, vida simples e simplificada. Particularmente, como jornalista profissional, autônomo, presto serviço à Prefeitura de Grão Mogol e ao Presépio Natural Mãos de Deus. Além disso, por conta própria, no meu caso particular, simplesmente porque me apaixonei por Grão Mogol, me sinto na obrigação de divulgar a região, assim como divulgo Montes Claros, minha terra natal (poderíamos viver em Montes Claros, mas a ir para lá melhor seria permanecer em Beagá, onde vivi 43 anos e mantenho o apartamento como o deixei). De modo que divulgo Grão Mogol várias vezes por dia, desde quando aqui cheguei até hoje. Isso ninguém fez por Grão Mogol em tempo algum. Nem fará, só por paixão. Isso talvez possa gerar ciúmes ou algum sentimento negativo por parte de gente desqualificada, assemelhada aos cães vadios em um monte de capim – eles não comem o capim nem deixam o boi comer. Em outras palavras, quem produziu e divulgou o vídeo não faz o que faço por Grão Mogol, independentemente de gente do tipo covarde, que joga pedra e esconde a mão. Fico imaginando, se uma pessoa desta capaz de usar desse tipo de artimanha, alma sórdida, se acaso vier um dia a conseguir algum poder, é capaz de tomar as atitudes mais horríveis. Temos nossas suspeitas quanto a procedência – de onde veio o vídeo – e quem o produziu. O próximo passo é entregar o material do “fake” fotografado e o pen drive com o vídeo à Polícia Civil para abrir o competente inquérito policial. Tenho meio século de exercício profissional, em Montes Claros e na capital, com Prêmio Esso de Jornalismo e outros mais nas áreas de Agropecuária e Meio Ambiente. Agora, vem um energúmeno desse tentar nos nivelar a ele. Inda mais causando constrangimento a mim e à minha esposa, companheira de todas as horas, belo-horizontina de nascimento. Ela não tem costume de vivenciar situação desta. Eu tenho. Durante dez anos fiz cobertura do setor de polícia em Montes Claros, para O Jornal de Montes Claros, e para o jornal Estado de Minas. Como repórter, conheci o lado ruim da vida ao ponto de ser capaz de identificar um “fake” desse. Estarei, como repórter, acompanhando e reportando o passo a passo das providências. VEJAM NO QUE DEU CASO DE “FAKE” EM MIRABELA Um caso do perfil “fake” que gerou uma sentença do juiz eleitoral de Mirabela (MG), Francisco Lacerda de Figueiredo, não é igual ao caso do “fake” de Grão Mogol, mas serve para ilustrar o nosso caso. Em decisão liminar nos autos do processo número 248-65.2016.6.13.0185, ele determinou que o Facebook exclua o perfil “Pedro Fagundes Dias”, por se tratar de um perfil “fake” e por ter sido criado com a finalidade de denegrir a imagem do candidato a prefeito de Mirabela, Carlúcio Mendes Leite. No nosso caso, o autor do “fake” retirou o vídeo do Facebook, logo que a notícia da nossa tomada de providências circulou. Só que ele fez isso depois de termos fotografado tudo e copiado o vídeo em pen drive. O BO já foi feito no Pelotão da Polícia Militar de Grão Mogol e agora vamos entregar tudo à delegado Maria Angélica para abertura de inquérito. Mas, voltando ao caso de Mirabela, o juiz também determinou que o Facebook forneça, no prazo de 48 horas, os dados cadastrais de quem criou e mantém o citado perfil, repassando os números de IP`s utilizados, tanto no registro do perfil, quanto nas postagens realizadas. O autor das postagens, após a sua identificação, o que ocorrerá nos próximos dias, está sujeito à multa de até R$ 30 mil, como prevê a Lei Eleitoral. É importante esclarecer que quem compartilhou as postagens consideradas caluniosas, difamatórias e injuriosas, também está sujeito às penalidades da lei, caso o ofendido acione a justiça em relação a eles. |
Por Alberto Sena - 22/9/2016 15:23:38 |
Gabeira, repórter por excelência Alberto Sena A primeira vez que encontrei Fernando Gabeira foi em 1989, quando ele se candidatou a presidente da República, e fomos “abraçar” o Morro da Pedreira, na serra do Cipó, a 100 quilômetros de Belo Horizonte. O morro, todo feito de mármore, estava sendo devastado. Havia mais de cem pessoas. Eu, como editor de Meio Ambiente de jornal, fui cobrir o evento. O morro foi salvo da destruição. Ao final do abraço no Morro da Pedreira travei conhecimento com Gabeira, mineiro de Juiz de Fora. Ele precisava de uma carona até ao aeroporto da Pampulha e fomos conversando, entre uma cochilada e outra dele devido ao cansaço causado pela campanha política. Poucas semanas depois nos encontramos de novo em um congresso de Jornalismo, em Brasília, onde ele falou para centenas de jornalistas do Brasil inteiro e lembrou ao público, em certo momento, um texto com o qual a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) me deu um prêmio de reportagem com a matéria intitulada, “O roubo do Rio Verde revolta a Jaíba”. Tanto tempo depois, nos reencontramos aqui, em Grão Mogol, onde ele veio fazer uma reportagem para a GloboNews a respeito do Presépio Natural Mãos de Deus. Para Grão Mogol, que será divulgada, além do presépio, a vinda de Gabeira tem significado marcante porque ele é um nome nacional e internacional. Impressionante é a vitalidade dele. Tendo como auxiliar Maurício Lucindo de Souza, Gabeira monta o tripé da câmera de filmar ou saca da câmera fotográfica para fazer uma tomada. Parece um jovem repórter em início de carreira tamanha mobilidade. Ele começou a gravar sobre o presépio na casa do feitor da obra, o empresário Lúcio Bemquerer, que, em cadeira de rodas se recupera de uma cirurgia na medula. Uma das tomadas foi dentro de casa e outra fora, diante da bela paisagem da Serra do Espinhaço. Gabeira quis saber da história do presépio desde o início. Os circunstantes tiveram que guardar silêncio total para não empanar a entrevista porque os aparelhos são de alta sensibilidade. Selecionei alguns momentos do fazimento da entrevista como também dos intervalos, quando acontecia de Gabeira até ajoelhar na sala para apanhar uma lente na sacola (Vejam as fotos). Marcante nele, sem falar da competência, da independência profissional, da história trazida na sua mochila de vida, é a simplicidade dele, sob todos os aspectos – na fala clara, calma e objetiva; na maneira de vestir, no modo racional de trabalhar. Que ele possa voltar a Grão Mogol outras vezes, com mais vagar, pois a região possui atrativos que uma pessoa com o olhar crítico dele, trabalhando em um canal de televisão de tamanha visibilidade poderá mostrar ao mundo as maravilhas do nosso sertão. |
Por Alberto Sena - 20/9/2016 19:33:26 |
Gabeira vem conhecer o presépio Alberto Sena O Presépio Natural Mãos de Deus receberá, amanhã, a visita de Fernando Gabeira, mineiro de Juiz de Fora, jornalista, escritor, ambientalista, ex-deputado federal por quatro legislaturas. Ele vem do Rio de Janeiro a Grão Mogol exclusivamente para visitar o presépio. Gabeira, como é chamado, é um especial exemplar da raça humana. Ele será recepcionado, pessoalmente, pelo empresário Lúcio Bemquerer, depois de quatro meses em Montes Claros, onde se submeteu a uma cirurgia e está em processo de recuperação. Atualmente, Gabeira tem um programa na GloboNews, e vem a Grão Mogol armado de sua câmera a fim de mostrar as particularidades do presépio considerado o maior do mundo. Gabeira é especial porque ele ocupa-se com o semelhante Por tudo que já fez (e faz), o nome dele está na história do Brasil pela ação política contrária aos governos militares. Sem sombra de dúvida, Gabeira irá internacionalizar o presépio Mãos de Deus, pois tem intercâmbio com gente de várias partes do mundo por onde viveu como correspondente de jornais brasileiros. Gabeira viveu na Suécia – e por extensão na Europa como um todo. Conhece o mundo inteiro. Viu, como jornalista, a queda do Muro de Berlim e fez coberturas jornalísticas de grande repercussão. Ele escreveu mais de dez livros, um deles até virou filme – “O que isso, companheiro”! Levado às telas pelo cineasta Bruno Barreto. Fez um outro exaltando as grandes lutas de mulheres mineiras, intitulado “Planeta Minas”, no qual registrou Dona Tiburtina, que comandou a política de Montes Claros em seus primórdios. Publicou também “Entradas e Bandeiras”, entre outros. Gabeira é considerado, nacionalmente, como uma das nossas “reservas morais”, tanto como um dos representantes da nossa espécie e como político, ambientalista, jornalista, escritor. Repórter por excelência. Grão Mogol pode se orgulhar da visita de Fernando Gabeira. Para quem ainda não o conhece, veja a entrevista dada por ele a Alberto Dines, no Observatório de Imprensa, em 2013. Belíssima entrevista. |
Por Alberto Sena - 16/9/2016 09:36:54 |
O ÓLEO MARIFLOR E A PANÇA DE DEBA Alberto Sena Tenho um irmão que é piadista militante. Ele sempre chega com alguma piada ou enquanto conversamos arruma logo um jeito de contar mais uma e assim juntos, porém, separados, eu aqui e ele lá em Montes Claros, vamos vivendo a vida da melhor maneira possível. Às vezes rindo, noutras vezes dando gargalhadas. José Venâncio Batista, Zé Venâncio chamado, é o quinto na escala de cima para baixo dos 11 filhos de José Batista da Conceição (Zé Bitaca) e Elvira de Sena Batista. Feita a apresentação, preciso acrescentar, Zé Venâncio, na década de 60, foi um bom praticante do ludopédio chamado também de “esporte bretão”, que se foi abrasileirando de tal forma e já faz algum tempo é chamado de futebol. Mas, já naquela época gloriosa de 60, apesar das incertezas vividas pelos brasileiros, a partir de 1964, o País vivia os albores do surgimento da arte de jogar com os pés, e o esporte passou a ser chamado de “futebol arte”, pós taça Jules Rimet. Foi quando o mundo viu um sujeito de pernas tortas a bailar “garrinchando” com a bola no pés. E o mundo viu também surgir Pelé, hoje o “Rei do Futebol” – fu-té-bol, conforme dicção dele. Zé Venâncio era bom jogador de futebol. Aliás, foi o futebol que o levou a trabalhar no Banco Econômico da Bahia. O banco possuía um time de futebol e outro de futsal. Além disso, ele era exímio jogador de pingue-pongue, com “puxadas com rosca” ou “cheia de graxa”, como costumávamos dizer, imbatíveis. Era tentar responder e o adversário mandar a bolinha na rede. Para situar melhor o clima político da época, em Montes Claros, a situação era a seguinte: havia um homem epitetado Deba, Hedelberto Freitas chamado, que na década de 50 e 60 entrante, era temido, tinha muita influência política, mandava e desmandava na cidade. O que Deba falava, estava falado. Dizem as más línguas que a casa dele era um reduto onde se homiziavam pistoleiros. Era lá na casa dele e também na Jaíba. Jaíba era considerado na época como “fim do mundo”, lugar onde os pistoleiros recorriam para fugir da polícia. Nem a polícia tinha coragem de ir atrás deles. Era um tempo da lei do mais forte. O certo é que nada acontecia na cidade sem que Deba tivesse ciência e participação. Ele era um homem alto, dono de um corpanzil de não fazer inveja a ninguém, dotado de barriga proeminente. Ao mesmo tempo em que era temido, era amado. Enfim, um homem controvertido, mas respeitado. Havia em Montes Claros, nessa mesma época, um fábrica de óleo de cozinha chamada Mariflor, cujo dono era Oldemar Santos, um empreendedor de renome na cidade. A fábrica de óleo Mariflor mantinha uma publicidade na Rádio Sociedade Norte de Minas, ZYD-7, um dos baluartes da comunicação social de Montes Claros da época. A rádio possuía um programa chamado “Clube dos Calouros”, que proporcionava a interatividade dos ouvintes. Como o rádio era o único meio de comunicação, em toda casa havia um ou mais rádios. Os montesclarinos ficavam com os ouvidos grudados no aparelho. Havia até quem nem acreditava como é que podia caber tanta gente dentro de um aparelho tão pequeno. Naquele bendito dia, a rádio estava lançando um concurso para premiar quem fizesse a melhor frase sobre o óleo Mariflor, feito de algodoeiro. Apareceram vários candidatos ao concurso. Um por um, os candidatos foram-se apresentando, até chegar a vez de Zé Venâncio, rapazote até então. “E com vocês, Zé Venâncio com a sua frase” – disse o locutor da época Adelchi Ziller. Antes, porém, anunciou o comercial do óleo Mariflor, como sendo o melhor para mesa e cozinha. Evidentemente, Zé Venâncio meio nervoso, expectante, não via a hora de o espaço comercial acabar. Ziller voltou a anunciar: “E com vocês...”. Zé Venâncio apossou-se do microfone e lascou a frase vencedora do concurso: “A boca de Deba disse e a barriga dele confirmou, o melhor óleo é o óleo Mariflor”. Zé Venâncio saiu da rádio correndo abraçado com seis latas de óleo Mariflor. Dona Elvira, senhora mãe dele e minha, ficou agradecida. |
Por Alberto Sena - 5/9/2016 08:22:28 |
Porque Montes Claros pulsa em mim Alberto Sena Não consigo não falar de Montes Claros todas as vezes em que volto à cidade, seja apenas para “buscar fogo” ou para outra necessidade. Amo Montes Claros. É a minha terra. Nasci na Santa Casa de Misericórdia, quando misericórdia fazia parte do nome, pelas mãos de Irmã Beata. E porque amo Montes Claros, julgo-me no direito de, volta e meia, pôr o dedo em suas feridas. É para ver se ainda há remédio para evitar mal maior. Toda vez que vou a Montes Claros volto de lá assustado com tudo que vi, senti e ouvi. Vi o quanto a cidade mudou nos últimos 40 anos por meio dos olhos de Raquel Mendonça, com quem me encontrei casualmente na Rua Padre Augusto, quando dobrei a esquina vindo da Rua Doutor Santos. Vi nos olhos dela a luta incansável, cotidiana, tentando salvar o que resta de memória física, urbana, de Montes Claros. Senti o quanto a “Vovó Centenária” (1957) se transmudou ao me encontrar casualmente com Pedro Narciso, ex-deputado, o primeiro secretário de Estado do Abastecimento, secretaria criada pelo governador Hélio Garcia. Nós nos encontramos dentro de uma agência bancária da Rua Doutor Santos. Foi, então, que, conversa vai conversa vem, ele me deu a notícia da queda sofrida pelo também ex-deputado Genival Tourinho, 83 anos, peça importante de resistência ao regime de 1964. Num simples escorregão, dentro de casa, durante a madrugada, ao se levantar a fim de beber um copo d’água, causou-lhe um acidente com consequências na cabeça e no rosto. Ouvi o quão barulhento está o Centro da cidade, ao conversar com Cica, irmão de Artur, com os quais bati bola e joguei homéricas peladas no campo do União, quando morei na Rua Corrêa Machado, 238, região desfigurada como de resto toda cidade está, na terceira geração de transformação urbana. Não via Sica fazia mais de quatro décadas e em meio à barulheira da Rua Doutor Santos, em frente a uma agência bancária, pudemos trocar um dedo de prosa sobre o quanto o campo do União foi importante para nós. Tinha magia, diversão sadia, estávamos em contato telúrico permanente. Era uma pelada atrás da outra em meio ao pó vermelho principalmente no meio-campo e na entrada da grande área de ambos os lados. Enquanto nós dois trocávamos lembranças, na Rua Doutor Santos, um vendedor ambulante de CD pirata disputava com o som de uma loja em frente a fim de saber qual fazia mais barulho somado à voz de um “locutor”, microfone em punho, debulhando os preços e os artigos de uma loja. Montes Claros precisa urgentemente reduzir os decibéis dos ruídos. É o carro-forte que, numa ré, arranca o espelho retrovisor do lotação. O lotação segue e o carro-forte fica estacionado com o motor ligado em frente a agência bancária. Ali, as pessoas conversam aos gritos. Por quase todas as calçadas viam-se filas e mais filas, principalmente nas portas dos bancos. E o mais barulhento de tudo, as bicicletas com caixa de som encaixada na frente empurrada tranquilamente pelo condutor, como quem não quer nada. Ambulantes com carrinhos de frutas transitam por todos os lados, o que particularmente considero ponto positivo pelo valor nutritivo das frutas, que os brasileiros não consomem tanto – eu como todos os dias de cinco a mais pedaços de frutas diferentes. Isto é um bom remédio para evitar o médico, a farmácia, o hospital e o laboratório. Deixei por último a parte mais gostosa. Mesmo que tenha sido rapidinho, fui ao Mercado Central e comprei uma marmelada coberta de folha de bananeira e um tijolo de requeijão de Salinas. Apesar do preço salgado, sem querer rimar com Salinas, mas rimando, valeu a pena. Montes Claros é, de fato e de direito, uma cidade incrível – se não existisse, teríamos de criar uma urgente. Possui a fama de ser a terra do pequi, mas não produz o melhor pequi; tem fama de fazer o melhor requeijão, produzido em Salinas; a carne de sol não vai ao sol. Apesar de possuir todos os males das cidades consideradas grandes, Montes Claros prima por um comércio forte, lojas de roupas e de sapatos da melhor qualidade. Em meio ao caos aparente, uma Montes Claros moderna se desenvolve a olhos vistos. Os montesclarinos viventes na terrinha amada não precisam buscar mais os centros maiores para encontrar o que precisam, como em tempos nem tão antigos assim. |
Por Alberto Sena - 29/8/2016 09:11:03 |
MONTES CLAROS Mergulho em memórias da Praça de Esportes Alberto Sena Esta foto da Praça de Esportes de Montes Claros é importante. Muito. Para mim e para várias gerações que me antecederam ou vieram depois da minha. Para quem acaba de chegar e não conhece a Praça de Esportes, convém fazer a leitura da foto a fim de, juntos, possamos usufruir do sabor e da cor de nossas lembranças de um tempo rico, tanto quanto é o tempo de hoje. Cada tempo possui as suas próprias riquezas. E há tempo para tudo, segundo o Eclesiastes bíblico. Vê-se daqui, em primeiro plano, a quadra de futsal. Olha, incontáveis vezes dei bicudos naquela bola pesada. Eu só, não, há um lista de companheiros. De tão enorme, não dá para listar aqui a quantidade de amigos com os quais joguei futsal e enfiei bolas debaixo das pernas de muitos deles. Claro, eu os estou provocando. Alguns deles estão no Facebook e se não me deixarem mentir sozinho, cairão de pau em riba de mim, mas mesmo assim vou citar os nomes de alguns. Os que não forem citados, por favor, sintam-se como se tivessem sido, porque eu prezo a boa memória, mas haja memória para guardar nomes de pessoas as quais não vejo desde muitos anos do século passado. Eis uma lista parcial: Adauto, Helton Veloso e todos os irmãos dele. Até Wagner, que ocupou a Fundação Dom Cabral; os Gomes, Wagner, Eduardo (Doinha) – Zé Carlos, não, porque tive o gosto de jogar com ele; Felipe, João Carlos e Ricardo Gabrich; Rubens Sena, “primo velho de guerra”, que já não está mais no meio de nós; Cláudio e Cléber Veloso; Aloísio, João José e Chico Gomes; Ronaldo e Roberto Lima; Cezinha, Reinaldinho... E vai por aí afora. Ou adentro. Essa quadra me leva a lembrar uma passagem na vida de jovem de 18 anos, quando fazia o Tiro de Guerra. Politicamente falando, o Brasil vivia período de governança militar. E até parecia, na época, que os sargentos do TG 87 estavam fazendo exercer mesmo o poder. Eles eram rigorosos. Pra não dizer que exageravam. Uma maneira de desforrar deles era jogando futsal nessa quadra da Praça de Esportes. Era bola debaixo da pernas deles ao ponto de apelarem com a gente. A qualidade da foto não está tão boa assim ao ponto de reconhecer quem está nela retratado. Pode ser que Maria Helena Flávio Almeida, casada com o craque Nicomedes Almeida, que também usufruía das benesses da praça como um todo. Pode até ser que ele a tenha conhecido lá. Adiante, lá está a piscina olímpica. Muitas e muitas vezes assisti a realização de campeonatos, época do grande Sabu, treinador de natação. O grande Wilson também era de muita competência, simpatia e presteza. Gostava demais de ver nadadores saltarem do trampolim fazendo acrobacias. As pessoas dependuravam no cerco à piscina feito de canos de ferro e dali ficávamos contemplando a paisagem proporcionada pelas moiçolas de então com os seus maiôs e biquínis. No imóvel do lado ficavam os vestiários masculino e feminino. Nós andávamos sobre estrados de madeira sempre úmidos. Observem bem, essa área retrata um tico do que era Montes Claros de então. Quem quiser e puder se dar ao trabalho, seria interessante ir lá hoje sacar uma foto do mesmo ponto e fazer as comparações. Reparem quanto de coqueiros há. São coqueiros macaúbas, originários do nosso sertão. Vejam a quantidade de arbustos, que bem podem ser fícus recortado plantado no interior da praça, mas lá longe se podem ver também árvores com copas de mangueiras. Há muito estou fora da minha querida Montes Claros. Por isso posso me arriscar dizer que a foto atual mostrando a mesma praça, no mesmo ponto, seria totalmente diferente. Numa circunstância desta, o importante é pelo menos ter uma foto para pendurar na parede e depois fazer a leitura dela retratando um tempo bem vivido, como bem vividos todos os tempos podem ser, dependendo de como a pessoa é por dentro. Não podia deixar de lembrar do porteiro da Praça de Esportes, Lourenço, Lourinho chamado. Amigo, muitas das vezes deixava a gente entrar mesmo estando em atraso com a mensalidade. Por pouco ele não nos pegou numa situação embaraçosa, em meio aos fícus da antiga quadra de tênis. |
Por Alberto Sena - 22/8/2016 08:16:22 |
MONTES CLAROS Nem tão antigamente, na Escola Normal Alberto Sena Este prédio da antiga Escola Normal Professor Plínio Ribeiro, de Montes Claros, tem enorme importância para uma pá de gente, simplesmente porque guarda parte da história de vida de gerações de estudantes que lá esfregaram seus respectivos fundilhos nas carteiras individuais. Três fileiras, uma carteira atrás da outra. O quadro onde os professores escreviam a giz, chamado negro, era verde. Por meio do exercício da boa memória, companheira minha de toda hora, posso me ver, a mim e aos colegas, bem nessa sala com janelas para o Beco da Vaca, no andar de cima. Uma espichada no fio de memória, e nele vem nomes de pessoas da turma, como os irmãos Ricardo e Fernando Deusdará, Virgínia Barbosa, Saulo Wanderley, Marco Antônio Rocha, Oselita Barbosa, Antonilda Canela. Lembro-me, inclusive, de Carlos Alberto Prates e Alberto Graça, mas estes foram de passagem como cometas. Recordo pessoas conhecidas que pela Escola Normal daquela época, década de 60, lá estudaram. Mas a intenção desta vez é debulhar lembranças do sobrado em si. Não vem ao caso mergulhar em sua história porque a essa altura seria chover no molhado. Se bem que em se tratando de Montes Claros, chover seria bom considerando a secura do tempo e a nossa precisão de águas dos céus para nos abençoar. Olho para o sobrado neste estado denunciado pela foto e fico a imaginar o quão importante – e ponha importância nisso – foi a restauração dele para servir hoje de abrigo ao Museu Regional do Norte de Minas (MRNM), depois de ter sido Fafil. Como no momento juntos espichamos o fio de memória, imaginemos – eu, tu, nós, vós, eles – que em vez de ter sido restaurado, o sobrado estivesse ruindo como se fora um gigante se exaurindo diante dos olhos indiferentes das autoridades e da população. Um escândalo. Só os escombros. Percebem o vazio? Do espaço e das lembranças de milhares de pessoas que subiram e desceram aquelas escadas de madeira e assoalho, fazendo ruído semelhante ao do gado transportado em vagões da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil (EFCB). Já nem sei mais o que existe da Montes Claros de ontem em meio à cidade que cresce para cima, como se ganhar o epíteto de “capital” fosse sinal de progresso e desenvolvimento – de fato é, mas pelas metades. Que progresso e desenvolvimento são esses que privilegiam poucos em detrimento de muitos? Aqui, no meu bestunto, tenho seguinte opinião: as cidades tinham de ser feitas tendo em vista o bem estar das pessoas. Lugar onde os cidadãos indistintamente pudessem usufruir de espaços, jardins, parques. Sem tanta máquina poluidora dos ares. A Organização Mundial de Saúde (OMS) fez recentemente o alerta: os ares das grandes cidades estão envenenados. Montes Claros construída nesse planalto corre esse risco. As pessoas passam a morrer a partir das narinas – porque pela boca tanto se pode morrer de morte natural como envenenado pelos agrotóxicos utilizados nas lavouras. Penso, aqui, com as minhas mangas de camisa, que precisava informar a quem interessar possa, o sobrado foi construído em 1886 para ser residência e comércio do coronel José Antônio Versiani (Juca Versiani), o que deve ter pesado na hora de decidir sobre a sua restauração. Mas me respondam uma coisa: por que outros imóveis antigos não receberam nem recebem o mesmo tratamento dado ao sobrado da Escola Normal? E as casas da Rua Justino Câmara, ali perto, por que não foram restauradas? Além de formarem conjunto bonito, se restaurados fossem, são como testemunhas mudas de um tempo em que se podia enxergar os céus de Montes Claros, agora empanados pelos edifícios, onde o morador do apartamento de cima não conhece o de baixo. Enfim, a história desse sobrado está umbilicalmente ligada à história de Montes Claros e, por extensão, a história do sertão norte-mineiro. Inda bem que hoje a imagem dele é diferente desta fotografia. Assim, no olhômetro, a impressão é a de que ele correu sério risco de desabar. Na época de estudante, na referida sala com janelas para o Beco da Vaca, durante a aula de História, dada pelo professor Pedro Santana, de repente uma parte do antigo forro desabou após um estalido denunciador. Foi aquela correria para fora da sala achando que o resto em seguida cairia sobre nossas cabeças. Se me permitem dizer, a essência da intenção era mesmo mostrar a importância da restauração do que para nós representa a nossa própria memória. Uma pessoa sem memória está acometida pela “Doença do Alemão”, conhecida por Alzheimer. Uma cidade sem memória é uma tristeza. No mínimo. |
Por Alberto Sena - 15/8/2016 08:23:37 |
Montes Claros Com a chave na ignição da memória Alberto Sena O acervo de fotos antigas iniciado por Dona Dorzinha – Maria das Dores Gomes Guimarães – e levado adiante pelo filho dela, Wagner Gomes, é sem dúvida de grande importância. Principalmente para mim. Por que? Simples, porque a cada foto exposta me leva a pôr na ignição da memória a respectiva chave pretérita. Cada foto tem uma chave diferente. Ao me deparar com essa fotografia da Rua Doutor Veloso, fundos do Cine São Luís, logo acionei a chave própria e abri um dos escaninhos da década de 60. Estava tudo lá. Bem guardado. Inclusive lembranças dos filmes vistos e revistos. Era um cine pequeno, menor que o cine Coronel Ribeiro e menor, mais ainda, do que o cine Fátima. Mas passava cada filme! Perscrutando a foto com o olhar tipo Alain Delon, os olhos grudam nas paredes do Clube Montes Claros onde noites foram passadas e repassadas no escurinho da pista de dança. Naquela época – só os românticos vão entender isso – o gostoso era dançar coladinho. Tenho comigo uma intrigante suspeição, a pedra de toque do esfriamento do calor humano de hoje em dia começou a partir de quando os casais passaram a dançar separados. Baseado nas experiências do filósofo Anes Otrebla, é possível presumir isso. Porque se antes o contato era corpo a corpo, depois que os casais passaram a dançar separados foi literalmente cortado o cordão umbilical. E deu no que deu. Hoje o contato é virtual. E ponha virtual nisso. Vivemos os tempos glaciais do Poquémon Go. O que tem de gente tropeçando na rua ou caindo em cada buraco, está no “og nomeuqop”. Quem viveu a época documentada pela foto, se vai recordar de que em frente ao clube, na porta de um prédio, era a trincheira de Gerinha Português, Cici Santamaria, Waltinho Fernandes, Fernando Arrupiado, Saulo Wanderley, Marco Antônio Rocha, Marco Aurélio Rocha e outros mais. A turma fazia a diferença. Salvo engano, todos eles nascidos no pós-guerra. Ainda baseado nas filosofadas de Otrebla, a geração nascida até 1949 é bem diferente da que veio na década de 50. Aquela sofreu forte influência da Juventude Transviada estimulada pela rebeldia de James Dean e de filmes como “Amor Sublime Amor”. Mas ao mesmo tempo era uma geração romântica. Gerinha Português, qual galinho garnisé, e a turma dele viviam uma briga nem tão surda contra outro chefe de turma Gerinha, o Malandro, dos Morrinhos, famoso por jogar capoeira. Quando circulava a notícia de que haveria embate entre uma turma e outra, crescia dentro da gente uma expectativa nervosa e ao mesmo tempo um sentimento de torcida para que eles se enfrentassem mesmo a fim de mudar a rotina da cidade. Mas nunca presenciei nem soube se realmente eles chegaram às vias de fato. No prédio do Clube Montes Claros, onde o carteado era jogado e infelicitou a vida de muitos perdedores, havia do lado da Rua Presidente Vargas um cômodo onde funcionava a sapataria de Sebastião, Tião Boi chamado. O Tião era personagem interessante. Se ele não existisse, seria necessário criá-lo. Enquanto punha meia sola nos sapatos, às vezes com a boca cheia de pregos e ia cuspindo um após pregar o outro na sola de couro dos sapatos, ele punha para fora a sabedoria intrínseca ao técnico estrategista em futebol de salão, hoje futsal. A sapataria era frequentada pela juventude da época, em meio ao cheiro de chulé de sapatos masculinos e femininos. Só duma coisa Tião não gostava de falar nem de ouvir. Aliás, duas. Bastava pronunciar a denominação “jia” (anuro leptodactilideo) para ele ficar com o corpo quase todo empolado. Tinha ojeriza só de ouvir falar jia. A outra, bastava a simples menção com os dedos insinuando que ia fazer-lhe cócegas dos lados das costelas. Tião só faltava morrer de cócegas. Virava fera. Mas o gostoso mesmo era comer filé a cubana no restaurante Mangueirinha, tarde da noite, depois de vividas todas as pelejas noturnas. O Mangueirinha ficava – ou ainda fica? – na Rua Padre Augusto quase com Rua Afonso Pena. Tomando a direção contrária a dos personagens da foto, era só entrar à direita logo depois do Clube Montes Claros para “tirar a barriga da miséria” no Mangueirinha. Como o próprio nome diz, lá havia uma mangueira, manga comum. Uma delícia. As mangas. E a comida, claro. Como dizia no início deste texto, indubitavelmente uma foto desse tipo é da maior importância. Quem concorda comigo que levante o dedo. |
Por Alberto Sena - 11/8/2016 08:30:24 |
Montes Claros Confesso, na Praça de Esportes Vivi Alberto Sena A foto número 4.175, do acervo de Maria das Dores Gomes Guimarães, Dona Dorzinha apitetada, com Martinha Abreu e Carmen Netto, ambas esperando pelos respectivos namorados, é emblemática. Incontáveis vezes sentei-me naqueles degraus de escada vistos ao fundo, tendo acima uma espécie de portal com bougainvilles. No imóvel visto ao fundo funcionou, na década de 50, uma rinha de galo, onde aves se esfolavam em meio aos gritos dos apostadores. Penas voavam e não raramente dos galináceos escorriam sangue e alguns que levavam a esporada fatal estrebuchavam ali mesmo para decepção do seu dono. Até que um dia, já na década de 60, o então presidente da República, Jânio Quadros, empunhando a sua vassoura como emblema de campanha, mandou fechar todas as rinhas do País e proibiu, definitivamente, as brigas de galos. Essa proibição acabou sendo o maior feito dele, depois da renúncia malfadada, da qual o Brasil se ressente até hoje. Aquela árvore imensa lá atrás – dê uma espiada na foto para apreciar – é uma pé de jambo vermelho. Ali na Praça de Esportes havia – não sei se ainda há – vários jambeiros vermelhos. Naquela época em Montes Claros, até parecia que só existia jambo vermelho. Foi muito depois, já longe, é que descobri a existência também de jambo amarelo, por sinal, muito mais saboroso do que o vermelho. O gramado onde Martinha e Carmen sentadas esbanjam charme, era – não sei se ainda é – o que chamávamos de “pista”. Tinha o formato arredondado e era ali onde travávamos os maiores embates por meio de “peladas” que revelaram muitos craques. Quase todas as tardes lá estavam jovens como eu disputando par ou ímpar para escolher os seus times. As peladas começavam por volta das 16h e iam até o Sol se pôr. Tinham o sabor de liberdade. Naquele tempo, as rivalidades praticamente não existiam ou pelo menos não se percebia como percebemos hoje em dia. A “pista” servia para uma pá de atividades além da tradicional “pelada”. De manhã, debaixo do Sol ardente de Montes Claros, se podia arremessar tampas de cera Parquetina em partidas individuais e em duplas. E todo acontecimento cívico tinha ali uma atividade, que tanto podia ser um desfile de escolas ou disputa de corrida. Naquele época, a Praça de Esportes era o centro do mundo. Não havia Automóvel Clube nem os outros clubes atuais, a não ser o Clube Montes Claros, na esquina das ruas Doutor Veloso e Presidente Vargas. Então, tudo acontecia na Praça de Esportes. Próximo ao pé de jambo vermelho havia seis pilastras encimadas por um telhado onde se encontravam à disposição dos associados duas mesas oficiais de pingue-pongue. Era uma festa. Havia quem, como eu, que era viciado em pingue-pongue. Disputas homéricas aconteciam. Cortadas zuniam para alegria dos que em volta das mesas assistiam os craques. Disputavam-se campeonatos de pingue-pongue. Nomes como Bichara, Zé Venâncio, João José, Jáder, entre outros, eram invejados na arte de “pingueponguear”. Sem falar, claro, que a Praça de Esportes era o lugar mais procurado pelos namorados. Tanto é verdade que essas duas beldades da foto ali estavam à espera dos seus respectivos. A Praça de Esportes ali está, como sempre esteve, mas perdeu o seu charme. Ao longo do tempo a sua magia desvaneceu-se e embora esteja aberta, funcionando, foi motivo de polêmica quando o então prefeito Luiz Tadeu Leite cismou de vender parte do terreno. A Praça de Esportes deve continuar ali, integralmente. Precisava ser valorizada, incrementada, não para resgate do charme e da magia, mas como alternativa para muitos praticarem esportes. Nada mais posso dizer, porque, afinal, saí de Montes Claros faz mais de 40 anos, mas Montes Claros nunca saiu de mim. Então, esta é uma oportunidade para reafirmar: confesso que vivi intensamente em Montes Claros. E aproveito para fazer aqui a minha declaração de amor por essa cidade, onde está enterrado o meu umbigo. Onde fiz levas e mais levas de amigos. |
Por Alberto Sena - 12/7/2016 10:19:46 |
OS OITENT’ANOS DE WALDYR SENNA Alberto Sena Os 80 anos de Waldyr Senna foram comemorados na tarde de hoje, 10 de julho, na fazenda Saracura, município de Juramento, onde ele e a sua Dizinha – Maria Luísa Rodrigues Batista – receberam parentes e amigos. A fazenda Saracura é sinônimo de paraíso. Bastante florida, zelosamente cuidada pelo casal, os convidados tiveram recepção primorosa, com almoço farto, baseado em arroz com pequi da melhor qualidade. Depois que Waldyr soprou as velas do bolo, arrodeado dos filhos e netos pronunciei um discurso representando todos os irmãos, por meio de um “improviso” que tive o cuidado de levar por escrito e, nesta oportunidade, transcrevo-o para o conhecimento de quem interessar possa. Veja abaixo: “Ao dar-nos o privilégio de comemorar com você, Waldyr, os seus oitent’anos, quero lhe dizer, em meu nome e em nome dos nossos irmãos: O que temos de melhor a lhe oferecer como presente neste dia é a nossa gratidão. Gratidão por tudo que fez por nossa família – e ainda faz – desde aquela manhã de 15 de janeiro de 1961, quando o nosso pai morreu. Evidentemente, você já tem a sua recompensa em vida, e damos graças a Deus por você. Costumo dizer, Deus me deu quatro mães. A mãe biológica, Elvira, e as outras mães – peço vênia para citar os nomes delas e também homenageá-las neste seu dia, Waldyr – minhas irmãs Tê, Elza e Ladinha. E tive dois pais, o pai biológico – Zé Bitaca – meu grande amigo. O outro é você, Waldyr, que nos assumiu, naquela época, dando exemplo de irmão, no sentido lato da palavra, algo raro neste mercado atual da raça humana. Mas a sua importância vai muito além do que fez por todos nós. A palavra gratidão apenas resume e revela o nosso reconhecimento do seu valor. E revela também a nossa sinceridade. A sua contribuição para o engrandecimento da nossa Montes Claros, para o desenvolvimento da nossa cidade em todos os segmentos da vida cotidiana é inestimável. A sociedade montesclarina sabe e reconhece isso. Além de ter sido bom filho, grande irmão (às vezes meio ranzinza, mas isso é o de menos); além de ser bom marido, pai e avô também bom, você foi responsável pela formação profissional de diversas pessoas, à frente do O Jornal de Montes Claros. Não que o fizesse de caso pensado. Não. Simplesmente porque os seus exemplos e o seu tino jornalístico de nascença influíam na vida minha e na de muita gente num tempo em que se podia praticar o jornalismo verdadeiro. Você foi – e ainda é – o candeeiro a iluminar os caminhos dos seus semelhantes. Hoje mesmo, você, em companhia de sua querida Dizinha, sua companheira até que a vida os una ainda mais, porque no Universo existe só vida; veja o quanto você e ela influem diariamente no comportamento político, socioeconômico e educacional de um sem número de jovens estudantes do Colégio São Mateus. A sua sina, meu irmão, a sina do casal, pelo que se pode constatar, é formar gente. Você, Waldyr, foi e ainda é um exemplo para todos nós. Você é sinônimo de “trabalho”. Ignoro quem trabalhe mais do que você. Lembro dos tempos do O Jornal de Montes Claros. Você trabalhava de manhã, na redação, ia almoçar em casa e seguia para o Banco do Brasil. Depois do expediente bancário, voltava ao jornal. Só então ia para casa. Abro, aqui, um parêntese para lembrar uma curiosidade: (A chave da porta de entrada ficava atrás da placa do jornal, do lado de fora, ao alcance de qualquer pessoa. Imagina se hoje isso seria possível, ali no número 103 da Rua Dr. Santos, naquela casa velha onde era a antiga redação do jornal?) Nós nos orgulhamos de você, Waldyr, e o mais maravilhoso de tudo é estar aqui, sentindo todo o calor humano que nos envolve, neste lugar esplendoroso, fazenda Saracura, de histórias tantas, que para Dizinha caberiam em livros, aqui estamos para comemorar os seus oitent’anos. Para quem chega, nesta data, à primeira metade de uma vida operosa, cheia de histórias para contar aos netos e aos bisnetos daqui a pouco, você se encontra em bom estado de conservação e ainda tem muito jovem pela frente à espera de sua metodologia de formar gente humana, política e eticamente tendo em vista o bem comum. Desejamos-lhe paz, saúde e alegria de viver. E que Deus o abençoe e guarde. Sempre". |
Por Alberto Sena - 2/7/2016 12:26:56 |
UM “SCHERLOCK” SEM “HOLMES” Alberto Sena Aproveitando a oportunidade de participar da reunião ordinária do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, como “um investigador do tempo”, fiz algumas incursões pelas imediações da Rua Corrêa Machado, onde morei por último antes de embarcar de mala e cuia para a capital mineira, em fevereiro de 1972. A intenção era encontrar resquícios daquela rua de antigamente, quando se iniciava a urbanização do terreno onde antes era o “campo do União”. Armado de minha inseparável câmera fotográfica semiprofissional, adentrei a área a partir da Rua João Pinheiro. Primeiro passei, acompanhado de Silvia Batista, pela esquina das ruas General Carneiro e João Pinheiro, onde era a casa da “tia Ambrozina”, de lembranças tantas. Ela era mãe de Rubinho e Magela Sena Almeida. A casa deu lugar a um prédio. Não encontrei nenhum resquício dela. Mas, em frente, do outro lado da rua constatei, ainda em pé, uma casa em estilo colonial da época em que vivia em Montes Claros e não hesitei em fotografá-la. Embora quase tudo estivesse mudado, pude encontrar a casa de “dona Tina”, já falecida, quando beirava os cem anos de idade, na Rua Corrêa Machado. Ela era avó de Eustáquio, um vizinho com o qual brincava ainda na adolescência, jogando bolinha de gude e finca no período das águas. A casa de “dona Tina” ainda está em pé. A única diferença notada foi uma grade azul instalada por motivos óbvios. Mais adiante, na esquina das ruas Corrêa Machado e Dr. Veloso encontrei a marca do lugar onde havia um poste de ferro que a menininada usava para atanazar a vida de dona Pequenina, que em texto anterior tratei-a como sendo “dona Pequena”. Era uma mulher pequena, cabelos brancos. Nutria orjeriza dos capetinhas que batiam no poste com pedras, arrancando dele o ruído de metal parecido com o de sino. Ainda na mesma esquina, do outro lado, a casa de Nêgo Rô continua em pé, protegida por um muro alto. A mangueira é a mesma, nesta época já com frutos em meio às flores. Nêgo Rô era um rapaz bom de bola. Com ele jogámos peladas no campo do União, além das indigitadas bolinhas de gude e finca. Soube poucos anos atrás que ele já não está mais no meio de nós e nem sei se a família dele ainda mora no local. Embora tenha feito uma incursão de “investigador do tempo”, as visitas foram “an passant” porque não havia tempo de incomodar os habitantes da casa com perguntas como: a família de Nêgo Rô ainda mora aqui? O que aconteceu com ele, prematuramente levado do meio de nós? Entre outras curiosidades. Lembro que foi o pai de Nêgo Rô, fazedor de casas, pedreiro chamado, quem fez o forro de madeira da casa onde moramos no número 238 da Rua Corrêa Machado. Vejo ainda agora a cena dele e de mais ajudantes instalando o madeirame para pregar as tábuas do foro. Antes do forro, uma das minhas diversões era subir até o telhado usando o umbral da porta. Subimos a Rua Corrêa Machado e entramos na Rua Camilo Prates. Pouco depois da esquina ainda encontrei a casa de Juquinha, que nascera com deficiência, mas tinha cabeça inteligente e durante bom tempo ele foi técnico dos nossos times de futebol. Em frente a casa dele morava Zezinho, mas a casa de Zezinho não mais existe. Seguindo pela Rua Camilo Prates, entramos à direita na Rua General Carneiro, até a passagem de nível do trem da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil. Pouco antes morava a família de Roberto Câmara, com quem jogava pingue-pongue e tinha prosas inteligentes. Hoje, Roberto é médico do coração. Grande figura, devo a ele e mais alguns ex-atiradores do TG 87, a não exclusão “por indisciplina”. Tinha 58 pontos perdidos e com mais dois seria excluído. Tinha de fazer exército em Beagá. Fotografei duas casas no local. Numa delas morava Roberto, estou certo disso. De lá fomos pela Rua Bocaiúva, sentido Praça Coronel Ribeiro. A meio quarteirão lembrei das partidas de pingue-pongue jogadas na União Operária. A casa continua a mesma. Um quê de tristeza mesmo abateu-me ao deparar com a casa onde morou a família de Josimar e Jarbas Oliveira, no chão. Era uma casa em estilo colonial, feita de adobe. Quando estudávamos na Escola Normal, quase que diariamente passava na casa dele para irmos juntos ao antigo prédio atrás da Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José, hoje abrigando o Museu Regional do Norte de Minas, sob a batuta da operosa Marina Queiroz. Ao final da incursão, pude concluir que, de “investigador do tempo”, não passei de um “Scherlock” sem “Holmes”. |
Por Alberto Sena - 24/6/2016 10:53:00 |
CARTA AOS FILHOS MEUS Alberto Sena Espero encontrá-los bem. Com saúde espiritual, mental e fisicamente. Por aqui, tudo vai indo sob as graças de Deus, na pessoa do seu filho Jesus Cristo. Não tenho o que me queixar, “s’eu queixo é de burro”. Tendo paz, saúde e alegria de viver, essa tríade me basta. As mangueiras de Grão Mogol estão lindas – precisavam ver. Floridas, nesta época do ano, tornam-se um atrativo espetacular. Cada mangueira é um universo dos que possuem o dom de voar. Vocês precisavam estar aqui para contemplar tudo isso. Pela quantidade de flores, este ano vamos chupar muita manga até o cotovelo fazer bico. Mas, a gente sabe, Maalali, filha amada – você que vive na Alemanha, é cidadã alemã e ensina português a alemães precisava saber também disso – daqui a pouco os ventos irão fazer a seleção natural dos frutos. Se toda essa quantidade de flores virasse frutos, não haveria mangueira para suportar o peso das mangas. Ano passado, oh, Matheus, primeiro dos homens filhos meus, ao contrário do ano retrasado, as mangueiras de Grão Mogol não deram muitos frutos. Aqui, imagina você, artista de rock pop em Orlando, nos EUA, as mangas costumam perder, em quantidade. Até parece, caríssimo Rahvi, você que se encontra aí em Foz do Iguaçu (PR), as crianças e os adultos daqui já se enjoaram de chupar manga. Imagina, se estivesse, aqui, na safra o quanto você poderia se lambuzar de manga. De Foz aqui é um pulo. Os daqui talvez prefiram trocar por refrigerante um copo duplo de suco de manga natural. Pode uma coisa desta, Rahvi, meu cinegrafista e ator preferido? As mangueiras é que fazem a arborização da cidade. Quase todas as casas têm quintal. Deste pormenor importante, Pedro, você que de Beagá aqui veio sabe como biólogo e economista prestes a se diplomar pela UFMG, quintal não está dando sopa em nenhum outro lugar. O quintal da dona Valda, só para citar um exemplo, é uma beleza. Você a conheceu na sua estada em Grão Mogol. Ela mora na Rua Hilário Marinho, próximo ao Presépio Natural Mãos de Deus. Sozinha plantou tudo. Possui dezenas de qualidades de frutíferas no quintal. É lá onde moram os passarinhos. Um dia, ela me disse, “se tirar de mim o meu quintal, eu morro”. Aqui, oh, filhos meus, os ares são puros. Não há nenhuma fábrica cuspindo fumaça envenenada na atmosfera. As paisagens são lindas. O viver é simples e simplificado. Não há aquele estresse próprio das cidades grandes. O trânsito de veículos é pequeno, mas os caminhões são barulhentos. Com a possibilidade de conclusão do processo de tombamento do Centro Histórico de Grão Mogol, até agosto, como prometeu a presidente do Iepha, o trânsito de veículos pesados deverá encontrar alternativa para evitar comprometer o patrimônio local, casario de final do século 18. Estamos a pouco mais de 20 dias do Festival de Inverno Circuito Turístico Lago de Irapé, evento organizado pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) em parceria com a Prefeitura Municial de Grão Mogol. Quão bom seria se os quatro pudessem aqui estar para o Festival de Inverno, de 19 a 24 de julho. A expectativa começa a crescer com reservas antecipadas nos hotéis e pousadas da cidade. É estimada a vinda de mais de 30 mil pessoas a Grão Mogol nos seis dias de festival. Dentro da programação haverá o terceiro “Festival da Canção”, que distribuirá R$ 15 mil em prêmios aos ganhadores. Vocês, meus queridos, que tanto gostam de música, iriam se divertir muito, estou certo disso. A abertura do festival, na noite de 19 de julho, será no Presépio Natural Mãos de Deus, pela segunda vez. A primeira vez foi em 2014, seis meses depois de inaugurada a obra que já recebeu mais de 70 mil visitas e é considerada o maior presépio do mundo na categoria natural e a céu aberto. Só para vocês não reclamarem por ainda não ter falado de política, se é que se pode chamar de política o que se vê por aqui. Estamos no epicentro de um terremoto de 10 graus na escala Richter. Particularmente, tenho fé, uma hora as placas tectônicas irão se acomodar e um Brasil novo surgirá. Mas, aqui, em Grão Mogol, se vocês querem saber, o pessoal acha que tem muito candidato a prefeito – cinco até agora – para poucos votos – nove mil eleitores. Mas já ouço falar em composições. Quanto aos vereadores, há quem esteja entre a cruz e a caldeirinha, com receio de não se reeleger. Não basta ser candidato a prefeito ou vereador, é imprescindível ter proposta, dizer a quê vem. É isso, filhos meus. Mais adiante, quando a política local pegar no tranco enviarei mais notícias. Abraços e beijos. |
Por Alberto Sena - 20/6/2016 10:58:52 |
DONA PEQUENA E O POSTE DE FERRO (Para Roberto Lima, pela lembrança) Alberto Sena Dona Pequena, como o epíteto sugere, era de baixa estatura. Devia ter um metro e meio de altura. Parecia velhinha, velhinha. Mas não devia ser erada, nós meninos é que achávamos ser ela muito antiga, quiçá, uma bruxa daquelas montadas em vassoura de piaçava. Mas nem tão bruxa ela era a coitada. Dona Pequena morava com uma filha adotiva – ou era neta? – uma menina ainda adolescente, na esquina das ruas Doutor Veloso e Corrêa Machado, em Montes Claros da década de 60. Na época, por vários motivos que daqui a pouco serão do conhecimento de todos, ela era famosa no pedaço. Fama gerada pelo azedume das reações dela. Do adulto mais antigo à criança ao abandonar a mamadeira, ninguém ignorava a nossa personagem. Em frente da casa de dona Pequena havia um poste de ferro antigo, sem nenhuma serventia. A não ser para infernizar a vida dela e o porquê quem aguardar um pouco irá saber. O poste devia ter sido esquecido após a substituição por postes de cimento daquela época. O poste de ferro era, enfim, um suplício para dona Pequena. Evidentemente, na época menino nenhum tinha essa compreensão do quanto o poste indigitado infernizava a vida da mulher. Não que representasse para ela perigo de cair sobre a casa. Nada disso. Menos ainda por culpa do poste em si, estático ali na esquina preto feito breu. A meninada encapetada descobriu, bastava bater no poste com uma pedra para extrair dele um som metálico e dona Pequena, incomodada, nervosa, cuspindo impropérios saía na porta com os cabelos brancos em pé. Havia no quintal dela duas ou três goiabeiras. Goiabas vermelhas e brancas. As goiabeiras também ajudavam a preencher os dias de dona Pequena porque volta e meia um menino trepava no muro para apanhar goiaba. E a velhinha rodava a baiana. Soltava xingamentos deliciosos a três por dois para regozijo dos meninos. Naquela época, na Rua Corrêa Machado havia um campo de futebol. Era do time do União, que dera origem ao Cassimiro de Abreu eterno rival do Ateneu. Quando a família mudou-se para aquela rua, o campo já começava a ser desativado, porque o Cassimiro de Abreu construíra um estádio no Bairro Todos os Santos. Mas algumas partidas de futebol eram jogadas ali. Lembro-me bem de jogadores como Marcelino, ex-Atlético Mineiro; o irmão dele, Moedeferro; Bispo e o irmão Bonga, Hélio Guimarães, Felipe Gabrich e outros. De vez em quando a bola ultrapassava o muro e caía dentro do quintal de dona Pequena. Ela, além de não devolver a bola, esbravejava como gente grande. Afora essas partidas de adultos, o campo ficava a maior parte do tempo por nossa conta. Nas férias escolares então, o dia inteirinho a meninada ali jogava as famosas peladas. Arremessava tampa de cera Parquetina um para o outro, a longa distância. A tampa traçava no ar curva quase ao rés do chão e subia até as mãos do parceiro. Uma gostosa brincadeira. Era um paraíso lúdico o campo. Só o abandonávamos para irmos à matinê das duas horas no Cine Coronel Ribeiro, na praça do mesmo nome. Mas ao passarmos pela porta da casa de dona Pequena, inevitavelmente, tínhamos de arrancar do poste de ferro três sons metálico, pelo simples prazer, se se pode dizer assim, de incomodar a velhinha e ouvir os xingamentos dela. Até que ela saísse na porta, a meninada já estava longe dando gargalhadas. Os irmãos Roberto e Ronaldo, que moravam na mesma rua, mas um pouco mais distante da casa de dona Pequena, além de outros pivetes como Osmar, Eustáquio, Dedinho e os demais, todos eram cúmplices na tarefa cruel de incomodar dona Pequena. O mister fazia parte do mundo infantil ou pré-adolescente da meninada de então. É bom dizer, esses pecados já receberam há muito tempo a absolvição. |
Por Alberto Sena - 2/6/2016 09:31:40 |
A MORTE DIGNA DE UM BRAVO JORNAL Alberto Sena Recebi do amigo virtual Carlos Roberto Veloso, de Montes Claros, “in box”, a mensagem seguinte: “Fazendo uma arrumação e triagem de meus guardados antigos, encontrei a última edição do “O Jornal de Montes Claros”, publicada em 11 de março de 1990”. “Como esse informativo foi a fonte de iniciação para muitos jovens de nossa cidade, inclusive aonde você dedicou os primeiros passos profissionalmente, gostaria de saber se interessa ter esse exemplar. Se OK, informa-me que irei passar-lhe”. Respondi positivamente, claro, a mensagem e informei o meu endereço e ele ficou de me enviar o exemplar da derradeira edição do “O Jornal de Montes Claros”. Disse-me mais Carlos Roberto: “Lembro de você e de outros como Robério, Berginho, Tanajura, Robson etc. trabalhando no Jornal. Na época meus pais eram amigos do escrivão Liz Paixão”. (Liz Paixão era um homem magro, meio casmurro ou casmurro e meio, mas competente como escrivão de polícia. Quando fui cobrir polícia para o JMC, ele e Guedes revesavam na oitiva dos envolvidos em inquéritos). “Fui por intermédio de Liz Paixão prestar serviços na Delegacia de Polícia (lembra do capitão e depois major Abdo?) e os jovens repórteres cobriam a área policial. Na época do movimento de 1964. Enviar-lhe-ei o exemplar na próxima semana, visto estar indo hoje para minha propriedade rural”. Disse eu então a Carlos Roberto recordar sim da época “e do major Miguel Abdo; tinha uma filha conhecida”. Desejei-lhe um bom final de semana, evidentemente agradecendo pela gentileza. Neste 31 de maio, ele me enviou outra mensagem afirmando ter postado nos correios “o último exemplar do Jornal de Montes Claros, espero já tê-lo recebido”. Não havia recebido ainda e disse a ele, “vamos aguardar até amanhã”. Neste 1° de junho recebi o envelope pardo em mãos, das mãos do jovem dos correios. Estava no portão, conversava com uma pessoa e ele chegou. Sorrindo entregou-me o envelope. Tratei imediatamente de enviar uma mensagem ao amigo: “Acabo de receber o jornal. Agradeço-lhe muito”. Ele, então, respondeu-me: “(...) Tenho certeza que, com você, estará em boas mãos”. Agradeci “pela confiança”, afinal, havia me enviado a última edição do jornal onde iniciei em 1969, aos 17 anos. Trinta e oito anos depois de criado, em 1990, o jornal “escola” formador de jornalistas ainda em atividade na grande imprensa, publicava a última edição. Em Belo Horizonte, ao ingressar na redação do jornal “Estado de Minas”, ouvi dizer pela primeira vez o quão melancólico e triste é o fim de um jornal. Era a agonia do “Diário de Minas”. Quase concomitantemente, ao fim do “Diário Católico”, que se tornou “Jornal de Minas”. O “Diário da Tarde”, já extinto, cria relegada pelo Diários Associados por causa do “Estado de Minas”, durante os seus 77 anos, além do “Diário do Comércio” representavam a mídia impressa diária da capital. Na época em que a notícia era prioridade. Surpresa mesmo foi quando os Diários e Emissoras Associados” criaram o “Jornal de Shopping”. Era para ser um jornal “de compras”, como queria o diretor Executivo dos Diários Associados, na época, Camilo Teixeira da Costa. Mas o editor do jornal, Wander Piroli, jornalista e escritor consagrado deu aos leitores um semanário de qualidade, que concorria com o “Jornal de Casa” aos domingos. Dos jornais citados, só o “Estado de Minas” e o “Diário do Comércio” não morreram, mas entraram no estágio de agonia, da mesma forma como aconteceu aos outros. O fechamento do “Jornal de Shopping”, em 1982, foi de modo agressivo. O jornal já estava na gráfica dos Diários Associados para ser impresso, na noite de sexta feira. Circularia no final/início de semana. A surpresa estava na primeira página. A direção do DA pôs uma nota informando aos leitores ser aquela edição a última, sem dar dar a menor satisfação ao Piroli e a redação. Nem se pode comparar esse ato do DA, indigno, com a maneira digna como o jornalista Oswaldo Antunes, dono do “O Jornal de Montes Claros” anunciou, em editorial primoroso, intitulado “Calar antes do fim”, a edição derradeira. Vale a pena reler o texto. Começa assim: “Este será o último número do Jornal de Montes Claros, depois de trinta e oito anos de trabalho e de bravura...” |
Por Alberto Sena - 30/5/2016 09:38:20 |
TRILEMA Alberto Sena Aconteceram de duas uma: ou a terra tremeu outra vez ou foi uma ocorrência sobrenatural, porque justificativa plausível para o estalo na parede do apartamento do hotel onde nos hospedamos, em Montes Claros, não havia, pelo menos naquele momento. Concomitante ao estalo, o quadro pendurado na parede assinado por Márcia Nascimento, mulher do dono do hotel, inclinou para um dos lados. E o celular de Sílvia Batista oscilou como se tivesse sob interferência. A luz do apartamento piscou três vezes. Diante das circuntâncias, não pensamos duas vezes: “Pode ser um tremor de terra”. Montes Claros deu para isso nas últimas décadas. A terra passou a tremer ou alguma ação antrópica provoca os abalos. De duas uma. Ou as duas. Entreolhamos-nos e sugeri abandonarmos o apartamento. “Imediatamente”. Sílvia fez menção de retornar para apanhar o celular e desaconselhei. Numa situação anormal, ao voltar para buscar alguma coisa pode ser fatal. “Vamos descer pelas escadas”. Numa hora dessa, embora nunca tivéssemos vivido nada igual, não se deve tomar o elevador. Enquanto descíamos as escadas não notamos nada de anormal, mas ainda assim fomos até a portaria e como tudo parecia normal, concluímos ter sido uma ocorrência sobrenatural. Mas assombração não existe, pelo menos do tipo fantasmagórico como líamos quando crianças nas revistas em quadrinhos. Relutamos um pouco se devíamos ou não falar com os atendentes da portaria do hotel. “Melhor falarmos”, concluímos. - Com qual frequência acontece tremor de terra em Montes Claros? – Perguntei e Cláudio, um dos funcionários do hotel respondeu: - Há muito tempo não temos notícia de nenhuma ocorrência por aqui. Recentemente ocorreu na região de Belo Horizonte – ele disse. - Sim. Mas, pergunto porque ouvimos um estalo e em seguida o quadro pendurado na parede do apartamento inclinou para um dos lados – disse a ele. Cláudio olhou-nos com olhos inquiridores e respondeu em seguida: - Deve ser a pressão do gás – concluiu. Naquele momento o hotel era reabastecido de gás. Devia ser 8h. O caminhão estava nas dependências do hotel. Segundo o funcionário, o estalo pode ter sido causado pela pressão do gás no início da operação de reabastecimento. Cláudio podia ter razão. Ou pelo menos a conclusão dele parecia ter certa lógica. Retornamos ao apartamento e deixamos o quadro inclinado na parede, da maneira como ficou após ouvirmos o estalo, como sinal de que algo de anormal aconteceu. Se antes havia um dilema, ao final nos deparamos com um trilema: teria sido abalo de terra, algo sobrenatural ou pressão do gás? Por acaso, a televisão estava ligada baixinho nos assombrosos acontecimentos políticos lá de Brasília, relacionados às gravações de Sérgio Machado. |
Por Alberto Sena - 27/5/2016 09:37:19 |
VOLTA AO PARAFUSO Alberto Sena Por esses dias encontrei-me diante da Escola Estadual Gonçalves Chaves, em Montes Claros, na Praça João Alves, nem sei quantas décadas depois de sair a última vez pelo seu portão. Recordei-me então de quando menino de sete anos de idade entrei a primeira vez no prédio, por esse mesmo portão. Naquela época, ano de 1956, a nomenclatura era Grupo Escolar Gonçalves Chaves, e o curso era chamado “Primário”. A família morava na Rua São Francisco, quase esquina de Rua Corrêa Machado. Por determinação expressa de dona Elvira, minha mãe querida, Lúcia, uma das minhas seis irmãs levou-me à presença da diretora do grupo, dona Maria Celestina Almeida. A diretora me conduziu a uma sala e me submeteu a um teste de seleção. Do teste recordo-me de uma figura apresentada por ela. Era uma casa de portas e janelas azuis. Fincada no chão e apoiada no telhado da casa havia uma escada de madeira. E no telhado, por incrível possa parecer, havia um porquinho. A pergunta era: “Como o porquinho chegou ao telhado?” Respondi na bucha: “Subindo pela escada”. Selecionado para a sala da professora dona Bernadete Costa, mãe do ainda futuro jornalista Robson Costa, que aos 17 anos encontrei no O Jornal de Montes Claros, e mais tarde, com 22 anos, com ele convivi na redação do jornal Estado de Minas, em Belo Horizonte – depois Robson foi para o Estadão/Jornal da Tarde, São Paulo, onde faleceu aos 38 anos. Dona Bernadete era professora rigorosa e eficiente. Com ela aprendi a ler e a escrever. Era uma mulher pequena, magra. Tinha voz cheia de autoridade. Quem não cumpria à risca com as obrigações “cortava doze” com ela. Toda segunda-feira, os alunos devidamente enfileirados diante das escadas do prédio cantavam o Hino Nacional com hasteamento da Bandeira Nacional. Em seguida, os alunos selecionados declamavam poesia de Olavo Bilac, Cecília Meirelles, Casimiro de Abreu, entre outros. Por esses dias, em Montes Claros, com Lúcio Bemquerer, a fim de apresentar o Presépio Natural Mãos de Deus aos integrantes do grupo de oração São Pedro, no condomínio Vila Rica, onde mora dona Milene Maurício, que organizou tudo, pude recordar daquela época em que Montes Claros esbanjava sossego. De vez em quando passava uma sedan preta, carro de praça chamada. O prédio da Escola Estadual Gonçalves Chaves ainda conserva algumas das suas caraterísticas originais. Pelo menos na fachada. A grade do muro parece a mesma, mas escondida por uma tira de latão de fora a fora, que não deixa ver o lado de dentro. Na área do lado direito do prédio, na parte externa, onde havia enorme cruzeiro em um pedestal de cimento, cruzeiro encontrado enterrado quando do início da sua construção, simplesmente desapareceu. A área tornou-se um estacionamento de carros. O relógio estava a caminho do meio-dia. Vários jovens chegavam ao prédio para o início de mais um dia de aula. Não havia ninguém na entrada para nos dar informações. E como não queríamos – Sílvia e eu – chamar a atenção dos alunos e parecer estarmos invadindo o colégio, preferimos nos conformar com a visão externa do prédio. Mas a intenção era entrar e rever as salas de aula. E, principalmente, o pátio no centro do prédio. Para chegar ao pátio era preciso descer alguns degraus de escada. Pelo que pude apurar depois, o pátio já não existe. Tudo foi nivelado e ocupado. Uma avalanche de lembranças perpassou-me a cabeça. No curso primário antigo sempre fui bom aluno. Tanto que só fiz prova final uma vez em todo o período para terminar a quarta série primária. Fazia parte do grupo de alunos com notas suficientes para ser aprovado sem precisar fazer provas finais. Ser aprovado com antecedência, entrar em férias antes do restante da turma redundava numa alegria sem tamanho. Ao receber a notícia de que poderia ir para casa gozar férias antecipadas, ao sair do portão da escola arremeçava a pasta ao alto com os cadernos e caixa de lápis de cor e gritava a todo pulmões: “Estou de férias, passei de ano”. Era quando tinha o dia inteirinhozinho para viver a trabalheira de jogar bolinha de gude e finca porque a essa altura do calendário chegara o período das águas. A terra estava úmida e as ferramentas necessárias afiadas para traçarem linhas no chão como quem risca e rabisca sonhos. Ali na Praça João Alves diante do prédio da Escola Estadual Gonçalves Chaves, décadas depois, por um momento pareceu-me ouvir o vozerio dos colegas de então, na hora do recreio, chutando bola de meia em meio à poeira vermelha do pátio externo, hoje todo ocupado. |
Por Alberto Sena - 25/5/2016 08:09:28 |
BEM QUERER EXPÕE PRESÉPIO NO VILA RICA Alberto Sena Por momentos, perpassou o interior do salão de festas do Edifício Vila Rica, em Montes Claros – Avenida Mestra Fininha, 536, ao lado da Santa Casa – a sensação da presença de anjos e querubins se elevando acima das cabeças de cerca de 40 pessoas do grupo de oração São Pedro, ali sentadas na expectativa de ouvir o empresário grãomogolense, Lúcio Bemquerer falar do Presépio Natural Mãos de Deus, de Grão Mogol. Antes de tudo, necessário se faz contar, dona Milene Antonieta Coutinho Maurício, viúva do médico João Valle Maurício, residente no edifício teve a ideia de convidar Bemquerer para fazer a exposição sobre a sua obra. Ela organizou tudo: fez cartazes (ver fotos) com o presépio e afixou-os na parede ao lado de um lindo altar com um oratório centenário e representações da Sagrada Família e dos Reis Magos. Tudo leva a crer, os anjos e os querubins surgiram a partir do altar, escapados do oratório. Ou teria sido do interior de cada uma das pessoas que lotaram o salão de festas? Pode ter sido de ambas as partes, tamanha a sensação de paz irradiada, sentida por todos como se existisse um só coração pulsante. Quando Bemquerer chegou, acompanhado de Wilma Nunes, às 18h em ponto, uma hora antes da apresentação, conforme dona Milene recomendara, tudo já estava pronto. As cadeiras brancas estavam nos devidos lugares à espera dos integrantes do grupo de oração. E o aparelho de televisão instalado pelo neto dela, Artur, filho de Liliane Maurício, esposa de João Carlos. Toda segunda-feira, há reunião na casa de alguém, do grupo de oração. Na noite deste 23 de maio foi a vez de dona Milene receber o grupo. “Gosto sempre de apresentar algo diferente na minha vez”, disse ela. Cuidadosa, forrou o altar e as mesas com toalhas de linho bordado e engomado. Sobre a mesa maior expôs diversas quitandas e duas sopeiras cheias de vaca atolada, sucos, refrigerantes e café para serem servidos ao final. Dando início a mais um encontro, dona Milene se encaminhou à frente de todos acompanhada da coordenadora do grupo de oração e ambas abriram a sessão “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Entoaram orações e depois de fazer a apresentação rápida de Bemquerer, foi exibido o DVD de cinco minutos com a história resumida do presépio, de quatro anos completos, já visitado por mais de 70 mil pessoas. Após a exibição, quando abriu espaço para perguntas, Cruz, um dos integrantes do grupo quis saber se Bemquerer “é devoto de São Francisco de Assis” e se a devoção o fizera criar o presépio, “porque foi São Francisco quem fez o primeiro deles”. Bemquerer respondeu não ter sido essa a motivação e confirmou a notícia da criação do primeiro presépio por São Francisco, em 1223, em Creccio, na Itália. “Por isso nós o homenageamos com uma escultura em pedra sabão, no presépio”, disse. O poeta Wanderlino Arruda, convidado por Milene, amigo de longa data de Bemquerer teceu comentários a respeito dele e do presépio, visitado já faz tempo, deixando-o encantado com a obra única no mundo. Como membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Wanderlino aproveitou para informar sobre a posse de Bemquerer, em solenidade a ser realizada em Grão Mogol proximamente, como membro do instituto. Em meio aos circunstantes houve quem dissesse: “Se essa maneira de divulgar o presépio inventada por dona Milene tiver sequência noutros condomínios de Montes Claros, será de grande valia”. A construção do presépio foi todinha com recurso próprio, mas a partir da sua inauguração deixou de ser particular para se integrar ao patrimônio da humanidade, enfatizou Wanderlino. Ao final, em meio à confraternização, observou-se com evidência maior a manifestação dos anjos e dos querubins. Eles, em uníssono, cantavam loas, numa experiência real de integração dos céus com a terra, tendo em vista apaziguar os espíritos por meio da prática diuturna da certeza da existência de uma irmandade universal. |
Por Alberto Sena - 19/5/2016 08:13:39 |
MEMÓRIA DE UMA RUA DESFIGURADA Alberto Sena A foto em epígrafe postada por Wagner Gomes, em nome da mãe dele, dona Maria das Dores Gomes Guimarães, de memória viva no meio de nós, espelha com a clareza do Sol montesclarino, a minha, a nossa Montes Claros. Os pronomes possessivos estão no singular e no plural porque gerações de montesclarinos ainda vivos têm essa imagem epigrafada na memória. A foto retrata a Rua Doutor Santos, trecho compreendente entre as ruas Barão do Rio Branco e Dom João Antônio Pimenta, Centro da cidade. Seria o caso de alguém se interessar em sacar uma foto desse mesmo trecho e ângulo a fim de fazer uma comparação. À exceção da casa onde morou a família de Sinhozinho Batista, tudo hoje está diferente. Mas, apesar da voracidade do tempo a causar transformações – e não podia ser diferente porque a vida não é estática – a minha, a nossa Montes Claros resiste em meio a metrópole dia a dia desenhada pelos que na cidade ficaram e nela vivem. Talvez quem ficou não perceba o quanto quase tudo mudou. Enquanto a cidade estava circunscrita às famílias que deram a Montes Claros personalidade marcante, envolta em seus probleminhas corriqueiros, evidentemente, a vida era menos, muito menos estressante comparada aos dias atuais. Os montesclarinos de então tinham tempo suficiente para dar caloroso “bom dia” às pessoas e com elas trocar figurinhas e conversar abobrinhas. Isto foi muito antes do quesito “insegurança pública” influir no comportamento dos cidadãos. As famílias eram conhecidas por apelidos. Era Fulano, filho de Sicrano, igualzinho ao que ainda vigora em Grão Mogol, onde na lista telefônica consta os apelidos dos assinantes, porque pelos nomes próprios as pessoas não são reconhecidas. Montes Claros perdeu isto e muito mais com o advento da BR-251. Não se pode negar, a rodovia, há anos clamando duplicação, trouxe benefícios para Montes Claros e região e ao mesmo tempo transporta a produção de bens de toda ordem no seu movimento pendular noite e dia. Mas escancarou a cidade de tal maneira que, sem um plano diretor para pôr ordem na casa, cresceu desembestadamente, e, agora, tem muito a reclamar. Reclamações à parte, melhor retomar lembranças porque quem tem o que recordar vive muitas vezes a experiência positiva do passado sem necessariamente mergulhar nas águas do saudosismo, mas só pelo prazer de reviver porque possui histórias para contar. Recordo-me que nesse trecho da Rua Doutor Santos moravam as famílias de Mário Viana, dentista prático; Jair Aminthas, este pai de Aminthas, Marcos e Fátima. Adiante, na esquina, Sinhozinho Batista, pai de Alcebíades Batista, a quem solicito neste momento uma consultoria, por ser ele especialista em matéria relacionada com a famosa rua. “A primeira casa à direita” – diz ele – “é dos nossos vizinhos, sr. Didi e dona Nonô; depois da casa de meus pais, era a casa de nossa querida amiga, dona Fininha; tinha a barbearia de Osmar e Cachangá, o Bar Guarani, de Vadiolando Moreira, a lavanderia Estrela, a Vidraçaria de Rosental Caldeira, uma pensão, a casa de dona Duca, a Gráfica Orion, a casa de Francisco Peres e outros vizinhos”. Agradecido pela consultoria do amigo, retomo a narrativa para dizer que do lado esquerdo da rua recordo-me da família do médico Cristiano Borém e do também médico João Valle Maurício/Milene, pai/mãe de Mânia, Nair, Vitória e Liliane. Ao lado moravam Carlos Meira e família. Em frente, do outro lado da rua, Gílson Peres, Gílson Capeta, que fazia jus ao apíteto. A Rua Doutor Santos era a veia aorta da cidade. Teve várias fases antes de chegar na atual, totalmente modificada e por demais barulhenta, com briga de sons dos comerciantes, cada um querendo fazer mais barulho do que o outro ao expor as suas mercadorias. Entretanto, agora, no estertor, surge uma luz no final do túnel: a salvação urbanística de Montes Claros pode vir a ser a recente escolha da cidade para estudo internacional sobre planejamento urbano, proposição da Unesco, via professor suíço Jean-Claude Bolay, com a parceria da Unimontes. Esperança sempre haverá. |
Por Alberto Sena - 28/4/2016 09:46:16 |
GRÃO MOGOL MENOSPREZO AO DIAMANTE VERDADEIRO Alberto Sena Pode ser falsa impressão, e se for, antes de mais nada peço desculpas, mas a minha impressão é a de que os grãomogolenses residentes em Grão Mogol, na sede do Município, menosprezam o turismo. Quando poderiam ganhar com essa atividade tão lucrativa. Deviam, ao contrário de menosprezar, provocar a implantação da indústria turística, que nada polui e oferece uma cadeia de empregos diretos e indiretos, além de especializações, elevando ainda mais o nível socioeconômico e cultural da cidade e região. O turismo praticado em todos os seus segmentos, profissionalmente, seria a redenção dessa urbe incrustada em pedras. Senão vejamos: diante de potencial turístico enorme de Grão Mogol e região, intrinsecamente perceptível entre as fraldas da Serra do Espinhaço, Serra Geral chamada; diante da beleza maltratada do Ribeirão (do Céu) do Inferno, balneário inexplorado, que poderia estar sendo utilizado como fonte de renda para várias famílias, tendo em vista o turismo latente; diante das reclamações recorrentes de falta de opções de emprego, os grãomogolenses parecem não enxergar o verdadeiro diamante; diante do costume quase coletivo de todos irem “para a roça” em todo final de semana; diante das histórias de Grão Mogol impregnadas nas pedras e nas paredes do seu casario no Centro Histórico; diante de tudo isso e muito mais, a impressão é a de que os grãomogolenses menosprezam o diamante que têm nas mãos. Importante é pensar grande. A gente é o que é por dentro. O que pensa. Se pensa pequeno, será pequeno. Se grande pensa, cresce. O importante é ser. O ter é consequência. Tanto é verdade que, há mais de dois mil anos Jesus Cristo nos legou a sublime observação: “Não é o que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que sai, porque sai do seu coração”. Se o coração sofre o mal da pequenez, o indivíduo não pensa grande. É fundamental mudar o pensamento. Abrir os olhos para as possibilidades socioeconômicas e políticas. Caso contrário, Grão Mogol estará fadado a um destino injusto e sombrio por apatia e inoperância dos homens e das mulheres que a fizeram. Diante das várias opções oferecidas a partir do turismo devidamente estruturado, com infraestrutura para receber visitantes do Brasil inteiro e estrangeiros com dólares e euros. A única pessoa que encontrei em Grão Mogol atuando numa das várias opções do potencial turístico da cidade e região é o guia Paulo Henrique. Ele, por iniciativa própria, estudou e estuda a história de Grão Mogol enquanto guia os turistas que aqui aportam. E podiam ser muito mais, milhares, toda semana, mas sem infraestrutura para receber visitantes, os que se aventuram a vir correm o risco de morrer de fome porque as portas do comércio se fecham e principalmente as dos restaurantes. “Foram todos para a roça”. O turista para vir a Grão Mogol precisa antes ter assegurado lugar onde possa encontrar refeição. Dezenas de vezes já ouvi de turistas no final de semana as mais lamentáveis observações à falta de uma recepção da cidade ao turista, e mais ainda aos que vêm com disposição de gastar dinheiro e nada encontram para levar de lembrança. A não ser o Presépio Natural Mãos de Deus, nenhum outro lugar de Grão Mogol oferece tratamento de primeira, profissional, como é encontrado nos países de primeiro mundo. Por esses dias, a cidade recebeu seis personalidades importantes que poderão multiplicar (ou não) o nome da cidade como “a bola da vez” na rota do turismo mineiro e nacional. São eles: Mauro Guimarães Werkema, psicólogo, jornalista, administrador de empresa, ex-diretor-presidente da Belotur, em Belo Horizonte, assessor do prefeito Márcio Lacerda; Luiz e Ângela Mitraud, ele consultor e ex-secretário de Estado de Fazenda, e ela funcionária da Receita Federal, aposentada; Alencar Peixoto e Beth Pimenta, ele médico mastologista em Belo Horizonte e ela empresária, ex-proprietária da marca de perfume Água de Cheiro; e Ângela de Alvarenga Batista Barros, presidente do conselho administrativo da Montreal e presidente da Rede Cidadã. Eles gostaram de tudo. Ou quase tudo. Quem salvou o quesito alimentação foi o atendimento da cozinha e a sobremesa de um restaurante fora da cidade, localizado na margem direita da estrada de Grão Mogol, sentido Montes Claros; e a pizza da Laura. |
Por Alberto Sena - 25/4/2016 11:43:55 |
REENCONTRO MAIS DE 60 ANOS DEPOIS Alberto Sena A casa já não existe mais. Ficava na Rua Marechal Deodoro, logo atrás da Praça de Esportes, em Montes Claros. Mas as lembranças permaneceram. Inda bem. E agora são resgatadas a partir do reencontro de dona Catarina Eleutério Maia, ex-vizinha na Rua Marechal Deodoro, seis décadas depois, no Presépio Natural Mãos de Deus. As lembranças permaneceram, mas estão parcialmente cobertas, como se os personagens saíssem de uma névoa tênue. No lugar da casa há hoje uma oficina mecânica. Seria capaz de percorrer, neste instante, todos os seus cômodos de paredes impregnadas de histórias perdidas por falta de registro. Na frente da casa havia calçada alta, com uma escada para adentrar a porta principal. Havia até uma pilastra de cimento para servir de amarra às alimárias. A casa teria sido sede de uma fazenda. Até mesmo pelo quintal enorme com um pomar de 22 jabuticabeiras, mangueira, goiabeira, laranjeira, mamoeiro e o Ribeirão Vieira correndo límpido ao fundo. Esse mesmo ribeirão transformado em cloaca urbana. Ela, dona Catarina Eleutério Maia, hoje com 75 anos de idade, à época, devia estar com seus oito anos de idade. E Beto, como era chamado, vivia, os seus primeiros anos de vida. “Já peguei você nos braços”, ela revelou. Essa revelação foi uma surpresa. E como coincidência não existe, a interpretação mais plausível sobre esse encontro inesperado com dona Catarina ainda está por concluir. Éramos vizinhos de quintal separado por um muro. Ela era cunhada de dona América Eleutério, casada com um irmão dela. O marido de dona América era Afrânio. Dona América e o senhor Afrânio tiveram filhos e um deles, Amílcar, foi amigo de infância. O outro amigo do menino era Flávio, filho de dona “Negrinha”. Dona “Negrinha” aplicava injeção na bunda do menino quando acontecia de ficar doente. Era enfermeira. Parteira. Para deixar dona “Negrinha” aplicar-lhe injeção, o menino recebia CR$ 1,00, por vez. Era para não espernear nem chorar. Dona América veio do Sul de Minas, cidade de Bom Despacho e se radicou em Montes Claros, onde tornou-se pessoa querida e influente. Ela não mais está no meio de nós faz mais de dez anos, como informa dona Catarina, com quem Beto se encontrou por esses dias, no Presépio Natural Mãos de Deus, em Grão Mogol. Naquela época, as crianças nem precisavam sair de casa para se divertir. Viviam o tempo dos quintais. Tinha tudo neles. Tinha a magia das manhãs. Tinha os passarinhos se esgoelando no canto. Tinha as mangueiras, as jabuticabeiras, as laranjeiras. E coelhos. Sim, muitos. Numa ocasião, o menino correu atrás de um e o pegou com as próprias mãos. Foi assim, mãe lavava roupa no tanque do quintal distante um pouco da casa. De repente, ela ouviu algo se mexer numa moita próxima. Mãe percebeu logo: “Tem um coelho aqui, corre”. E o menino correu. Abriu os braços diante do arbusto e o coelho, esperto como ele só, fugiu. Corre daqui, corre dali, Beto cercou o coelho no canto de um muro. Ele olhava o coelho nos olhos e o coelho o olhava nos olhos também esperando um momento propício para dar pinote. Mas dessa vez o menino foi mais esperto e o coelho foi exibido à mãe como um troféu. “É meu”. A conselho da mãe, o menino pôs o coelho dentro de um caixote e o fechou com tiras de madeira. No final do dia, ele quis pôr o caixote com o coelho dentro de casa, mas a mãe achou melhor que ficasse do lado de fora. No dia seguinte, o menino encontrou só alguns pedaços do pelo do coelho e manchas de sangue nas tiras de madeira do caixote. Dona Catarina se recorda muito bem de que naquela época Montes Claros era uma cidade tranquila, como Grão Mogol ainda é hoje em dia. “A vida aqui, em Montes Claros, está difícil e perigosa”, ela disse pelo celular em conversa neste domingo. Dona Catarina tinha acabado de chegar da roça onde o rigor da seca maltrata a fazenda Canoas. Ela tem saudade da Montes Claros pacata, de quando não havia insegurança pública para infernizar a vida. P.S.: Essas lembranças emergiram a partir do encontro com dona Catarina Eleutério Maia, mais de seis décadas depois, no presépio de Grão Mogol, o maior do mundo. |
Por Alberto Sena - 18/4/2016 08:14:57 |
CASA DE HAROLDO LÍVIO EM REFORMA Alberto Sena Maria do Carmo Santos Oliveira, viúva do escritor, cronista e historiador, Haroldo Lívio de Oliveira, falecido em janeiro de 2015, já faz alguns dias encontra-se em Grão Mogol cuidando da reforma da casa deixada por ele, na Rua Luiz Gonçalves, 74, no Centro Histórico. Soube disso porque moro na mesma rua, algumas casas adiante, e vi a movimentação de pedreiros e pintores. Por esses dias coincidiu de estar passando na porta no momento em que Maria do Carmo chegava da rua. Ela mostrou-me a casa toda por dentro. Nunca havia entrado lá e confesso, tinha curiosidade em saber como é o interior da casa. Vendo a fachada imaginava lá dentro. Nada sei sobre a história da casa. Pode ter sido sede de uma fazenda. A partir do seu estilo percebe-se ser antiga. No mínimo “uns 200 anos”, diz Maria do Carmo. Uma casa com tanta história leva a gente a pensar na Grão Mogol de 200 anos atrás. O movimento da cidade devia ser superior ao de hoje devido à corrida ao diamante. Homens, principalmente, todos garimpeiros indo e vindo, estrangeiros de várias partes chegando ávidos por fazer fortuna. A Pedra Rica, a primeira ocorrência no mundo de diamantes incrustados foi chamariz. A casa é de pedras, como de pedras são diversas casas de Grão Mogol. Umas estão com as pedras à mostra e noutras as pedras estão escondidas por argamassa de reboco. A casa onde Haroldo Lívio viveu dias memoráveis como cidadão honorário grãomogolense guarda histórias impregnadas nas paredes, no telhado e no chão que Maria do Carmo e as filhas, Fabíola Belkis, Luciana e Clarissa Mônica agora têm a missão de levar adiante. Esta é a primeira reforma da casa desde que Haroldo a comprou. “Ele nunca tinha tempo de reformar”, disse ela. Como se trata de um patrimônio historicamente importante e é um bem estimativo, Maria do Carmo se armou de coragem e veio a Grão Mogol com a disposição de só ir embora depois de a reforma acabada. Com a autoridade de quem sabe o que quer fazer ali na casa, ela contratou o mestre de obras Carlito Gomes. Ele assumiu a empreitada e aos poucos a casa foi ganhando feições renovadas, a começar da fachada, pintada de branco com janelas azuis, o que ficou melhor. Toda a fiação elétrica sob risco de um curto-circuito, foi substituída. O muro da frente da casa foi substituído. Ganhou portão para entrada de carros no pátio onde estão pés de manga ubá e espada, além do jardim. Nele estão sendo afixadas lanternas para realçar o aspecto noturno coerente com a aura de Grão Mogol, uma das mais impressionantes cidades históricas mineiras. Ao contrário das paredes de casas construídas atualmente, estreitas e de tijolos furados, as paredes levantadas antigamente são largas, seja em casas de pedras, de adobe ou de enchimento. As paredes da casa da família de Haroldo têm meio metro de largura. Com o seu toque feminino, Maria do Carmo refez o muro de pedras nos fundos da casa até meia altura e nele instalou uma cerca de arame farpado, para preservar a visão exterior. A casa dá fundos para o Ribeirão (do Céu) do Inferno. Os móveis são antigos, compatíveis com o seu interior. “Acontece de recebermos 20 pessoas duma vez”, conta Maria do Carmo. O mais incrível é que todos ficam bem acomodados. Na cozinha, as enormes panelas confirmam a hospitalidade dela. Têm poder para alimentar um batalhão. Maria do Carmo procede como se estivesse contando com a aprovação de Haroldo. Teve um momento, antes de convidar para tomar café com bolos, queijos e outras guloseimas, que ela perguntou: “Você acha que o Haroldo aprova isto”? “Sem dúvida alguma”, respondi. E emendei: “Essa reforma significa que vai se mudar para Grão Mogol”? Ela disse que não, mas “virei com mais frequência”. Acredito, quem parte não leva memória alguma da vida terrena, mas na hipótese de haver alguma possibilidade, a essa altura Haroldo sorri de satisfação pela maneira como Maria do Carmo conduz o processo de fazimento da reforma, como uma arquiteta em plena atividade. |
Por Alberto Sena - 14/3/2016 09:10:54 |
ENCONTRO COM BONGA, 4 DÉCADAS DEPOIS Alberto Sena Vi a silhueta de um homem alto através da porta de vidro. Vi também quando ele bateu na porta com os nós dos dedos. Mais próxima, Sílvia foi atendê-lo. Ouvi-o falar o meu nome. Pelo tom de voz não consegui identificar quem seria ele. Por minha cabeça não passou o nome de ninguém da convivência no dia a dia. Era o Bonga, epíteto de João Bispo. Reconheci-o logo no primeiro instante. Havíamos acabado de chegar duma subida à Serra do Espinhaço, de modo que ele me encontrou de short como costumo ficar em casa para aliviar do calorão. Eu não via o Bonga fazia umas quatro décadas. Ele era o técnico do juvenil do Cassimiro de Abreu, no bairro Todos os Santos, década de 60. Com ele atuei nos áureos tempos do futebol montesclarino. Pelo jeito, Bonga continua o mesmo Bonga de sempre, fisicamente. Com algumas marcas decorrentes do tempo, sujeito ao qual todos estamos, mas o mesmo homem de aparência séria, compenetrado naquilo que fazia e ainda faz. Brincava quando o momento era de brincadeira, mas quando era para valer, brincadeira ficava de lado. Ele se ocupava tanto com os seus pupilos que baixou logo uma portaria verbal que, evidentemente, era desobedecida às escondidas: “No meu time ninguém fuma”. Imagina uma proibição desta numa época em que era considerado chique sair cuspindo fumaça como cano de descarga de carro. Quando via alguém fumando, ele tomava o cigarro e o maço. Era desse jeito. Em compensação, o juvenil do Cassimiro de Abreu formado por ele ficou invicto dezenas de partidas. Fomos bicampeões em Montes Claros em cima do rival Ateneu. Ostentamos faixas e tudo mais. Bonga tratava o time como se fosse profissional. Não faltava nada. O time revelou craques como Duílio, Zoca, Adilson, Carlinhos, Helton, entre outros. Duas torsões de tornozelo seguidas me fizeram abandonar a carreira de ponta direita, quando em alta velocidade ia até a linha de fundo e servia os companheiros de ataque. Bonga demonstrou possuir boa memória, recordou-se do apelido que me dera: “Invisível”, por causa das minhas carreiras pela ponta direita. Disse-me ele ter guardado os registros das partidas, dia, hora, resultado, os gols marcados e os autores. Certamente, ele guardou também fotos e será interessante poder um dia reencontrá-lo em Montes Claros para rever os registros da época, boa época, quando a cidade era tranquila, mas prenunciava o que seria décadas depois. Bonga veio a Grão Mogol com a família – Francimeire Araújo Bispo, a esposa; Franciele Araújo Bispo, a filha; e o amigo Edson Luiz, Lula chamado – convidados para o casamento de Maria Fernanda, filha de Élcio Paulino. O carro que o levaria de volta a Montes Claros estava na porta com o motor ligado. Portanto, não houve tempo para mais conversas além da troca de número de telefone. Apenas disse ele que trabalha no mesmo ramo de conserto de motores. Na época em tela a oficina dele era um ponto de encontro dos jovens aficionados do futebol. O mesmo acontecia na sapataria de Tião Boi, que era técnico de futebol de salão, hoje futsal chamado. Além de consertar motores, o Bonga trabalha com os irmãos Maristas, no Colégio São José. Se a memória do Bonga é boa, a minha é ótima. Recordo-me como se tudo estivesse acontecendo agora o dia em que fomos de ônibus ao Rio de Janeiro para enfrentar o juvenil do Botafogo, em General Severiano. Foi uma viagem e tanto. Resultado, perdemos a invencibilidade, 4 a 1. Bonga chamou o mesmo time do Botafogo a Montes Claros e no Estádio João Rebello nós empatamos em zero a zero. O mais importante é que o nosso goleiro, Duílio, agarrou dois pênaltis. O Botafogo levou Duílio, que, segundo soube, atuou também pelo Flamengo e nunca mais ouvi falar dele. Bonga se despediu. Antes, porém, pelo celular, Sílvia sacou fotos. Depois, ele desceu os 22 degraus da nossa escada como se ainda fosse o goleiro do time titular do Cassimiro de Abreu, juntamente a seu irmão, Bispo, zagueiro, com a mesma postura ereta dos tempos do “campo do União”, década de 50, e de “Todos os Santos”, década de 60. P.S.: O “campo do União” ficava em frente a nossa casa, na Rua Corrêa Machado, 238, e ia até os fundos da casa de Bonga, na Rua João Pinheiro. Era um lugar mágico. A vida seguia lenta, pachorrenta. |
Por Alberto Sena - 22/2/2016 08:20:45 |
O FUTURO MUDOU QUASE TUDO Alberto Sena Informa a nota: “Vendido o lote do tradicional restaurante Skema, no Bairro Todos os Santos, ao lado do Orfanato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. No local, agora ou mais adiante, será construído um prédio”. A notícia me remeteu, num átimo, aos novos tempos da adolescência, em Montes Claros, década de 60, quando próximo dali surgia o campo do Cassimiro de Abreu, onde por algum tempo atuei como ponta direita do chamado “Time de Bonga”. Vezes incontáveis transitamos por ali. O pensamento perpassava o interior daquele prédio do orfanato e ficava imaginando o que se dava ali dentro onde centenas de meninos e meninas despossuídos de pais viviam. Na Montes Claros da época não havia a Avenida Sanitária. Uma ponte sobre o Ribeirão Vieira gasta pelo uso e tempo fazia a ligação com o Bairro Todos os Santos. Ali morou por mais de quatro décadas o meu irmão Waldyr Senna. O Ribeirão Vieira corria com mais velocidade e menos poluição, para não dizer que é cloaca a céu aberto. Ali ainda era um lugar onde adolescentes da época, estilingue pendurado no pescoço, encontravam mato e rolinha para caçar. Mas o futuro, hoje presente, era uma certeza. Um dia chegaria. Chegou. E quase tudo mudou. Vieram os prédios de apartamentos, vieram os muros altos, as cercas elétricas também vieram. Só não contávamos, lá atrás, com toda essa parafernália de segurança, quando o jornalista Fialho Pacheco fez a previsão. Ou a cidade se livrava das amarras para cumprir com a sua vocação de metrópole, ou implodiria, previu ele, em finais da década de 60, das vezes em que esteve em Montes Claros na condição de repórter do jornal Estado de Minas, e conversávamos em frente ao “O Jornal de Montes Claros” extinto, na Rua Doutor Santos, 103, Centro, onde é hoje uma agência bancária. O atual vaivém de carros em meio às motocicletas comparáveis a mosquitinhos, e gente, muita gente a trombar umas nas outras sobre as calçadas curtas onde os pedestres fazem verdadeira ginástica para não serem apanhados por um veículo qualquer, desembestado, esse movimento era previsto. A diferença é a de que na época havia mais bicicletas do que motocicletas. Hoje é o contrário. Motocicletas e carros predominam. Tudo se resume numa palavra: sina. Esta era e é a sina de Montes Claros que se foi crescendo intempestivamente ao ponto de se tornar uma cidade – para mim é difícil dizer isto – inóspita, como inóspita Belo Horizonte se tornou. Uma é onde nasci e vivi 22 anos. A outra me acolheu durante 43 anos. Amo as duas cidades, mas de longe. Para morar, não mais. Não se depender da minha própria iniciativa, mas ninguém pode afirmar, com certeza, nada sobre o dia de amanhã. Vezes sem conta atravessava aquela ponte e isso faz tanto tempo que a ponte nem deve existir mais. E tanto tempo sem retornar ao bairro a essa altura da corrida temporal, o Bairro Todos os Santos deve estar todinho tomado. Sem sequer um palmo desocupado. Mais um prédio vai surgir. A exploração imobiliária é implacável. É ela uma das responsáveis pela extinção da memória do patrimônio público. Uma cidade sem memória é como alguém acometido de Alzheimer. Isso tudo não quer dizer saudosismo. Não. Quer dizer consciência da necessidade de preservar a memória coletiva. Com algumas raras exceções, Montes Claros não se ocupou com a preservação da sua memória, do seu patrimônio histórico, senão a Rua Doutor Santos – e outros lugares – não teria sido modificada a tal ponto de não ser reconhecida por montesclarinos ausentes da cidade a partir do Anos 70. E como Montes Claros possui história, que se vai perdendo na voragem do tempo. N’algum momento alguém haverá de recolher retalhos dos feitos de antepassados e a história da nossa época, daqui a meio século, quando os que vierem depois chamarem esse nosso tempo de passado. |
Por Alberto Sena - 25/1/2016 11:26:25 |
Um cometa passou por aqui Alberto Sena Ele estava durango kid. Telefonou-me dizendo se eu conhecia alguma pensão próxima da Santa Casa de Belo Horizonte. Precisava fazer exames pra massagear o marca-passo do coração. Havia a possibilidade de ter de trocá-lo. E de certo modo, ele parecia tenso. E não era para menos, mesmo em se tratando de uma pessoa experiente em matéria de vencer dificuldades. Entendi tudo isso como sendo uma maneira matreira da parte dele de se convidar pra ficar lá em casa. Só que não estávamos preparados para receber hóspede algum a começar do fato de não haver quarto disponível. Pensei rapidamente nas opções de improvisar alguma coisa e disse a ele. Expliquei e ele entendeu se sujeitando a passar mal lá em casa. Tive que arranjar um colchão e o estendi no terceiro quarto que faço de escritório. Reposicionei o sofá empurrando-o para o outro lado e mesmo que mal servido, ele disse estar bem acomodado. Não sei se ele pegou ônibus lotação para chegar lá em casa ou se veio da Rodoviária a pé. Pelo jeito, suado como estava, meio ofegante, deve ter vindo a pé para economizar a passagem. Parecia esfomeado. A hora do almoço já havia passado e as louças já estavam na geladeira. Ele disse que não precisava esquentar nada. Tinha o costume de comer comida gelada. “Comigo não tem esse negócio, não”, disse. Eu fiz de conta que não ouvi e o pedi pra esperar um pouco e esquentei toda a comida. Ele se serviu e comeu feito um frade ou um mago? Satisfeito, foi ao escritório dar uma vasculhada nos livros hibernados na estante. Gostou do que viu. Folheou alguns clássicos da literatura e, enfim, pegou um livro de Guimarães Rosa, Sagarana, se não me engano e pediu licença pra ler. Leu enquanto eu trabalhava. Sílvia não estava em casa. Quando ela chegou, ao final da tarde, preparou um farto café e mais tarde um jantar com caldos, de modo que ele, com o jeito característico, por todos conhecidos, filosofou com pôde. Debulhou o esoterismo e até mesmo desceu aos tempos em que os ditos bruxos foram executados em nome da inquisição, na Idade Média. Falou das décadas passadas quando se embrenhava pelo sertão vivendo todas as dificuldades possíveis e correndo todos os riscos trabalhou pelas bandas do Piauí em lugares sem lei. Aliás, lei havia, a do mais forte. Sobrevivera, claro. E a prova disso era o fato de estar ali à mesa conosco. A conversa se estendeu até mais tarde e já com sono, ele e nós fomos dormir. Durante à noite percebi que ele foi ao banheiro e se levantou cedo. Encontrei-o sentado no sofá lendo um livro. Conversamos sobre literatura. Ele falou dos planos de publicar uns livros. Ainda disse a ele que o estilo dele estava mais para Gabriel Garcia Marques e pareceu ter ficado lisonjeado. O texto dele tem sustança. É como uma iguaria condimentada. Ele sabe ser incisivo quando assim é necessário. Tem humor. Pra dizer a verdade, o texto dele tem todos os ingredientes necessários para pescar o leitor desde a primeira frase. Sílvia o levou de carro ao Hospital das Clínicas. Perguntou se queria que ela o esperasse. Ele disse que não precisava e só retornou lá em casa pra buscar os pertences. Recusou carona até a Rodoviária, optando por ir de lotação porque ainda estava cedo para tomar o ônibus de volta para Montes Claros. Depois desse dia encontrei-o outras vezes em Belo Horizonte e em Montes Claros. Juntamente a outros companheiros, participamos do livro “Os filhos do dragão cospem fogo”. Era irrequieto. Parecia ter necessidade de estar sempre fazendo alguma coisa. Parecia ter pressa. Sabia que as extravagâncias feitas na juventude e no período vivido no Nordeste lhes deixaram uma marca indelével: marca-passo no coração. Intelectual, ele tinha o dom de conquistar as pessoas com a sua cultura e maneira fácil de lidar com os semelhantes. Tinha mente religiosa. Sabia retirar da Bíblia Sagrada e de outros livros os ensinamentos que mais tarde poderiam lhe valer mais uma crônica para satisfação dos seus seguidores, desde os frequentadores do Café Galo ao leitor que se encontra no mais recôndito do sertão norte-mineiro. Ele foi um cometa. Passou no meio de nós. O cometa se foi, mas deixou rastro de luz para iluminar pessoas de boa vontade. |
Por Alberto Sena - 12/1/2016 09:06:35 |
VAMOS PESCAR NO RIO VERDE GRANDE Alberto Sena Tinha de dormir cedo para acordar no dia seguinte cedinho porque íamos pescar no Rio Verde Grande, a poucos quilômetros do centro de Montes Claros. Se não me engano, o nome dele era Dezinho, melhor, o apelido. O nome dele mesmo nunca soube. E não será agora que me vou recordar se acaso tivesse ouvido falar na época, pois se muito o menino devia ter uns cinco anos de idade. Dezinho era namorado de Rosa. Rosa era amiga de Ladinha, Geralda Batista chamada, minha irmã da primeira leva de três, nesta ordem: Terezinha, epíteto Tê, a primeira; Elza e Ladinha. As três estão hoje com mais de 80 anos. Mas naquela época, Ladinha ainda era uma moça vistosa, amiga inseparável de Rosa. O menino não passava de “uma companhia”, senão “uma vela”, pra ninguém dizer que estavam sozinhas com Dezinho. Ele era “chofer de praça”, possuía um automóvel tipo sedã preta bem lustrada. O ponto de “carro de praça” era ali na Praça Doutor Carlos, debaixo duma latada de, se não me engano, bougainville. Há duas espécies, uma que se alastra como chuchu em cerca e outra que vira árvore. O bougainville da Praça Doutor Carlos alastrava sobre armação de madeira elevada por pilastras. A praça era linda, naquela época. E nossa. Hoje em dia tenho dúvidas de quem a praça é. Naquela época, depois de sair de Montes Claros pelo Alto São João, além da linha férrea próxima ao Parque de Exposições João Alencar Athayde, nada mais havia a não ser o aeroporto com uma pista pequena donde dava pra descer avião teco-teco. Recordo-me até de um camarada aviador namorado de uma moça perto de casa. Toda vez que ele ia a Montes Claros ficava fazendo gracinhas pra namorada, mergulhando de avião próximo ao teto da casa dela. O menino via a hora de o avião cair. A estrada até o Rio Verde Grande tinha cascalho e poeira. Era gostoso ver a paisagem passar – e passava rápido. Ficava em dúvida às vezes, se era a paisagem passando ou éramos nós dentro do carro chique de Dezinho. O rio era de fato grande. E caudaloso, pelo menos aos olhos do menino, que desde então apreciava o canto dos passarinhos e o prazer da contemplação. No rio já estavam outras pessoas, amigos e amigas de Dezinho, de Rosa e de Ladinha. Os homens saíam armados de vara de pescar. Demoravam um tampão pescando e voltavam com dourados dos grandes, traíras e surubins. Era um rio piscoso. Eu disse “era” porque hoje em dia o Verde Grande já não faz jus ao nome. Deixou de ser verde pra assumir outra cor; grande não é mais, e muito menos piscoso. Depois de outras idas e vindas ao rio, o menino virou adulto e nunca mais retornou lá a não ser em 1988, quando repórter de jornal, em Belo Horizonte soube que o rio “cortou poço” pela primeira vez devido à ganância de um empresário. Ele fizera três projetos agrícolas – dois de agricultura (algodão e feijão) e um de pecuária de corte. E tomando como exemplo o que vira na Califórnia, instalou 11 pivôs centrais de 500m de raio em seus projetos todos às margens do rio. Resultado, quando ele ligava os pivôs chupavam toda a água. Abaixo dele ninguém mais recebia uma gota. Nessa viagem a Jaíba, o fotógrafo Eugênio Pacceli foi comigo. Fizemos reportagens denunciando o ato megalomaníaco do empresário. A manchete dada pelo então editor, Mauro Werkema, foi: “Roubo do Rio Verde Grande Revolta a Jaíba” (Reportagem premiada pela Fenaj – Federação Nacional dos Jornalistas). O empresário ficou pê da vida porque passou a ser chamado de “ladrão de rio”. No dia seguinte à publicação da reportagem, o rio voltou a correr normalmente e com o passar do tempo, o empresário percebeu a burrada feita, pois o Verde Grande não tinha vazão para alimentar 11 pivôs como ele vira na Califórnia onde os rios são alimentados pelo derretimento de geleiras. No final das contas, ele quebrou. E ajudou a quebrar a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) que financiou os três projetos. A essa altura da vida, ficaram nítidas na memória as imagens de Dezinho e dos amigos dele com dourados e surubins, em pescaria exitosa, e o rio seco devido à ganância de um empresário igual a muitos responsáveis diretos hoje pelo estrago ambiental prestes a comprometer a vida aqui e no planeta. |
Por Alberto Sena - 28/12/2015 09:24:04 |
Montes Claros vítima de si mesma Alberto Sena Ano passado tive de fazer a mesma coisa, fui a Montes Claros atender a exigência do INSS “para fazer prova de vida”. Dizer que estou vivinho da Sílvia. A não realização do procedimento “acarretará na suspensão do crédito do benefício”, advertia. Um ano já se passou e continuo não entendendo por que Grão Mogol não tem agência da Caixa Econômica Federal (CEF). Grão Mogol é município muito mais velho do que a maioria dos que o cercam e, no entanto, é relegado como se uma agência lotérica fosse suficiente para resolver as questões bancárias. Não, não é suficiente, tanto não o é que tive de me arrancar daqui “para fazer prova de vida” numa agência bancária de Montes Claros. Em Montes Claros, logo cedo, fui à CEF na Rua Dr. Santos, lá aonde décadas atrás havia uma casa em estilo colonial, sede do extinto “O Jornal de Montes Claros”. Precisava me informar sobre o horário de abertura da agência. Eram 8h e já havia fila na porta. Informaram-me que o banco abriria as portas às 11h. Achei que era como em Belo Horizonte, onde os bancos abrem as portas aos clientes às 10h. Resultado, eu tive que ficar perambulando pelas ruas àquela hora ainda calmas. Voltei à agência pouco depois das 9h e encontrei uma fila enorme e nela entrei até que fui informado de que “para prova de vida o atendimento é às 10h”. Entrei na agência e fiquei na fila própria dos “prioritários”. Enquanto aguardava a recomendação de ir ao andar de cima, fiquei imaginando ali dentro onde ficava a redação do JMC daquela época, final da década de 60, início da de 70. Vi a sala de Oswaldo Antunes, de Waldyr Senna e Lazinho Pimenta na redação catando teclas. Pude tornar a ver a oficina com o Tião Camurça no comando da impressora. Ali em pé, vendo o vaivém de gente, foi como um exercício de regressão. Por algum tempo, nem sei precisar, me vi ali na porta da casa velha de propriedade do empresário, poeta/escritor Luiz de Paula Ferreira. Vi-me à entrada da casa em conversas com Demerval, Baiano chamado; Rui e Toninho Barbosa, filhos do advogado Orestes Barbosa, ao mesmo tempo em que observava o movimento da rua de então. Naquela época, a Rua Doutor Santos era uma passarela de moças bonitas. Aliás, Montes Claros sempre foi lugar de mulher bonita. Essa fama corre o Brasil. Ao contrário de hoje, naquela época os carros desciam a rua. O trânsito de veículos era pequeno e não havia os ônibus lotação. Potencialmente, sabia-se que a cidade iria “explodir”, mas ainda oferecia boa qualidade de vida. Ao deixar a agência bancária dei de cara com a realidade nua e crua. Posso resumir numa palavra o que vi e ouvi: loucura. Há muito não ouvia tanto barulho. Era o motor do carro-forte estacionado à porta da agência; era a disputa de som entre uma casa comercial e outra próxima; era o som do vendedor de DVD pirata; era o ciclista levando uma caixa de som estridente com propaganda (ridículo isso, só aumenta a poluição sonora); eram os palhaços contratados por uma operadora de celular gritando, distribuindo panfletos logo jogados no chão. Uma loucura, eu repito. Fiquei com vontade de sair correndo para longe dali. Toda essa barulheira somada ao vaivém de transeuntes disputando espaço com carros, ônibus, motocicletas e bicicletas. Foi à própria constatação do que fora previsto décadas atrás sobre o futuro de Montes Claros. A diferença é a de que, naquela época, ninguém podia imaginar a possibilidade de a cidade tornar-se inviável. Para fugir do hospício, quer dizer, da barulheira dali da porta da agência bancária, onde esperava condução, desci a Rua Dr. Santos e passei pela Praça Dr. Carlos. Que decepção! E pensar que foi uma das praças mais bonitas de Montes Claros. Fiquei devera contristado. Mas mais ainda fiquei ao chegar à Praça Dr. Chaves, chamada também Praça da Matriz. Transmudada para pior, fonte seca, mal cuidada. Nem parecia a praça daqueles bons tempos da Escola Normal Professor Plínio Ribeiro, no sobrado onde é hoje o Museu Regional do Norte de Minas. Em determinados pontos da cidade o trânsito se parece com o de certos lugares da Índia vistos em vídeo circulante na internet. A essa altura, é de duvidar da eficácia de um plano diretor anunciado pela administração atual. Será que vai conseguir pôr termo à desumanização da cidade? Montes Claros perdeu o time. É vítima de si mesma, isto é, de seguidas administrações malfadadas. |
Por Alberto Sena - 18/12/2015 16:24:22 |
Tesouro no chão da Praça Janjão Alberto Sena Hoje de manhã, quando ia ao Rodomercado – a feira lá ficou melhor do que na Praça Beira-Rio, mas precisa de uma disciplina, nada no chão, tudo em bancas – e na altura da Praça Coronel Janjão, eu encontrei no chão um tesouro. Toda pessoa gostaria de encontrar esse tesouro porque é muito mais precioso do que o brilho do diamante. Brilha mais do que ouro exposto ao Sol. Não me é possível avaliar o valor desse tesouro encontrado no chão porque não se trata de um bem material, mas espiritual. Algo que faz despertar quem às vezes necessita ouvir uma palavra para abrir os olhos espirituais e se transformar para mudar o curso da própria vida. E do mundo. Encontrei um envelope bem lacrado com cola, sem destinatário nem remetente. Nada escrito no frontispício nem do outro lado. Primeiro olhei quem pudesse tê-lo perdido. Não vi ninguém por perto com cara de quem perdeu um envelope. Certamente, quem o deixou cair ia ao correio ou pode tê-lo recebido de alguém, em mãos, por isso nada nele havia sido escrito. Apalpei o envelope e pelo tato percebi haver dentro dele papel dobrado, como se dobra o papel de carta. Sem saber a quem entregar o envelope, fiquei diante de duas opções. Uma largá-lo no chão para quem o deixou cair encontrar. Outra era abrir o envelope. Tendo que escolher entre uma coisa e outra, optei por abrir o envelope. Dentro dele havia um manuscrito datado de 30 de outubro de 2005 – às 12h. O papel já estava amarelado pelo tempo. Cinco anos e quase dois meses. Logo de cara identifiquei o manuscrito como uma oração escrita por alguém como um verdadeiro desabafo. A caligrafia era de quem nunca havia treinado naqueles cadernos de desenhar letra, senão seria mais fácil de ler o manuscrito. E por ser eu um reles mensageiro, comparável a um cano de PVC (o importante é a qualidade da água que jorra do cano) me senti na obrigação de transmitir o conteúdo do texto, que, se abrir os olhos de uma só pessoa e aliviar o coração de alguém, já terá sido importante tê-lo publicado. Por minha conta e risco, resolvi dar um título à oração encontrada no envelope: O TESOURO “Senhor Deus do Universo, criador do céu e da Terra e de tudo existente neles, escutai a minha prece: não me abandone Senhor. Dá-me uma maneira honesta de ganhar o meu sustento, para que eu possa assegurar a minha sobrevivência até o final da existência e também assegurar a sobrevivência dos meus. Peço nem mais nem menos, meu Deus. Peço o equilíbrio financeiro, para que eu possa ficar livre das preocupações materiais e entregar a minha vida ao próximo, principalmente aos mais necessitados. Tome conta de mim Senhor, por inteiro, espiritual, mental e materialmente. Faça em mim a sua vontade. Abuse de mim. O Senhor que cuida de mim desde o meu nascimento não irá me ouvir, agora, que, eu creio, me sinto mais próximo Dele? A minha confiança está no nome do Senhor, que fez o céu e a Terra. Como a corsa suspira em busca de água, aqui estou suspirando pelo Senhor para que me livre, a mim e os meus, dos infortúnios. Amém”. Se me permitem dizer, essa oração encontrada nas circunstâncias relatadas me recordou algo saído de livros do escritor alemão, Herman Hesse, Prêmio Nobel de Literatura, autor de O Lobo da Estepe, Sidarta, Demian e outros livros de ótima leitura principalmente para os jovens. E por falar em jovens, Herman Hesse é considerado o pai do movimento hippie, dentro do espírito “paz e amor”. Paz e amor deveriam ser os presentes mais cobiçados neste Natal de Jesus Cristo. Se quem estiver lendo este texto ao final parar alguns minutos a fim de fazer uma reflexão sobre si mesmo e a qualidade dos seus pensamentos, e também sobre o crucial momento vivido pela Humanidade, no planeta em processo de desconstruindo, será possível, então, encontrarmos maneira de construirmos um mundo melhor para os nossos filhos, netos, bisnetos etc. “Paz e amor” não surgirão só porque nós os queremos. Como num passe de mágica. “Paz e amor” precisam ser buscados e praticados concomitantemente numa relação recíproca, como numa via de tráfego de duas mãos, uma vai e outra vem. Amemos de verdade. Com sinceramente, e seremos amados. Mas um não deve ficar esperando o outro tomar a iniciativa de amar. Tome a iniciativa. Ame. E então estaremos participando da transmutação do mundo. Para melhor. Seguramente, bem melhor. |
Por Alberto Sena - 14/12/2015 08:17:59 |
GRÃO MOGOL “PEQUISOLOGIA”; SURGE ESPECIALIDADE NOVA Alberto Sena “Pequisologia” é a especialidade de quem se forma “pequisólogo”. Todos nós podemos nos tonar “pequisólogo”. Quem não conhece essa especialidade nova pergunta e respondo alto e em tom bom: pra ser “pequisólogo” o camarada deve saber tudo sobre pequi, o alimento mais rico em vitaminas (em 100 gr de polpa possui 200 mil Unidades Internacionais (UI) de vitamina ‘A’), vitaminas do complexo B, gorduras e sais minerais. O primeiro passo dado por quem se interessar a registrar no currículo mais essa especialidade, é gostar de pequi, condição “sine qua non”. Devemos partir deste princípio, ninguém se dispõe de boa vontade a se especializar naquilo que não gosta. E se por acaso alguém se sujeitar a ser “pequisólogo” sem gostar de pequi, será semelhante àquele obrigado pelos pais a se formar em Direito sem ter a menor vocação. Evidentemente, um “pequisólogo” formado contrariado nunca será daqueles de fazer parar o trânsito. Tempos atrás, na safra quase todas as casas de Montes Claros cheiravam a pequi na hora do almoço. Era divertido, e ao mesmo tempo estimulante do apetite. A gente ia passando às portas rumo a casa para almoçar e o cheirinho gostoso de pequi penetrava as narinas e batia no fundo do estômago esfomeado. Voltando à nova especialidade, convém informar, um bom “pequisólogo” não pode ter no currículo o registro do uso de garfo e faca pra comer o primeiro pequi. Quem fez isso jamais será “pequisólogo” daquele de fazer sentir a aproximação do cheiro ao dobrar a esquina. Para tornar-se bom “pequisólogo” é preciso ser, como se diz, “filho do pequi”. Dizem ser o pequi afrodisíaco. Não, não é. Pequi não contém nenhuma substância afrodisíaca. Afirmo baseado no depoimento do médico Hermes de Paula, autoridade no assunto. Ele dizia não haver nada disso. E explicava: o pequi sendo fruto rico alimenta bem o sertanejo. E bem alimentado, ele faz filho um atrás do outro. Na apanha do pequi no sertão acontece também de amigos, vizinhos e outros embrenharem-se mato adentro e daí surgirem namoros, casamentos e nove meses depois os filhos do pequi. Portanto, é fundamental ser filho do pequi. E quem quiser saber se o é basta fazer os cálculos. A safra de pequi começa no final do ano, mês de dezembro. Faça contagem regressiva. Entrego o meu caso como exemplo. Nasci em setembro. Pelas minhas contas, fui concebido em dezembro, safra de pequi. O meu caso com o pequi foi amor à primeira roída. Na safra, em final de semana, lá ia meu pai e eu ao mercado fazer a feira e comprar pequi. Essa época do ano parece ser a mais completa de todas porque é safra não só de pequi, mas de manga e outras frutas de época. Aqui, em Grão Mogol, a gente pode bem verificar isso. E, é claro, aproveito ao máximo, porque comer frutos de época é muito mais saudável. Mas o pequi tem o seu lugar em qualquer circunstância. Com ele não tem meio termo. Ou gosta dele ou não. Quem gosta, ama. Quem não gosta, detesta. Mas é preciso haver compreensão, saber da importância do pequi sob todos os aspectos, não só quanto à questão gastronômica. Pequizeiro não é encontrado em todo o Cerrado, embora seja endêmico do Cerrado. Já foi sacramentado na literatura/poesia/música/repente etc. Merece estar aonde se encontra, nos píncaros da fama. Tornou-se hoje tão famoso que ganhou a 25ª versão da Festa Nacional do Pequi. Do pequi nada se perde. Da castanha branquinha e saborosa se pode fazer uma porção de pratos. Pequi vira licor, doce e não sei mais o quê. Até os espinhos têm serventia para espetar a língua de algum desavisado. Se bem que já inventaram pequi sem espinhos. De tudo isso e algo mais os interessados na nova especialidade – “pequisologia” – devem saber antes de se submeterem ao vestibular. As vagas para o curso novo são pouquíssimas. Podem ser contadas nos dedos de uma das mãos. Só quem tem quatro dedos numa das mãos não poderá fazer inscrição, em qualquer pequizeiro encontrado no sertão. Ser “pequisólogo” depende também do estado de espírito de cada candidato. Quem tiver espírito de porco, não obterá êxito. Pior ainda será se o espírito de porco for de porco-espinho, porque bastam os do pequi. Ora, bolas e bolotas! |
Por Alberto Sena - 9/12/2015 15:13:16 |
GRÃO MOGOL PRESÉPIO MÃOS DE DEUS FAZ 4 ANOS Alberto Sena O Presépio Natural Mãos de Deus, de Grão Mogol, completa hoje, 9 de dezembro, quatro anos. Recordo-me do dia em que o construtor da obra, o empresário Lúcio Bemquerer já radicado na cidade ligou dizendo: - “Vem ver a loucura que estou fazendo aqui”. - “O que você está fazendo?” Ele respondeu: - “Um presépio”. Descreveu as proporções do presépio, realmente “uma loucura”. Lúcida, claro. Vivi em Montes Claros até aos 22 anos e já estava em Beagá fazia uns 40 anos sem conhecer Grão Mogol, embora desde criança ouvisse falar do “lugar infestado do bicho barbeiro” àquela época. Vim ver atendendo ao convite dele. Vi Grão Mogol pela primeira vez, e posso dizer, fiquei porque gostei, senão me apaixonei pela cidade. Foi um caso de “amor à primeira vista”. As obras do presépio já estavam sendo iniciadas quando aqui cheguei. Vi os operários trabalhando com entusiasmo porque iniciavam uma obra perene, abençoada. Imagino hoje o quanto os operários devem se sentir orgulhosos por terem participado da construção do presépio. A obra ocupou seis lotes. E antes mesmo de ser concluída em oito meses e 19 dias, já era considerada “o maior presépio do mundo”. Na relatividade do tempo, até parece foi ontem quando tudo começou. O presépio trouxe a Grão Mogol mais de 60 mil pessoas, gente da região e de todas as partes do Brasil e de diversos países. Recebeu uma carta do Papa Francisco com Bênçãos Apostólicas para quem visitou e para quem visitar a obra, isto é, para sempre enquanto durar a saúde do planeta. Não se tem a menor dúvida de que o presépio marcou uma nova era para Grão Mogol. Tornou-se referência e o principal ponto de turismo religioso. Desperta nos visitantes reações várias de emoção e mesmo de pequenos milagres que Lúcio Bemquerer admite sem admitir atribuindo tudo à fé de cada um. O presépio conta do princípio ao fim a história do nascimento do Menino Jesus, por meio de esculturas em cimento e pedra sabão. São oito as estações. Na primeira delas Maria ouve a notícia de que será mãe do Salvador ao receber a visita do Arcanjo Gabriel postado no alto de uma pedra. Evidentemente, a estação mais expressiva é a Manjedoura com as esculturas de São José, do lado de fora da lapa; Maria e o Menino Jesus, na estrebaria, observado por Rei Mago Gaspar, um boi e um burro a certa distância. Importante é dizer, as pedras enormes da lapa estavam ali há milhares ou milhões de anos à espera da pessoa ungida, predestinada, a fazer dali um presépio inaugurado em 9 de dezembro de 2011. O presépio fez a distância de Belo Horizonte reduzir. De lá veio gente multiplicadora de opinião. E perceptivelmente a obra influi no comércio da cidade porque virou atração. Muitos vêm a Grão Mogol para conhecer o presépio e conhecem a cidade, usufruem das belezas naturais da região, embora o contrário também aconteça de pessoas virem conhecer Grão Mogol e visitam o presépio. É de se esperar que o presépio, com o passar dos anos, tenha movimento semelhante ao da Lapa do Senhor do Bonfim, na Bahia, senão a afluência do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, interior de São Paulo. O importante é que o lugar é santo e a cada dia vem sendo santificado mais. A visitação santifica os lugares santos. Por isso o presépio é hoje o mais importante lugar santo do Norte de Minas. |
Por Alberto Sena - 2/12/2015 11:34:20 |
GRÃO MOGOL AVE, DONA PALMIRA Alberto Sena Admirável a performance de Dona Palmira na solenidade de posse da Academia Feminina de Letras de Montes Claros. Além de possuir memória de aliá, demonstrou vitalidade de “moça nos seus 90 anos”, como disse Ivana Ferrante Rebello, doutora em Literatura, em seu comentário no Facebook. Quanta competência para interpretar poema tão longo. Foram mais de oito minutos. Dona Palmira eu a conheço só de nome. Não tive o privilégio de com ela conviver em nenhum momento. E, confesso, gostaria de conversar com ela, usufruir de sua fala de mãe, de professora, de escritora. Gostaria de um dia ouvir as histórias dela em volta de uma panela de arroz com pequi e carne de sol, se for do agrado dela. Como sertaneja, imagino, ela gosta de pequi, e sabe, em 100 gr da polpa estão concentradas 200 mil Unidade Internacionais (UI) de vitamina ‘A’. Nenhum outro alimento há que contenha tanta vitamina ‘A’, além de outras vitaminas do Complexo B, gorduras e sais minerais. Sei Dona Palmira professora de gerações em Porteirinha, cidade bela do Norte de Minas, donde viera morar em Montes Claros. Mãe do jornalista e escritor Itamaury Teles, que entrou na minha vaga no “O Jornal de Montes Claros”, década de 70. Nunca fui apresentado a ela porque em 1972 deixei a cidade pra viver 43 anos em Belo Horizonte. Nunca vi interpretação tão bonita. De fato recordou-me o tempo de ginásio na Escola Normal Professor Plínio Ribeiro, quando a nossa professora de Português, Dona Yvonne da Silveira declamava “José”, de Carlos Drummond de Andrade, e “Essa Negra Fulô”, de Jorge de Lima. Quanta força na voz e vigor nos gestos de Dona Palmira. Nunca convivi com ela, mas acho, posso fazer a leitura dela como mulher, mãe, professora, amiga dos amigos por meio da interpretação do poema. O poema, eu não consegui ouvir o título nem a autoria. Mas em pauta está não o poema, mas a belíssima interpretação dela. Por meio do vídeo na internet, por mim compartilhado tão maravilhado fiquei com a atuação dela, acho ter vivido um bom tempo e posso dizer, não é comum uma pessoa memorizar um poema desse tamanho. Menos ainda, acredito uma pessoa de 90 anos. Dona Palmira é mulher vivaz. Quem foi aluno dela deve se sentir orgulhoso de ter sido orientado por uma mulher da estatura intelectual dela. Parecia estar em casa – e estava em casa – com segurança e domínio de toda a situação. Praticamente, prescindiu do microfone. Imagino ser ela “mulher de fé” como a minha própria mãe, Elvira de Sena Batista. Aliás, todas as mães se parecem quando chegam a certa idade. Dona Palmira são todas as mães juntas. Aqui, no meu Grão Mogol há quase dois anos, no sossego da caverna ocupada nas dobras da Serra do Espinhaço, eu fico a imaginar Dona Palmira na escola desasnando os alunos. Como pesquisadora, imagino-a vivamente interessada em historiar o passado a fim de preservar a memória. Memória que ela possui suficiente para gravar poemas grandes e pequenos. Fico a imaginar a vitalidade dela em casa, envolvida com os filhos, numa época em que a eclosão do “ouro branco” estava ainda por acontecer – ou já havia acontecido? – em Porteirinha. Imagina você, leitor atento conhecedor dessa mulher, o que são mais de oito minutos numa comparação temporal? Faça o teste. Você vai ficar de olho no relógio acompanhando a passagem de um minuto. Um minuto é às vezes uma eternidade. O mundo poderá ser destruído em um minuto, levando-se em conta a quantidade de armas armazenadas pelo egoísmo e a ganância dos povos. Imagine mais de oito minutos, quantas vezes isso poderia acontecer. Mas Dona Palmira não estava ali pra destruir o mundo. Nada. Muito antes pelo contrário. Ali, ela estava para demonstrar juventude. A sua garra de viver e de construir. Deve ser ela mulher aprendiz de todo dia, embora carregue na cacunda muita experiência. Aprende com os livros e na própria escola da vida. A plateia testemunha da interpretação de Dona Palmira, pelo que o vídeo mostrou, era formada pela nata da intelectualidade monsteclarina. A maioria atenta, não desgrudava os olhos dela e ela, com o vigor de quem é grande, gigante até, embora de baixa estatura, poderia senão igualar, superar o gosto de viver de Dona Yvonne, que ascendeu aos céus aos 100 anos. |
Por Alberto Sena - 17/11/2015 08:12:47 |
GRÃO MOGOL MUNDO DE APARÊNCIAS Alberto Sena Antes, muito antes de ser encontrado no mercado em caixas “tetrapak”, como se dá hoje em dia, podendo durar semanas nas prateleiras dos supermercados, o leite era vendido em latões transportados da roça no lombo de cavalos. O cavaleiro, geralmente um vaqueiro, vendia o leite nas ruas de Montes Claros gritando a plenos pulmões: “Olha o leiiiteirooo...” Ele não tinha buzina de borracha que faz “func func”, como fazem em Grão Mogol os vendedores de pão em cima de motocicletas. Tanto chegava suado o cavaleiro como o cavalo. Cada um cheirava mais do que o outro. Era, em realidade, uma mistura de cheiro de leite derramado e de urina do cavalo. Quando o animal urinava, era um jorro parecido com torneira aberta. Quando não vinha acompanhado da obra do bicho parecida com pelotas de minério de ferro. Os cheiros impregnavam a calça, a camisa, o chapéu e as botinas do vaqueiro. E a partir disso se podia avaliar a higiene na ordenha das vacas. Mas tudo ficava bem com a fervura do leite. Inclusive o risco de ser acometido de aftosa e outras doenças decorrentes. Na época não tinha outra maneira. Era desse jeito. As mães deixavam os afazeres e iam para a porta das casas com o vasilhame a fim de comprar leite do leiteiro. “Olha o leiiiteiiiro...” Esgoelava lá fora. O leite era vendido desse jeitim: depois de receber dinheiro e dar o troco, o vaqueiro de mão suja e suada enfiava no latão uma lata de um litro e despejava no vasilhame trazido pela freguesa. Geralmente eram as mulheres. O importante é que o leite vendido naquela época era verdadeiro, “in natura”. O leite tinha de ser fervido, logo, senão azedava ou “cortava”, diziam. E “cortava” mesmo. Era para ser consumido rápido. A ordenha tinha sido feita de manhã cedo e o produto devia ser vendido logo senão era prejuízo na certa para o pecuarista de leite, muitas vezes chamados “gigolôs de vacas”, sempre que o preço sofria majoração. É por ser produto perecível que a gente deve questionar esse leite vendido em caixas “tetrapak”. Quem dera se naquela época os pecuaristas tivessem facilidade de conservar o leite. Nessa embalagem agora estão nos oferecendo também sucos com gosto da fruta. Um perigo. Por causa disso e de outros fatores conheceremos uma geração de obesos devido ao consumo de produtos com gosto de fruta, mas é veneno a conta gota. Voltando ao leite, com o surgimento do processo de pasteurização, o produto podia ficar na geladeira e durava mais tempo. Mas lá em casa, mãe Elvira não deixava de ferver o leite. Mal sabia ela que, segundo o Maratma Gandhi – revelação feita em sua biografia – “leite de vaca acelera o processo de envelhecimento”. E mais dizia ele: “Leite de vaca é para o bezerro”. Evidentemente, sempre pus mais fé e confiança nas palavras de Gandhi, a “Grande Alma”, do que nas palavras de quem disse um dia numa roda de amigos – e desatei a rir: “Leite de vaca faz crescer cabelos nos ouvidos”. Houve quem passasse bom tempo estudando a possibilidade de leite de vaca fazer crescer cabelos nos ouvidos. Foi quando aqueloutro matutou durante bom tempo sobre essa antes desconhecida propriedade do leite – de fazer crescer cabelos nos ouvidos – que acabou inopinadamente chegando a uma conclusão: “Isso só pode ser conversa de bebum. Uma maneira de fazer como os políticos fazem há décadas, legislar em causa própria pra não beber leite e enfiar a cara só na cachaça”. Não estou aqui contra o consumo de leite. Há um ramo da economia e consumidores dependentes do produto e dos seus derivados. Passei por aqui só mesmo porque vi pela janela um homem montado a cavalo. A figura dele me recordou a dos leiteiros dos anos 50. Quem viveu o período e vivo ainda está poderá fazer as comparações com os dias de hoje. As pessoas tomam leite aguado e sucos só com gosto de fruta. As crianças, em sua maioria, conhecem o ovo, mas não sabem da galinha. Comem a carne de boi, mas nunca viram, ao vivo e em cores, um boi. Nem sabem se ele faz “mooommm” ao mugir. Sinceramente, não gostaria de nascer hoje neste mundo onde quase tudo parece ser, mas não é. |
Por Alberto Sena - 30/10/2015 14:05:08 |
GRÃO MOGOL PRESÉPIO CAUSA EMPOLGAÇÃO EM BH “Foi um encantamento só” o resultado da apresentação do vídeo sobre o Presépio Natural Mãos de Deus, de Grão Mogol, por parte do seu construtor, o empresário Lúcio Bemquerer, para 15 importantes personalidades influentes de diversos segmentos e principalmente do circuito turístico de Minas Gerais a fim de divulgar a obra. A apresentação, no Clan Glass Business Tower Hotel, ao lado da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), empolgou os presentes e despertou neles o interesse de conhecerem a obra. Em novembro próximo, um grupo deles virá a Grão Mogol a fim de conhecer “in loco” a grandiosidade do presépio abençoado pelo Papa Francisco. Beth Pimenta, empresária fundadora da Água de Cheiro e do Hotel Fazenda Capetinga, uma das participantes do encontro disse por meio de telefone celular, diretamente de Belo Horizonte, ter achado o vídeo sobre o presépio “muito bom, todos ficaram encantados com a apresentação e se interessaram em ir a Grão Mogol, a fim de conhecer a obra”. Além dela, também viram a apresentação do vídeo, a ex-deputada Maria Elvira, a deputada Luzia Ferreira (PPS), a escritora Tereza Casasanta, autora, entre outros, do livro “Criança e Literatura”, o presidente do Conselho Administrativo do Minas Tênis Clube, Sérgio Bruno Zech, Gilson Siqueira, da diretoria da ACMinas e a diretora de Promoção Turística da Belotur, Stela de Moura Kleinrath, entre outros. Stela se comprometeu em divulgar, no âmbito da Belotur, um kit sobre o presépio distribuído a cada um dos participantes do encontro. Cada kit é composto do DVD sobre o presépio apresentado na ocasião; uma revista com reportagem bastante ilustrativa sobre a obra; a carta do Papa Francisco, com bênçãos para quem já visitou e para quem ainda visitará a obra; o livro e o CD do poeta e repentista Téo Azevedo, com a história completa do presépio; e vários prospectos comparando o presépio aos pontos de turismo religioso de Fátima (Portugal), Lourdes (França) e Caminho de Santiago de Compostela (Espanha). Foi, segundo Lúcio Bemquerer, um encontro dos mais produtivos, iniciativa que ele pretende abraçar daqui para frente junto a agências e operadoras de turismo, de modo a diminuir a distância entre a capital e Grão Mogol, que além do presépio possui belezas que o Brasil e o mundo precisam conhecer. |
Por Alberto Sena - 26/10/2015 08:19:08 |
MONTES CLAROS DE QUANDO OS CÃES ANDAVAM DEVAGAR Alberto Sena Recordo-me, com frequência, da constatação do meu filho Rahvi, nascido em Belo Horizonte, quando ele tinha uns três anos de idade e o levei de trem de ferro a Montes Claros. De mão dada com ele íamos pela Rua Dr. Veloso rumo ao Centro da cidade. Na confluência com a Rua General Carneiro, próximo ao Asilo São Vicente de Paulo, vinha um cachorro vira-lata e Rahvi chamou-me atenção: “Pai, aqui, até os cachorros andam devagar, não é?” Corria a década de 80. Confesso que nunca havia reparado isso. Até o ano de 1972, quando de mala e cuia deixei Montes Claros para viver 43 anos em Belo Horizonte, nunca havia reparado que na minha cidade “até cachorro” andava devagar, de tão pachorrenta era a vida na época. Claro que quando deixei Montes Claros, Rahvi ainda não existia, pois veio à luz na década de 80. Mas a observação dele foi importante porque de lá para cá pudemos usá-la como termo de comparação para avaliarmos o quanto a cidade cresceu e também o quanto a velocidade desse crescimento aumentou o corre-corre da vida diária. Morando em Belo Horizonte, evidentemente voltei a Montes Claros diversas vezes, mas a maior parte foram visitas, como diria mãe Elvira, “pra buscar fogo”. Com o passar do tempo, a cidade sofreu transformações e muitos nem se deram conta disso. As referências e os amigos se foram, cada um cumprindo o seu destino, de modo que não tinha mesmo como notar esse crescimento assustador, que fez de Montes Claros uma capital crescente tanto horizontal como verticalmente. Constatação ao contrário da que fez Rahvi na década de 80, eu pude fazer noutro dia, já morando em Grão Mogol, ao procurar o endereço de uma agência de publicidade “atrás do Parque Municipal” de Montes Claros. Qual não foi o meu espanto ao constatar que a cidade havia ultrapassado longe os limites do parque? Na década de 70, entre a cidade e o Parque Municipal havia só mato e a Rodoviária que o prefeito Toninho Rebello mandara construir. Não sei se em muito ou pouco tempo, considerando a relatividade temporal, a cidade simplesmente inchou. E se antes “até cachorro anda devagar”, nas últimas décadas os montesclarinos e os cães se deram conta de que era necessário imprimir velocidade senão ficariam pra trás ou seriam atropelados. Os lances de Montes Claros de hoje que vemos na televisão não nos dão a impressão de ser a mesma cidade. Parece mesmo com uma capital com os seus edifícios mirando as nuvens. O calor quase insuportável de antes está devera insuportável hoje porque a cidade virou uma bolha de calor. O calor do Sol é refletido pelo asfalto e pelo concreto armado dos prédios, assim como acontece atualmente com Belo Horizonte. Rahvi é adulto hoje. Casou-se e é pai de uma linda menina de um ano. Ele certamente nem irá se recordar mais da expressão marcante pronunciada quando menino. É possível que, quando a minha neta estiver com três aninhos, e se em vez de mim Rahvi a levar pela mão na mesma confluência de Montes Claros – ruas Dr. Veloso e General Carneiro – e se acontecer de um cão vira-latas surgir de repente, ela, a minha neta, dirá justamente o contrário: “Pai, aqui, até cachorro anda em alta velocidade, não é?” O que as administrações anteriores da cidade deviam ter feito há muito tempo, é um Plano Diretor para pôr ordem na casa, o que só agora vem sendo anunciado pelo prefeito Ruy Muniz. Se bem que o melhor prefeito de Montes Claros, Toninho Rebello tentou fazer um Plano Diretor, mas por motivos que desconheço foi impedido de executar. Pelo que noticia a jornalista Márcia Yellow, da assessoria de comunicação do prefeito, reuniões neste sentido têm sido feitas discutindo, inclusive, como preservar córregos e nascentes. Após essa fase de reuniões técnicas serão realizadas reuniões com a participação popular. Resta saber se, de fato há tempo de resgatar córregos e nascentes neste torrão árido que os ditos entendidos estão augurando um futuro que, particularmente, não gosto nem de pensar. E por falar nisso, aonde foram parar os rios da nossa adolescência, como Melo, Lajinha, Carrapato, Pai João, entre outros? O Vieira, que nos tempos de infância passava ao fundo do nosso quintal, e era limpo bem podia ser tratado com carinho, virou cloaca a céu aberto. |
Por Alberto Sena - 13/10/2015 15:22:24 |
REENCONTRO DE LEMBRANÇAS Alberto Sena Não via Reinaldo Nunes de Oliveira, da Emater-Minas, Reinaldinho chamado, desde a década de 70, quando ele, salvo engano, deixou Montes Claros para estudar Agronomia na Universidade Federal de Viçosa (UFV), Zona da Mata mineira onde vivi pouco tempo. Quando nos conhecemos, no século passado, Montes Claros era cidade tranquila. Podia-se sair a qualquer hora do dia ou da noite sem insegurança pública. A violência e a neura dela se limitavam as grandes cidades, mas já apresentavam sinais do que seria num futuro então longínquo, hoje presente nu e cru para todo montesclarino constatar. Somos da geração Beathes. Vivíamos a Montes Claros vibrante dos melhores tempos, quando o Automóvel Clube foi construído ali na Praça João Alves e deu mais movimento à vida pachorrenta da cidade. E posso até dizer que participei da construção do Automóvel Clube porque adolescente fiz cobrança de sócios proprietários inadimplentes por meio duma empresa chamada Zeta Incorporações, regiamente pago com comissão. Isso garantia a manutenção do jovem a caminho da maioridade. Reinaldinho, bem mais do que eu, incorporou de fato o espírito dos “besouros” ingleses, e junto a amigos comuns, era baterista de uma banda. Recordo-me, foi naquela época quando surgiu o grupo “Os Brucutus”, com Ricardo Milo, Hélio Guedes (Patão), João Batista Macedo, Haroldo Tourinho e Beto Guedes. Este já mostrava a genialidade das canções que faria, como Sal da Terra, verdadeiro hino ao amor e a vida. Ele, Reinaldinho, tanto quanto eu, vivemos intensamente os dias e as noites de Montes Claros. Tanto tempo depois, reencontrá-lo, desta feita em Grão Mogol trouxe-me ele uma avalanche de recordações. Naquela época, ninguém imaginava o que seria no futuro “quando crescesse”. Não nos preocupávamos com isso. Aliás, futuro era algo tão impalpável que nos contentávamos com o prazer de viver o presente. O lado melhor da vida montesclarina se resumia às horas-dançantes nos clubes, época em que os hormônios se encontravam em ebulição. Automóvel Clube, Clube Montes Claros, Max Min, Pentáurea, Lagoa da Barra – não havia maneira melhor de viver senão curtir os ares juvenis com as moiçolas atraentes desta cidade. Reinaldinho deu-me notícias de vários amigos comuns. Foram boas notícias e notícias não boas de amigos com os quais vivemos naqueles áureos tempos. São os reveses da vida. Quem Deus tenha pena de todos nós. Em dado momento, Reinaldinho fez a seguinte pergunta: “Por onde andará Rosalina Fonseca, tem notícia dela?” E foi então que debulhamos uma espiga de milho de recordações do quanto ela era de vanguarda. Nunca mais tivemos notícias dela. Recordei-me de tê-la encontrado em Beagá na década de 70. Ele, sim, era amigo dela. Pessoalmente nunca tivemos relação de amizade, mas evidentemente, era mulher cobiçada naquela época em que os montes ainda eram claros e vivíamos os melhores anos de uma cidade pacata. Mas, afinal, a que veio Reinaldinho a Grão Mogol? Ele, como coordenador técnico da Emater-Minas em Montes Claros estava acompanhado da pedagoga Beatriz Cristina, da Coord. Regional de Bem Estar Social da Emater para tratarem, aqui, do “Programa Brasil Sem Miséria”. A Unidade Regional de Montes Claros cuida de 22 municípios, dentre eles, Grão Mogol. Segundo Beatriz Cristina, “estamos atendendo 1.744 famílias de agricultores distribuídas em 20 municípios; as famílias cadastradas receberam ou receberão um fomento no valor de R$ 2, 4 mil para investirem em projetos produtivos que foram planejados junto a técnicos da Emater”. Os dois, Beatriz e Reinaldinho visitaram o Presépio Natural Mãos de Deus. Era noite. As luzes do presépio disputavam brilho com as estrelas. Acompanhei-os pelas rampas dando informações a respeito de como o presépio foi construídos em oito meses e 19 dias e inaugurado em 9 de dezembro de 2011. Impressionados, os dois se despediram, uma hora depois de chegar, resumindo o presépio como obra de “um predestinado”. Quanto à nossa amizade antiga, Reinaldinho não foi capaz de resumir em uma hora o que se passara me colocar a par dos acontecimentos montesclarinos sucedidos nesse intervalo de meio século da nossa existência. Em virtude disso, o amigo ficou de retornar a Grão Mogol noutra ocasião, com mais vagar. Isto é, se ele não se perder “lá onde o vento faz a curva”, a fim de colocarmos a nossa conversa em dia. |
Por Alberto Sena - 1/10/2015 08:43:31 |
PAPA FRANCISCO DESMORALIZA O CAPETA Alberto Sena O Papa Francisco ainda será considerado o “Papa dos Séculos”. Depois de tudo já dito por ele e de tanta polêmica levantada, por último, saiu-se com mais esta: não há fogo no inferno. “Ora, bolas”, diria o poeta Mário Quintana. Se não há fogo no inferno, então muda tudo. D’agora pra frente os montesclarinos, que estão ardendo debaixo de um Sol abrasador, não poderão mais dizer: “Aqui, tá fazendo calor dos infernos”. Não poderão mais, porque o Papa falou, não há fogo no inferno. E se não há fogo, fiquei pensando com a manga esquerda da camisa, como é que ficará daqui pra frente o italiano Dante Alighieri com a Divina Comédia, belíssimo livro que deixa a gente de boca aberta, encabulado como é que pode um humano escrever livro de tamanha beleza poética e profundidade, mergulhando ao imo desta raça bípede implume. Nele, Dante trata do inferno de fogo. Muda ou não muda tudo, essa declaração do Papa? Ninguém mais vai poder desejar ao próximo “arda nos quintos dos infernos seu fdp”. E agora? Como é que ficarão as coisas? Então, aquela figura diabólica do capeta, como é que fica agora se não há fogo no inferno? Evidentemente, não mais será usada aquela figura horrorosa e abrasadora com um tridente espargindo fumaça pra tudo quanto é poros. O Papa, com toda a sua autoridade papal, vai me desculpar, mas ele não devia chutar o balde assim, a não ser que tenha ido lá pra ver com os próprios olhos e sentir o clima do lugar. E “adondé” que irão agora os mitos e as crendices? Ora, com efeito, diria a minha bondosa mãe Elvira. E agora? O importante é saber quem é o responsável por nos ter incutido esse medo de ao morrermos irmos arder num inferno de fogo. Por que e pra quê será que fizeram isso com os ditos cristãos ao longo dos milênios? Muita gente deve ter problemas psicológicos e psicossomáticos por causa dessa figura mais parecida a um arquétipo. E querem mais? O Papa disse que Adão e Eva “não são reais”. Essa declaração dele faz mudar ainda mais as coisas. A gente já ia começar a acreditar que a Humanidade nascera de um casal, Adão e Eva, e vem o Papa e estraga tudo. Essa história é uma mera metáfora, pois como é que pode um casal gerar essa quantidade de gente, mais de sete bilhões de almas vivas? E se a gente considerar que a Igreja Católica já foi hegemônica e se considerava “dona de Jesus”, vem o Papa e diz que todas as religiões levam a Deus. Se ele falasse isso umas décadas atrás a Terra tremeria do ocidente ao oriente. Essas declarações do Papa se parecem com a recente declaração da Nasa sobre a existência de água em Marte. Parece brincadeira, os norte-americanos gastaram até hoje fortunas de dólares para descobrir o que a Bíblia Sagrada já afirma a não sei quantos milênios – “as águas do alto”. A vida surgiu na água, senão não haveria a necessidade de uma bolsa cheia dela pra nos dar a vida. No Oriente Médio as pessoas sabem retirar água do ar. Claro que há água em todo o universo. Posso estar errado e se o leitor achar que estou mesmo, por favor, me corrija, mas melhor teriam feito os norte-americanos se investissem juntamente a outras potências, na solução dos problemas dos humanos na Terra. Isto feito, depois, na minha ignorância, acho, justificaria investigar o que há ao redor do nosso planeta até os confins das estrelas. E voltando ao Papa Francisco, ele tem se mostrado simples, tão simples ao ponto de substituir o trono por um de madeira, modesto, num claro exemplo compatível com a sua origem religiosa. Entretanto, o que mais chamou a atenção foi o comentário de um internauta sobre essa questão de troca de trono. O que Francisco fez ao optar por um trono de madeira seria, na comparação dele, a mesma coisa de “possuir uma BMW e um fusquinha e só usar o fusquinha, mas continua dono da BMW”. Não sabe ele que o Papa não é dono do Vaticano. No frigir dos ovos – comam ovos todos os dias, é o alimento mais completo – o Vaticano, com toda a sua portentosa riqueza, deixaria Jesus Cristo, ao retornar, ele que não tinha nem aonde recostar a cabeça, sem entender o que fizeram do Cristianismo Verdadeiro. |
Por Alberto Sena - 21/9/2015 11:56:50 |
Reencontro no Presépio Mãos de Deus Alberto Sena O reencontro fora marcado algumas vezes, mas por motivos vários não acontecera. Entretanto, desta vez, nada impediria o reencontro dos dois amigos fraternais de data longa, de quando jovens se estavam definindo na vida profissional, em Montes Claros. Dois dos fundadores da famosa revista Encontro, com Décio Gonçalves e Konstantin, na década de 60. Na época, a cidade seguia celeremente rumo aos primeiros 100 mil habitantes. Tanto tempo depois, eles – Waldyr Senna Batista e Lúcio Marcos Bemquerer – se reencontraram em Grão Mogol. O pretexto foi o de conhecer o Presépio Natural Mãos de Deus, que em dezembro próximo completará quatro anos, abençoado pelo Papa Francisco. Waldyr veio de Montes Claros a Grão Mogol neste final/início de semana, acompanhado de Dizinha – Maria Luísa Rodrigues Batista – a esposa, tendo como ajudante de ordem o filho médico André Senna. Nenhum dos três conhecia Grão Mogol. O reencontro dos dois amigos se deu às portas do hotel Paraíso das Águas, ali pelas 11h da manhã de sábado. As marcas do tempo estão em cada um, inevitavelmente. Ambos realizaram muito durante o percurso de tempo passado desde os embates estudantis em Montes Claros e o reencontro em Grão Mogol, neste sábado. Não dá pra citar tanta realização, mas da parte de Lúcio Bemquerer, segundo ele próprio costuma dizer, a maior realização é o Presépio Natural Mãos de Deus, o maior do mundo. Da parte de Waldyr, que durante décadas atuou primorosamente no jornalismo de Montes Claros, a maior realização, se se pode ousar dizer por ele, é o Colégio São Mateus, no Bairro Todos os Santos, em Montes Claros, com 1.200 alunos, de 1º ao 9º ano, modelo de escola que administra com a educadora Dizinha, numa relação de confiança mútua de meio século de casamento. O teor das conversas dos dois amigos não foi revelado espontaneamente. Nem lhes foi perguntado. Mas no mínimo aguçaria a curiosidade saber do que conversaram décadas depois de um distanciamento provocado pelas circunstâncias da vida. Um ficou em Montes Claros praticando jornalismo escorreito. O outro foi para Belo Horizonte onde fez Sociologia na UFMG e foi presidente da Associação Comercial de Minas (ACMinas). Depois da recepção no hotel, Waldyr, Dizinha e André foram levados a conhecer a Matriz de Santo Antônio, a Capela Nossa Senhora do Rosário e, em seguido, o presépio. Até parece que o clima temperado veio por encomenda. Do presépio, todos foram almoçar salmão com alcaparras, arroz, batata sauté e salada de verduras, tudo regado a vinho tinto seco da adega de Lúcio Bemquerer, e cerveja. Inclusos, Geraldo Fróis, do horto da Prefeitura de Grão Mogol, e Delmira Ribeiro, administradora do presépio. O almoço foi servido pela “chef de cuisine” Sílvia Batista, com sobremesa de doce de leite e de limão galego. Tudo uma delícia! Antes de os três visitantes irem para o hotel, eles, acompanhados de Gê Fróis, Delmira e a “chef” Sílvia posaram para uma foto tendo ao fundo Herman Melville, o jumento irmão de propriedade do velho Juca, que, pretensiosamente pretende-se internacionalizá-lo, de modo a atrair turistas do mundo inteiro só para sacar uma foto com ele. O mais importante de tudo foi o prazer de entabular conversações de alto nível com os ilustres visitantes e Lúcio Bemquerer perpassadas pela política nacional, economia, educação, literatura, artesanato, entre outros temas pertinentes, inclusive com boas ideias para solução da crise nacional. Que na previsão mais otimista de Waldyr, deverá durar “uns cinco anos”. Dizinha, Waldyr e André foram recepcionados por Lúcio Bemquerer e Delmira Ribeiro, em casa dele, na noite de sábado e na ocasião os dois amigos aos poucos foram pondo quase em dia temas que o tempo conservou nos escaninhos da memória de cada um. Quanto ao presépio Mãos de Deus, Dizinha fez questão de percorrê-lo à noite, sozinha, a fim de apreciar, com mais vagar a beleza das luzes, que o fazem brilhar feito estrela no firmamento. Ela fez orações na Manjedoura e na Sala das Preces, dirigidas a Nossa Senhora das Graças. Waldyr e André ficaram devera impressionados com a predestinação de Lúcio Bemquerer de encontrar um presépio de tamanha importância em pleno sertão, na linha imaginária que delimita o Norte de Minas e o Vale do Jequitinhonha. |
Por Alberto Sena - 16/9/2015 14:31:30 |
AOS SESSENTA E SEIS Alberto Sena Fazer 66 anos não dói. Tem cor. Mas é indolor. Tem cheiro. Sabor. Perfume. Lume. Mas não dói. Isto eu posso assegurar porque me vejo, aqui, diante de um número 6 olhando para o outro 6. Gêmeos?! Meia/meia. Isto significa dose dupla. Multiplicação. Isto é bom. Acredito. Gostei do número. Posso até brincar com eles. Assim: 6 vezes 6 – 36; 6 mais 6 – 12. E assim: 6 e 6; 6 com 6; 6 a 6. Um 6 sozinho. Ou ainda um 6 bem adiante do outro 6, como fazemos, eu e ela, em longas caminhadas, mochilas nas costas. Se eu viro 66 de cabeça pra baixo, 66 vira 99. E, então, 33 anos antes vejo o número de anos que viverei. Quem viver verá. O número 33 tem significado grande. Cumpri as duas primeiras partes de 33. Resta a derradeira parte os 33 para completar os 99. Elucubrações à parte, vamos em frente, se possível, com muita arte. Porque viver, meu amigo (a) é arte. É preciso ser artista. Da nossa parte, achamos importante o que vamos absorvendo de bom no decorrer dos anos. O número 6 nos transmite uma porção de coisas, dentre as quais a vontade de reler a peça teatral de Luigi Pirandello, intitulada: “Seis personagens à procura de um autor”. Linda peça. Lida peça. Boa a bessa. Recomendo. Estou feliz com os 66. Tudo graças ao bom Deus. Desejo um 66 feliz pra quem é de 66. E pra quem aos 66 chegar, antecipadamente, eu felicito. Desejo paz e amor. Tim-tim... Com vinho tinto seco – argentino, chileno, francês, espanhol, italiano e ou, por incrível parecer possa, de Andradas (MG), da Casa Geraldo. Paz, saúde e alegria de viver. Pra mim e pra você – ou pra você e pra mim? Melhor assim. |
Por Alberto Sena - 8/9/2015 15:32:46 |
Nasceu no âmbito do Facebook uma página intitulada “Pela duplicação da BR 251”. Jonas Antunes, de Montes Claros, que dentre outras muitas qualidades é sobrinho de Oswaldo Antunes, dono do lendário O Jornal de Montes Claros, JMC chamado, criou a página e estamos com ele e quem mais interessar possa alimentá-la no Facebook. “Pela duplicação da BR-251”. A ideia é concentrar nessa página tudo que acontecer daqui para frente na rodovia, que leva a pecha de uma das malditas do Brasil diante do quadro de sucessivos acidentes que roubam preciosas vidas humanas. O que mais nos deixa indignados é que morrem famílias na rodovia e tudo parece ficar do mesmo jeito, como se nada tivesse acontecido, como se nada mais pudesse ser feito a não ser registrar estatisticamente mais um acidente que a mídia noticia. E pronto. Esse é um exemplo gritante da banalização da vida humana. O movimento “Pela duplicação da BR-251” não tem caráter político partidário. Mas é um movimento político porque a gente sabe que abaixo de Deus é a política que determina o nosso modus vivendi. É a política que tem a obrigação de atender o mais breve possível a nossa exigência, porque é exigência de uma coletividade, de milhões de pessoas que se utilizam da BR-251 todo dia. De Grão Mogol, por exemplo, diariamente sai um ônibus com estudantes que fazem algum curso em Montes Claros. Os estudantes vão e voltam depois das aulas. Essa turma corre risco diuturnamente porque a rodovia recebe carga pesada sobre o asfalto em muitos pontos esburacados. Não pedimos, exigimos a duplicação da BR-251, já. Daqui pra frente todo acidente registrado naquela importante via a responsabilidade é e sempre será do governo federal, que se mostra omisso diante do quadro avassalador da rodovia. Não podemos mais ficar paralisados diante dos acontecimentos sem tomarmos atitudes. Não basta ter vontade política para resolver os problemas. É necessária ação política. Sem desviarmos da meta – Pela duplicação da BR-251 – vamos nos unir até alcançarmos o objetivo. A nova página foi criada para ser ponto de convergência de todos os problemas registrados na BR, que leva o nome de Júlio Garcia. Não dá mais pra ficarmos como espectadores inoperantes. Vamos fazer todo possível para incomodar o governo federal até conseguirmos a duplicação da rodovia. A meta (o objetivo, a finalidade) é: a duplicação já, da BR-251. Só quem depende dela sabe o quanto essa rodovia que corta Montes Claros trouxe de bom e de ruim para a cidade. Por um lado, contribuiu para o seu crescimento, mas por outro recebeu gente dos quadrantes do Brasil, nem todos de boa índole. O mais dramático, entretanto, é o que acontece no dia a dia da rodovia que regurgita carretas, cegonheiras, caminhões e carros de passeio. Se por um lado deparamos com motoristas irresponsáveis ou movidos a rebites, que fazem ultrapassagens em locais proibidos e causam acidentes como o que se deu dia 5, sábado, por outro lado, a rodovia é estreita para a quantidade de veículos que nela trafegam. Há muito tempo a BR-251 já devia ter sido duplicada. No caso particular dos montesclarinos e grãomogolenses, todos deveriam se unir nesta página para exigir a duplicação da rodovia. Postem fotos e textos sobre ocorrências registradas nessa rodovia e juntos seremos fortes para, enfim, fazer o governo federal se mexer. Basta de conversas. Queremos ações práticas já. Pela duplicação da BR-251. Já presenciamos várias cenas que poderiam gerar graves acidentes nessa fatídica rodovia. O mais recente foi semana passada quando retornava a Grão Mogol vindo de Montes Claros. O motorista de uma carreta saiu do posto de gasolina como se no local tivesse um semáforo aberto pra ele. De duas, uma: ou o camarada é irresponsável de nascença e devia estar preso para não pôr em risco a vida de ninguém, ou ele estava à base de rebites, opção mais provável para explicar a ação dele. Se o motorista do nosso carro não fosse competente, nós teríamos nos enfiado debaixo da carreta, simplesmente atravessada na nossa frente. O motorista pisou no freio e ainda jogou o carro para o acostamento onde ficamos esperando o louco terminar a manobra para seguir em frente. O ar cheirava pneus. E o motorista da carreta ainda esbravejou-nos alguma coisa e fomos adiante certos de que escapamos por um triz. (Visite a página "Pela duplicação da BR-251", que em dois dias teve mais de 15 mil acessos). |
Por Alberto Sena - 31/8/2015 08:39:20 |
SER MONTESCLARINO É... Ser montesclarino é... Condição para quem nasce em Montes Claros. Mas quem possui título de cidadão honorário também pode se sentir montesclarino. E mesmo quem não possua título e tenha nascido noutro lugar pode se sentir de Montes Claros, se de fato e com sinceridade amar e contribuir para melhorar a vida das gentes desta capital do Norte de Minas. Sei de quem nasceu noutro lugar e porque mora em Montes Claros faz tempo, diz ser montesclarino. Uns negam o próprio torrão aonde vieram à luz. Claro, há quem faça isso porque ser de Montes Claros confere à pessoa mais brilho do que se confessasse ter nascido noutro lugar. Isto é facílimo de explicar. E de entender. É que Montes Claros, por ser cidade-polo, pra onde converge gente de todos os cantos do Brasil, possui luz própria, e, naturalmente ilumina quem mora nesse Arraial das Formigas. Cidade plana, atualmente cresce pra cima. Montes Claros deu ao mundo grandes personalidades que elevaram o nome da cidade aos pícaros da música, da literatura e de vários outros segmentos da vida humana. Mas o fato de alguém ter nascido em Montes Claros não quer dizer que seja de fato montesclarino, se o cidadão não possui a garra para defender e gostar da cidade como patrimônio seu. Montes Claros necessita disso, inda mais em momentos tão incertos como os tempos prenunciados. Ser monsteclarino.. É gostar de pequi. Ou não. Porque ninguém é obrigado a gostar de pequi. Quem gosta, gosta. Quem não gosta, detesta. Nem aguenta sentir o cheiro. Mas ainda assim deve ajudar a defender o consumo de pequi. E defender o pequizeiro, naturalmente. O seu abate é proibido no território nacional. Por um motivo simples: 100 gr da polpa de pequi contém 200 mil Unidades Internacionais de vitamina “A”. Além de outras vitaminas, sais minerais e gorduras. A vitamina “A” é de suma importância para manter em pé o esqueleto. Pequi, fruto do pequizeiro, é alimento forte. Garante saúde ao sertanejo. E é fonte de renda. Do pequi se pode extrair o óleo. Faz-se paçoca, doce, licor. O pequi é fruto abençoado e por tudo isso mesmo quem não o aprecia deve ajudar a defender o pequizeiro, que no sertão vem sendo abatido para virar carvão. Ser monsteclarino é.. Gostar também dos demais frutos do Cerrado santuário de fauna e flora sem igual, donde nascem o Rio São Francisco e as veredas que o alimentam. Rio da “Unidade Nacional”, fadado ao desaparecimento até 2030, segundo estudos científicos. O Cerrado vem sendo destruído sorrateiramente por grandes projetos agropecuários. Ser montesclarino é... Gostar das festas do Divino. É ser catopé por dentro. E se possível mostrar-se catopé por fora com as vestimentas próprias e as fitas multicoloridas esvoaçantes. É dar vivas ao Espírito Santo, o Paráclito, deixado pra nós por Nosso Senhor Jesus Cristo. Ser montesclarino é... Gostar de serestas. É gostar de gostar de ter nascido em Montes Claros e querer sempre defender a cidade maltratada, coitada, em administrações públicas passadas. E que não pode cair em mãos estranhas. Jamais. Ser montesclarino é... Exercitar a capacidade de nos indignarmos, conforme recomenda-nos um dos melhores frutos da nossa terra, o professor Darcy Ribeiro. Montes Claros ruma celeremente a caminho do cumprimento de sua vocação prenunciada desde antanho. Ser montesclarino é... Ser hospitaleiro, mas não bobo como em passado nem tão distante, quando gente safada caia de paraquedas na cidade e fazia misérias. Principalmente políticos indignos que são como aves de arribação. Quando (faz bom tempo) principiam as eleições, eles vêm; quando (faz mal tempo) acabam as eleições, eles vão. E não querem nem saber de outra coisa a não ser locupletarem com o dinheiro público. Mas com os exemplos do juiz Moro muitos deles estão presos ou com as barbas de molho. Haja molho pra tanta barba. Ser montesclarino é... Ocupar-se com a preservação da história e da memória da cidade para que as gerações atuais e as que ainda virão possam valorizar a terra conhecendo o seu passado para construir no presente um futuro mais promissor. Ser montesclarino, enfim, é... Ser gente, simplesmente. Não existe um padrão pronto e acabado, mas algumas características próprias dos antepassados, como caráter, ética, honradez... Tudo na paz. De Deus. Se a violência atualmente amedronta, ela veio de fora, porque a índole nossa é pacífica. Ser montesclarino é... |